Capítulo 21: Os Segredos da Tia Ellie
Saint Luna, 11 de Fevereiro de 1991
Segunda-feira - 11:54 P.M.
Quando conseguimos entrar na sala de teatro, Lucy trancou a porta e eu me sentei no chão aliviada, suspirando de cansaço de tanto correr. Havíamos entrado numa fuga contra a polícia, e talvez até mesmo contra o possível assassino.
— Por sorte conseguimos fugir. Vocês estão bem? — Perguntou Jesse ofegante olhando para Lucy e eu, e nós concordamos com a cabeça. — Onde está Seline?
Lucy e eu nos olhamos confusas. Seline havia ficado para trás e tinha sido nossa culpa.
— Precisamos voltar e achá-la. Já temos informações demais sobre Audrey, acho que podemos ir embora. — Digo me levantando do chão e Jesse concordou com a cabeça. Coloquei os dedos no microfone ao ouvido, mas fiz uma cara de decepção ao não ouvir nada. — Está chiando. Não consigo falar com Seline.
— Então vamos enfrentar o que estiver à nossa frente! — Respondeu confiante, segurando seu arco.
Juntas, nós três abrimos a porta aos poucos e saímos sem fazer barulho. Jesse foi primeiro e não notou a movimentação de ninguém, nem da polícia. Lucy e eu a seguimos pelos corredores enquanto íamos até a saída de emergência. Ouvimos um barulho de correria e me assustei, e pelo visto as outras duas garotas também.
— O que foi isso? — Perguntei assustada, mas ninguém tinha a resposta.
— Acho melhor sairmos correndo. — Lucy apontou para o fim do corredor, e só aí notei uma figura de capa e com uma máscara bizarra, como os filmes de terror. Ele segurava um facão sujo de sangue, mas pelo visto não notou nossa presença. Ele passou direto pelo outro corredor e seguiu seu caminho, dando tempo para as meninas e eu corrermos. Ao passarmos pelo penúltimo corredor, notei algo escrito na parede, próximo aos armários.
— Audrey sabia demais?
No mesmo instante, Jesse e Lucy se viraram e fitaram a parede, que estava com as palavras escritas com uma espécie de líquido vermelho.
— Isso é sangue! — Afirmou Lucy espantada, mas voltou à realidade quando notamos movimentações nos corredores anteriores. — Acho melhor ajudarmos Seline de fora. — Disse, fazendo Jesse e eu olhá-la negativamente.
— Não vamos deixar Seline, nem pensar! — Jesse falou tentando manter a calma só de pensar naquela situação.
— Pensa bem, Jesse. Se ficarmos aqui, alguém poderá nos ver e sermos levadas, e não vamos poder ajudar Seline. Lá fora teremos controle de tudo!
— Ela tem razão. Acho melhor irmos. — Digo me prontificando que conseguiríamos sair e Jesse apenas suspirou e concordou.
Andamos até a saída e saímos escondido. Por sorte, as viaturas que estavam nessa porta antes, foram para a porta principal. Fomos até a próxima rua e nos aliviamos por não termos sido presas, mas eu estava nervosa. O tempo passava cada vez mais, e Seline ainda estava sozinha, ou até mesmo com um serial killer.
— Vai, Seline. Responde! — Sussurrei segurando meu microfone e sentando no chão da calçada. Não havia conexão entre os dispositivos. Era como se uma linha invisível tivesse cortado nosso meio comunicativo.
— Por mim eu entrava lá agora e procurava ela, mas se vocês acham melhor assim. — Jesse deu de ombros e Lucy se aproximou.
— Eu posso não conhecer Seline, mas sei que ela disfarça uma grande inteligência. Ela não demonstra, mas é capaz de coisas inimagináveis. — Disse a garota com o semblante dócil e eu concordei.
Seline era o tipo de garota que parecia ser a fútil da escola, burra e com o título popular, mas no fundo ela é gentil e tem muito o que aprender ainda.
— Seline, você está aí? — Perguntei levantando do chão com uma pontada de esperança. Olhei as meninas animadas, ao conseguir ouvir ruídos do outro lado. Finalmente conseguimos falar com Seline! — Procuramos por você, mas não a encontramos. Ficamos com medo de ter acontecido algo, ainda mais depois que vimos um homem de capuz preto e uma máscara bizarra.
Após um tempo de informações trocadas, guardei o microfone no bolso e as olhei confiante. Ao menos sabíamos que Seline estava bem.
