Capítulo 20: Um Serial Killer Como Nós
Saint Luna, 11 de Fevereiro de 1991
Segunda-feira - 11:22 P.M.
Lucy parecia nervosa e culpada. Ela soltava a armadilha do pé de Jesse que mancava um pouco enquanto a encarava furiosa.
— Eu estava fazendo o mesmo que vocês. Eu estava apenas procurando o assassino da Audrey! — Afirmou e eu não pude deixar de concordar.
— Ela tem razão, Jesse. O que ela faz de errado, nós também fazemos. — Concluí atraindo a atenção dela.
— Tudo bem. Okay, se acalme.
— Mas eu estou calma! — Disse cruzando os braços.
— Eu estou falando comigo mesma. — Falou respirando fundo várias vezes. — Precisamos sair daqui.
— Eu posso ir com vocês? — Pediu Lucy preocupada e com um tom culposo, e Jesse apenas concordou com a cabeça.
— Lucy, por que você acendeu a luz do campo? Podia ter atraído alguém. — Alice alertou com a voz suave enquanto andava ao lado da garota.
— Eu não acendi a luz do campo. — Respondeu e levantou uma das sobrancelhas em forma de dúvida. — Não foram vocês?
— Ah, merda! — Resmunguei baixo ao perceber que Lucy não era a nossa única companhia. — Tem mais alguém aqui!
— Precisamos dar o fora. — Disse Jesse apressando os passos.
Eu já não sabia mais há quanto tempo estávamos na escola, mas foi questão de segundos para notarmos os passos de Audrey até a morte e para encontrarmos Lucy. Não estávamos sozinhas, havia mais alguém conosco. Seria a polícia? Os funcionários da escola? O assassino? Não importa, seja lá quem fosse, estaríamos encrencadas de uma forma ou outra.
— Esperem, tem algo vindo! — Alice parou de andar, fazendo com que nós três parássemos também.
Estávamos nos corredores das salas de aula e no final dele havia uma luz se aproximando.
— Estou no corredor B, senhor. Não há sinais de invasão e nem da presença de outros indivíduos. Acho que o alerta foi um engano. — Disse um homem com a voz longe, que parecia estar falando com alguém que não estava por perto.
— Venham!
Lucy nos puxou para uma das salas de aula que estava aberta e trancou com uma chave. Olhei curiosa e antes de qualquer pergunta ela respondeu:
— Eu consegui as chaves das portas e antes de investigar, fiquei aqui arquitetando um plano caso eu fosse pega. Esqueci de trancar, então foi nossa última opção.
— Você é incrível! — Disse Alice super empolgada. — Mas quem é você mesmo?
Olhei para o vento e me fiz de desentendida para não ter que responder por Jesse. Tínhamos esquecido de contar a Alice, nós somos péssimas amigas!
— Alice, essa é minha irmã, Lucy. — Disse Jesse e Alice olhou tentando processar as informações.
— Você tem uma irmã?
Nessa altura, um longo debate sobre parentesco e explicações acontecia, enquanto perdíamos tempo com assuntos aleatórios ao invés de tentarmos ir embora.
— Meninas, se concentrem! Como vamos sair daqui? — Chamei, e elas pararam de falar.
— Seline tem razão. Precisamos dar o fora o mais rápido possível, ainda mais que sabemos que os policiais estão aqui. — Disse Alice.
Elas pararam de falar e Alice olhou na frente pela porta. O corredor estava vazio, então foi a oportunidade perfeita para sairmos. Quando saímos, caminhamos até a saída dos fundos e antes de sair, um sinal forte tocou e fracos espirros de água saíam do teto.
— Alguém ligou o alarme de incêndio! — Afirmou Lucy desesperada enquanto sons de sirene ecoavam atrás das portas dos fundos.
— Há policiais aqui também. Não temos como sair, precisamos de uma distração, de ajuda ou de tempo. — Falei dando meia volta junto com elas e indo até outra direção.
— Detetive, há alguém aqui. Estamos preparados para qualquer fuga ou reação. — Disse a voz do mesmo policial de antes, se aproximando de nós.
— Vamos correr e nos esconder, é a melhor opção.
Concordei com Jesse e então começamos a correr. Enquanto corríamos, nossas roupas molhavam e o chão estava escorregadio a ponto de uma de nós acabar caindo.
