Capítulo 16: Família Em Primeiro Lugar
Saint Luna, 06 de Fevereiro de 1991
Quarta-feira - 12:45 A.M.
Com tudo o que estava acontecendo, eu estava perdida. Quase não conseguia pensar ou raciocinar direito, ainda mais por Crystal estar bem na minha frente e eu não poder fazer absolutamente nada.
Quando aquela mulher entrou, eu não soube se ela nos ajudaria ou nos atrapalharia, mas só percebi quem era ao Alice relembrar:
— Tia Ellie?
Stephen parou com aquilo que ele estava fazendo e olhou para Ellie com dúvidas e até mesmo com uma pontada de medo, como se não acreditasse que ela estivesse ali.
— Ellie LaRue! Que surpresa vê-la novamente. Da última vez eu acabei deixando você e as suas amigas sem seus divinos poderes. — Disse debochadamente e soltou um sorrisinho.
— Não me importo com quem eu sou sem meus dons roubados por você! Me importo com minha sobrinha e não vou deixar você fazer com ela, o que fez comigo.
Desde o começo, sempre achávamos que a ligação de Alice nisso tudo vinha por parte do Oliver, seu pai, e não por parte da irmã dele. Por mais que passássemos semanas investigando e procurando, nunca saberíamos da história completa. Stephen havia dito sobre Ellie e "as amigas dela". Será que ele se referia à minha tia e a Mariyah?
— Então tente me impedir, queridinha. — Stephen fez um movimento com as mãos, mas não aconteceu absolutamente nada. Ele se assustou e olhou para Ellie, confuso e nervoso.
— Eu avisei.
Olhei em volta e vi várias pessoas fazendo um círculo por volta da lanchonete, todas com os olhos fechados e mãos dadas, sussurrando coisas em latim. Pelo visto aquilo impediu Stephen de continuar, mas não duraria muito tempo.
— Meninas, vamos sair daqui antes que seja tarde demais! — Disse Ellie, nervosa.
Ela se aproximou de Crystal e a desamarrou, segurando-a na cintura e passando o seu braço pelo pescoço, enquanto Alice se aproximou e repetiu os passos do outro lado. Saímos de lá enquanto Stephen nos olhava com o olhar psicótico e ouvimos uma grande explosão, fazendo uma enorme massa de poeira subir junto com estilhaços de vidro, espalhando fogo por todo o local.
Não havia carros de polícia ou movimentação de ambulâncias ou o corpo de bombeiros. As pessoas que nos ajudaram simplesmente sumiram, como se nunca estivessem ali, e algumas pessoas que passavam ou que moravam próximos tentavam enxergar o que aconteceu.
— Tia, o que foi aquilo? — Questionou Alice enquanto Ellie abria um carro que estava estacionado na próxima rua.
— Conversaremos mais tarde. — Respondeu friamente abrindo a porta do carro e colocando Crystal no banco de trás.
Seline e eu nos sentamos atrás, junto com Crystal, enquanto Alice sentou no banco carona ao lado da sua tia. O carro começa a andar por um caminho pouco longe e nós três nos mantivemos em silêncio o resto da viagem. Crystal ainda não tinha acordado e pelo visto não acordaria tão cedo, mas seu rosto pálido indicava que tinha sofrido nas mãos de Stephen.
— Temos que levá-la ao hospital! — Protestei colocando a mão na testa da Crystal e sentindo seu corpo quente.
Estávamos chegando na casa de Alice, mas enquanto Ellie dirigia, eu notava que ela olhava pelo retrovisor o tempo inteiro como se estivesse com medo de ser perseguida.
— Não podemos. Entrem que eu resolvo isso. — Disse estacionando o carro e abrindo a porta da entrada.
Ellie entrou na frente enquanto Alice e eu trazíamos Crystal logo atrás. A mãe de Alice não estava por lá, então presumi que deveria estar dormindo. Colocamos Crystal deitada no sofá e olhamos Ellie, que pegava o telefone e discava algum número, se afastando de nós ao falar no telefone.
— Alice, você sabia disso? — Questionei para a loira que parecia estar em transe.
— Não, eu sei tanto quanto vocês. — Respondeu.
Resolvi não fazer mais nenhuma pergunta, aliás, Alice parecia nervosa e em choque com isso tudo. Tentaríamos obter informações com Ellie sobre tudo o que ela sabia e não iríamos desistir tão fácil.
Ouvi batidas na porta e vi Ellie voltar para a sala, caminhando até a entrada e abrindo a porta, dando passagem para minha tia Liz entrar.
