Capítulo vinte
Minha cabeça deu uma volta de trezentos e sessenta graus, bem louca. Não era a hora de pensar em romance e nem nada desse tipo, mas, eu sou a querida Brooke, a menina que nunca consegue se concentrar em nada quando há meninos envolvidos.
- Como você está? – pergunta uma voz e eu ponho a mão no peito, com o susto.
Olho para trás e vejo Ted. Ele parecia... Pequeno. Estava encolhido sobre uma camiseta de golf enorme. Ele me encara, sorrindo torto.
- E-Eu estou bem. E você?
Ele coloca as mãos no bolso da calça.
- Estou bem. Eu ainda não te agradeci.
- Pelo que exatamente?
- Por você ter me acordado. Eu poderia nunca ter acordado naquele dia, Brooke.
- Tudo bem.
- Mase está falando para você ir almoçar – ele sorri novamente. Eu reviro os olhos.
- Como está Sierra?
- Ela está ótima. Obrigado por tê-la salvado também. Eu não... Conseguiria viver sem ela.
Dessa vez, sou eu que dou um sorriso tímido.
- Você... Gosta dela?
Seu rosto fica inteiramente vermelho, como se ele tivesse prendido a respiração. Como eu era intrometida...
- Não precisa responder, é sério. Foi da boca pra fora – explico rapidamente.
- E-eu gosto... Eu gosto muito dela – ele coça a cabeça. – Mas ela deve me achar um maluco pirado.
Eu ri, aliviada. Ele gostava dela e ela dele, mas nenhum deles sabia. Como eu queria ter algo único no meu coração neste momento.
E ele era um maluco pirado.
- Bem, conte a ela.
Ele arregala os olhos.
- Tá maluca? Ela não vai me aceitar!
- Eu tenho um forte pressentimento de que ela vai sim, menininho inseguro.
Ele fica vermelho novamente.
- Tudo bem, então. Eu sou o cara. O cara perfeito para ela. Não existe o cara melhor pra ela. Ela não pode ficar com outro cara.
- Tudo bem – eu sorrio. – Vai lá, cara. Boa sorte.
Ted se vira, coçando a cabeça nervosamente. Ele parecia um adolescente de quatorze anos, com medo do primeiro encontro. Eu sorrio, feliz por ele.
Minha barriga reclama e eu vou direto para a sala de jantar. Vejo vários e vários jovens sem suas asas, pegando os pratos e se servindo ao estilo self-service. Eu entro na fila que continha mais ou menos doze Anjos, até que ouço um murmurinho de garotas irritantes falando. Olho para o lado e vejo garotas esbeltas e angelicais, envolta de Mase.
- Isso está delicioso, Mase... – uma delas ronrona para ele. O rosto de Mase era de admiração. Pelo jeito, estava gostando dos resultados de seu trabalho.
- O que você colocou nesse frango? Está incrível! – outra comenta, e aí eu percebo que estou segurando o cabo do garfo forte demais. Faço uma careta disfarçável e olho em volta, como se procurasse qualquer coisa.
Até o burburinho se cessa.
Olho para direção em que todos estão olhando, tentando reconhecer a figura por trás de tantos corpos. Por que o salão era assim, tão grande?
Então, eu vejo Blake. Oh, merda! Não sabia se Mase e Blake na mesma região não era algo muito bom...
Blake parecia calmo, o que era bom. Ele estava tímido, sobre tantos olhares curiosos e atiçadores, que se encolheu um pouco, segurando o prato vazio. Por um instante, nossos olhares se chocam e ele me lança um sorriso descontraído. Eu sorrio de volta, sem saber o que fazer com a sua presença surpresa ali.
Eu volto a minha atenção para as diversas comidas a minha frente. Mase havia feito o prato principal que era algum frango assado com tomate e outras coisas, pois bem, havia vários Anjos ali. Pego um pouco de arroz e algum molho de aparência apetitosa e depois finco o garfo na coxa do frango e pego o pedaço. Olho ao redor – como sempre faço – a procura de um lugar vazio para eu poder me aconchegar.
Eu não tinha ideia do por que eu ter sentido ciúmes de Mase, se eu nem ao menos... Era tão confuso! Com Blake, era algo mais intenso, enquanto quando eu estava com Mase, era algo mais calmo, doce. Era como se eu estivesse pisando em nuvens.
Meu Deus, eu estava comparando um ao outro! A que ponto eu fui chegar? Não era justo. Se eu sentia algo por Blake, então não era um amor verdadeiro, pois senão, eu não estaria interessada em outro cara. Além do mais, eu conhecia melhor Mase do que Blake, que apenas havia me contado o nome de sua ex-namorada, Carolyn. Eu não sabia mais nada. Quem eram seus pais? Como ele havia se tornado Anjo da Morte? Quem, o que, quando!
Talvez, fosse melhor se esquecesse dos dois, e deixasse rolar naturalmente. Talvez, eu estivesse melhor sozinha. Eu me sentia em paz quando estava comigo mesma. Era como se eu mesma me intendesse. Quando um deles chegava perto de mim, eu ficava nervosa e minha pele começava a formigar.
Olho para os cantos e vejo Derick. Ele conversava com algum garoto e parecia concentrado. Quando ele percebe que eu estou olhando, eu desvio o olhar rapidamente para a minha comida, que eu mal havia mexido. Engulo um pedaço da carne, apenas para disfarçar.