— Vamos para a sala de teatro! É a mais perto e tem mais lugares para se esconder.
O som do alarme havia parado, mas a água do teto continuava jorrando. Estávamos perto da sala de teatro, mas quando eu passei por um dos corredores, vi algo que me chamou a atenção. Lucy, Alice e Jesse continuaram e nem perceberam que desviei o caminho e segui uma borboleta vermelha que voava pelo corredor seguinte.
A borboleta vermelha começou a voar mais rápido por outro caminho e eu a segui correndo para alcançá-la.
— Onde você vai?
Sussurrei passando em frente ao refeitório e acabei no corredor próximo ao vestiário onde Audrey foi encontrada.
A borboleta parou na frente da porta e permaneceu parada. Me aproximei do canto da porta e me abaixei, pegando um objeto um pouco maior que a minha mão e que parecia uma escultura de cerâmica, com imagens e símbolos estranhos pintado de tons fortes mal passado.
Quando me levantei, eu não estava mais em mim. Minha mente foi levada a um rápido flashback de algo que ainda não havia acontecido.
Havia uma figura com um capuz preto escondendo o corpo inteiro e com uma máscara que parecia mais uma fantasia antiga. Ele estava andando tranquilamente pela a escola com uma caixa de fósforo na mão, e então tudo explodiu.
Voltei ao normal assustada. Foi por segundos que tive essa visão ao tocar no estranho objeto e acabei deixando-o cair de tanto nervosismo. A borboleta não estava mais lá, e nem o estranho objeto. Quando percebi que estava sozinha, voltei a andar em direção a sala de teatro, mas logo senti que havia alguém atrás de mim.
E havia.
Dei uma rápida olhada e vi a mesma pessoa da visão, ela me encarava há uma distância de quatro ou cinco metros.
— Quem é você?
Perguntei e a pessoa não respondeu. Ela começou a se aproximar e eu caminhei para trás em passos lentos. Era real, eu estava vendo, e tinha certeza que era um maníaco ou um serial killer.
Me virei e tentei correr, mas seja lá quem fosse, ele correu atrás de mim. Não sabia o que era pior, um maníaco ou a polícia me seguindo.
Virei em outro corredor e me deparei com ele novamente. Como alguém conseguia se deslocar de um lugar a outro tão rápido?
— ALICE! JESSE!
Gritei e tentei correr de novo. Jesse poderia acertá-lo com uma flecha ou Alice poderia bolar um plano mirabolante com a tecnologia. Eu era dependente delas e elas são tão incríveis individualmente enquanto eu não sou nada. Não consigo pensar sozinha e nem me virar sozinha, elas sempre estavam na frente de todos os planos e sempre tinham uma saída para tudo. Eu era uma inútil com o medo de uma pessoa idiota com uma máscara.
— O que você quer? Por que matou a Audrey? — Perguntei me afastando e ele não respondeu.
Ele revelou um facão sujo de sangue na sua mão, que estava coberta com uma luva preta. Okay, ele não queria conversar e sim brincar de pique-pega, portanto, vamos brincar!
No meio daquele desespero, eu me lembrei da visão novamente. Sabia que era ele quem estava lá, mas será que é alguém real ou alguém sobrenatural? Tarde demais para tentar descobrir. Eu já estava cansada de correr, mas eu dependia disso e sabia que se aquela visão fosse real, a escola entraria em chamas. Será que eu poderia impedir?
Enquanto corria, me virava em alguns corredores até despistar a coisa. Em uma das paredes, havia algo escrito com tinta vermelha.
"AUDREY SABIA DEMAIS"
Parei de correr e passei o dedo indicador no recado, que ainda estava molhado, como se tivesse acabado de escrever.
— Não é tinta... — Sussurrei comigo mesma ao notar que aquilo era sangue. — Sangue fresco.
Olhei para o lado e o vi novamente, se aproximando como se o mundo não tivesse fim. Voltei a correr como se não houvesse amanhã, sem nem ao menos saber onde estava. Subi as escadas que levavam ao próximo andar e percebi que ele não estava lá. Quando olhei para frente, a pessoa mascarada me segurou pelos braços e me arrastou pelo fim do corredor.
— ALGUÉM ME AJUDA!
