Capítulo 4: Quando nos Conhecemos
Saint Luna, 21 de Janeiro de 1991
Segunda-feira - 07:00 A.M.
Eram sete horas da manhã, o primeiro dia de aula na Everest High School e todos os alunos passeavam perdidos pelos corredores. O sinal ecoou um som agudo e irritante, me fazendo ter vontade de arrancar meus tímpanos.
— Sala trezentos e nove. — Relembrei comigo mesma em voz alta para onde eu deveria ir já que nunca havia estado ali antes.
Minha primeira aula seria de geografia, depois seria inglês e por fim artes. Ótima combinação para uma segunda-feira.
Comecei a andar pela escola até achar uma escadaria. Subi as escadas e fui procurar de porta em porta pela sala trezentos e nove, mas eu parecia estar em um labirinto já que este lugar era enorme!
— Jessica Whitmore?
Chamou alguém atrás de mim. Quando me virei, percebi uma mulher alta e com os cabelos castanhos escuros presos em um coque. Seus óculos de grau tiravam toda a beleza dos seus olhos azuis celestes. Presumi que seria Mariyah, a diretora de quem minha tia Liz havia mencionado antes de eu começar as aulas. Elas se conheciam, mas eu ainda não sabia exatamente de onde.
— Eu? — Perguntei. Fui um pouco lesada, mas haviam certas questões que eu não sabia responder sem ser lerda.
— Sim, Elizabeth me avisou que viria. Está perdida?
— É, eu acho que sim. — Suspirei enquanto outros alunos passavam por nós nos olhando. A questão é, Mariyah era o tipo de diretora que todos odeiam, o tipo boazinha que todos adoram ou o tipo que não liga para a escola e muito menos para os alunos?
— Venha, vou lhe mostrar para onde deve ir. — Ela começou a andar pelo corredor e eu a segui. — Qual é a sua primeira aula?
— Geografia. — Respondi enquanto ela me levava para uma das salas com um quadro ao lado escrito "trezentos e nove - geografia".
Pelo o que eu percebi, as salas eram divididas por matérias, ou seja, cada matéria ficaria em uma sala diferente. Achei mais simples e prático, talvez facilitaria minha vida.
— Qualquer coisa me chame na minha sala. — Mariyah deu um sorrisinho fraco e eu agradeci, logo entrando na sala.
Depois de duas horas de geografia e mais uma de álgebra, o sinal irritante tocou novamente, mas dessa vez era para irmos ao intervalo.
Eu ainda era como uma desconhecida aqui, mas todo o primeiro dia de alguém era assim. Estava no terceiro ano do ensino médio, e meu último, ainda assim eu não sabia o que faria da vida, menos ainda qual faculdade eu cursaria.
Saí da sala que eu havia mudado e desci as escadas novamente, caminhando até a sala de Mariyah para perguntar sobre as aulas extras, no qual obviamente eu faria arco e flecha. Era bizarro um colégio ter aulas adicionais com armas letais, mas certo dia essas armas me salvaram.
Uma garota sai da sala de Mariyah, passando por mim quase me esbarrando. Decido não falar nada porque ela parecia tensa, mas noto um papel caindo do seu bolso.
— Ei, você deixou cair!
Avisei para a garota, mas ela não escutou. Me aproximei do papel e o peguei do chão. Ele estava amassado, mas aberto e escrito com letras grandes, o que me possibilitou a ler mesmo que eu não quisesse.
— "Você vai se arrepender pelo o que fez." — Sussurrei reproduzindo as palavras, que soaram mais como ameaças. Aquela garota parecia ter entrado em uma encrenca maior do que eu imaginava.
Fiquei parada por alguns instantes na porta, pensando se entraria para falar com a diretora ou se iria atrás da garota. Suspirei com dúvida e saí pelos corredores, procurando a garota do papel. Andei na direção em que ela havia ido, mas eu não a encontrei.
— Estranho.
Resolvi que entregaria quando a visse outra hora em outra oportunidade, logo andei de volta para a sala de Mariyah e bati na porta antes de entrar. Ela me viu e tirou seus óculos, enquanto encarava eu me aproximando.
Após resolver os dias das aulas adicionais, saí da sala da diretora e fui ao refeitório, pois estava faminta. Caminhei até a fila do almoço e peguei uma bandeja. Pelo menos a comida parecia ser boa e nutritiva, mesmo que ainda eu preferisse fast food.
Me sentei em uma mesa sozinha enquanto começava a comer tranquilamente e em paz.
Vejo uma garota com os cabelos castanhos e olhos verdes, toda enfeitada e rodeada de "seguidoras". Presumi que aquela fosse a popular da escola que todos invejam, o velho clichê que nunca enjoava. Eu me divertia vendo-as arrumando confusões, sendo metidas de forma engraçada e levando fora dos populares, porém não gostava de quando se metiam com pessoas que nunca fizeram nada para elas.
