Capítulo 49: Caminho das Estrelas
Saint Luna, 19 de março de 1991
Terça-feira - 02:23 P.M.
— Essa é Lucy. Ela é... irmã da Jesse.
Alexander olhou de forma curiosa para Lucy, que agora possuía sua forma física anterior, como uma estudante de quinze anos.
— Eu não sabia que a Jesse tinha irmã. — Comentou.
— As pessoas não sabem de muita coisa. Eu e a Jesse somos muito próximas, sei o quanto ela me ama. — Lucy falou de forma que parecia real, como se não houvesse uma pitada de sarcasmo.
— Com o que exatamente você vai nos ajudar? — Alex perguntou e Lucy fez sua típica expressão travessa.
— Meu querido, eu posso ajudar de muitas formas. — Ela colocou uma das mãos no queixo e nos olhou pensativa. — Sabe, sempre gostei de causar discórdia em alguns lugares. E se minha amiga Seline não gosta dessa mulher, eu também não gosto.
Há mais ou menos uma hora, eu tentei falar com Lucy para que ela nos ajudasse. Sei que Jesse e Alice estariam ocupadas investigando o assassinato e visitando Dylan no hospital, então preferi não atrapalhar. Além disso, Lucy era a pessoa perfeita para nos ajudar nesse momento, e era algo que ela adoraria fazer.
— Então. — Chamei a atenção dos dois. — Por onde começamos?
— Antes de tudo, quero repassar alguns objetivos para este tipo de confronto. — Anunciou ao se sentar na mesa da biblioteca da escola. — Primeiro, vocês não poderão fazer com que Natalie surte apenas com os dois. Criem laços, uniões, de preferência a escola toda, como um manifesto.
— Você quer que juntemos a escola toda para infernizar Natalie? — Alex questionou surpreso. — Não é uma má ideia...
— Segundo. — Continuou a falar. — Se querem essa rebelião bem feita, vão precisar de tempo.
— Tempo? Quanto tempo? — Perguntei analisando as opções que ela falava.
— O suficiente para organizar tudo.
— Você ainda não disse o que pretende fazer. — Alex insistiu cruzando os braços.
— Deixar Natalie com as regras dela, esperar os alunos a odiarem e montar uma festa. — Falou naturalmente, e Alex e eu nos olhamos confusos.
— Uma festa? — Perguntamos juntos.
— Vocês são tão inocentes! — Comentou rindo e desceu da mesa. — Vamos fazer um estrago, a melhor noite das nossas vidas!
Eu estava começando a compreender as ideias de Lucy. Ela era esperta e travessa, coincidentemente a arma perfeita contra Natalie. Esperava que tudo aquilo fizesse Mariyah voltar para a escola antes que punições maiores fossem tomadas. Não queria que houvesse mais nenhum assassinato na escola, mas minha intuição dizia o contrário.
— Alexander, posso te fazer uma pergunta? — Questionou Lucy, agora olhando diretamente para mim.
A encarei como quem dissesse "se você falar o que não deve, eu te mato". Mas obviamente era isso que ela iria fazer, então antes de qualquer pergunta, cobri meu rosto de vergonha.
— Claro. — Concordou.
— É verdade que você salvou a Seline quando ela estava sendo afogada?
O garoto a olhou confuso, mas respondeu com o máximo de humor e realidade possível.
— Sim, e também do assassino quando ela invadiu a escola. — Afirmou se gabando. — Mas acho que ela não gostou da minha ajuda, não é, Seline?
— É. — Falei e dei de ombros. — Não foi a primeira vez que eu já quase morri, você só atrasou esse processo.
Lucy e Alex começaram a rir e eu os olhei sem entender o motivo daquela. Maldita hora que eu fui me comunicar com Lucy! Aquela garota era traíra e provavelmente faria algo para acabar ainda mais com a minha vergonha.
— Alex? Estou atrapalhando? — Uma voz entrou na biblioteca, fazendo os dois pararem de rir.
Sharon passou por algumas outras pessoas e caminhou até chegar ao Alex. Ela cumprimentou Lucy e eu com um sorriso, e logo voltou sua atenção ao seu "namorado" (ou ex).
— Na verdade não. Só estávamos conversando sobre uma coisa, que aliás, você vai nos ajudar. — Falou um pouco desconfortável com sua presença.
— Ela vai? — Lucy perguntou sem nem disfarçar.
— Claro, por quê não iria? — Perguntei de volta fazendo ela me olhar duvidosa.
— Achei que ela não fosse do tipo que adora rebeliões. Mas já que ela pode ajudar, por mim tanto faz!
Não sabia de onde vinha a implicância de Lucy, mas tinha certeza de que ela não apoiava a ideia de Sharon e Alex estarem saindo. Eu sabia muito bem o que a mente perversa daquela imortal pensava.