— Ela vai dar um jeito de sair, mas está tudo bem. Vamos torcer para que não seja presa!
Sinceramente, não sei qual seria pior. Seline ser pega por um assassino ou pega pela polícia. Olhando pelos dois lados, ambos seriam péssimos. Ou ela sairia morta ou sairia presa, então não teríamos como ajudar.
Passaram alguns minutos até Seline chegar acompanhada de alguém familiar, mas eu não sabia quem era.
— Sei que vocês sentiram a minha falta, mas eu estou bem vivíssima e plena. — Brincou e o garoto ao seu lado comentou:
— Agradeça a mim. — Ele sorriu de lado e Seline deu de ombros.
— Que bom que não aconteceu nada. Nos perdoe por te deixar sozinha com um maníaco atrás de você! — Corri para abraçar Seline e ela retribuiu.
— Não precisa se desculpar. Foi eu quem me distraí e acabei ficando para trás.
Eu tinha certeza que Seline estava escondendo algo que não queria falar na frente de Lucy e nem de seu amigo, e pelo visto Jesse também percebeu.
— Não vai apresentar seu amigo? — Jesse perguntou atraindo a atenção dos dois e eu desconfiei ao perceber que Jesse o conhecia de algum lugar, mas resolveu ficar quieta.
— Esse é Alexander Butler. Ele me ajudou no afogamento e me ajudou contra o serial killer que quase me matou. — Apresentou de forma rápida e desinteressada, mas sabia que não era só isso.
— Mas podem me chamar de Alex. — Completou o garoto atraindo a atenção de Seline, que se aproximou e sussurrou:
— Por que você nunca me deixou te chamar de Alex?
— Porque nunca nos apresentamos direto, aliás eu te conheci depois da sala de aula quando você estava bancando a pequena sereia.
— Não me chame assim!
— Tudo bem, pequena sereia. Você também pode me chamar só de Alex.
— Você é insuportável!
— Um insuportável que salvou a sua vida duas vezes.
Enfim, Jesse e eu trocamos olhares curiosos. Seline e Alex pareciam ter uma longa história para contar, mas isso não vinha ao caso agora. — Já acabaram com a briga? — Perguntei chamando a atenção dos dois. — Temos um caso a resolver, mas não hoje. Como vocês dois também estão cientes do acontecimento de hoje, acho melhor conversarmos melhor sobre isso amanhã.
Lucy e Alex não podiam saber sobre o caso da tríade, então daremos nosso melhor para esconder essa situação. Eles pareciam confiáveis, mas não deveríamos deixar rastros sobre quem realmente somos. Nem nós sabíamos quem realmente éramos.
— Que tal marcarmos no café? Ou até mesmo na biblioteca? — Sugeriu Lucy.
— No café, por favor. — Insistiu Seline e eu revirei os olhos. Essa garota só pensava em comer.
— Acho melhor na biblioteca. Temos menos chances de sermos sequestradas. — Disse Jesse e eu concordei. — Podemos comprar cafés e biscoitos e levarmos, se esse é o problema.
— Não julguem pessoas sequestradas. Eu e Crystal entendemos bem, mas mesmo assim não é algo que deve vir à tona.
Alex parecia pensativo e calado, mesmo que eu ainda não o conhecesse.
— Crystal é a garota que foi sequestrada naquela lanchonete? Acho que meu pai investigou esse caso, mas foi encerrado e eu ainda não entendi o motivo. — Ele parecia querer dizer mais alguma coisa, porém se manteve quieto.
— Ela é uma amiga nossa. Crystal voltou para sua casa no Texas e prefere que não comentemos sobre isso. Está traumatizada com tudo isso, então prefiro respeitar. — Disse Jesse e ele não fez nenhuma pergunta.
Alex parecia saber de muita coisa, mas eu percebi que ele não estava acostumado a contar suas teorias ou sei lá o que para outras pessoas. Ele era esperto, e talvez um problema se descobrisse sobre nosso envolvimento na bruxaria. Seline parecia confiar nele.
— Amanhã, na biblioteca às dez da manhã. Tudo bem para vocês? — Perguntou Lucy acabando com a tensão no ar.
Todos nós concordamos e nos despedimos. Jesse e Seline foram embora juntas, enquanto eu acompanhei Lucy pelo mesmo caminho.
— Você já tem teorias criadas? — Perguntou me tirando da distração e eu neguei com a cabeça.
— O sangue na parede era recente, e Audrey foi tirada hoje de manhã. Você sabe o que isso significa, não é? — A olhei.
