Capítulo 85: O Mal Ataca Novamente
Saint Luna, 26 de agosto de 1991
Segunda-feira - 03:41 P.M.
Depois das aulas, não esperei as garotas até sair da escola e ir para casa. Sentia o clima vazio desde que tia Ellie havia viajado com Caleb, mas senti que assim estaria evitando possíveis tragédias para ela. Tomei banho e troquei de roupa, mas parei para comer algo antes de ir atrás de Aylen. Fazia um tempo que não via o coven, se não me engano, desde o último Sabá. Aylen havia fechado a loja por algum tempo, então eu não precisava mais ir para ajudá-la.
Quando terminei, fui até a direção de sua casa, que na verdade ficava atrás da loja. Toquei a campainha e esperei por algum tempo até alguém abrir a porta para mim. Vi Nantai me encarar sem reação alguma, parecia que de alguma forma ela saberia que eu iria aparecer lá, como sempre, pedindo ajuda.
— Entre, minha avó estava esperando por sua chegada. — Falou dando espaço para mim e eu fiquei levemente confusa, mas entrei.
A casa de Aylen não era muito grande, mas como a de Jesse, tinha bastante plantas e incensos, alguns símbolos espalhados e objetos diferentes. Aylen estava na varanda sentada em uma cadeira de balanço de madeira enquanto olhava para algum lugar não fixo. Quando me viu, abriu um sorriso fraco e apontou para a cadeira na sua frente, como forma de pedir para eu sentar.
— Olá, Aylen. — Cumprimentei me sentando na sua frente e vejo Nantai ficar em pé ao lado da avó enquanto me encarava.
— Alice, minha querida! É um prazer revê-la. — Disse serenamente. — Previ sua chegada, mas me diga, o que lhe trás até minha residência?
— Aylen, precisamos de ajuda... — Comecei a falar e ouvi Nantai soltar uma risada irônica.
— Uau, que novidade!
— Nantai, fique quieta! — Aylen a repreendeu e voltou a olhar para mim, e Nantai obedeceu. — O que aconteceu, Alice?
— Não sei se vocês sabem, mas Lúcifer mandou desastres para destruir a cidade inteira. Tem um tornado se aproximando de Saint Luna e este tornado já passou por outras cidades e causou grandes estragos, mas aqui seria pior. Além disso, esse tornado está vindo pelo mar então tem uma grande chance de trazer um tsunami junto.
— É, eu acho que deu para perceber. — Nantai falou apontando para o céu, vendo que haviam nuvens grandes e escuras e as aves voavam para longe.
— Pensamos em um ritual para os elementais da água e do ar nos ajudarem a parar o tornado e o tsunami, mas para isso iríamos precisar do coven todo para nos ajudar. — Expliquei mantendo calma na voz enquanto Aylen me analisava.
— Não sabemos se iria funcionar, minha jovem, mas pode contar conosco para tentar ajudar. — Respondeu se levantando da cadeira com a ajuda de Nantai.
Antes de poder responder, ouvi uma sirene alta tocar na rua, vindo de diversos pontos. Ouvi também o som de uma voz espalhada pela cidade e a reconheci imediatamente, era Alex. Ele falou sobre o evacuamento, mas depois ficou em silêncio. Nantai me olhava confusa com aquilo, provavelmente imaginando que eu soubesse o que estava acontecendo. Segundos depois, ouvimos outra pessoa repassar o alerta, mas dessa vez era o detetive Butler.
— Seline e Alex foram alertar sobre o tornado para a cidade, todos vão para o hospital psiquiátrico. Aliás... alguém sabe onde Anne está?
Perguntei me lembrando de ter citado ela mais cedo, sendo uma possível chave para encerrar o apocalipse causado por Lúcifer, assim finalmente prendendo-o no inferno com a ajuda de Lilith.
— Ela está com Lucy. Lucy está tentando desvendar os poderes dela, estão há dias em uma espécie de regressão. — Nantai respondeu antes de Aylen.
— Regressão? — Perguntei confusa.
— É, Lucy está tentando ver se realmente há algo divino nela, por haver aquele bloqueio mental protegendo ela e também por ser a última bruxa verde da terra. — Explicou e eu dei de ombros. Pelo menos fiquei aliviada em saber que a garota estava em boas mãos e brevemente poderia descobrir a verdade sobre ela.
— Então, meninas, irei falar com Lucy e as gêmeas Madison e April para nos encontramos na praia para o ritual. Irei levar alguns itens que possam nos ajudar com os elementais, que a benção da deusa esteja conosco. — Disse Aylen começando a se preparar para a guerra também, uma guerra que estava quase no fim.