— Do que vocês estão falando? — Sharon questionou totalmente perdida no assunto.
— Depois eu explico. — Disse Alex cortando qualquer outro assunto, antes que Lucy falasse algo mais.
— Tudo bem. Vamos? — A garota colocou os braços ao redor de Alexander, que, antes de sair ao seu lado, sussurrou um "continuamos depois" para mim e para Lucy.
Assim que Alex e Sharon deixaram a biblioteca, fiquei observando a porta e pensando no porquê. Será que se eu não tivesse o impedido de se aproximar no dia do enterro do meu pai, as coisas teriam sido diferentes? Ou será que já existia um sentimento entre ele e Sharon há muito tempo, onde eu havia sido apenas uma pedra no caminho deles?
Agora, nada disso importa mais. Se eu fiz o que fiz, foi por um bem maior. Ele poderia ter corrido ainda mais perigo com Lúcifer querendo recrutar as meninas e eu para seu time maléfico, e poderia usar quaisquer armas para isso.
Ou não será você que tem medo de amar?
Mais uma vez meu subconsciente falando coisas que eu não queria ouvir. Pelo menos dessa vez não o respondi como se fosse uma pessoa real, e não fruto da minha imaginação.
— Uau, que tensão sexual entre vocês.
Eu havia esquecido que Lucy estava perto de mim, então acabei levando um susto. Me virei para ela e notei um sorriso bobo no seu rosto.
— Não começa. — Falei andando na direção da saída daquele lugar.
— É sério, você não viu como ele olha para você? — Insistiu animada enquanto me seguia. — E aquela garota, totalmente sem graça nenhuma. Isso é melhor que filmes impossíveis de romance!
— E você, nem pense em fazer algo.
Saímos da biblioteca e andamos pelo corredor da escola, a caminho da saída daquele lugar amaldiçoado.
— Tente me impedir, queridinha!
Revirei os olhos com sua ameaça e desci os degraus da entrada do colégio, procurando para ver se havia algum táxi disponível para me levar embora, já que hoje eu não estava com disposição para caminhar como Jesse fazia todo dia.
— Se você fizer alguma coisa, eu te mato! — Ameacei de frente para ela.
— Você não pode, eu sou imortal. — Debochou e deixou sua expressão séria. — Não precisa ficar triste por um sacrifício próprio. Foi bem inteligente da sua parte afastá-lo para protegê-lo. Apenas tão romântico!
— Talvez. — Dei de ombros um pouco desconfortável com aquela conversa.
— Até mais, Grace.
E então, no meio da rua, no momento em que não havia ninguém passando ou observando, Lucy desapareceu como uma fumaça.
Quando cheguei em casa, passei o resto do dia ajudando e apoiando Mariyah. Ela estava mal por ter sido expulsa, mas tentava não demonstrar para que eu não me preocupasse.
Ela havia ido dormir cedo, por volta das nove da noite. Eu não conseguia pregar os olhos na cama, meu coração estava apertado por algo que eu não sabia explicar.
Será que aconteceu algo com as meninas?
Me levantei da cama e vesti um casaco. Saí em plena noite pelas ruas de Saint Luna, até chegar à típica floresta Sweet. Eu andei durante vinte minutos, o que para mim pareceu cinco.
Diminuí os passos ao sentir estar sendo observada. Não soube bem se era uma pessoa ou um ser diferente, mas aquele olhar me dava calafrios.
Confesso que fui burra ao vir para a floresta no meio da noite e sozinha. Parecia típico de filme de terror, e a mocinha sempre morria.
Só que dessa vez a mocinha é uma bruxa.
— Tem alguém aí? — Perguntei em passos lentos, tentando enxergar os galhos naquele escuro. — Ah, claro. Até porque se tiver, com certeza vai me responder.
Em rápidos movimentos, senti meu corpo sendo empurrado para frente. Ao cair no chão, me levantei na mesma hora e criei uma chama em minhas mãos para iluminar o ambiente, mas não havia nada ao redor.
Senti algo rápido correr por trás de mim, arrastando todas as folhas em volta. Olhei e tive finalmente a certeza de que havia alguém ali, e que aquele alguém não era humano.
— O que você quer?
A criatura finalmente parou de se movimentar. Ele usava um capuz escuro e não dava para notar seu rosto. Ouvi sons de correntes arrastando, e quando olhei seus pés, os vi amarrados da cintura até as penas por correntes de aço.
Era apavorante, totalmente diferente do metamorfo que enfrentamos ontem. Por conta do meu poder esgotado, não teria muito o que fazer com uso de feitiço, apenas pedir proteção à deusa.
Aquele ser das trevas com certeza havia saído do inferno, era um tipo de demônio que de uma forma ou de outra conseguiu escapar.
