Capítulo quinze
Eu fico estática. Meu coração parecia ter sido esmagado contra o meu peito. Meus olhos se fecham. Mentiroso.
Então por que sua mentira soou tão sincera?
Olho novamente para Mase, esperando que ele faça alguma coisa. Um movimento, uma respiração, alguma coisa, qualquer coisa!
Mas ele me encara com uma tranquilidade inabalável. Meus olhos se arregalam. Ele não podia ser filho... Daquilo! Não, eu não conseguia acreditar! Não fazia sentido algum!
- Quem te contou?
- Erfieu. Ele... Ele me ajudou a fugir... Do meu pai, quando eu era um bebê. Minha mãe morreu no parto – ele falou. Seu olhar agora não tinha mais foco; era tão distante. Eu não piscava. Não conseguiu.
- Por que ele fez isso? – pergunto, referindo-me a Erfieu.
- Meu pai era um Arcanjo e Erfieu era um feiticeiro imortal – Mase falou com dificuldades, ainda sem me encarar – minha mãe era um Anjo da Vida que estava grávida de mim na época. Isso é apenas um resumo, ok? Eles fugiram, quando minha mãe estava prestes a me ter, então, o meu pai, que estava se transformando em Morte, nos raptou. Quando Marcus voltou, minha mãe estava quase morta, assim como eu.
Fico horrorizada.
- Ele percebeu que eu não era aquilo que ele queria, então me deixou para morrer. Minha estava morta, Erfieu havia dito. Ele a matou por que ela não podia ter mais filhos. Como eu não tenho nenhum resquício de maldade, ele resolveu me despachar – sua voz falha. – Quando ele a engravidou quando era um Arcanjo, mas estava se iniciando em Morte.
- Como ele se tornou Morte?
- Matando o antigo Ceifador.
- Existe uma maneira de fazer isso?
- Enganando-o. Ele não era bom de ler expressões.
- Você não poderia nascer... Como híbrido, metade Arcanjo e metade Anjo?
- Eu sou um Anjo Especial, que é quando se funde as duas raças. Sou meio-Arcanjo, Brooke – ele não parecia feliz em dizer isso.
Então se levanta bruscamente.
- Você está bem? – pergunto entorpecente.
- Não – ele responde e de repente, abre as asas. As maiores asas que eu já vi. – É o que eu sou.
Eu não consegui emitir nenhum som. Suas asas eram perfeitas como ele. Prateadas e brilhantes... A coisa mais magnifica que eu já vi.
- Há apenas um Arcanjo nesse mundo, que sou eu. Escondi-me durantes anos na Academia, até que descobri esse lugar – ele falou, parou, mas logo continuou. - Meu pai já tentou me persuadir, mas eu nunca cedi. Ele tentou me arrastar, mas eu sempre lutei contra. Meu pai leu as coisas que o antigo Ceifador fazia. As guerras... Meu pai continuou com tudo. Tornou-se um ser amargurado... Fez novas regras. Começou a trabalhar com magia, assim como o antigo Ceifador, só que mais elaborada. Para fantasmas, para Anjos de todos os tipos... E-eu preciso matá-lo.
- Mase, você não pode fazer isso – desespero-me. – Se fizer isso, vai se tornar um Ceifador.
Seus olhos se fecham, mesmo que por um segundo.
- Eu preciso fazer isso. Pelo bem de todos, ele precisa parar.
- Não!
Ele olha para os lados freneticamente. Seus joelhos pendem ao chão.
- Eu não queria nascer assim – ele coloca a mãos sobre o rosto. Completamente frágil.
Eu apenas o encaro fixamente, sem ter baixado o espirito de psicóloga. Sinto meus joelhos se encostando ao chão frio. Ele olha para mim, perdido. Seu olhar era tão nebuloso, como se fosse cair a chuva em breve. O cheiro almiscarado de terra e inverno invadiu o meu nariz. Eu me aproximei dele, tentando dar um dos meus melhores sorrisos.
O pai dele era Morte. Ele tentou matá-lo e depois persuadi-lo.
- Erfieu...
- Ele é amaldiçoado. Ele era um feiticeiro antes. Trabalhava para a antiga Morte. Um dos poucos mediadores caçadores que trabalhavam para o lado negro.
- Por que ele trabalhava para o antigo Ceifador?
- Ele fez um acordo com a Morte. A vida da mãe dele pela dele. Então, ele se tornou imortal e foi viver aqui no Submundo. Conheceu o meu pai, viraram amigos, mesmo isso sendo contra as regras. Meu pai era um Arcanjo na época. Um Lorde da Cidade dos Anjos. Ele tomava conta, até que se apaixonou pela a minha mãe. Porém, Erfieu também a amava, e ambos não sabiam disso. Quando o meu pai descobriu, ele ficou irado. Tentou se matar e Morte, um dia, foi até ele. Porém, ah... – ele passou as mãos pelos cabelos. – Minha mãe tinha um dom, como eu e você. O toque da Morte não a matava. Assim como meu pai não pode me matar, já que sou imune. Ele tentou levar a minha mãe para si, mas meu pai impediu, enganando-a e o matando logo em seguida. E depois aconteceu tudo aquilo que já lhe falei.