Ela e as amigas se sentaram numa mesa rodeada de outras barbies e rapazes do tipo popular. Era o primeiro dia para todos nós, mas parecia que eles se conheciam há anos. A única coisa pior do que ser um novato, era ser um novato no último ano do colegial.
— Garota você não viu por onde anda? Você sabe quem eu sou, novata? — Ela começou a gritar com outra mais ao seu lado. — Você tem muito o que aprender ainda, queridinha. Tem que saber que quem manda neste lugar sou eu!
Eu estava perdida comendo, então não me liguei sobre o que tinha acontecido. Pelo o que parecia, uma novata (como eu) havia perdido o equilíbrio e derrubado seu copo de refrigerante na garota popular que surtou mesmo aquilo sendo um acidente.
Eu já presenciei várias vezes aquele tipo de cena, e era sempre a mesma coisa: a popular gritava com a novata e a novata abaixava a cabeça e ia ao banheiro chorar. Mas dessa vez foi diferente. Parecia que eu conhecia a novata, mas eu não sabia exatamente de onde.
Ao invés de abaixar a cabeça em ofensa e sair, ela levantou a postura e olhou diretamente para a outra.
— Eu já disse que foi sem querer e já pedi desculpas. Eu não estou nem um pouco interessada em quem é você e nem no que deixa de fazer. — Por um momento, a expressão da veterana era de choque, como se nunca tivesse acontecido algo assim antes. — Quer saber? Não ligo no que você manda, tenho coisas mais importantes para me preocupar.
A garota derrubou o resto de refrigerante que havia sobrado no copo em cima da cabeça da popular e saiu da frente dela, que ainda estava perplexa. Seu olhar lançado sobre a novata, aparentemente era de ódio, e todos do refeitório perceberam e ficaram em silêncio ouvindo toda a confusão.
Depois que terminei de comer enquanto assistia aquilo, levantei e coloquei a bandeja vazia onde deveria colocar. No momento em que passo por ela e pelo seu grupinho, pode ouvir eles falando de uma "vingança".
— Você vai realmente trancá-la no banheiro e dar um susto só porque ela derrubou refrigerante em você, Nora? Foi só um acidente! — Disse uma das amigas para a veterana, Nora.
— Ela precisa saber com quem está lidando. — Foi a sua resposta.
Eu não pude ouvir mais nada porque saí daquele espaço. A novata não parecia querer arrumar confusão, pelo contrário, ela resolveu não dar muito ibope para Nora. Pensei em avisá-la sobre o que a veterana pretendia fazer, mas talvez se ela descobrisse, sobraria pra mim.
Não liguei para consequências, apenas fui atrás da garota que se direcionava exatamente para o banheiro.
— Novata, espere! — Chamei sua atenção e ela se virou, me olhando curiosa.
— Você é uma daquelas do grupinho popular que tentou me pôr no chão? Se quiser falar alguma coisa, recomendo voltar para sua roda de amigos. — Disse com um sotaque espanhol e exausto.
— Eu não sou uma delas, nem cara eu tenho. Enfim, eu sou Jessica. Ouvi a garota com quem você discutiu, Nora, e os amigos dela combinando uma vingança contra você quando você fosse para o banheiro. Finge que não foi eu que avisei.
Ela me encara por uma segundos, tentando absorver tudo o que eu lhe alertei. Não era muito comum esse tipo de aviso, mas achei que talvez fosse melhor evitar uma catástrofe, eu não gostava de injustiças.
— Então vamos deixar essa Nora achar que conseguiu. Vamos deixá-la cair na sua própria armadilha.
Sim, eu me lembrava dela! Ela foi notícia por quase uma semana na TV por um sequestro na Espanha. Pelo o que eu sei essa garota é podre de rica, mas ainda não entendia o que ela fazia aqui, na Califórnia. Resolvi não me intrometer perguntando sobre seu caso, até porque ela já deveria estar cansada de responder as mesmas coisas.
— Como você pretende fazer isso?
— Você vai ver, venha! — Ela avisou e começou a andar até o banheiro feminino.
Quando passamos pelo corredor, vi algumas garotas que estavam com a Nora mais cedo, paradas um pouco afastadas do banheiro. Entrei atrás de Seline e percebi a aproximação delas sobre nós.
— E agora, qual é o seu plano? — Me virei para Seline notando sua serenidade no olhar.
— Deixe-as entrar, acharem que estou presa e fazerem o que tiverem que fazer. Enquanto isso você vai até a sala de Mariyah alertá-la do que está acontecendo o mais rápido possível.
Era perigoso, as garotas poderiam fazer qualquer coisa com Seline sem ninguém perceber, mas era o que ela queria então eu não iria opinar.
Fiz tudo como planejado. As garotas entraram no banheiro como se não quisessem nada, e nesse momento eu fui até a sala de Mariyah andando rápido e sem olhar por onde.
