Capítulo 32: O Que Todos Sabem
Saint Luna, 14 de Fevereiro de 1991
Sexta-feira - 12:17 A.M.
Todos sabem que a cidade de Saint Luna sempre foi misteriosa. Não digo do tipo em que seja perigoso, pelo contrário, as pessoas confiam muito umas nas outras, mas nem sempre elas falam a verdade.
Cada membro desta cidade exerce uma função específica, meu pai, por exemplo, é o detetive. A minha seria bem básica: estudar.
Mas... o que eu realmente faço?
Cheguei em casa após investigar alguns casos que meu pai deixou escorregar, e confesso, era um mais emocionante que o outro.
— Olha quem chegou. — Disse uma voz feminina sentada no sofá.
Tirei meu casaco e o pendurei, já que dentro de casa o clima estava agradável. Encarei a garota com uma das sobrancelhas levantadas e me perguntei: o que ela fazia ali?
— Não é da sua conta, Louise. — Respondi delicadamente olhando ao redor e notando que estávamos sozinhos. — O que você está fazendo aqui a esta hora?
Ela revirou os olhos e respirou fundo, como se estivesse entediada.
— Te esperando. O que mais estaria fazendo?
— Dormindo. — Afirmei como se fosse óbvio. — Onde está o pai?
Louise desviou o olhar como se não quisesse tocar no assunto, ou até mesmo como se quisesse esconder algo, mas ela sabia que não ia adiantar.
— Ele recebeu um chamado daquele amigo dele, o Charlie. Houve um sequestro e outros problemas envolvendo a família daquela garota que você gosta. Qual o nome dela mesmo? Selena? — Falou se fazendo de desentendida.
— Seline. — Corrigi tentando não me irritar pela forma que minha irmã se faz de sonsa. — E eu não gosto dela.
— É mesmo? — Questionou debochadamente e deu um sorrisinho vitorioso. — Você fica tão idiota quando está apaixonado.
— Se você continuar falando o que não deve — Me aproximei do sofá em que a garota estava e a encarei seriamente. — eu conto para o pai que você namora escondido na escola.
— O QUE? — Gritou, se levantando do sofá. — Como você sabe?
Agora quem sorriu foi eu, e dei de ombros me fazendo de desentendido. Ela me olhou frustrada e furiosa, me massacrando com o olhar. Louise Butler era a criança mais irritante que eu conhecia, apenas com seus treze anos e já era bastante esperta até para o que não devia.
— Eu sei de tudo, maninha. — Cruzei os braços como se fosse responsável. — Agora vá dormir, nerd.
Ela tirou os óculos de grau e subiu correndo, antes que me batesse com uma vassoura (de novo).
Depois que Louise subiu, voltei ao quarto e guardei minha pasta com documentos antigos de algumas pesquisas que eu fiz. Talvez eu estivesse um pouco obcecado em alguns contos de Saint Luna, mas eu tinha certeza que a cidade não era comum.
Desde quando Louise contou que meu pai saiu em um chamado na mansão dos Grace, a angústia tomou conta do meu corpo. Eu queria poder sair atrás dele e saber se Seline estava bem, mas eu tinha uma missão muito maior, que era cuidar de Louise. Se eu a deixasse sozinha, meu pai me mataria.
Resolvi adiar essa ideia até amanhecer, então tomei um banho quente e fui dormir, mesmo que o sono tenha demorado para chegar.
Algumas horas depois, ouvi meu pai chegar de manhã cedo e Louise havia ido para a escola. Marcus olhava pensativo para o café que estava na sua frente, o que tudo indica que a noite anterior trouxe grandes problemas.
— Bom dia, pai. — Disse me aproximando e chamando sua atenção. Me sentei ao seu lado e me servi no café também.
— Bom dia, meu filho. — Respondeu com o mesmo ânimo de sempre. — Onde foi ontem a noite?
— Resolver uns problemas. — Dei de ombros colocando açúcar no café, torcendo para ele não querer se aprofundar no assunto.
— Espero que você não esteja se metendo no meu trabalho. — Argumentou me fazendo rir ironicamente. — Você é engraçadinho.
— Perdão, pai. — Falei parando de rir. — Mas me diz você, como foi ontem a noite?
— Foi bem difícil. — Ele de repente expressou tristeza. — Charlie estava infiltrado na mansão dos Grace, e acabou descobrindo algumas coisas. Eva Grace prendeu a filha e quase matou Charlie, junto com um homem que nunca vi na vida. Agora ele também é suspeito, seu nome é Stephen Gabes. Hoje vou investigar mais sobre ele e colocar Eva como procurada por toda a Califórnia.