— Abençoada seja a deusa, vovó! Abençoada seja! — Nantai concordou e olhou para mim. — Trouxe o grimório?
— Não... geralmente ele fica com a Jesse. Por quê?
— Talvez seja útil, peça para ela levar para a praia quando fizermos o ritual. — Pediu e eu concordei.
Passado alguns minutos, pegamos o carro de Nantai e fomos até a praia. Havia bastante ônibus parados em alguns pontos e pessoas entrando neles. A cidade estava em movimento, as lojas e mercados todos fechados e as pessoas em pânico. Seria um mal necessário, mas faríamos de tudo para impedir que esse tsunami e tornado destruísse a cidade.
— Senhoras, precisamos que vão para o hospital psiquiátrico pois a cidade está em recuo. Não poderão passar daqui pelo alerta de tsunami, não ouviram os alarmes? — Perguntou um dos policiais de estrada ao parar o carro e se aproximar da janela. Como iríamos explicar que somos as bruxas que vão impedir essas catástrofes?
— Relaxa, Henry. Eles estão conosco! — Ouvi uma voz familiar parar ao lado do carro, e só assim o policial nos deixou passar. Olhei pela janela do carro e vi Alex na sua moto e Seline no banco de trás.
— Nos vemos no ritual. — Ela falou sorrindo e piscou um dos olhos para mim, como quem dissesse que tudo estava sob controle.
Sorri de volta e vi Alex acelerar e começar a pilotar mais a frente já na estrada na frente da praia. Nantai seguiu com o carro atrás dele após o policial liberar o caminho enquanto Aylen e eu apenas esperávamos no banco de trás. O carro passou ao lado do restaurante em que Jasper e eu tivemos nosso primeiro encontro e então eu senti um sentimento de nostalgia e saudades. Queria estar com ele agora, queria que ele me dissesse que tudo ia ficar bem, mas era melhor que estivesse longe. Assim estaria protegido.
— Chegamos. — Disse Nantai me fazendo sair da distração após estacionar o carro.
Abri a porta e deixei Aylen sair primeiro, depois desci do carro e caminhei com elas até onde Seline e Alex nos esperavam. O mar estava agitado e algumas gotas de água caíam do céu, prestes a iniciar uma chuva bem forte.
— Os outros estão vindo, iremos iniciar o ritual em breve. — Avisei olhando Seline assim que me aproximei.
— Certo... — Concordou, mas logo voltou sua atenção para Alex. — Você precisa ir com os outros, precisa ir ao hospital psiquiátrico e se proteger do que for acontecer.
— Eu não vou deixar você! — Alex insistiu em negação, se virando para ela.
— Alexander Butler, não seja estúpido agora! — Disse Seline como uma mãe dando bronca no filho. — Você não sabe o quão perigoso isso vai ser, eu não quero colocar a sua vida em risco!
— Isso não é uma decisão sua, Seline! Eu quero ajudar vocês, quero ser útil para alguma coisa!
— Você já nos ajudou o suficiente, Alex, e somos gratas a isso. Mas agora você não vai poder ser útil se estiver morto, então mais uma vez eu peço que você vá para o hospital e fique lá até terminamos o ritual. — Seline disse agora com a voz mais tranquila enquanto fitava Alex com um olhar piedoso.
— Seline...
— Alex... — Ela o interrompeu e ele olhou para ela como se tivessem chegado a um consenso apenas com o olhar.
— Tudo bem. — Alexander disse, por fim, se rendendo. — Eu vou, mas quero que vocês voltem bem, todas vocês, entenderam? — Perguntou tentando não demonstrar nervosismo, desviando o olhar de Seline para Nantai, Aylen e eu.
— Entendemos. — Respondi vendo ele terminar sua pequena discussão com Seline e ir embora com a sua moto.
— Como você ainda não percebeu? — Lucy questionou brincando ao se aproximar de nós junto de Anne, que pela distração, nem notamos a presença das duas.
— Não percebi o que? — Seline perguntou se virando para elas.
— Que ele é caidinho por você, bobinha! — Debochou com um sorriso e se aproximou de Nantai e eu. — Onde está Jesse? E Madison e April?
— Devem estar a caminho, enquanto isso vamos preparando o altar. — Nantai respondeu colocando a bolsa que Aylen trouxe no chão.
Começamos a organizar o altar e o círculo para o ritual, colocando algumas velas e símbolos Wiccas para os elementais da água e do ar, mas logo a chuva começou a ficar mais forte. Não podíamos parar, nada nos impediria, então continuamos arrumando tudo até as gêmeas chegarem. Logo depois, Jesse também se aproxima e corre pela areia até nossa direção, finalmente podendo iniciar o ritual.
