Capítulo 8: Amor Materno
Saint Luna, 25 de Janeiro de 1991
Sexta-feira - 10:59 P.M.
Droga! Adam surgiu do nosso lado como uma sombra, sem nem repararmos. Por que as pessoas gostavam tanto de nos assustar enquanto estávamos distraídas?
— Então, meninas, respondam! — O tom da voz de Adam me deixava cada vez mais nervosa, sem ter tempo de pensar em uma desculpa esfarrapada.
— Professor, esse é o nosso caminho para casa. Não temos culpa de ser o mesmo que o seu! — Jesse falou de forma desafiadora, conseguindo livrar todas nós de uma grande encrenca.
O professor nos olhou desconfiado por alguns segundos, provavelmente digerindo se falávamos a verdade ou não, e então resolveu deixar para lá, se despediu e foi embora. Suspirei aliviada e também resolvi voltar para casa junto com as meninas.
— Essa foi por pouco! — Disse Alice enquanto seguíamos as ruas vazias e escuras, bem medonhas.
— Esse cara é bem estranho. Será que ele é algum tipo de bruxo ou algo do tipo? — Perguntei.
— Tenho quase certeza que não. — Respondeu Jesse dando uma pausa. — Ele ameaçou Mariyah a contar os segredos dela! Eu lembro perfeitamente.
— Sabe, isso está fácil demais. Por enquanto somos café com leite, ninguém de sobrenatural demais notou nosso envolvimento nisso. Quando notarem, nossa ameaça será maior que a do Adam.
Alice era sempre tão modesta e sincera que chegava a dar medo. Depois de alguns minutos andando, chegamos em uma parte que teríamos que nos separar. Nos despedimos e seguimos cada uma para uma direção, a caminho de nossas casas.
Cheguei na mansão mais rápido do que eu imaginava e notei a ausência dos meus pais. Eles nunca saíam sem me avisar, mas como eles dizem, eu não devo me meter na vida deles.
Saint Luna, 27 de Janeiro de 1991
Domingo - 10:18 P.M.
Após passar o final de semana todo trancada em casa, finalmente voltaria à escola. Subi para o meu quarto e fui tomar um banho quente e demorado, colocando meu pijama estrelado e descendo as escadas indo direto para a cozinha. Os empregados são dispensados antes de anoitecer, mas normalmente costumam deixar o jantar pronto. Eu não estava com vontade de jantar, então peguei um pedaço de bolo e um copo de suco e subi de volta para o meu quarto.
Comi meu pequeno lanchinho enquanto lia alguns livros que peguei nas estantes do escritório do meu pai. Falavam da história do colégio Everest High School, mas em nenhum lugar citava sobre Mariyah. Nem em documentos ou nada do tipo, o que era estranho porque meu pai consegue tudo. Pensei em contratar um detetive particular, mas seria meio estranho explicar o porquê de ele investigar uma possível bruxa, então descartei essa ideia.
Quando terminei minhas buscas que não resultaram em nada, coloquei o prato na pia e fui escovar os dentes. Depois voltei para a cama e desliguei as luzes, me preparando para dormir, mas não tive uma boa noite ao contrário do que eu imaginava.
Meu sonho foi o seguinte: Eu estava num lago, em frente a uma casa de madeira. Estava de noite e uma lua crescente iluminava o céu. Estava frio, mas eu me sentia quente.
— Seline, você é a primeira fase.
Sussurrou uma voz como se estivesse ligada à pequena brisa do lugar, me fazendo arrepiar. Seria erótico se eu não estivesse morrendo de medo.
— Lua crescente, a Donzela, a Pureza, a Inocência...
Essa voz começou a sussurrar palavras aleatórias no qual eu não entendia. Estava me deixando louca, e eu não conseguia responder. Para completar, a brisa se transformou em uma ventania tão forte que quase me carregou pelo ar.
De repente o sonho mudou. Vi uma garota parecida comigo, correndo com uma criança no colo. Havia outras pessoas seguindo-a e eles não pareciam felizes. A garota conseguiu despistar a multidão e entrou em uma mansão sem mais nem menos.
Novamente, o sonho mudou. Agora eu me via, era eu com aproximadamente cinco anos, sentada no balanço que havia no quintal da minha antiga mansão em Madrid.
— Mariyah lhe encontrará e você será o que está determinada a ser, minha pequena Donzela. Receberá o amor de mais duas mães, da sua mãe real e da sua mãe-Deusa. - Era a voz que me ajudou no dia em que matei Matteo, eu tinha certeza!