Olho novamente. Ele estava vindo à minha direção. Oh, não, não, não! Ele estava furioso comigo pela morte de Cassandra e pela mão de Cash. Eu também me sentia culpada, mas pelo bem de mim mesma, eu tentava não me remoer mais por conta disto.
- Olá, Williams – ele cumprimenta.
- Olá, Derick – cumprimento de volta. Droga, eu não sabia o sobrenome dele!
- Como anda com o seu amiguinho?
Ele veio para implicar, é?
- Bem. Até agora ele não demonstrou nenhum sinal de agressão.
Ele assentiu rigorosamente.
- Não existe uma maneira de você... Sei lá... Trazer a mão de Cash de volta?
- Estou com cara de cirurgiã? – dessa vez eu estava furiosa! O que ele pensava? Achava que eu não havia pensado nessa opção? Imbecil!
- Eu não estou zombando você – ele falou tão calmo, que eu franzi a testa. – Eu apenas... Queria poder voltar no passado e impedido que Cash perdesse a mão. Ele não merecia.
Legal, agora eu estava com cara de psicóloga. Bufo baixinho e olho para Derick, desejando que ele calasse a boca.
- Você gosta do Blake? – ele pergunta para mim. Oh, merda.
- E-eu? Eu gosto dele...
- Ele sabe disso?
- Acho que sim. Bem, sim. – obviamente, a gente se pegava.
Derick mordeu o lábio.
- Você contou a ele?
- Ele me contou.
- Eu gosto do Cash – ele soltou. Para mim!
- Sério? – nunca passaria na minha cabeça que Derick fosse gay. Eu não podia acreditar!
- Sim – ele mexeu com os palitinhos que estavam em cima de mesa. Ele estava tímido.
- Ele sabe?
- Sempre fomos melhores amigos – ele olha para mim. – Ele nunca notou.
- Quer conversar sobre?
Derick sorriu.
MASE
Ele a observava de longe. Conversava animadamente com Derick. A primeira vez que a viu tão animada, tão viva. Sentiu um puxão na camiseta e olhou para o primeiro amor de sua vida. Bronagh estava sem maquiagem. Ela parecia mais nova, uma menina de dezoito anos perdida, talvez. Ela dá um sorriso fofo em sua direção. Parecia que havia chorado.
- Podemos conversar? – ela pergunta, puxando-o em direção à sala de estar. Mase já havia almoçado e se perguntava se ela já havia comido.
- Claro – responde simplesmente.
Ele a seguiu para a sala, que era o único cômodo vazio. Geralmente, em uma casa cheia de Anjos, quase nunca se havia privacidade. Ele a encarou, esperando que ela iniciasse a conversa.
- Foi tão fácil assim me esquecer? – ela perguntou. Ele arregalou os olhos, como se aquela pergunta o ativesse acertado no meio da boca do estômago.
- Não. Eu ainda não te esqueci – ele responde, sendo sincero.
Os olhos de Bronagh ganham um pouco de brilho.
- Eu também não te esqueci.
Sendo assim, ela agarra a sua camisa e o puxa para mais perto, sentindo a maciez de sua boca contra a dela. Ah, como ambos sentiam falta disso! A falta de palavras não era mais necessária. Ele a puxou para mais perto. Bronagh parecia tão vulnerável e ele queria protege-la. Mesmo assim, sua mente deu um estalo.
E Brooke? Ele estava mesmo sendo sincero consigo mesmo? Bom, Blake estava de volta. Era a vez dela de se decidir.
CASH
Os olhos de Cash estavam vazios. Ele olhou para as suas asas. Frágeis e machucadas. Encostou-se no chão frio. Sua cabeça encarava o quarto nu, sem cores. A escrivaninha intocável, a cama perfeitamente arrumada. O silêncio vazio. Abriu o pequeno livro que havia roubado do laboratório de Morte, aquele que pertencia ao tal de Dylan.
Folheou as páginas. Escrito por um Anjo Caído. Era como um diário.
"A liberdade, tão mal sentida, meu desejo por ela clamava em minha pele
Com o contrário da vida eu me aliei
Suas consequências eu tomei
E de nada me adiantou
Eu ouço gritos, ouço desordem, ouço o começo da Guerra, de uma nova Era
A Cidade Cinzenta se decaiu
A disputa por poder e posse começou
Nada poderia parar
Nada iria parar
Ninguém fez o Acordo Certo, e do Acordo Certo será.
Ninguém sabe ao certo como tudo começou
Eu sei
Eu vi
Eu vivi
E ainda viverei por uma eternidade
O Ceifador precisa ser acolhido pelas Eras Sombrias, para que outro tome o seu lugar.
Ou as esperança nunca surgirá.
Aquilo era mesmo um diário para Cash. Ele se sentiu arrepiado. Estava no nome de Daniel. Seria o Anjo Daniel? Um dos principais e mais velhos Anjos já citados?
Cash balançou a cabeça lentamente. Sublinhou a palavra liberdade. Novo Ceifador. Para tudo isso acabar, seria necessário um novo Ceifador. Cash se olhou enojado, com raiva de si e tudo, sem nenhuma razão.
Ele olhou para onde ficava a sua mão. A raiva borbulhou dentro de si mais uma vez. Aquele lugar estava o deixando sufocado. Ele queria a liberdade, e não sabia como consegui-la.
Não havia piedade.
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