— Então, como foi? — Seline perguntou se referindo ao plano enquanto olhava Jesse.
— Foi um pouco... difícil, mas Crystal e eu conseguimos limpar o lugar. Carros e ônibus não paravam de chegar, mas com certeza o hospital é bem firme para assegurar a todos. — Disse rapidamente sendo a primeira a se posicionar no círculo.
— Bem, vamos começar o ritual. — Lucy disse alto enquanto todas nos posicionamos no círculo e demos as mãos. — Como treinamos, certo? — Pergunto baixo para Anne, que apenas concordou com a cabeça.
— Seres elementais da água, ondinas, ninfas, nereidas, nós, bruxas wicannas e presentes da companhia da tríade de Hécate, os invocamos! — Anne falou em um tom firme e alta, começando primeiro com os elementais da água na presença do mar. — Suplicamos por ajuda diante do mar, o lar em que habitam e que protegem ao oceano! Deus que rege o mar, forças aquáticas do mais profundo oceano, nos ajudem!
Enquanto Anne falava, pude sentir uma forte onda de poder passar por nós. Olhei para o oceano e vi uma onda bem grande se formando no horizonte. Tentei não entrar em pânico ao ver aquilo, mas era impossível. A onda de poder bateu no mar e se espalhou rapidamente por todo canto, então logo notei algumas figuras azuis brilhantes pelo mar, como águas vivas, mas não eram. Vi uma linha de golfinhos se aproximar nadando e pulando carregando pequenos seres nas suas costas. Eram elas, graças!
— Está funcionando! — Jesse disse aliviada, fazendo a atenção de todos voltarem ao mar, onde as ondas estavam sendo contidas com força pelos elementais.
Sabíamos que aquele não era um evento natural, nem para nós, humanos, e nem para os seres presentes no mundo Wicca. Era algo maligno carregado de ódio, carregado das trevas, que vinha apenas para o mal e para a destruição.
— Não percam o foco! — Anne disse, claramente como uma líder chamando a atenção do coven. — Elementais do ar, nós os invocamos! Eu, a última bruxa verde presente e originada das antigas, das que foram queimadas, eu invoco a força dos ventos! Eu invoco os seres que protegem do ar, suplico para que nos ajudem a deter o lado maligno! — Falou gritando pelo som da forte chuva que impedia um pouco a sua voz de ser clara. Anne estava irradiando uma forte energia dela e transmitindo para nós, como se isso estivesse nos fortalecendo.
Senti uma forte ventania por nós, mais forte do que o normal. Eram rajadas do tornado que se aproximava, mas ele aos poucos ia se desfazendo. Fecho os olhos e me concentro enquanto Anne falava, segurava forte a mão de Jesse e Seline ao meu lado para não nos soltarmos. Parecia que o vento ia nos carregar dali, mas forcei meu corpo e minha mente obrigando-os a permanecer firme e sendo capaz de enfrentar aquela fúria.
— Tríade, agora é com vocês. — Disse Lucy olhando na direção de Seline, Jesse e eu. Fiquei confusa, não tinha planejado nada, mas então suspirei receosa e deixei Seline falar primeiro.
— Elementais do ar e da água, ouçam nosso chamado! Representando a face Donzela de Hécate, suplico para que nos ajudem! — Falou por impulso e então logo Jesse fez o mesmo.
— Elementais do ar e da água, ouçam nosso chamado! Representando a face Mãe de Hécate, suplico para que nos ajudem!
Agora era minha vez. Fiquei nervosa e com medo de tudo dar errado, de grandes desastres serem causados e eu não poder evitar. Tomei coragem e respirei fundo, logo iniciando minha parte não planejada do ritual.
— Elementais do ar e da água, ouçam nosso chamado! Representando a face Anciã da deusa, suplico para que nos ajudem!
Com isso, a intensidade da energia estava muito forte. Pelo ar forte que balançava as árvores e arrastava os carros, vi seres pequenos rodeando o tornado e tentando pará-lo. Todos estavam agindo em harmonia, tanto os elementais da água quanto os do ar. Era difícil enxergar com a ventania no meu rosto, mas vi que estava dando certo, mas os seres talvez não resistissem tanto.
Logo o círculo se quebrou, os elementais da água sumiram e os do ar também, trazendo de volta a enorme onda que chegava mais perto e o tornado que ganhava mais força.
— Tolas, sabia que não iam conseguir!
Lúcifer debochou surgindo do nada com os olhos escuros e asas negras e enormes atrás de si. Ele estava diferente, mais demoníaco e visivelmente mais forte.
Agora era a decisão final. Ou morreríamos tentando salvar a cidade ou acabaríamos com ele de uma vez por todas!
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro