Capítulo 91: A Tríade de Hécate (parte 1)
Saint Luna, 01 de novembro de 1991
Sexta-feira - 10:40 P.M.
O ritual correu como deveria correr. Eu senti minhas mãos tremerem no momento em que a faca dourada cortou o pescoço de James Lownd. Uma forte ventania nos atingiu após citarmos as palavras do ritual em latim e deixarmos o corpo de James como um troféu de poder flutuando pelas águas sagradas de Hécate.
Agora tínhamos o poder. Passamos meses planejando, meses pensando em como seria esse dia. Seline disse que foi como uma formatura de bruxas, agora éramos mais que uma tríade. Tínhamos poderes reais, poderes que não exigiam feitiços ou palavras mágicas em latim. Agora possuíamos força o suficiente para deter Lúcifer como o planejado, sem chances de perder o poder ou de nos enfraquecermos.
Nos tornamos uma fênix. Morremos diversas vezes, perdemos diversas vezes, mas agora renascemos e voltamos à vida mais determinadas que nunca. Determinadas a comprimir com nossa profecia e cumprir nosso papel como a tríade mais forte.
Depois do ritual, tudo se tornou mais fácil. Passamos quase o dia inteiro seguinte treinando nossas habilidades e poderes novos. Demoramos um pouco para nos acostumar com tamanho poder, mas logo começamos a pegar a prática. Tudo só ficou melhor graças a uma ajuda extra que tivemos no qual auxiliou e nos ensinou cada passo ou estratégia antes de combatermos Lúcifer.
— Vocês precisam se concentrar na energia do poder, precisam sentir ele como parte de vocês. Precisam sentir ele nas veias! Vamos, tentem de novo! — Gritou a mulher, mas eu já estava exausta das horas que estávamos praticando, praticando e praticando.
— Não aguento mais, estou morta de cansaço! — Seline respondeu indignada, sentando-se em um tronco de árvore qualquer jogada no meio da floresta.
— Lúcifer não vai estar cansado, nesse caso, você estaria morta no sentido literal. — Respondeu a deusa em um tom autoritário e Seline revirou os olhos. — De novo!
Ao meu lado, Jesse respirou fundo e ergueu seu arco na minha direção, posicionando uma das flechas e preparando-se para um truque que havia acabado de aprender. Minha parte no plano era a mais arriscada, porém, era o que havia chamado mais a atenção de Hécate. Dizia ela que fiz juz à minha fase da Lua: sabedoria. Usei uma realidade alternativa articulada totalmente na minha mente, uma ilusão direcionada a apenas um alvo.
Me concentrei em cada detalhe que havia ao redor de mim, desde os galhos das árvores até as folhas jogadas no chão. Enquanto Seline ficava com a parte de equilibrar seu poder tríplice com seu poder satânico, Jesse optou pelo físico. Preparava suas flechas com a mesma matéria das correntes que o prenderam da última vez. Além disso, ela deixaria Lúcifer mais fraco e separaria o ser do humano, no caso, Adam, para que ele não se ferisse.
— Agora! — Com o sinal da deusa, ergui do chão a ilusão de Lúcifer e milhares de demônios saindo de um portal.
Não foi tão difícil levando em conta os fracassos que tive durante esse tempo. Não poderia perder meu foco por nada, mas a deusa não nos ajudava colocando ilusões de gatilho para nos atrapalhar/ajudar a não perder o controle.
— ALICE! Por favor, me ajude! Ele vai me matar, por favor... — Ouvi a voz de Jasper pouco longe acompanhado de gemidos de dor que estavam cada vez mais agonizantes.
— Não... não é real! — Falei comigo mesma voltando a prestar atenção no meu alvo. Me mantive forte e fiz com que a imagem de Lúcifer desfocar por um instante, mas logo voltei ao meu objetivo.
O demônio estava agora com uma enorme espada de fogo e rodeado de outros demônios acompanhados do seu exército maligno. Parecia cena de novela bíblica apocalíptica, mas era mais real do que eu fazia parecer. Seline fazia uma onda de poder juntar e engatilhar ao redor dela como se a qualquer momento fosse explodir e liberar tudo, consequentemente matando todos.
Ela estava pronta para manipular e controlar a energia do meu falso inferno, mas algo a atrapalhou. Por um instante achei que ela fosse abrir os olhos com o susto, mas ela se manteve firme como se nada estivesse acontecendo.