Meu pai tinha o dom de tentar me esconder seu trabalho, mas sempre acabava me contando cada detalhe.
Eu precisava saber mais, porém não podia deixar de fazer o que fazia antes.
— Como está a garota? Quer dizer, Seline, a filha dos Grace? O que aconteceu depois? Charlie está bem? — Perguntei angustiado, negando a possibilidade de que possa ter acontecido algo.
— Charlie levou a garota para a delegacia e lá eles resolveram o que ia acontecer, mas isso não é da minha conta. Eva e Stephen fugiram, as amigas de Seline estavam lá mas só foram porque estranharam o sumiço de Seline. Já Julian Grace... — Ele deu uma leve pausa e passou a mão na barba. — Ele morreu.
Fiquei em silêncio com o seu depoimento. Pelo menos eu sabia que ela estava bem, mas me senti mal pela sua perda. Terminei de tomar meu café, coloquei a louça na pia e a lavei. Meu pai acabou mencionando que o enterro de Julian Grace seria às duas da tarde, então resolvi ir apenas para dar meus pêsames. Eu odiava enterros.
Saint Luna, 14 de Fevereiro de 1991
Sexta-feira - 02:19 P.M.
Assim que cheguei no cemitério, reconheci algumas pessoas. Lá estavam Jesse, Alice, Seline e até a diretora Mariyah. Charlie se posicionava ainda como um guarda-costas, e se mantinha firme em respeito à família. Me aproximei aos poucos e observei um caixão branco com algumas flores em cima. O cemitério não tinha muita gente, eram só as pessoas próximas, e eu nem sei o que estava fazendo ali. Nem o defunto eu conhecia.
— Alex? — Saio do transe ao ouvir uma voz familiar. Vejo que Jesse havia notado a minha presença, e então se aproximou.
— Oi Jesse. — Cumprimentei sem jeito. — Como ela está?
— Nada bem. — Respondeu exausta e suspirou, olhando na direção de Seline, que estava chorando nos ombros de Mariyah. — Recomendo você a falar com ela depois do enterro. Ela não está com o ar para falar com ninguém, mas talvez com você seja diferente.
Não levou nem uma hora e o senhor Grace foi enterrado, em uma triste e melancólica despedida. Todos foram embora, exceto as pessoas a quem eu citei anteriormente. Seline estava sentada no túmulo ao lado do pai, sozinha ao meio de tanta gente morta. Os outros estavam mais afastados, conversando algo no qual eu não fazia a mínima questão de saber. Não agora.
— Ei. — Chamei, me aproximando. Seline me olhou com os olhos inchados e secou algumas lágrimas que caiam. — Meus pêsames.
Sentei ao seu lado e abracei. Fiquei com receio dela não retribuir, mas pelo contrário, ela se aconchegou nos meus braços e começou a chorar. A confortei fisicamente, mas não haviam palavras para serem ditas que aliviasse o vazio que estava sentindo. Quando alguém importante morre, não queremos ouvir palavras bonitas de consolação, só queremos sofrer.
Eu sei porque já tive uma perda muito dolorosa. Minha mãe morreu há alguns anos.
Não no sentido literal, porque na verdade ela está viva. Ela morreu para mim, para Louise e para meu pai assim que resolveu fugir. Uma mulher covarde que teve coragem de deixar o marido com uma recém nascida e uma criança de cinco anos.
— Alexander. — Ouvi a voz rouca de Seline chamar e a olhei. — Preciso te contar uma coisa.
— Pode falar. — Disse o mais tranquilo o possível.
— Eu não era filha da Eva e nem do Julian. — Ela parou de chorar aos poucos enquanto secava as lágrimas. — Mariyah é minha verdadeira mãe.
Talvez eu tenha ficado um pouco surpreso, mas já estava desconfiado. Seline contou a história da sua família e disse que ela e as amigas já conheciam Stephen, mas não contou toda a verdade, disso eu tenho certeza.
— Espera para ver que tudo vai passar. — Respondi me levantando do chão e oferecendo minha mão para ela levantar também. — Quando acabarmos com o mistério do assassinato, nossas vidas vão voltar ao normal na escola. Você pode ficar com Mariyah, já que ela é sua mãe. Quanto à Eva, não se preocupe. O melhor detetive do mundo vai encerrar o caso.
Ela sorriu levemente e segurou minha mão, se levantando. Seline me encarou estranhamente por alguns segundos e mudou a expressão para tristeza novamente, mas acho que dessa vez ela não se referia ao pai.
— Obrigada por tudo, Alex. — Disse soltando minha mão. — Eu levei um tempo para admitir que eu estava gostando de você, mas percebi que eu não posso ficar com você. Alexander, você é incrível, mas sabe, eu não estou pronta.
