Capítulo dezoito
Bip
Bip
Bip
Essas foram às primeiras coisas que eu ouvi. Nesses últimos dias, parecia que eu estava flutuando para o desconhecido. Meu corpo parecia inerte, alheio a qualquer dor. Minha mente viajava para um mundo branco, até que sou acordada pelo constante som do bip. Eu não sabia o que era aquilo e ansiava para que parasse, porém, minha boca não emitiu nenhum som.
Imagens vêm a minha mente. Um homem com um cavalo negro, um menino brilhante e um garoto escondido, coberto por seus segredos. Foi mostrado a mim também, um menino de cabelos alaranjados como o pôr-do-sol, mas não se via a luz da manhã nele. Era escuro. Meu corpo estremeceu e eu gritei sem som. Sentia-me sufocada.
Iam me matar. Iam me matar.
Minha cabeça batia descontroladamente em um travesseiro macio. Fios conectavam o meu corpo. Onde eu estava, onde eu estava? Não podia ser um pesadelo. Era tão real! Paredes a minha volta, encurtavam-se como se quisessem me esmagar. Eu não conseguia respirar direito. Tiro bruscamente os frios do meu braço, mas eles voltam com mais força e fincam a agulha fina em minha pele, fazendo com que lágrimas silenciosas descessem pelo meu rosto.
- Olá, Brooke – diz uma voz. Dylan estava... Normal. Vestia uma camiseta flanela velha que ele costumava usar quando íamos ao cinema. As calças eram surradas e seu típico jeito relaxado pairava sobre o ar.
- O que você quer? – pergunto. Minha voz sai abafada, esganiçada.
- Você sabe que eu quero você.
- Você não me ama. Vejo isso em seus olhos – falo tranquilamente, para a minha surpresa. As palavras se soltaram sem que eu deixasse.
- Sim, você está certa. Eu não te amo. Eu apenas quero levar você – ele deu de ombros.
- Pra que? – minha voz estava inalterada e o meu corpo, paralisado.
- Morte a quer, para ser mais preciso. Talvez, você seja a próxima da lista dele.
Meu olhar se torna escarlate. Eu queria mata-lo.
- Mas eu quero! – dessa vez, minha voz sai audível.
Dylan sorri, preguiçosamente, como se estivéssemos no sofá, tomando algum energético, comendo nachos e discutindo sobre futebol americano.
- Dylan, você não é assim. Por favor, eu sei que esse não é você – eu realmente não sabia do que estava falando, mas falei mesmo assim.
Seus olhos verdes brilhavam e balançavam.
- Eu sou assim, Brooke. Em nós, sempre a um lado que não revelamos, porém, tive que fazê-la a ver esse meu lado. É o lado que sempre quis mostrar. Você sempre olhou para o que quis, menina.
- Você não pode estar falando sério... – eu estava à beira de lágrimas, tão confusas lágrimas!
- Brooke, como você é egoísta. Você só vê o seu lado. Quer que todos desejem ser como você. Uma salvadora – ele gesticulou com as mãos. - Não suspiro mais por você, garota! Preste atenção! – dessa vez, ele gritou.
- Isso não faz sentido, seu imbecil! – eu gritei mais alto.
- A vida não faz sentido, minha boneca – ele pôs a mão dele sobre a minha. Eu não conseguia me mexer!
A raiva borbulhava em minha mente. Um vulcão estava prestes a explodir.
- Você que é um boneco! Uma marionete nas mãos de Morte! Ele vai...
Sua mão se deslizou rapidamente para o meu pescoço. Como eu estava impossibilitada de me mexer, então apenas lhe lancei o meu olhar mortal.
- Não digas palavras tolas que poderá se arrepender depois.
- C-como você está aqui?
- Foi necessário um sacrifício. Matei a minha doce menina, Emily, enquanto ela estava dormindo. Eu me lembro do medo gélido em seu olhar. Ela não devia ter feito aquilo – ele começou a falar, como se ela fosse uma lembrança distante. - Ela não podia ter medo de mim, oras! A única coisa que eu queria era lhe causar uma morte rápida sem dor e sofrimentos – ele riu. Sua risada era áspera e quebrada e algumas lágrimas despencaram sem cima de mim. – Mas ela me obrigou a ser... Lento e doloroso – ele pronuncia a última palavra como se ela fosse uma pimenta saborosa.