Pisco várias vezes, sentindo o ar se esvair daquela sala. Cidade dos Anjos. A história de Mase. A mãe de Mase.
- Eu... Sinto tanto... – falei sinceramente. Uma dor abominável estava enclausurada em meu peito. Eu pensei que a qualquer momento eu poderia chorar. Eu queria lhe fazer perguntas, mas sabia que aquela não era uma boa hora.
Abraço Mase, como se eu necessitasse daquilo tanto quanto ele. Ele me abraça de volta, envolvendo-me protetoramente em seus braços. Eu queria ficar ali, sentindo aquele calor acolhedor. Sinto lágrimas descendo por minhas bochechas. Eu chorei por todos. Minha mãe e meu pai que estavam no Tormento. Chorei por Blake e por todos aqueles que estava prestes a perder.
MASE
Mase queria que o tempo parasse. Nunca se sentira tão acolhido em sua vida. Nem mesmo Bronagh cuidava dele assim. Um simples abraço. Um puro toque. Ele havia lhe contado parte de sua vida. A maior parte. Encolheu-se, pensando que, talvez, ela pense que ele é um menino fraco e carente. Porém, naquele instante, nada importava. Apenas o momento e a lembrança que teria dela depois.
- Obrigado – ele sussurrou. Ela apenas assentiu.
Acobertou-a com suas asas.
BROOKE
Três dias depois...
Todos nós coubemos no Porshe de Mase. Eu me acomodo no banco passageiro, enquanto Mase dirige e os outros três vão atrás. Meus pés batucavam o chão nervosamente. Minhas unhas estavam destruídas. Olho para trás. Melinda e algumas pessoas acenavam para nós. Estávamos ferrados.
Mase pisou no acelerador e nós saímos da magia de proteção que havia na Mansão de mais ou menos cinquenta quartos. Tento gravar o pouco que restava das minhas unhas na pele da minha perna. Nesses últimos três dias eu tinha tentado aprender a controlar o meu poder, para o caso de precisar usá-lo em casos de emergência. Apenas para emergências. Eu não poderia me dar o luxo de perder todo o meu poder só para curar um arranhão, típico de criança aprendendo a andar.
- Se acalme. Vai dar tudo certo – diz Mase.
Eu queria soca-lo. Socá-lo até ele se dar conta de que estávamos ferrados. O que era, nós cinco, perto de uma legião de fantasmas, adicionando o seu querido pai?
- Cale a boca, Blake – digo.
- O quê?
- Desculpe. Mase – corrijo.
Ele sorri e percebo o quanto o carro estava silencioso. Tenso, por assim se dizer. Eu dou um sorriso para Sierra, que aparentava ser a única tranquila naquele lugar. Ela sorri para mim. Ted balançava as pernas e fingia estar tocando bateria. Eu conseguia enxergar seu olhar. Estava quase mijando nas calças, pobrezinho.
Cash estava concentrado, como se em sua mente passasse todos os golpes de judô, kung fu e tudo que fosse possível para uma luta com fantasmas e os asas negras.
- Por que não vão com as asas?
- Se nos machucarmos muito, não poderemos voltar para casa. Por isso, o carro é a opção mais viável. As asas não funcionam se estivermos muito mal.
Ergo os olhos e vejo que Mase havia parado naquele mesmo local de antes. Tínhamos chegado ao nosso ponto. Só precisávamos andar um pouco – sem chance de nos perdemos na floresta – e achar o buraco (se ele ainda estiver lá).
Ouço um barulho vindo da parte traseira do carro. Mase rapidamente abre o porta-malas e nós vemos Cassandra toda encolhida. Ela sorriu, um pouco sem graça para Mase. Ele revirou os olhos.
- Não devia estar aqui, Cassandra – ele diz.
Ela se levanta bruscamente e se ajeita. Usava trajes iguais aos nossos. Uma típica roupa elástica – não muito colada – que se ajeitava ao corpo em qualquer movimento. As asas de Mase estavam ativadas na transparência, enquanto a do resto estava visível. Eu queria vê-las de novos e senti-las de novo. Elas me cobriam por completo e eram tão quentinhas.
Balancei a cabeça, tentando me desvencilhar daquele pensamento. Eu precisava me focar no resgate de Blake. Cassandra respira fundo.
- Eu quero ser útil. Eles sempre me deixam em casa. Nunca participei de uma missão aqui. Apenas na Terra e na Terra é chato – ela resmunga.
Mase a encarou. Ted fez uma careta nada agradável.
- Eu queria muito mijar agora. Tem como me esperar? Vou naquela moitinha ali.
Reviro os olhos.
- Você tem três minutos.
- Preciso de menos que isso, gatinha – ele pisca pra mim.
Eca.
Mil vezes eca.
- Posso me juntar a vocês? – ela insiste.
- Eu não vou deixar você voltar com o meu carro, então sim – diz Mase. Sorrio.
- Venha com a gente, Cas – falo. – Mas fique perto de nós, ouviu?
Cash se aproximou de mim, com uma faca na mão.
- Dê-me sua mão – ele ordena para mim.
Dou a ele minha mão e ele passa a vaca e faz um cântico em latim. Uma marca aparece ao lado da outra, que estava quase cicatrizada.
- Está sendo encarregada pela vida dela – ele diz simplesmente.
E anda na frente.
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