Capítulo 87: De Volta Dos Mortos
Saint Luna, 26 de agosto de 1991
Segunda-feira - 05:00 P.M.
— O que você quer aqui, Lúcifer? — Perguntei furiosa me pondo à frente das outras, vendo que o ser agora possuía asas negras enormes nas suas costas.
— Que vocês me deixem em paz para terminar o que comecei e também para trazer vocês para o meu lado. — Disse calmamente em meio a um tornado, como se não fosse nada.
Eu já quase não conseguia me manter de pé pela força do vento e cada vez mais a onda gigante se aproximava, mas ainda estava meio distante. Fiquei confusa com o que ele disse, na verdade com a forma que ele disse, mas dessa vez foi a vez de Jesse questionar.
— Já falamos que não vamos ficar do seu lado, vamos estar contra você nem se precisarmos morrer! — Disse firme e voltou sua atenção aos outros.
Lúcifer estava planejando algo, mas antes de podermos mandar o resto do coven embora, eles fizeram algo um pouco inovador. Fizeram um pequeno semi círculo virado para nós e começaram a recitar palavras em latim no qual eu só pude entender "magia", "transferir", "tríade". Era uma forma de drenar seus poderes e transferi-los para nós, já que não éramos bruxas hereditárias e eles sim. Quando fizeram isso, senti meu corpo firme e forte novamente, senti a energia da magia correndo pelas minhas veias e agora era como se eu fosse capaz de tudo, como se Lúcifer não pudesse me impedir.
Mas foi diferente. Ele viu aquela cena e com um sorrisinho besta no rosto, levantou a mão esquerda e estalou os dedos. Como um passe de mágica, o resto do coven parou com a aflição e olharam diretamente para ele sem nem piscar os olhos, como se estivessem hipnotizados.
— O QUE VOCÊ FEZ? — Perguntei furiosa e corri até a frente de Lucy, passando as mãos na frente do seu rosto na tentativa dela me notar. — LUCY! — Tentei empurrar ela, mas ela permaneceu imóvel.
— Como eu disse, só trouxe parte do coven para o nosso lado. Não faço o mesmo com vocês porque bem... como bruxas tríades, queria me divertir um pouco. — Disse sarcasticamente estendendo os braços.
Alice tentava chamar a atenção dos outros, mas ninguém respondia. Até Anne parecia estar distante, parecia que havia deixado seu corpo ali, entretanto sua alma vagava perdidamente pela praia.
Quando Lúcifer disse aquilo, o coven se posicionou atrás dele como se fossem nos atacar, nos olhavam com raiva e nos viam como inimigos. Me aproximei de Alice e Jesse, que também estavam nervosas e com medo do que iria acontecer. Na frente de Lúcifer éramos meras aprendizes, e ele estava a milênios existenciais na nossa frente, possuía uma fonte de poder infinita enquanto nós só tínhamos um poder dado pela Deusa, e sem ele não éramos nada.
— A tríade mais forte. — Alice sussurrou entre Jesse e eu, como se tivesse acabado de ler meu pensamento. — Jesse, a água!
Alice avisou olhando para ela e apontando para o mar, então rapidamente Jesse entendeu o recado. Se aproximou do mar e se ajoelhou como se fosse rezar ou algo do tipo, mas então um forte poder começou a transpirar dela enquanto ela recitava o feitiço.
— "Glace, solidatur. Glace, solidatur. Glace, solidatur. Glace, solidatur" (...)
Enquanto ela repetia, olhei para Lúcifer e vi que o ser das trevas fazia uma pequena prece de olhos fechados. Senti uma vibração esquisita saindo dele, mas o resto do coven continuava da mesma forma. Foi então quando todas elas começaram a repetir a prece de Lúcifer, só que dessa vez em voz alta.
— "In nomine vires infernale, quaeso tenebras. Potestatibus in nomine daemon infernalis: vocat autem infernum canibus. Infernales in nomine vires, quaeso, chao."
Tentei entender as palavras, mas elas não faziam sentido. Eu não conhecia este feitiço, mas imaginei que vindo dele era algo não tão bom. Tentei chamar atenção de Alice enquanto encostava a mão nela, mas ela parecia pensativa. Ela estava planejando algo, pensando em uma estratégia útil que pudesse nos ajudar. Bem, não foi atoa que a deusa a escolheu como Anciã.
