Capítulo 18: Novos Amigos
Saint Luna, 11 de Fevereiro de 1991
Segunda-feira - 08:16 A.M.
Eu mal havia acordado e minha tia batia na porta do meu quarto desesperadamente.
— ALICE, ABRA A PORTA!
Me espreguicei e levantei da cama, caminhando até a porta e a abrindo. Minha tia parecia preocupada, então deduzi que minha mãe não estivesse bem. Sem nem escovar os dentes, corri até seu quarto e me aproximei da sua cama. Minha mãe estava deitada e suando, com seu corpo extremamente quente e não parava de tossir.
Mesmo depois de tudo o que o meu pai fez, mamãe nunca conseguiu melhorar. Ela havia sido envenenada por meses, mas se manteve firme e forte. Hoje em dia eu desconfio de que ainda seja o efeito do veneno e tenho quase certeza de que ela esteja doente, o que me apavorava ainda mais.
— Precisamos chamar o doutor Hans. Não podemos levá-la até o hospital, ela está muito mal! — Afirmei vendo minha tia se aproximar e olhar preocupada.
— Vou ligar agora mesmo. — Ela andou até o canto do quarto e pegou um telefone na mesinha que havia ao lado da porta. Discou os números corretos e falou breves coisas sobre minha mãe, e então em questão de segundos ela desligou.
— E então? Ele virá?
— Sim, chega em quinze minutos. — Suspirou e se sentou ao lado da minha mãe. — Talvez a hora dela tenha chegado.
Por mais que minha mãe estivesse dormindo e passado mal, temia ela ouvir aquilo. Era tão nova para a sua idade e tão boa, não merecia passar por todo aquele sofrimento. Eu queria vê-la bem e feliz, mas há certas coisas que não estão ao nosso alcance.
— Eu não queria vê-la assim. — Digo com um ar deprimente.
— Não queríamos, mas é o ciclo da vida. Hora ou outra todos vamos morrer, e não podemos impedir, Ali.
Tia Ellie nunca soube do que fiz com meu pai. Ela e todos sempre acharam que foi apenas um incêndio e que ele não havia conseguido fugir, aliás, quem desconfiaria de uma garota de quatorze anos? Ellie e meu pai não eram muito grudados, pelo o que eu me lembro, mas ela e minha mãe eram amigas desde sempre.
Eu tinha curiosidade de um flashback de Ellie, Elizabeth e Mariyah. Como foram seus problemas adolescentes e suas descobertas de bruxaria? O que será que passaram? Quem será que enfrentaram? Eu não gostaria de terminar como elas, gostaria de prosseguir com a magia e poder ajudar outras pessoas, principalmente detendo Stephen.
Alguns minutos depois, ouvi a campainha da porta tocar. Minha tia desceu para abrir e logo voltou com um homem de meia idade, com os cabelos e barbas grisalhas e uma maleta hospitalar.
— Vejamos o que a senhora LaRue tem. — Doutor Hans se aproximou da cama e colocou seu estetoscópio na altura do coração da minha mãe, que a esta hora já havia acordado. — A senhora sente dores no corpo, enjoos, falta de ar ou tontura?
— Às vezes. — Respondeu e logo deu uma tossida.
— Já teve alguma doença? — Se afastou pegando seu fichário e fazendo umas anotações.
Antes de responder, minha mãe me olhou apreensiva, provavelmente pensando se falaria do envenenamento ou não. Fiz que sim com a cabeça, mas esperava que ela inventasse uma desculpa.
— Eu já tomei veneno por engano quando era bem mais nova, mas acho que isso não é muito preocupante pois consegui me recuperar.
Tia Ellie nos olhou de canto de olho desconfiada e eu tentei não me sentir desconfortável. Se havia alguém que conhecesse minha mãe mais que eu, essa pessoa era a tia Ellie. Não sabia como ela reagiria ao saber que eu matei meu pai, mas por outro lado, escondíamos o mesmo segredo. Eu sabia, ela sabia.
— Acho que seus efeitos não são por envenenamento e sim por doença. Talvez você esteja apenas com uma gripe, ou até mesmo com uma pneumonia. Não vamos pensar no pior agora, mas vou te recomendar estes remédios — Pausou arrancando uma folha do seu bloco e escrevendo os remédios, entregando em suas mãos. — e caso você piore, teremos que levá-la ao hospital.