— Tia? — Ela não respondeu e simplesmente foi direto para onde Crystal estava.
— Pobre menina, está fraca! Posso tentar ajudá-la.
Passei um tempo tentando processar o que havia acontecido. Era óbvio, nunca foi Oliver LaRue, sempre foi Ellie, sua irmã. Há uns dias Seline levantou a ótima hipótese de achar que a bruxaria era algo apenas para mulheres, e ela não estava errada.
Minha tia se aproximou de Crystal e sentou-se ao seu lado, pegando um estetoscópio que havia trago numa bolsa e usando-o. Ouviu os batimentos de Crystal e depois mediu a pressão dela. Fazia sentido ela estar ali, pois ela era enfermeira e trabalhava no hospital de Saint Luna, mas com certeza envolvia a outra parte.
— Ela está bem, apenas está desacordada. Deverá acordar em breve bastante fraca, pois acho que ficou sem comer por esse tempo, ou se comeu foi bem pouco.
Ellie suspirou e cruzou os braços enquanto olhava Crystal de longe.
— Então, tia. Tem algo a nos dizer? — Perguntou Alice ficando de pé.
— Talvez. — Ellie falou sem demonstrar reação alguma. — Eu sei no que vocês estão envolvidas. Começou comigo também quando eu tinha a idade de vocês. Eu era a terceira fase, a fase da Anciã. Desde quando começamos a nos descobrir, Stephen era fanático em ser forte e poderoso como um grande feiticeiro, mas Hécate nunca o deixou adquirir seus poderes porque o achava ambicioso. Stephen optou pela magia negra, usando poderes que eram retirados do mundo inferior, inferno ou sei lá o que. Era usado através da convocação de demônios, entidades e até mesmo de um possível Satã, mas sempre retirava a energia de pessoas comuns e boas.
— Só que ele ficou forte até demais e acabou nos impedindo de completar a última parte do ritual, que seria banhar-nos no sangue de alguém pecador que possuía tanta energia ruim, que nos disfarçaria das forças malignas presas na Terra. — Continuou Liz sem nos olhar. — Tínhamos nossa própria magia, até Stephen tirá-las de nós e tomar nosso poder.
— E então nos separamos e fomos viver cada uma nossa vida. — Terminou Ellie e logo um silêncio se instalou pela sala.
— Como sabia onde estávamos? — Perguntou Alice para Ellie, que respondeu apenas um "eu segui vocês".
— Uma pergunta. Quem é Hécate? — Lembrou Seline com sua pergunta.
— Hécate é a Deusa Tríplice, é o seu nome. Bem, era mais usado quando era adorada pelos gregos como deusa grega, mas costumamos chamá-la assim também.
— Eu não consigo compreender. — Sussurrou Alice como se ainda estivesse processando os fatos.
— Ninguém consegue entender. — Disse minha tia.
— O que Hécate fez para ajudá-las? — Perguntei atraindo a atenção das duas mulheres.
— Ela não poderia devolver nossos poderes porque dizia que eram como almas, são apenas nossas e sem empréstimo. Ela também não conseguia combater os poderes de Stephen porque dizia que não faziam parte da dimensão dos poderes dela, então a única forma de detê-lo seria alguém com os mesmos poderes que o dele. — Respondeu Ellie.
— Preciso levar Crystal para o hospital. Tentarei ao máximo não deixar que ninguém a veja, e quando voltarmos direi que foi apenas um desentendido e uma brincadeira de amigos. — Disse minha tia Liz olhando para Ellie, que concordou com a cabeça. — Ligue o carro, eu a levarei atrás.
Saint Luna, 11 de Fevereiro de 1991
Segunda-feira - 07:18 A.M.
Havia se passado cinco dias desde que achamos Crystal com Stephen. Muita coisa foi explicada desde então, inclusive já temos um nome para a Deusa Tríplice: Hécate. Alice havia procurado mais informações sobre a deusa, mas só foram especificados livros que a cultuavam como deusa grega. Ainda não havíamos reencontrado Stephen, mas eu sabia que hora ou outra isso aconteceria.
Comprovamos também que Ellie fazia parte da tríade, e não Oliver. Eram Ellie, Liz e Mariyah, tanto que agora tudo faz sentido quanto a quem somos ligadas.
— Bom dia, flor do dia! — Seline se aproximou de mim com um sorriso estampado no rosto, antes de entrarmos na sala.
— Que animação toda é essa? — Perguntei sorrindo.