Gritei mas ele tampou a minha boca. Eu sabia que era um homem pela forma de segurar e pela altura e o tamanho das mãos.
"Oh, Seline. Achei que você fosse idiota, mimada e fraca. Mas vejo que estava errado. Vamos lá, me mate com esse pedaço de galho!"
Essas foram as últimas palavras do meu ex amor Matteo antes de eu enfiar um galho no meio do seu coração. Eu estava tão fraca quanto agora, eu era tão vítima quanto agora e eu poderia ser tão forte quanto fui naquela hora.
Fechei os olhos enquanto me sentia carregada e deixei minha mente livre. Mais rápido do que a visão de mais cedo, uma forte ventania nos atingiu, só que foi estranho. Ele foi empurrado para trás como se algum ser invisível tivesse impulsionado, e foi o momento ideal para eu levantar e sair correndo.
Ele se levantou com rapidez e começou a correr atrás de mim. Agora ele parecia mais raivoso e mais tenso, como se sua caça estivesse fugindo das suas garras. Eu já não tinha ideia de onde estava, até porque nunca vim para essa parte do colégio.
— Ah, merda.
Sussurrei vendo que estava em um corredor sem saída, debaixo de outra escada. Ouvi o som da correria do mascarado se aproximando, e agora realmente não tinha o que fazer.
Quando estava totalmente perdida, senti uma mão me puxando para uma porta que havia debaixo da escada, bem no canto e escondida. Eu ia gritar, mas ele colocou uma das mãos na minha boca e fechou a porta.
— Cala a boca, sua idiota. Sou eu. — Sussurrou uma voz familiar, me soltando aos poucos e fazendo eu me virar para olhar.
— O que você está fazendo aqui, Alexander? — Perguntei aliviada e um pouco nervosa. Ele colocou a mão na boca em sinal de silêncio e se aproximou da porta, abrindo aos poucos e dando uma rápida olhada, logo fechando novamente.
— Meu pai recebeu um alerta de invasão e veio. Eu o segui e cá estamos nós. — Disse baixo se explicando. — Agora eu quero saber o que você faz aqui. Você é louca?
— Sim, eu sou louca! — Respondi. — Não estou sozinha. Minhas amigas Alice, Jesse e Lucy estão comigo.
— Você parecia estar sozinha. — Comentou em deboche e eu revirei os olhos, aliás, eu estava sozinha.
— Isso não vem ao caso. Eu me perdi delas, foi apenas isso. — Suspirei. — Obrigada.
— Pelo o que? — Perguntou se fazendo de desentendido e sorriu de lado em forma de ironia.
— Por estar no lugar certo e na hora certa. — Cruzei os braços.
— Já parou para pensar que essa é a segunda vez que salvo sua vida? Você me deve gratidão eterna.
— Está bem, agora vamos dar um jeito de sair daqui. — Antes de qualquer resposta, ouço um ruído no meu ouvido. — Espere!
Eu havia esquecido o dispositivo que Alice criou. Até então elas não haviam entrado em contato, mas logo ouvi uma voz do outro lado.
— Seline, você está aí?
— Eu acho que sim. — Respondi Alice. — Onde vocês estão?
— Com quem você está falando? — Questionou Alex ao meu lado me olhando curioso.
É uma longa história.
— Procuramos você mas não achamos. Ficamos com medo de ter acontecido algo, ainda mais depois que vimos um homem de capuz preto e uma máscara bizarra.
— Vocês o viram? Ele me seguiu por um tempo, mas consegui despistá-lo. — Dei uma pausa. — Acho que é o assassino da Audrey. Um serial killer.
— Seline, acho melhor irmos. — Alertou Alexander abrindo a porta aos poucos e me puxando de lá. — Se meu pai e os outros policiais nos virem, estaremos todos numa grande encrenca.
— Estamos fora da escola, na rua de uma loja de flores. Caso precise de ajuda para sair, me avise.
— Eu acho que já estou com a ajuda perfeita. — Respondi seguindo Alex pelos corredores.
— Obrigado. — Brincou de novo andando em rápidos passos pelos corredores.
Por sorte ou coincidência, havia um depósito de papel debaixo da escadaria, o que salvou minha vida. Descemos as escadas anteriores e seguimos pelo corredor, até a saída dos fundos. Finalmente aquele pesadelo havia acabado.
Ou não?
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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