Minha mãe concordou olhando o papel em suas mãos e agradeceu. O médico logo foi embora e minha tia me puxou para um canto onde minha mãe não pudesse nos ouvir.
— Você pode me contar tudo sobre aquilo de envenenamento. Sei que desde o começo você e sua mãe esconderam o que realmente aconteceu com Oliver, e eu exijo explicação!
Suspirei nervosa. Pois é, não havia outra saída senão contar a verdade.
— Quando meu pai voltou de Washington e quando nos mudamos, ele me fez de experimento humano por anos para seus projetos futuros. Eu não gostava muito, me sentia desconfortável, mas não falava nada. Ele começou a ficar louco aos poucos e a ficar viciado em álcool. No dia em que a casa pegou fogo, um pouco antes, meu pai estava bêbado e me prendeu em uma máquina que quase me congelou, mas consegui sair. Eu poderia ter fugido com minha mãe e ter ido para a delegacia, mas...
— Você ouviu a voz da deusa. — Afirmou me interrompendo e eu afirmei com a cabeça.
— Eu o prendi na máquina que ele criou, espalhei o whisky que ele bebia pela casa e ateei fogo depois que descobri que ele envenenava minha mãe aos poucos. E então, nós fugimos e a casa pegou fogo. — Terminei sem ressentimentos e cruzei os braços.
— Eu entendo, mas não compreendo.
— Só esquece isso, pelo nosso bem. — Tentei sorrir confiante e ela não me respondeu, apenas me deixou de lado e saiu de perto.
Saint Luna, 11 de Fevereiro de 1991
Segunda-feira - 01:01 P.M.
Não demorou muito desde que Seline e Jesse vieram aqui contar sobre o misterioso assassinato que ocorreu hoje na escola. Qualquer pessoa em sã consciência diria que isso é caso apenas para a polícia, mas quem sabe não poderíamos ajudar? Combinei com as meninas de nos encontrarmos na porta dos fundos do colégio às dez da noite, então ainda teria tempo para as outras coisas.
Depois do almoço, subi para o meu quarto e procurei o meu livro de criação para o futuro, que fiz com meu pai. Olhei na gaveta do armário e o encontrei lá, pegando-o e me sentando na cama. Observei cada manual para projetos grandes, mas eu deveria começar com os pequenos. Não que eu queira seguir seus passos de ser cientista ou mexer com a tecnologia e com a robótica, mas apenas queria treinar e criar pequenos utensílios que nos ajudariam na nossa pequena rota.
Enquanto eu lia, senti algo fofo e macio subir na cama. Sorri vendo Nina se aproximar e esfregar seu corpo na minha mão na forma de pedir carinho.
No dia em que descobri ser a última fase da lua, encontrei Nina perdida numa caçamba de lixo e então a trouxe para casa. Por sorte ela foi aceita e cuidada com muito amor, e Nina é tão doce.
— Você está com fome? — Perguntei me levantando e indo até o canto do quarto onde deixava seu saco de comida. Peguei uma pequena quantidade e despejei no seu pote.
Ela foi correndo para comer e eu fechei meu livro. Saí sorrateiramente para minha tia não ver, já que minha mãe estava dormindo e eu preferia não incomodar.
Caminhei pela rua por alguns minutos, e não demorou muito até eu chegar na Biblioteca Central de Saint Luna. Abri a porta fazendo o sininho da porta ecoar e entrei aos poucos. No balcão, vi Jasper atendendo umas pessoas e acenei para ele. Ele me viu e acenou de volta enquanto eu entrava e caminhava pelos corredores. Procurei manuais tecnológicos e semelhantes, para que pudesse pelo menos ter uma base no que começaria construindo. Aliás, peguei também um livro com o nome "quinze passos para cuidar de um gato" e levei até o balcão.
— Preciso desses emprestado. E caso saiba de mais alguns do mesmo gênero, poderia me avisar?
Ele pegou uma ficha e anotou o nome dos livros, os autores, o dia e o meu nome. Fazia quase uma semana que eu havia pedido seus livros emprestados, mas ainda não havia devolvido.
— Tudo bem. Aliás, posso te perguntar uma coisa?
