Capítulo 52: Um Filho Sempre Volta Ao Lar
Saint Luna, 06 de abril de 1991
Sábado - 02:17 P.M.
— Como você descobriu esse lugar? Ele é incrível!
Enquanto eu me segurava nas pontas de um carrossel abandonado, olhava cada detalhe daquele parque. Ele estava totalmente esquecido, mas ainda assim parecia um sonho.
— Digamos que eu tenha andado bastante por Saint Luna e explorado alguns lugares. — Respondeu.
Subi em cima de um dos cavalos de brinquedo parado e olhei ao redor. Fazia quase vinte minutos que estava ali e eu não tinha conhecido nem a metade. Aquele lugar era surpreendente, eu não fazia a menor ideia da existência até vir para cá.
Fiquei um pouco mal por deixar Jesse sozinha durante o dia. Como era aniversário da Alice, Jasper a levou para comemorar em um museu de tecnologia fora da cidade, com minha ajuda, é claro.
— Então você tem um espírito aventureiro? — Questionei brincando, olhando-o lá de cima.
— Talvez. — Deu de ombros.
Pulei do cavalinho até o chão. O lugar estava literalmente vazio, nem uma mosca passava. Era estranho um ambiente daquele estar abandonado há tanto tempo.
— Em uma hora vou me encontrar com Lucy. Ela deve estar comprando os materiais. — Falei me sentando ao seu lado, em um banco que tinha lá.
— Eu ainda não entendi o motivo de vocês fazerem isso com a diretora. — Falou confuso e eu suspirei.
— Lembra que te contei que minha mãe era a diretora? Pois essa mulher chegou e a tirou do cargo. Desde então ela colocou regras tolas como não andar no corredor durante as aulas, não falar muito alto, não abraçar, não ficar no jardim, não ficar depois da hora da saída, não entrar sem o uniforme, não atrasar nenhuma aula e outras coisas.
— Mas por quê ela fez isso?
— Porque desde os assassinatos, achavam que minha mãe era irresponsável. Então colocaram Natalie para impor limites aos alunos, mas não sei bem, ainda não me sinto confiante quanto a isso.
— Entendo. — Lamentou virando seu rosto para mim. — Saint Luna é tão misterioso. Dizem que é a cidade é o berço da bruxaria. Queria ter morado aqui, mas minha irmã preferiu ir para Nova Orleans.
— Quando você vem para os rituais, onde geralmente fica? — Perguntei.
— Fico no hotel dos pais das gêmeas. É um pouco afastado do centro da cidade, mas ele é ótimo.
Desde o Ostará, Chris e eu havíamos nos aproximado. Eu achei estranho ele saber como lidar com demônios, mas pediu para que eu não contasse a nenhum outro do coven. Ele os caçava há tempos, mas o coven proíbe esse tipo de prática entre eles.
Além disso, Chris me ajudou a controlar alguns poderes durante a noite. Quando o demônio do medo chamou ele de "filho da noite", eu entendi o porquê. Não foi em modo literal, mas a tríade divina havia o ajudado uma vez.
— E então, você vai? — Questionei e o olhei travessa, mas acho que ele sabia mesmo sem enxergar.
— De forma alguma. — Negou e eu insisti.
— Por favor, vai ser divertido! — Disse empolgada — Eu prometo.
— Tudo bem, Seline Breyner. Eu vou na festa neon terça-feira. — Respondeu e eu me animei.
Eu me sentia um pouco estranha quando ele me chamava pelo meu sobrenome verdadeiro, mas logo fui me acostumando. Já estava acostumada com o Grace, mas acho que algumas mudanças eram boas. Aliás, não queria ter que carregar o sobrenome daquela mulher maluca e sociopata que ainda está desaparecida, mas eu vou procurá-la e fazê-la pagar pelo o que fez.
— Vamos nos encontrar com Lucy. Ela vai levar os materiais para o porão da escola ainda hoje. A Sharon e o... Alex, vão repassar a informação pela escola antes que Natalie saiba.
Por mais que tenha se passado bastante tempo, ainda me sentia estranha por falar de Alexander. A maior certeza que eu tinha, era que eu gostava dele. Mas por atos e consequências, tive que o afastar de mim, e a melhor forma que ele encontrou de lidar com isso foi ficando com a Sharon.
Ou quem sabe ele já não estava com ela antes, sua burra!
Bem, não importa. Isso é algo que eu queria deixar para trás, e estava começando aos poucos. Não deveria ter me prendido à ela de tal forma, mas acreditava e sabia que seria passageiro.