— Seline... sou eu. Assim como Josephine eu voltei à vida, como pode me rejeitar dessa forma? Achei que me amasse... — A voz de Chris ecoava por toda a floresta em um tom real, mas a olho nú não enxergávamos nada. — Por que vocês não acreditam em mim? Eu posso ajudar vocês!
— Porque você não é real! — Jesse respondeu por todas, dando uma rápida olhada ao redor apenas para confirmar se ainda continuava sendo uma ilusão, mas logo manteve sua postura. — Ah, qual é, gente! Não podemos nos deixar vencer por ilusões. Lembrem-se de quando estivemos no inferno.
Um furacão escuro carregado de trevas, pavor e ódio começava a ser criado acima do homem, sobrevoando por toda a cidade a fim de espalhar o pânico. Era impedido por uma barreira invisível graças a Seline que mantinha o esforço na sua força vital, mas não sabia se resistiria mais. Jesse atirou a flecha no coração de Adam. Aquilo fez uma explosão dourada ao redor do homem, fez com que seu corpo começasse a criar feridas de queimadura sem nem haver fogo.
O resto era o básico. Seu corpo se separou da entidade maligna, Adam sobreviveu e mandamos Lúcifer para o inferno. Parecia tudo tão fácil e simples, mesmo que na nossa primeira tentativa tivéssemos "morrido" repetidas vezes. Bem, tudo não passava de um treinamento e eu duvidava que na hora já teríamos uma estratégia. Lúcifer sempre está a um passo na frente, mas dessa vez estaríamos três: cada um representando uma fase da lua.
Assim que voltamos para a cabana, me joguei em um dos sofás enquanto sentia meus músculos trêmulos. As outras provavelmente se sentiam da mesma forma, pois passaram um tempo em silêncio tentando recuperar as energias que gastamos umas com as outras.
— E no fim vivemos felizes para sempre! Uhul, que alegria! — Seline zombou tentando respirar e se sentou novamente no tronco. — Usar meu ex morto todas as vezes? Sério?
— O corpo e a mente de vocês precisam estar em harmonia. Cada parte do treinamento é necessária e dessa vez vocês foram muito bem. — Hécate elogiou na nossa frente, certamente orgulhosa no nosso avanço. — Creio que já possam enfrentá-lo de uma vez por todas. Aliás, como está o outro lado?
— Josephine, Lilith e Stephen estão no inferno prontos para o ritual do outro lado. Seline enviará um sinal quando for a hora para prendermos Lúcifer, o coven estará espalhado pela cidade caso haja algo de errado ou saia do controle. — Expliquei reformulando todo o nosso plano, tanto para a deusa quanto para Seline e Jesse não se esquecerem.
— Certo. Se realmente for hoje o grande dia, descansem para que... — Hécate fora interrompida por um grande estrondo na porta, mostrando uma garota ansiosa e ofegante por uma possível corrida pela floresta.
— MENINAS! Lucy identificou Lúcifer na cidade. Ele está na Igreja Central prestes a reabrir o portal do... — Anne parou de falar e ficou boquiaberta com a presença da deusa, levemente confusa. — Ah meu Deus! Quer dizer, deusa! Me perdoem, eu não sabia...
— Não há problemas, minha jovem. O que você dizia? O que Lúcifer está fazendo? — Hécate questionou duvidosamente enquanto encarava a ruiva que ainda estava em estado de choque.
— Ahn... bem... como eu dizia, Lúcifer está tentando abrir o portal do inferno na igreja. Eu não sei o porquê dele fazer isso logo lá, mas acho que ele está esperando por vocês.
— Isso significa que ele também tem um plano. Ótimo, vamos morrer! — Seline falou frustrada enquanto negava com a cabeça, mas Jesse não deixou tê-la esse pensamento.
— Temos as vantagens do poder novo e dele ainda estar fraco. É a nossa oportunidade, esperamos demais por isso! — Jesse disse em motivação olhando Seline e eu, respectivamente.
— Mas nós também nos enfraquecemos apenas para treinar. Ele pode nos deixar mais exaustas e assim nos vencer facilmente! — Pensei em voz alta essa probabilidade, mas fui repreendida imediatamente.
— Querida, Anne disse que ele já está abrindo o PORTAL DO INFERNO! O que você acha que vai sair de lá? Borboletinhas coloridas? — Seline questionou alterando o tom da voz, mas eu apenas suspirei.
— É, ela tem razão. É melhor vocês irem. — Anne concordou se direcionando a mim, fazendo as outras esperarem minha resposta.
— Certo... então vamos. — Falei sem opção e peguei o grimório, caso necessário.