— Elas acharam o portal do inferno. — Sussurrei comigo mesma e o demônio começou a se aproximar.
Tentei correr, mas ele apareceu em sombra na minha frente, tirando qualquer tentativa de fuga.
Notei o céu e vi que hoje havia mais estrelas do que o normal. A lua também brilhava como nunca, ou talvez fosse apenas fruto da minha imaginação apavorada.
O demônio se aproximou ainda mais feroz, e ao seu redor saía um tipo de fumaça negra que me percorria aos poucos. Aquela sensação que senti quando começaram a me rodear, era de total pavor e medo. Me senti assustada, revivi todos os meus maiores pesadelos e torci para sair daquele querendo ou não querendo.
— Luna tuarum protege me. — Falei com dificuldades, e no mesmo instante, uma barreira lunar me rodeou e impediu que aquela sombra continuasse me prendendo.
Sorte sua.
— Tão patética a garota que tenta agir como se soubesse se defender, mas sempre precisa que alguém venha salvá-la. — O demônio falou se aproximando aos poucos da barreira, mas sem conseguir invadir.
— Achei que demônios tivessem a voz mais grossa, mas você parece que tomou gás hélio. — Falei como afronta e ele pareceu não gostar.
— Não adianta esconder-se atrás de piadas, todos sabemos que você tem medo de ficar sozinha como agora.
Ele deu um soco na barreira lunar, que se enfraquecia cada vez mais que eu não resistia. Por esse uso de poder, eu estava fraca. Minha mente insistia para ser desligado, mas meu corpo lutava cada vez mais para resistir.
Na quarta pancada contra a barreira, ela se desfez e eu caí de joelhos no chão. Sabia que não haveria chances nem de sair correndo, então apenas agradeci à deusa pelos poucos minutos com o feitiço. O que me restava era apenas esperar, enquanto as sombras corrompiam meus pensamentos e invadiam meus medos mais profundos.
Quando estava prestes a desmaiar, o demônio deu um grito e começou a se afastar do meu corpo, junto com as sombras.
— O que você pensa que está fazendo? — Perguntou indignado, e eu jurava que era para mim.
— Não lembra de mim? Nos encontramos no último verão e eu te devolvi para o inferno. — Falou uma voz por trás de mim, um pouco distante, mas eu não o reconheci.
— Você de novo, filho da noite! — O demônio falou com certo rancor na voz, e quando pretendia atacar novamente, se explodiu em pó negro e foi levado pela brisa.
— Eu espero que ele não tenha te apavorado tanto. Sempre que eu consigo prendê-lo, ele arruma uma forma de escapar. — Comentou e se aproximou, mas eu não consegui enxergar por causa da fraqueza que sentia.
Forcei me levantar do chão e me apoiei em uma árvore próxima. Eu odiava quando fazia coisas desnecessárias e impulsivas, e de certa forma burras. Era algo maior que eu que me controlava, e isso tinha que acabar.
— Obrigada. — Agradeci e respirei fundo, e antes de realmente apagar, senti minhas energias voltarem para o meu corpo.
Quando finalmente olhei o garoto na minha frente, pude perceber que ele era como outro qualquer. A diferença é que provavelmente era um bruxo, um feiticeiro ou algo do tipo.
— Você é uma daquelas garotas da nova tríade, não é? — Perguntou e eu o olhei confusa.
— Sim. Como você sabe sabe?
O rapaz era pouco um mais alto que eu, tinha os cabelos castanhos médios e levemente enrolados. Mas havia algo de diferente em seu olhar: era vazio e escuro como a noite, e haviam certos pontos que pareciam estrelas brilhando no céu.
— Todos sabemos. Aliás, eu devo estar te assustando. Às vezes esqueço de assumir minha forma normal, mas eu não consigo enxergar com esses olhos. — Falou, e numa piscada de olhos, eles voltaram ao normal para um castanho claro.
— Como assim não consegue enxergar?
— Eu não consigo enxergar com esses olhos. — Repetiu como se fosse óbvio. — Os outros foram uma benção, mas eu só posso usar durante feitiços.
— Quem é você? — Questionei curiosa, e no momento que ele ia responder, ouvimos um som alto e distante, mas que fazia o chão tremer.
— A Nantai precisa de mim. — Sussurrou ao se afastar, e começou a andar na direção do som.
— Espera! — Chamei e ele se virou. — Você ainda não me respondeu. Quem é você?
— Logo mais você vai descobrir.
Ele respondeu e, em poucos segundos, desapareceu pela floresta.
Aquela havia sido uma noite diferente (e quase me matou), mas uma coisa eu não tirava da cabeça. O demônio havia dito que sempre que eu estava em perigo, alguém me salvava. Mas, quem seria aquele alguém?
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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