- Você fez isso para pegar o poder dela, suponho.
- Isso mesmo, minha boneca. Ah, como você aprende tão rápido... – ele foi irônico. - Venha comigo, Brooke. Poupe as mortes de seus amigos. Eu poupei a do seu namorado. Não está feliz?
As lembranças das feições inumanas de Blake invadiram a minha mente. Ele havia transformado o meu amigo.
- O que você fez com ele? – sibilo raivosamente.
- Nada que eu não faria – ele ri e vai embora.
Tudo fica branco e eu caio novamente no meio das nuvens, até que vozes atordoados me deixam em pânico. Bato a cabeça no travesseiro novamente e abro os olhos, piscando várias vezes.
Mase estava do meu lado. Não apenas ele como, Sierra, Cash – com o braço enfaixado – e Ted. Eles pareciam... Melhores. Por quanto tempo eu havia ficado apagada? Onde estava Dylan?
- Onde está Dylan? – pergunto. Percebo que eu estou com o pescoço enfaixado. Meus braços estavam com curativos e minhas pernas estavam arroxeadas.
- Dylan? Não sabemos. Você está bem? – Mase pergunta, segurando delicadamente as minhas mãos. Ele as beija logo em seguida.
Deito novamente no travesseiro. Não sentia dor, o que significava que estava sobre efeitos dos medicamentos.
- Eu estou... Bem.
- Você estava gritando e seu nariz sangrava. Sua cabeça batia violentamente contra o travesseiro e ficamos com medo de...
- Está tudo de bem. Foi Dylan. Ele matou Emily para poder invadir a minha cabeça. Ele está ficando pior, Mase. Eu não sei se vou aguentar.
- Eu não vou sair do seu lado nem por um segundo – ele beija as minhas mãos novamente.
Ted pigarreia e vejo que seu rosto estava bem melhor. Bem prejudicado pelos fantasmas, mas ele já podia fazer suas variadas expressões facial. Sierra estava como uma perfeita boneca de porcelana, parada ao lado dele com as mãos para trás. Cash estava... Sem a mão. Seu olhar era tão vazio que eu me senti quebrada e... Culpada.
- Melhor deixa-los a sós – escuto uma voz. Derick. Ele estava com os braços cruzados, visivelmente preocupado e furioso. Havíamos salvado Blake, mas não havíamos matado Dylan.
Eu havia falhado.
Uma imagem horrível sobe a minha mente. Uma cabeça rolando. Meu corpo convulsiona. Cassandra.
Fico reta e começo a chorar involuntariamente. Cassandra... Cassandra havia morrido! Deceparam-na! Não acredito, não acredito, não acredito! Meu estomago se retorce e eu vomito ao lado da minha cama.
Olho para Mase. Sua expressão cansada e abatida revelava tudo. Ele se lembrava. Ele se culpava.
- Falhamos. Eu sei.
- Cas... Cassandra... E-Ela... – eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer, pois minha garganta se fechava. Ela era tão boa. Coloco as mãos na cabeça, enlouquecida. O efeito da cicatriz ardia em minha mão. Vou ficar louca, vou ficar eu juro que irei ficar!
Sua cabeça... Ele sabia que eu não podia curá-la se arrancasse uma parte de seu corpo.
Não pode trazer a minha mão de volta.
Minhas mãos frias tremiam sobre as mãos mornas de Mase. Eu fico sem acreditar.
Cuidado com suas escolhas, futura esposa.
Olho por olho, dente por dente.
Essa era as regras de Morte.
Controlo a minha ríspida respiração e deito por completo na minha cama.
- Não consigo dormir. Eu fiz aquilo... Eu mereço morrer – ele diz. Sua voz estava carregada de uma tristeza imensurável. – Eu não sei se aguento...
Seguro a sua mão. Minhas mãos estavam cálidas.
- Não foi sua culpa – tento dizer, mas minha voz estava afogada. Meu coração parecia ter virado água e eu estava me afogando nele.
Ele se levanta bruscamente.
- Se eu não tivesse matado aquele Anjo... Seu eu não tivesse a aceitado... – ele bate o punho na parede com tanta força, que o barulho se ecoa pelo quarto. Ouço o tintilar das janelas de vidro. Começo a tremer novamente. Era uma dor tão grande que eu mal conseguia respirar.