— Eu nunca ia imaginar que Lucy, a garota imortal e encrenqueira que lidera o coven, seria capaz de se envolver tanto com vocês. — Comentou surpreso.
— Ela é meio mentirosa, mas eu gosto dela. — Admiti me levantando. — Você sabe o motivo da Nantai não gostar dela?
— Ela e a Nantai sempre se desentenderam, mas, acho melhor que ela te conte diretamente. — Respondeu levantando-se logo em seguida, enquanto segurava sua bengala.
Caminhamos até a saída do parque, onde Lucy esperava eufórica. Ela estava com sua forma atual, com os braços cruzados andando de um lado para o outro.
— Nossa, finalmente! — Exclamou quando nos viu. — Achei que tivessem se perdido lá dentro. Você conseguiu falar com o Alex?
— Eu nem tentei. — Admiti. — Mas vamos ir até a escola, talvez ele já esteja lá.
— Chris vai? — Ela perguntou olhando confusa para ele, e eu concordei com um movimento na cabeça. — Achei que odiasse festas.
— Eu odeio. — Falou naturalmente. — Mas ela me convenceu a ir, então não tenho outra escolha.
Sorri convencida por ele ter aceitado ir conosco. Eu estava gostando da companhia de Chris, era a única pessoa que me ouvia falar descontroladamente e não pedia para eu calar a boca. Era uma amizade que eu gostaria de manter, dependendo da bruxaria ou não.
Alguns minutos depois, chegamos na escola. A parte boa de Saint Luna ser uma cidade pequena era que sempre chegamos rápido aos lugares. Mesmo o parque sendo um pouco mais distante, não demoramos como eu imaginava.
A escola estava fechada por hoje ser sábado, mas Alice havia me emprestado uma chave mestra para abrir os portões sem precisar quebrar, arrombar ou destruir nada.
Depois que Lucy abriu a entrada principal da escola, andamos até o porão e logo vi as enorme caixas guardadas lá.
— Quanta coisa! — Falei impressionada, olhando dentro de algumas caixas. — Isso vai ser incrível!
— Eu tenho certeza. — Lucy respondeu mais animada ainda.
Depois de pouco tempo olhando as coisas e replanejando a festa, ouvimos a porta do porão abrir e vimos Alexander e Sharon entrando.
Por que ela deveria estar aqui mesmo?
— Espero que não estejamos atrasados. — Disse Sharon se aproximando, um pouco mais a frente que Alex. — Ah, oi. Quem é esse?
— É um amigo nosso, ele está de passagem por Saint Luna. — Respondi ficando ao lado de Chris. — Chris, esta é Sharon e aquele é o Alex.
— É um prazer conhecê-los. — Falou educadamente.
— E então, Alex. — Lucy o olhou. — Conseguiu avisar a todos?
— Sim senhora. — Afirmou um pouco mais afastado, sentado na escada.
Até que o porão estava um lugar limpo e organizado. Não eram só poeiras e esculturas velhas que abriam passagens secretas como antes. Era um lugar razoavelmente habitável.
— Ótimo. Aquela mulher vai ver o que eu, Lucy, posso proporcionar.
Lucy sabia quem era o assassino, mas ela se fazia de sonsa para não contar. Tudo bem, fazia parte não contar e deixar que descobríssemos sozinhas.
Acreditávamos que era Aaron, ainda mais depois de Alice e Jesse terem descoberto sobre o assassinato. Fazia sentido, mas havia uma peça, um detalhe que não se encaixava. O motivo, a ordem de assassinato. Com certeza não seriam pessoas aleatórias, pois um serial killer sabia muito bem escolher as suas vítimas.
Por parte, ele estava sendo levemente manipulado por Lúcifer, para que nos ocupássemos com essa investigação e acabássemos esquecendo nosso propósito de magia.
Aaron aparentemente era um garoto normal e encrenqueiro, mas será que poderia realmente ser um assassino em série?
Durante as semanas, o observamos. Enquanto Dylan não voltava para a escola, Aaron e seus amigos atormentavam alguns outros garotos, porém, não chegaram a espancar mais nenhum.
— Seline? Você está ouvindo? — Lucy me cutucou, e eu voltei à realidade.
— O que? O que diziam?
— Eu perguntei como faríamos para transmitir as músicas pela escola toda. — Perguntou irritada.
— Bem, deixe-me ver. — Pensei por um tempo e sugeri algo. — Que tal pedir para a Alice mexer com aqueles fios estranhos para que as músicas sejam transmitidas pelo alto-falante?