— A tempestade! — Ordenou apontando para o céu, mas logo me olhou novamente. — Confia em mim?
— Óbvio! — Respondi impulsivamente e a vi se afastar, se aproximando um pouco de Lúcifer. — "Ego vocare pluvia spirituum."
Comecei a sussurrar o encanto enquanto focava na tempestade. Além da tempestade, tentei me manter firme em outras coisas como o tornado, mas aquilo iria exigir parte do meu poder. Continuei o feitiço canalizando as vibrações da tempestade, tentando de certa forma me conectar com ela. A wicca costumava estar ligada à natureza, então fiz uma leve prece ao deus cornífero também.
— Deus da terra, da natureza, da fertilidade. Companheiro da deusa, por favor, ouça meu chamado! Liberte seu espírito e nos permita vencer essa guerra, APAREÇA PARA NÓS! — Gritei a última parte sentindo o poder da magia correndo sobre mim.
A chuva aos poucos parava e o céu ficava mais limpo assim que terminei o feitiço. Eu não costumava rezar para os deuses, mas sentia seu poder me chamando. Mesmo sendo uma bruxa mista, possuindo parte tanto wiccana quanto satânica, eu me sentia muito melhor com a parte dada pela Deusa. Foi algo que me salvou quando eu mais precisei mais de uma vez, me inseriu no coven e me fez ver que eu era forte e muito mais do que achava.
Suspirei aliviada, mas senti meus músculos tremerem por tamanho esforço. Me sentia cansada, exausta, mas não podia parar agora. Desviei meu olhar para Alice e vi ela terminar um feitiço no qual não consegui ouvir, mas as imagens seguintes não foram tão agradáveis. Lúcifer abriu os olhos e jogou Alice longe com uma onda de poderes. O resto do coven continuava fortalecendo-o, servindo-o, enquanto ele nos atacava.
Tudo aconteceu rápido demais, mas era como se o inferno agora estivesse na terra. Um enorme portal é aberto entre Lúcifer e eu e de lá, várias sombras começam a sair e se espalharem pelo céu. Eram demônios, demônios como os negans que acabamos libertando certa vez, demônios como os que encontramos no inferno. Tentei conectar minha parte satânica ao portal para, de alguma forma, tentar impedir. Agora essa parte do poder parecia nula, mas eu estava desesperada.
Corri até Alice assim que o coven terminou com o feitiço, já tendo conseguido cumprir seu objetivo. Algo estranho aconteceu conforme eu andava, parecia que eu não estava saindo do lugar. Tentei correr, gastei energia física correndo mas mesmo assim não saí do lugar.
— ALICE! LEVANTE! POR FAVOR! — Gritei o mais alto possível, mas ela não respondeu aos meus chamados.
Olhei Jesse e ela estava da mesma forma, mas agora uma onda maior começava a se aproximar e começava a quebrar o gelo que a garota tinha feito. O estrago seria bem maior, eu até tentei usar meus poderes para impedir mas parecia que não havia mais nenhum. Agora eu só era uma garota desesperada prestes a morrer.
— JESSE! JESSICA WHITMORE NÃO OUSE FAZER ISSO LOGO AGORA! — Falei em desespero enquanto sentia lágrimas saírem dos meus olhos. Podia mesmo tudo acabar assim?
Olhei na direção de Lúcifer e vi ele olhando ao redor com um ar vitorioso e até mesmo um sorrisinho de lado. Fiquei com ódio, eu queria pegar um pedaço de galho enfiar no coração dele até vê-lo sangrar por dentro, mas sabia que isso nunca aconteceria. É o fim, agora é real. Não temos poderes, o coven foi levado para o lado de Lúcifer, nem Hécate e nem Cornífero ouviram meus chamados. Seríamos sim, só mais uma tríade qualquer a passar na terra.
"Ainda não é o fim, garota!"
— SE NÃO É O FIM POR QUÊ VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI? — Gritei enquanto chorava ao ouvir aquela voz na minha cabeça de novo. Era a deusa falando comigo.
"Quem foi que disse que eu não estou? Abra os olhos!"