— Eu acredito em vocês! — Hécate disse antes de Seline, Jesse e eu saírmos da cabana.
Assim que passamos por Anne, começamos a seguir rumo à cidade. Algo me dizia que tudo ia dar errado e eu esperava no fundo do meu coração para que fosse apenas medo. Estávamos colocando nossa vida em risco, mas outras pessoas também dependiam disso. Lúcifer não queria apenas dominar Saint Luna, mas também expandir para o mundo inteiro escravizando bruxas de diversos lugares. Saint Luna não era nada mais que a cidade patrona das bruxas e das tríades de Hécate, por isso o ponto de início para o caos.
Um tempo depois andando, senti minhas mãos suadas e levemente trêmulas. Respirei fundo tentando não surtar ou não sair correndo para me esconder debaixo da cama, mas eu não podia. Eu precisava ser a Alice que enfrentou o pai aos quatorze anos, que salvou a mãe do incêndio e descobriu o envenenamento. Eu preciso ser a mesma Alice que matou um homem.
— Seja o que for, estaremos juntas, certo? — Seline perguntou aflita a alguns passos da entrada da Igreja. A porta principal estava aberta e apenas algumas luzes estavam acesas.
— Certo. — Jesse e eu respondemos juntas e começamos a caminhar na direção do grande templo.
Fui a primeira a entrar. Olhei ao redor e vi que tudo estava normal, porém, vazio. O altar estava escuro, pois as luzes ligadas não chegaram a iluminar o local. Por que Lúcifer viria para a igreja? Qual plano ele tinha em mente?
— Onde ele est... — Antes de Jesse terminar a frase, me assustei quando das sombras do altar, um corpo foi jogado para frente.
Ele estava amarrado, amordaçado. Cordas fortes prendiam suas mãos e seus pés e um pano manchado de sangue prendiam sua boca com força. Era evidente o desespero estampado no seu rosto, lágrimas de pavor escorriam dos seus olhos e ele tentava gritar, mas não conseguia. O corpo de Adam estava ensanguentado e cortado em diversas partes, ele estava fraco.
Ele não era Lúcifer.
— Procuraram, procuraram, procuraram e pegaram a pessoa errada. — Ouvi uma voz saindo da parte escura do altar atrás de Adam, até conseguirmos enxergar totalmente sua fisionomia. A voz era familiar, me fez arrepiar a espinha, principalmente pela forma de falar Seline. — Eu diria que foram burras, mais burras ainda de virem aqui. Mas sabe, eu esperava por vocês... queria uma plateia a altura para assistir meu espetáculo.
Todas estávamos boquiabertas com o que víamos. Adam, no chão, ainda estava tentando se soltar, mas com essas tentativas apenas levou um grande chute do rapaz.
— Alex? — Seline perguntou quase sem conseguir falar, com uma mistura de emoções na voz. — Como você...
— Ah, minha adorável Seline. Decepcionada? Eu estava ansioso para sua reação quando me visse. — Alex falou rindo maleficamente, mas nosso estado continuava o mesmo.
— Você não é o Alex, seu desgraçado! O que você fez com ele? — Jesse questionou furiosa dando um passo a frente para encará-lo. — ME RESPONDE!
— Digamos que ele esteja hibernando desde o dia da biblioteca... quando vocês acharam que eu estava no corpo do professor de vocês. — Falou em um tom sarcástico olhando Adam sem se importar. — Foram tolas em acreditar que eu ia me fortalecer no corpo de homem de quase quarenta anos, acabado por estudos, solteirão e desnutrido. Eu precisava de... vocês sabem... um corpo jovem, novo. Vocês não sabem a sensação que é se sentir vivo depois de milhares de anos! Alex foi o alvo perfeito, a mente dele estava aberta apenas esperando um toque angelical.
Pouco acima um buraco escuro começava a se abrir, uma nuvem preta e forte. Dava-se para ouvir gritos, sussurros agonizantes. Sim, aquela era a passagem do inferno se abrindo novamente prestes a tomar a cidade com seus demônios.
— Meninas, agora! — Alertei para que Seline e Jesse se posicionassem, independente de quem fosse o corpo que Lúcifer estava usando. Iríamos prender Lúcifer e salvar Alex.
Ergui minhas mãos e comecei a modificar o ambiente, Jesse posicionou a flecha e apontou na direção de Alex e Seline fechou os olhos, começando a controlar o portal que se abria. Agora na prática tudo era mais difícil, apenas não contávamos com dois fatores.
1, que não podíamos machucar Alex; 2, que Crystal apareceria.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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