Jasper parecia ser mais velho que eu, mas não tanto, como se tivesse uns dezoito anos. Talvez ele nem estudasse mais e pretendesse ir a faculdade, mas talvez ele quisesse viver como bibliotecário para sempre. Eu não queria ser intrometida ao ponto de perguntar, então preferi ficar quieta.
— Você é filha de Oliver LaRue? Aquele cientista famoso que fez descobertas tecnológicas e morreu no incêndio de casa. Me perdoe a intromissão, mas foi apenas curiosidade.
— Tudo bem. Sim, eu sou filha dele, mas não gosto de falar sobre isso. — Sorri para tentar amenizar o clima.
— Você parece ser tão esperta quanto ele. Pretende seguir seus caminhos?
Dou de ombros um pouco pensativa. Eu queria revolucionar a tecnologia, mas também queria progredir na bruxaria da forma que minha tia não conseguiu.
— Provavelmente, eu tenho algumas ideias em mente. Mas e você, vai ser bibliotecário até quando?
— Eu fiz dezoito anos há alguns meses e minha faculdade começa no próximo semestre. Trabalho como bibliotecário apenas para me manter ocupado e também porque adoro a literatura. — Respondeu Jasper passando por debaixo da porta horizontal do balcão e ficando ao meu lado.
— Eu também adoro livros! Vai fazer faculdade de que? — Perguntei animada me distraindo.
— Ganhei uma bolsa muito boa para a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Farei o curso de Literatura, se tudo der certo. — Disse orgulhoso.
— Sua família deve estar orgulhosa.
— É, eles estão. Mas e você, está em qual ano do colegial? — Jasper se apoiou na bancada enquanto conversávamos. Por sorte, a movimentação na biblioteca estava fraca hoje.
— No último, graças a Deus. — Respondi e olhei as horas no relógio de parede um pouco ao lado de Jasper. — Eu preciso ir.
— Podemos nos ver com calma outro dia? — Perguntou com receio da minha resposta e eu fiz um ar de pensativa.
— Você está me convidando para sair, senhor Erneth? — Brinquei apontando para seu sobrenome estampado no crachá pendurado na sua blusa.
— Talvez eu esteja, senhorita LaRue. — Jasper sorriu esperando uma resposta.
— Então eu aceito.
Depois que voltei para casa, passei a tarde construindo um dispositivo que funcionava como um fone pequeno e como um alktalk ao mesmo tempo. Era apenas colocar no ouvido e falar, que outra pessoa conseguia ouvir, bem útil para um trio curioso.
Nem pensei no quão rápido fiz, mas perdi a noção do tempo. Minha mãe havia levantado e estava sentada na cadeira da varanda pegando um ar, enquanto minha tia estava ao meu lado me ajudando a montar o dispositivo.
Contei a ela sobre Jasper e ela começou a rir, mas alertou sobre eu tomar cuidado com quem acabei de conhecer. Revirei os olhos com suas piadinhas. Ellie parecia uma adolescente sem limites!
— Alice, não seja pega naquela escola. Antes de entrar, certifique que as câmeras estão desligadas. Não encoste em nada relativo ao crime, pois suas digitais podem te complicar. Leve lanternas e não acenda as luzes, os policiais podem estar atentos a qualquer movimentação suspeita. E por fim, não use o telefone. É fácil sinalizar a hora e a ligação mesmo que seja por segundos, então esteja sempre atenta. Caso veja alguém suspeito, se esconda. Entendeu?
Ellie passou cada instrução detalhada como se fosse uma agente secreta e não deixou de forma alguma que minha mãe soubesse. Ela me deu uma mochila com o que possivelmente precisaria e eu agradeci.
— Eu entendi, não se preocupe. Serei uma boa agente.
Pisquei um dos olhos e sorri confiante. Tia Ellie com certeza era bem travessa na minha idade, e carro isso consigo até hoje.
Saí de casa não tão tarde junto com a tia Ellie. Minha mãe dormia num sono profundo, então nem notou que saímos. Ela me levou até a entrada dos fundos do colégio e me deixou lá, e pelo visto ninguém ainda havia chegado.
Não demorou muito para Seline aparecer. Ela vestia uma meia calça preta com uma saia justa até o meio da coxa quadriculada e uma blusa de manga comprida preta. Ela deveria estar se sentindo uma espiã secreta da moda, porque por mim eu vim de calça e blusa.
Essa seria a nossa noite, e seria longa.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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