- Eu a aceitei – mostro a cicatriz da minha mão. Ardia como fogo.
- Brooke... – ele estava cansado. Não podia julgá-lo. Nossa primeira missão praticamente nos destruiu. Tínhamos muita coisa pela frente; muito caminho cheio de pedras e arames.
- Me perdoa – sussurro, olhando pro nada.
Ele se vira para mim.
- O quê?
- Me perdoa. Eu fui imprudente, imatura. Cash perdeu uma mão. Sierra quase morreu e Cas... – eu não conseguia falar. Não ia. – Dylan está vivo e mais forte. Minha mente só estava focada em Blake e eu sair o mais rápido possível dali.
- Não é sua culpa. Fomos... Involuntários. Apenas isso – ele cruza os braços. – Vou... Vou deixa-la descansar, mas não se preocupe. Tranquei as janelas e qualquer coisa, eu vou estar aqui do lado da porta.
- Mase... – minha voz é fraca. – Não vá, por favor.
Eu não queria ficar sozinha. Minha vida estava se despedaçando aos pouquinhos e Mase era o que me mantinha de pé. Penso em Blake. Não queria perguntar sobre ele agora, mesmo sabendo que a qualquer hora eu teria que vê-lo; avalia-lo. Eu queria o meu Blake de volta, mas ainda não tinha forças para recuperá-lo.
Mase assente. Minha cama era uma cama king-size e ele cabia perfeitamente nela. Ele se aconchega próximo a mim e coloca a coberta sobre minhas pernas, assim que vê que estou gelada. Envolve-me sobre seus braços quentes, assim que vejo que nossos rostos estavam a centímetros de distância um do outro.
Não era um beijo de amor, e eu sentia que Mase também sabia disso. Era um beijo de culpa.
Então eu o beijo e ele me beija de volta. Um beijo quebrado, cheio de falhas, erros e acusações. Um beijo violento, cheio de dor e desejo. Minhas lágrimas se misturam com a dele, como um feitiço. Um beijo completo, que unia as nossas emoções. Doce e ao mesmo tempo violento, como se quiséssemos descontar tudo um no outro. Eu não sabia o que seria de mim amanhã e ele não sabia o que seria do dele. Nosso futuro era incerto, era cheio de falhas vivas e delicadas, como espinhos de uma rosa.
Assim que cessamos o caloroso beijo, ele me encara e prensa o meu rosto contra o seu peito. Eu fecho os olhos, imaginando coisas... E ele ainda estava ali do meu lado. Completando o meu pedaço quebrado com o seu.
DERICK
- Que bom que está vivo – Derick falou, olhando para o seu melhor amigo, Cash. O menino estava mais moreno e os cabelos estavam ainda mais negros.
- Estou sem a mão – Cash disse e continuou – a minha mão preferida.
- Mas está vivo.
Os dois se entreolharam. Derick sempre sentia um puxão esquisito em sua barriga, pedindo para que se afastasse do amigo, antes que se machucasse feio. Ele até tentou esquecê-lo com Samirah há uns tempos, mas ele não conseguiu sentir nada pela garota eletrizante.
Ele colocou as mãos para trás, envergonhado, sem saber o que dizer. Nunca fora assim antes.
- Então... Aquele cara, Blake... Ele vai continuar por aqui? – perguntou Cash.
Derick olhou para os lados, sentindo uma pitada de ciúmes, inocentemente.
- Sim. Acho que vamos precisar dele para fazer testes.
- O que será que ele tem?
- Talvez, seja o resultado das experiências de Morte.
- O que fez com o corpo de Cassandra? – Cash perguntou.
O estômago de Cash se revirou. Ele se lembrou do estado em que a garota chegara. Ele ainda sentia raiva de Brooke. Pelo jeito, aquela garota conseguia estragar tudo a sua frente.
- Enterrei e fiz a benção em nome do Celestial.
Cash assentiu e se levantou. Derick queria falar para ele ficar, mas não tinha voz. As palavras simplesmente não saiam de sua boca. Ele tinha medo de que algum dia, isso fosse ser tarde demais.
Cash saiu e Derick não se opôs.
~*~
Obrigada a todos que estão acompanhando, de coração. Deixem seus votinhos e comentários, pois isso ajuda muito com o andamento da obra! Beijos purpurinados!
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