Saint Luna, 28 de Janeiro de 1991 -
Segunda-Feira - 06:24 A.M.
Acordei no susto e no choque. Eu estava suando, literalmente, e olha que eu nunca suava. O quarto continuava o mesmo e já havia amanhecido, mas o sol ainda estava bastante fraco lá fora.
— Mariyah? — Perguntei comigo mesma. O sonho foi tão rápido que nem notei o tempo passar. Talvez seja apenas um sonho, ou seja uma visão, um significado.
Levantei da cama e fui fazer minhas coisas ainda com certo impacto do sonho. Me arrumei para a escola e peguei a minha mochila, descendo pelas escadas e indo até o andar de baixo. Vi os empregados já em ação e fui para a cozinha, me sentando na mesa enquanto uma das empregadas me servia.
— Bom dia, querida. Como foi a noite? — Perguntou ela enquanto colocava suco de laranja no meu copo.
— Bom dia! Ah, sabe, foi normal. — Respondi dando um leve sorriso mesmo que eu não lembrasse o nome dela. — Você sabe onde estão meus pais?
— Pelo o que eu me lembre, eles saíram ontem um pouco depois que você foi para a escola e ainda não chegaram.
Eu estava começando a ficar preocupada, talvez fosse hora de acionar a polícia e a mídia... ou não. Depois que comi (não é porque eu estou nervosa que eu vou perder a fome), peguei a mochila e fui para a escola. Minha mente viajava pensando apenas no sonho. O que aquela voz quis dizer no "você é a primeira fase" ou quando me chamou de "donzela"? Alice explicou que a Deusa assumia três fases que eram relativas à lua. Será que eu era a primeira fase e as meninas as outras? E o que Mariyah tinha a ver comigo?
"Para de se fazer de burra, Seline! Você sabe a resposta, mas no fundo não quer aceitar."
É claro que eu sabia, mas tinha medo. Tinha medo dessa visão ser real, tinha medo da realidade. Não saberia como reagir ao saber de tudo detalhadamente. Cheguei na escola depois de poucos minutos e entrei. Pela primeira vez eu não procurei nem Alice e nem Jesse, mas sim fui direto para a direção.
— Mariyah?
Chamei entrando direto na sala, sem bater. A diretora estava sentada na sua cadeira e levou um susto quando eu entrei com certa força. Fui até sua mesa e encostei minha mão na cadeira da frente, enquanto ela me encarava confusa.
— Seline Grace Martínez, quem lhe deu o direito de...
Antes da mulher continuar seu discurso correto de professora, eu a interrompi mesmo que algo dentro de mim dissesse que ela não era a vilã da história.
— Não me venha com broncas! Eu quero saber a verdade toda! Quem é você? O que você tem a ver com a minha vida? O que quer dizer com o fato de eu ser a primeira fase? Qual sua relação com o Oliver LaRue e com a tia da Jesse? Eu sei o que você é, ou o que você foi, tanto faz, mas eu quero apenas a verdade!
Minha voz saiu mais firme do que eu imaginei. Ela respirou fundo e tirou os óculos, enquanto ainda me encarava.
— Eu não vou dizer que você está louca, porque você não está. — Me sentei na cadeira da sua frente enquanto ela começava a falar, cruzando os braços e a olhando ameaçadora. — Começando pelo seu sonho. É complicado dizer isso, mas Seline, seus pais correm perigo.
— Vá direto ao ponto, por favor! — Digo já nervosa e ansiosa.
— Não era para vocês saberem de nada agora, mas todas vocês cometeram um crime no mesmo ano, cada uma assassinou friamente um homem que as fizeram mal, mesmo que um deles tenha sido Oliver, o pai da sua amiga. — Ela arrumou os óculos e suspirou, logo continuando. — Na verdade foi uma coincidência bizarra porque poderia ter acontecido com qualquer um, mas vocês foram as escolhidas, e você, Seline, é a primeira fase. A primeira fase da Deusa!
Isso eu já sabia, mas tudo começou só porque eu matei meu ex namorado? Ainda havia perguntas que eu gostaria de fazer, como por exemplo onde estão meus pais e o motivo de Alice, Jesse e eu sermos as escolhidas. Antes de eu continuar as dúvidas, a porta se abriu e eu notei uma professora aleatória entrar, então só peguei minhas coisas e saí dali sem falar nada.
— Grande baboseira, continuo sem respostas.