De início achei que fosse delírio meu ao ouvir aquela parte. Como ela queria que eu abrisse os olhos se meus olhos já estavam abertos? Olhei ao redor com mais calma e mais precisão, tentei focar no objetivo e então a imagem se distorceu.
Foi um pouco difícil compreender, mas agora eu conseguia enxergar o óbvio. O mar ainda estava congelado, não havia nenhuma outra onda gigante ameaçando com um tsunami. Tanto Jesse quando Alice estava de pé e não havia portal nenhum aberto, inclusive o coven ainda recitava o feitiço. Minha cabeça levou alguns segundos para processar a informação, mas então ouvi o feitiço que Alice fazia.
— "Procidat deceptionem".
Olhei novamente para Lúcifer e vi que sua expressão continuava a mesma, ele acreditava que estava vencendo. Tudo o que havia acontecido era só uma ilusão que Alice fez para distraí-lo e ele estava caindo direitinho. Sorri de lado um pouco mais confiante agora que sabia que parte do problema estava sob controle, mas se tudo desse errado, o portal do inferno seria aberto novamente só que dessa vez de verdade.
— Jesse, tente acordar o coven. — Avisei olhando para ela, que ficou um pouco confusa com o meu pedido mas concordou.
Me aproximei sorrateiramente de Lúcifer, mas ele não conseguiu me ver ali. Realmente, a ilusão de Alice estava fazendo efeito. Nunca duvidei da sua capacidade de pensar, era o que sempre nos salvava nas piores horas.
Senti uma quentura no ponto em que eu estava, era o inferno próximo. Comecei a ouvir murmúrios como se fossem várias pessoas falando ao mesmo tempo e por impulso, coloquei as mãos sobre os ouvidos para tentar não ouvir. Não consegui entender o que falavam, eram muitos e acabavam me deixando confusa. Vi a luz do portal se abrindo aos poucos e tentei pela primeira vez me conectar com meus poderes satânicos. O que Stephen me ensinou não podia ser desperdiçado. Eu usaria tudo agora!
Fechei os olhos e toquei aquela luz. Meu corpo parecia querer pegar fogo, incendiar por inteiro e derreter feito vela. Contive essa parte humana e me liguei somente ao que eu era: uma bruxa. Mantive a concentração contra a abertura do portal, mas era forte demais e eu não sabia se iria resistir.
— Vai lá, Seline... — Sussurrei comigo mesma, sentindo a intensidade das trevas que se aproximavam. Eram centenas de exércitos de demônios, a maioria comandados por Lúcifer, mas eu não iria desistir. — Vocês não me assustam!
Eu não conseguia mais segurar, era poder demais só para mim. O portal se abria cada vez mais, mas eu fazia força para tentar fechá-lo. Eram forças de mesmo nível se anulando, então às vezes o portal abria e às vezes eu o fechava. Não iria durar muito tempo, eu estava quase soltando sentindo meu corpo fraco e quase desmaiando.
Uma forte luz como o fogo saiu do portal. Fiquei com medo de ser um demônio, mas era um espectro que aos poucos tomava uma forma humana e se posicionava do outro lado do portal enquanto começava a segurar parte do meu peso. Quase caí dura no chão ao ver seus cabelos cor de rosa meio presos e seu olhar determinado como sempre.
— Josephine? — Consegui sussurrar ofegante e segurei minha vontade de sair correndo para abraçá-la.
— NÃO SE DESCONCENTRA, SELINE! ELES ESTÃO VINDO! — Gritou para mim e então tentei controlar o choque e voltei a me concentrar nos poderes.
Olhei para o lado e vi Alice se enfraquecendo cada vez mais enquanto controlava a ilusão. Jesse tentou correr até o coven, mas a ventania impedia a garota de chegar mais rápido. Eles ainda pareciam hipnotizados, mas uma forte energia continuava transpirando de Anne.
As vozes na minha cabeça se desfaziam aos poucos, e eu sentia finalmente o portal se desfazendo por completo. Tentei respirar fundo antes de continuar ou fazer mil e uma perguntas para Josephine ou perguntar a ela se ela viu Chris por aí, mas outra coisa chamou a atenção.
Alice caiu no chão fraca e pálida e Lúcifer agora já não estava mais em uma ilusão. Quando ele se deu conta disso, um fervor tomou conta do seu corpo e agora ele estava com mais raiva do que nunca.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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