— Significa que o sangue da parede era de outra pessoa?
— Exato. Precisaríamos do DNA do sangue na parede, mas agora será impossível, ainda mais que a polícia não sai da escola de jeito nenhum. Teríamos que conseguir uma amostra.
— Como essa? — Ela levantou um saquinho pequeno com gotas de sangue. Olhei impressionada e segurei o objeto.
— Como você pegou isso?
— Quando passamos pelo corredor. Você e Jesse saíram correndo, e eu já havia trago plástico para caso encontrássemos pistas. Eu peguei e depois saí com vocês. — Falou como quem não se importasse.
Daria um certo trabalho para conseguirmos identificar de quem é esse sangue. Mais alguém havia morrido e veríamos a notícia na TV amanhã de manhã. Não dava para confiar em ninguém, aliás, qualquer um poderia estar mentindo.
Seline, Jesse e eu precisávamos de um tempo juntas. Não do típico da amizade para fazer coisas adolescentes ou nos divertir, e sim para tirarmos conclusões. Até agora no sentido evolução nenhuma quanto à deusa e nem sequer a vimos. Sei que ela disse que nos esperaria para "voltar para casa", mas precisamos de ajuda. Precisávamos da deusa.
— Eu tenho que ir, senão Abraham me mata. — Brincou bocejando. — Até amanhã.
— Até. — Digo me despedindo e ela vira a rua, me deixando seguir sozinha até o resto da minha rota.
Cheguei em casa por volta de meia noite e meia. Minha mãe ainda estava dormindo, mas a tia Ellie me esperava na cadeia da varanda.
— Vocês demoraram! — Dei de ombros e me sentei do seu lado. — Como foi?
— Fomos até o vestiário onde a garota foi encontrada morta. Conseguimos entender como ela morreu, mas acabamos nos perdemos. Encontramos um serial killer de máscara, fugimos dele, encontramos Lucy no meio do caminho, a polícia foi acionada e encontramos um recado escrito de sangue na parede.
— O que dizia nesse recado? — Perguntou atenta.
— "Audrey sabia demais".
— Alice, esse assassino conseguiu ver o rosto de vocês? — Seu tom estava trêmulo e preocupante, e eu não sabia o que isso significava.
— Eu acho que sim, por quê?
— Então ele sabe quem são vocês, assim como Audrey sabia quem era ele. Ele vai voltar, então vocês devem estar preparadas.
— Tia. — Chamo interrompendo-a por um minuto. — Como você, Mariyah e Elizabeth perderam os poderes?
— É complicado. — Começou suspirando. — Tentamos adquirir os poderes de magia negra para deter Stephen, mas era forte demais para nós. Ambos são poderes opostos, então um filtrou o outro.
— Faz sentido. — Concordei. — Vocês já viram a deusa pessoalmente?
— Não. — Suspirou decepcionada. — Só a ouvimos e não conseguíamos vê-la em sonhos, como se ela não estivesse adaptada aos olhos humanos.
— Eu queria que tudo fosse fácil. Queria que o grimório nos desse dicas exatas sobre o que devemos fazer, ou até mesmo que a deusa aparecesse.
Tia Ellie me olhou triste, como se estivesse lembrando de tudo o que passou. Não queria deixar de poder deter Stephen, com ou sem poderes. Ele pode e poderá fazer mal a muitas pessoas e eu posso impedir. Sei disso.
— Com um tempo a resposta vem. Foque no básico agora, deixe o lance de deusa e poderes para lá e ache o assassino. Quando isso acabar, você pode voltar a tentar adquirir habilidades sobrenaturais.
— Você tem razão... — Ela sorri alisando meu cabelo. — Mais uma pergunta. Além de bruxas, quais outros seres existem?
— Do tipo folclórico ou mitológico?
— Os dois. Fadas, deuses, demônios, sereias, vampiros, lobisomens e essas coisas.
— Tudo o que você crê que seja real, se torna real, inclusive os monstros debaixo da cama.
— Mas eu não acreditava em monstros debaixo da cama.
— É porque os verdadeiros monstros somos nós mesmos. Nós somos reais, querida. — Ela se levantou e me encarou. — Está na hora de dormir.
Me levantei e caminhei para dentro ao seu lado.
— Tem alguma coisa que você está escondendo? — Perguntei fazendo ela paralisar.
— É complicado, Alice. — Começou. — Acho melhor você ir descansar um pouco. Amanhã será um longo dia.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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