Fui até a área telefônica e disquei o número do telefone do trabalho do meu pai, mas apenas ficou em linha e ninguém atendeu. Minha mãe não trabalha, ela costuma mais resolver as coisas do trabalho do papai do que coisas dela mesma.
— Seline? Onde você estava? Nós estávamos te procurando há um tempão! — Ouvi a voz de Jesse e vi ela se aproximar com Alice.
— Eu tive um sonho, meus pais sumiram e eu acho que estou ficando louca! — Me segurei para não começar a chorar ali mesmo, com várias pessoas passando e me olhando desconfiadas.
— Calma, respira. Quer nos contar como foi esse sonho? — Perguntou Alice colocando a mão no meu ombro.
— Eu ouvi uma voz dizendo que eu era a primeira fase da Deusa, a Donzela. Depois vi como se fosse uma memória, uma garota fugindo com uma criança no colo e se abrigando na minha antiga casa, e depois me vi brincando no balanço dessa mesma casa, e uma voz me disse que Mariyah me encontraria e eu receberia o amor de duas mães, sendo uma delas, a deusa.
— Se você é a primeira fase — Começou Alice e Jesse completou.
— Nós somos as outras duas!
— Isso é loucura! Eu fui até a sala da Mariyah e ela só confirmou, mas ela não falou nada mais do que eu sabia. Disse que nós cumprimos o primeiro ritual quando matamos alguém que nos fez mal e que a deusa nos escolheu. Agora me diz, onde está a vaca dessa deusa que apenas nos complica?
Jesse e Alice se olham, provavelmente com medo dessa Deusa se sentir ofendida e derrubar o teto em cima da gente.
— Seus pais estão bem, Seline. Nós vamos descobrir uma resposta para tudo, eu prometo! — Disse Alice tentando tranquilizar a situação e se aproxima, me dando um abraço delicado. Logo Jesse se aproximou nos abraçando também, com um abraço coletivo.
— Obrigada, meninas!
O sinal tocou indicando que deveríamos ir para a sala. Por sorte, meu primeiro tempo de aula era com a Jesse, na aula de ocultismo, enquanto Alice ia para a aula de física.
Caminhamos em silêncio até a sala e nos sentamos perto, e sem muita demora, o professor no qual eu ainda não conhecia entrou na sala. Ele se apresentou como Abraham, deu uma breve introdução sobre o ocultismo e explicou como funcionaria as aulas dele.
— Esse não é aquele cara de quem a Alice falou? — Jesse sussurrou para mim.
— Sim, ele mesmo. — Respondi no mesmo tom enquanto me ajeitava na cadeira. — Será que ele conhece a mitologia celta? E essas coisas de bruxas, wiccas, magia, Deus, Deusa, Teletubbies ou sei lá mais o que?
— Teletubbies?
— Não muda de assunto, você entendeu!
— Na verdade eu não... — Antes de Jesse continuar, o professor Abraham acaba chamando nossa atenção.
— Meninas, vocês querem se apresentar?
Por que os professores gostavam de fazer isso? Não podemos nem bater assunto casual no meio da aula que eles já interrompiam.
— Não, obrigada! — Respondeu Jesse virando o rosto na tentativa de despistar a atenção.
— Eu quero! — Disse me levantando da cadeira e olhando para ele, depois para a turma que estava em silêncio e me encarando, esperando que eu dissesse algo produtivo.
Acredite ou não, isso é loucura. Eu tinha que passar alguma vergonha para tentar não focar muito nos meus problemas recentes.
— Pode começar.
— Meu nome é Seline Grace Martínez, vim de Madrid mas sou fluente em inglês. É isso, não gosto que derrubem café em mim, aliás.
Digo me sentando novamente e percebo que Jesse estava prendendo a vontade de rir já sabendo ao que eu estava me referindo. Não só ela, mas praticamente a escola toda que presenciou isso.
— Acho que todo mundo sabia isso, senhorita Grace Martínez.
Revirei os olhos e vejo Abraham voltar a explicar a aula. Talvez ele tivesse respostas a mais.
Depois de quase duas horas de aula do Abraham (era a aula mais interessante até agora), o sinal tocou indicando para mudarmos de sala. No momento da troca de sala, sinto alguém me puxar para o canto, tampando minha boca e impedindo que eu gritasse.
— Seline, precisamos conversar!
Disse a voz em espanhol e me virei para ver quem era a pessoa estúpida e a reconheçi imediatamente. Nunca esqueceria o rosto da minha sequestradora.
— Rita?
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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