— Tudo bem, podemos tentar. Mas tudo deverá estar pronto terça-feira de manhã antes que qualquer pessoa chegue.
— Eu sei. — Cruzei os braços e encostei meu corpo na parede.
Pelo visto a madrugada de terça-feira seria longa.
Saint Luna, 08 de abril de 1991
Segunda-feira - 07:01 A.M.
Eu acordei exausta. A semana estava apenas começando e amanhã seria o grande dia.
Ontem eu não vi Jesse e nem Alice, e confesso que fiquei um pouco preocupada. Quando cheguei na escola, Jesse estava parada em um dos corredores, pensativa e angustiada.
— Jesse? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei preocupada e ela me olhou.
— Sim, e eu não sei o que fazer!
— Me contar é uma opção. — Sugeri e ela se aproximou um pouco mais de mim.
— A Crystal está vindo para a cidade, para morar! — Falou desesperada.
— E isso não é bom?
— Ela está desconfiada sobre o assunto de bruxaria e essas coisas. Ela lembra alguns detalhes do sequestro, e se Stephen ou Lúcifer descobrir...
— Eles não vão fazer nada. — Disse tentando acalmá-la. — Estaremos aqui para protegê-la.
— Não podemos apenas proteger Crystal. Estamos correndo contra o tempo para desvendar esse assassinato e impedir que Stephen continue com o plano louco!
Por parte, Jesse tinha razão. Ah, Cristalzinho de Ouro, por que foi aparecer logo agora? Por que não ficou traumatizada e se afastou de Saint Luna para sempre?
— Se não podemos protegê-la, vamos ensiná-la e se defender sozinha.
Jesse saberia o certo a fazer. Eu afastei Alex de mim para que ele não pudesse ser um alvo, e Alice hipnotizou Jasper com o mesmo objetivo. Crystal não poderia estar desprevenida, senão seria pega novamente. Dessa vez, Stephen não teria piedade.
— Bom dia, meninas!
Alice se aproximava com os passos de passarinho, quase não a percebemos. Ela estava feliz, então supus que havia aproveitado bastante o seu aniversário.
— Bom dia, pequena master gênio. — Falei e ela olhou preocupada para Jesse.
— O que aconteceu?
Dei um breve resumo de meu assunto com Jesse. Alice concordou com tudo o que eu havia dito, dando uma esperança maior para a garota.
Enquanto falávamos, o sinal indicando para irmos para a sala de aula havia tocado. Dessa vez, se Natalie viesse qualquer aluno no corredor depois do toque, ela nos mandaria para a sala de advertência.
Queria dar uma advertência na cara dela.
As vezes meu subconsciente tinha vida própria, mas confesso que ele era bem sábio.
— O que todos ainda estão fazendo nos corredores? Não ouviram o toque? Vão para as salas agora! — Natalie gritou se aproximando, mas ninguém a obedeceu.
Notei que todos estavam sussurrando uns com os outros, como se a maior notícia do século tivesse se espalhando. Conforme Natalie falava, todos a ignoravam mantendo o foco em algo que os chamava atenção.
— Por que desse alarde todo? — Alice perguntou ao meu lado, surpreendentemente também ignorando os gritos de Natalie.
— Não sei, não consigo ver! — Reclamei.
Quando todos deram um espaço a mais, vi um garoto entrar. Ele vestia um casaco preto com um capuz na cabeça. Seus olhos pareciam cansados como se não dormisse há um tempo, mas ignorava os sussurros vindo pela sua presença. O garoto segurava a mochila com uma alça só no ombro, então significava que havia voltado para a escola.
Tentei me lembrar do seu nome. Qual era mesmo? Ah, droga!
Eu havia o visto no funeral da Audrey, havia o visto também na delegacia e no dia do incêndio da igreja. Ele estava lá todas as vezes, e ainda era bastante nítido a imagem dele gritando para que Anne Watson se afastasse do fogo, mas ela parecia hipnotizada.
— Tyler Wright. — Sussurrei, ao finalmente me lembrar do seu nome.
Natalie novamente tocou o sinal, só que dessa vez por mais tempo. Todos foram obrigados a irem para as salas, menos Tyler, que a acompanhou para sua sala.
Tyler havia voltado para a Everest High School, e eu ainda não havia entendido o motivo. Ele voltou porque quis ou porque precisava descobrir alguma coisa?
Eu estranhamente tinha uma leve sensação sobre ele. Apavorante!
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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