Fiquei um pouco confuso com o que ela disse no começo, mas logo caiu a ficha. Senti como se a Jesse tivesse acertado meu coração milhares de vezes com flechas explosivas.
— Por que você está falando isso, Seline?
— Porque eu sei que você está começando a criar sentimentos por mim, eu não sou burra. — Admitiu. — Eu confesso que você me atrai, mas não estou pronta para me relacionar com ninguém agora. Eu prefiro evitar que você se decepcione comigo. Prefiro evitar acabar me apaixonando por você.
Eu apenas concordei. Era um choque ela falar tudo aquilo no enterro do pai, mas eu entendia que era apenas um desabafo.
Nos juntamos com os outros novamente e eu os cumprimentei. Charlie falou que meu pai fez e fará um bom trabalho, e Jesse relembrou da nossa missão na festa de Sharon. Nada fora do comum.
Não voltei muito tarde para casa, aliás, ainda tinha que esperar Louise chegar da escola. Ela percebeu que eu não estava bem, então fizemos uma sessão de filmes de aventura o resto da noite.
Saint Luna, 16 de Fevereiro de 1991
Domingo - 10:20 A.M.
Acordei cedo e fiquei fazendo algumas pesquisas no meu quarto. Meu pai havia ido trabalhar e Louise estava sentada na sala assistindo desenho. Ouvi a porta bater várias vezes, então desci para atender já que Lou não se deu o trabalho.
— Feliz aniversário para mim! — Disse uma voz animada parada na minha varanda.
— Parabéns, Sharon. — Falei sem muito ânimo. — Mas o que faz aqui essa hora? Não deveria estar organizando sua festa?
— Não vai me convidar para entrar? — Abri um pouco a porta até ela entrar. — LOU!
Quando Louise a viu, levantou correndo do sofá e foi abraçá-la. Elas haviam virado "amigas" desde que meu pai contratou Sharon para cuidar de Louise por uns dias.
— Sharon! Feliz aniversário! — Disse animada se distanciando. — Por que nunca mais veio me ver?
— Porque eu estive sem tempo, Lou. — Sharon falou tentando animar Louise. — Mas eu não esqueci de você. Trouxe que o pediu, e não deixe o babaca do seu irmão te chamar de nerd.
Louise segurou um livro grande que Sharon lhe entregou. Mil contos da literatura, era o que Sharon e Louise tinham em comum.
— Obrigada, Sharon. Você é demais!
Sharon sorriu orgulhosa de si mesma e olhou para mim. Ela se aproximou da escada e começou a subir, mas parou na metade e me encarou.
— Você não vem? Precisamos conversar.
Subi um pouco depois dela. Sharon e eu namoramos por alguns meses no ano passado, porém houveram incidentes que nos fizeram terminar. Além de tudo, éramos amigos, isso eu não podia negar.
Entrei no quarto atrás dela e fechei a porta. Sharon olhou ao redor e se sentou na minha cama.
— Me fingir de amiga da Nora é insuportável. — Admitiu com raiva. — Mas você pediu a minha ajuda, e eu concordei. Sabe que o assassino estará lá, Nora é bem estranha e eu tenho certeza de que ela o conhece.
Me aproximei e a encarei desconfiado. Sharon podia facilmente se infiltrar em lugares e descobrir coisas, mas era por puro hobbie.
— Não vai falar nada? Aquela garota realmente mexeu com você, não é? Vai me contar o que aconteceu? — Perguntou compreensiva e eu resolvi não contar. Ainda me sentia mal por aquilo.
— Hoje a noite, vamos achar o assassino. — Afirmei vendo Sharon se aproximar mais. — E acabar com isso de uma vez.
Ela me beijou.
Não vou dizer que isso nunca aconteceu. Já tivemos leves deslizes algumas vezes depois que terminamos, mas agora era diferente. Resolvi não pensar no que Seline me disse, e beijando Sharon não adiantaria.
Mas já que estamos aqui, não custava nada continuar. Eu gostava de Sharon, mas não a amava, e ela sentia o mesmo (tanto que me chama de estúpido às vezes, mas isso não vem ao caso).
— Espera. — Me afastei do beijo dela, e ela me olhou confusa. — E Louise?
— Ela estará entretida demais no livro que eu dei. Prometo silêncio. — Ela me jogou na cama, se apoiando em cima de mim e me beijando intensamente.
Seu corpo já era familiar para mim. Eu sabia. Sharon sabia. Mas o que aconteceria hoje à noite poderia mudar tudo o que éramos.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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