— Estou feliz de estar tudo resolvido. Merecíamos livramento pelo menos por um tempo, até porque ainda devemos nos preparar para caso Stephen volte. — Disse um pouco mais baixo para que ninguém ao redor ouvisse. — Como Crystal está?
— Melhor. Ela voltou para casa antes de ontem com a Sarah e minha tia acabou dando uma desculpa qualquer para o detetive Marcus.
Ouvi o sinal tocar para entrarmos na sala. Me despedi de Seline e entrei na sala de química para assistir à maravilhosa aula do meu professor favorito, Adam. Sentei-me no mesmo lugar que sempre sentava e esperei ele entrar, mas pelo contrário, uma mulher alta entrou e se apresentou.
— Bom dia! Sou Rose, nova professora de química. Adam, o processo de vocês, não pôde vir. Houve imprevistos com a família dele, então fui contratada para substituí-lo por um tempo.
Achei tudo uma desculpa esfarrapada. Será que havia acontecido algo com Adam? Eu ainda não tinha noção da inclusão dele na vida de Mariyah, mas estava começando a achar que ele não era um grande problema.
Com o fim da aula, saí e fui até a sala de Mariyah perguntar sobre o professor Adam. Ela já sabia sobre estarmos envolvidas com Hécate, então o que eu tinha a perder?
— Diretora, posso entrar? — Dou duas batidas na porta antes de entrar e ela concorda, sentada na sua cadeira como sempre.
— Com o que posso te ajudar, Jessica? Sente-se.
— O que aconteceu com o professor Adam? — Me sentei na sua frente e a observei seriamente.
— A mãe dele adoeceu e não passa bem, então ele pediu um tempo para cuidar dela. — Disse tranquilamente me fitando com o olhar.
— Mariyah. — Chamei. — Por favor, me fale a verdade. Seline, Alice e eu ouvimos a conversa de vocês dois no primeiro dia de aula e sabemos que ele sabe sobre a bruxaria.
Ela suspirou e me encarou com o olhar duvidoso, mas prosseguiu.
— Eu conheço Adam há muito tempo, desde quando tinha a sua idade. Ele era o tipo nerd da escola que apenas estudava, mas era meu melhor amigo, junto com a sua tia. Eu era apaixonada por outro cara, mas Adam insistia que me amava e queria ficar comigo e eu só o via como amigo. Ele surtou e começou a me perseguir, então acabou descobrindo sobre nós três e até chegou a me ameaçar contando nosso segredo. Me senti culpada e depois de uns anos deixei ele trabalhar aqui, mas nossa relação não é uma das melhores.
Agora tudo fazia sentido. Adam não era o vilão e muito menos uma pessoa ruim, apenas alguém frustrado por amor. Me levantei ainda pensativa, agora eu me sentia culpada por ter perseguido ele.
— Obrigada por não me esconder nada. Até mais. — Disse sorrindo e ela sorriu de volta.
Saí e fui para a sala de geografia. Assisti a aula quase dormindo e ouvi o sinal tocar de novo, indicando para irmos ao intervalo. Eu estava faminta, então fui direto ao refeitório. Normalmente encontro Seline e Alice lá, mas eu ainda não havia as visto.
— Ótimo, estou sozinha de novo.
Torci para Seline não ter se afogado de novo e nem para Alice ter se perdido dentro da biblioteca da escola. Peguei minha comida e me sentei numa mesa completamente vazia no canto e comecei a comer esperando que as meninas chegassem logo para não me deixarem sozinha.
— Oi, você é Jessica Whitmore?
Olhei para a garota que falava comigo em pé, ao lado da cadeira. Ela parecia ser mais nova, baixinha, com a pele morena e o cabelo curto, liso e castanho. Usava óculos redondos quase maiores que o rosto e um casaco rosa e azul escrito "fofa".
— Sim. Posso te ajudar em alguma coisa? — Perguntei empurrando meu prato para o canto, para dar mais atenção à garota.
— Meu nome é Lucy, eu sou do primeiro ano. — Lucy se sentou ao meu lado e me encarou séria. — Pode parecer um pouco estranho, mas há um tempo eu venho procurando por vocês.
Me assustei por um momento pensando que ela poderia estar falando de Seline, Alice e eu, mas acabei não demonstrando.
— Vocês quem?
— Nossos irmãos. Você foi a primeira que encontrei, Jessica. Você é minha irmã que foi para outro orfanato quando era mais nova. — Disse com um sorriso enorme. — Oi, irmã!
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz
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