— Ai! — Senti alguém esbarrar em mim, levantando logo o olhar.
— Desculpa. — Percebi que eu conhecia aquela garota. Era a que saiu da direção hoje cedo e deixou o papel cair.
— Isso é seu? — Tiro o papel do bolso e entrego a ela. Ela segurou o papel e o observou. Seu olhar parecia distante, como se estivesse se lembrando de algo.
— Sim, obrigada.
Eu decidi não perguntar o que aquilo significava, aliás cada um deveria ter seu próprio espaço e eu não queria dar uma de fofoqueira, mesmo que a curiosidade sempre acabasse me consumindo.
— Eu tenho que ir até a sala de Mariyah, depois nos falamos com mais calma.
— Eu também tenho, podemos ir até lá juntas. — Disse a garota e eu afirmei concordando. Andamos até a direção e a primeira a começar a falar foi a garota. O nome dela era Alice, ela apenas queria saber os dias e horários das aulas adicionais.
— Diretora, umas garotas prenderam outra garota chamada Seline no banheiro por causa de uma confusão mais cedo. Elas estão lá, acho melhor a senhora resolver!
Mariyah arregalou os olhos e se levantou, indo imediatamente até a área dos banheiros. Por sorte não havia acontecido nada, apenas Nora estava ameaçando Seline com o banheiro trancado e as amigas fora. Seline sendo debochada e dando uma de louca, viu a aproximação de Mariyah e começou um leve teatro.
— Nora, o que eu te fiz? Eu apenas queria ser sua amiga e você ameaça acabar com a minha vida? Você me prendeu no banheiro e ameaçou destruir minhas coisas. Você é um monstro!
Eu sabia que ela não falava nada com nada e que tudo não passava de uma mentira, mas depois disso eu tinha certeza de que Nora deixaria Seline em paz, nem que fosse por um tempo.
— Ela está mentindo! Eu não... — Começou Nora alterada tentando se defender. Mariyah a interrompeu e levou a garota para a sala dela, junto com as amigas.
— Arrasou! Já pensou em fazer em teatro? — Perguntei rindo junto com Seline, depois das garotas saírem.
— Na verdade já, mas não sei se quero. Vamos sair daqui, o intervalo vai acabar em breve!
A próxima aula era de química, com um professor chamado Adam. Ele tinha mechas loiras no cabelo e os olhos castanhos escuros, com uma leve raspa de barba. A garota de mais cedo, Alice, teve a mesma aula comigo, portanto sentamos perto.
A aula durou uma hora e meia até acabar. Quando íamos sair da sala, Mariyah entrou e deixou a porta entreaberta. Ficou apenas Adam e Mariyah na sala, mas não ligamos, apenas começamos a andar pela escola procurando Seline.
— Acho que eu esqueci meu livro de química na sala. Pode voltar comigo? — Perguntou Alice e eu confirmei.
Voltamos para a sala e antes de entramos, ouvimos como se os dois estivessem discutindo ou sussurrando algo como uma briga.
— Mariyah, você ainda está na minha mira. Não pense que sua ligação com as famílias Whitmore, LaRue e Grace irá te livrar do seu passado. Eu sei de tudo! — Era a voz de Adam, o professor.
— Oi meninas, o que vocês estão... — Tampei a boca de Seline com as mãos quando ela se aproximou, tentando continuar ouvindo a conversa. Eu era Whitmore, deveria saber sobre o que eles falavam da minha família.
— Adam, você deveria parar de se meter aonde não é chamado! Minha relação com Seline não é da sua conta, nem do que vivi com Elizabeth e com Oliver. Seu estúpido! — Seline, Alice e eu nos olhamos quando ela terminou de falar, ambas bastante confusas
— Meu sobrenome é LaRue e Oliver...meu pai, mas o que isso tem a ver? — Sussurrou Alice e eu dei de ombros.
— O meu adotivo é Whitmore, então eu também quero saber. — Respondi.
— E eu sou Seline. — Disse Seline e eu a olhei como "é mesmo? Eu nem sabia!" — Grace. Também citaram o meu sobrenome.
Alice bateu na porta antes de entrar e pediu licença. Mariyah e Adam pararam o assunto e deixaram Alice entrar e pegar o que havia esquecido e ela logo saiu da sala.
— Vamos sair daqui! — Caminhamos até o portão da saída. Era meio dia, então ainda estava claro.
— Acho que o fato de nos conhecermos não foi sem motivo, tem algo envolvido que Mariyah e Adam sabem e estão nos escondendo. Eu estou disposta a tentar descobrir, e vocês?
Elas confirmaram com a cabeça. Isso seria uma longa história, teríamos um longo caminho para ligarmos todos os fatos. Iniciaríamos uma investigação, e talvez até mesmo uma amizade.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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