🌸 Capítulo 5 🌸
Escrito por: Carol7Wal
PARTE II - PRIMAVERA
Os dias se passaram e levaram consigo o inverno.
A neve derreteu diante dos meus olhos naquele lugar. Em Seoul eu jamais teria percebido a mudança das estações, imersa em trabalho e agitações que tomavam todo meu tempo.
A cada nova manhã, eu podia ver a grama rasteira ser banhada pelo gelo derretido e dançar livremente com a brisa, reluzindo um tom verde vibrante que me deixava melhor sempre que sentava no velho assoalho de madeira bem polida da varanda para respirar aquele ar fresco.
Mamãe me ligou ainda algumas vezes e sempre que me perguntava sobre vender a propriedade eu mudava de assunto, até que ela desistiu de me questionar sobre isso. Sinto que começo a me apegar a este lugar, apesar dos motivos que me trouxeram até aqui ainda pairarem sobre minha cabeça.
Porém, flores finalmente coloriram todo terreno e a terra parecia fértil, pronta para novas plantações e colheitas. Para uma nova fase. Uma nova estação.
— O que faz aí a esta hora do dia, Na Ri? — Chae Rin aproximou-se displicentemente cruzando a frente da casa até onde eu estava. Trazia consigo uma sacola — Deveria estar dormindo, unnie. Ainda está frio.
— Você também deveria estar dormindo, Chae Rin. — Rebati com um sorriso de lado — O que te trouxe aqui? Taehyung te arrastou da cama?
A garota fez uma careta ao ouvir o nome do irmão e sentou-se ao meu lado em silêncio. Em seguida, entendeu-me a sacola.
— A vovó mandou para você. É kimchi fresquinho e alguns legumes da nossa horta. — Segurei a sacola abrindo e logo senti o cheiro forte de pimenta misturado à acelga. Salivei inevitavelmente. Estava mesmo com fome e não comprei o suficiente para o tempo que precisava. Teria que voltar ao supermercado e gastar mais um pouco das minhas economias.
— A Srª Kim sabe mesmo como cuidar de alguém. — Murmurei envergonha lembrando-me de como tratei aquela família assim que cheguei — Vá, volte para casa e descanse um pouco, Chae Ri. Obrigada por ter vindo. — Afaguei os cabelos da garota que sorriu e me puxou para dentro de casa, me surpreendendo — O que está fazendo? — Levantei-me aos tropeços deixando-me levar pela mais nova.
— Vamos tomar café juntas, unnie! Assim posso comer do kimchi.
Chae Rin pareceu bastante animada e seu comentário sincero me fez sorrir concordando.
— Claro, mas, a Srª Kim não fez para vocês também? — Me senti curiosa.
— Não. — Chae Rin sentou-se à mesa pegando o recipiente com Kimchi, sem cerimônias — Ou melhor: fez sim, mas o Tae oppa falou que deveríamos guardar para trazer novamente amanhã para você.
— Oh, ele falou, é? — Fui até o fogão para preparar do café que havia comprado. Tomei nota mental de que deveria agradecê-lo por isto.
— Sim. — Chae Rin serviu-se e em seguida a mim, e aguardou que eu me juntasse à ela — Mas não se preocupe, unnie. Ele falou que depois faria o nosso kimchi, mas melhor eu comer um pouco deste que a vovó preparou porque o do oppa nunca fica bom e só ele acaba comendo. —Ela sussurrou a última frase e abafei um riso indo em direção à mesa com o café.
Sentei-me e abri os recipientes com os legumes.
— A Srª Kim me mandou algum recado, Chae Rin? — Inquiri ao ver um papel ao fundo da sacola.
— A vovó? — Chae Rin franziu os cenhos e tinha as bochechas infladas de Kimchi — Você tem arroz, unnie?
Meneei a cabeça positivamente e fui até a geladeira para buscar o arroz que havia ficado da janta.
— Não tenho muito... Acho que terei que fazer compras em breve.
Chae Rin estava distraída parecendo satisfeita com a refeição depois de toda a caminhada logo cedo. Acrescentou arroz em meu prato e em seguida pôs no próprio e separou mais um pouco de kimchi.
— Come, unnie. Está uma delícia. — Ela bebericou do café — Ah, não me lembro de a vovó ter mandado recado. Só falou "leva isto para a Na Ri e vê se não demora, menina!". — Imitou a voz da avó em uma tentativa falha me fazendo rir - Ai, caramba! A hora! Preciso ir ou chegarei atrasada no colégio!
— Pelo menos já fez sua refeição, Chae Rin, não precisa se afobar assim. Termina de comer primeiro.
— Se eu disser que comi aqui a vovó me mata, porque ela preparou o kimchi para você, então vou ter que comer mais alguma coisa em casa e sair rolando de tão empanturrada. Talvez só assim eu chegue mais rápido. — Chae Rin sempre me fazia rir seja lá qual fosse o assunto — Sou muito nova para morrer, unnie. Preciso ir! — Ela levantou-se apressada da mesa e desatou a correr o caminho de volta.
— Cuidado, Chae Rin, não corra tanto! — Gritei acenando para a garota indo até a varanda — E obrigada!
— Tudo bem, Na Ri unnie! E entre ao anoitecer! Os lobos não comem apenas kimchi!
— Credo, garota! — Arregalei meus olhos mesmo vendo o sorriso travesso da Chae Rin e entrei sentando-me novamente à mesa vendo a bagunça que a mais nova deixou. Respingos de café e restos de legumes ocupavam parte da mesa e logo limpei tudo sem evitar um sorriso ao relembrar da garota que me aceitou como amiga sem me pedir licença e sem esperar pelo meu melhor momento.
Percebo que não me apeguei apenas a este lugar... A primavera fazia desabrochar não somente as flores lá fora. Em meu coração a neve também derretia aos poucos.
Lembrei-me do papel que veio na sacola com os recipientes e o abri pensando encontrar palavras da Srª Kim com alguma bronca para que eu me alimentasse bem. Mas ao invés disto, li o seguinte, em letras calmas e bem delineadas:
Na Ri,
Gostaria de ter podido levar pessoalmente estes legumes e o kimchi que a vovó fez para você, mas precisei comprar mais materiais para nossa plantação de alface que não está vingando com a mudança de estação. A terra parece ainda encharcada do inverno rigoroso. Mas temos bastante repolhos, tomates e acelgas. Já decidiu se irá plantar em sua horta? Você não estará sozinha. Posso te ajudar.
Tive que recorrer ao modo tradicional de mensagens porque a bateria do meu celular descarregou e a pestinha da Chae Rin sumiu com meu carregador. A propósito, não a deixe comer do kimchi. Além de não ser educado da parte dela, ela sempre reclama do meu e não é justo!
Se ela falar dos lobos novamente, apenas ignore. Chae Rin ama essas brincadeiras. Já falei que ela parasse com isso. Percebi que você tem medo e juro que não estou rindo.
Desculpa não ter entrado em contato esses dias, apesar de sempre lembrar de você e me perguntar se está se alimentando bem. Depois do inverno sempre temos que limpar nossos jardins e hortas, entende? Deixar apenas o que tem boas raízes e cuidar bem da terra para a chegada da primavera.
Porque não veio mais nos visitar? Poderíamos fazer companhia um ao outro enquanto trabalho nas plantações.
As estações mudaram. Já percebeu o quanto os jardins ficam ainda mais lindos quando as flores desabrocham?
Procurarei meu carregador.
Em breve passarei aí.
Taehyung.
Ao terminar a leitura, um sorriso se desenhou em meu rosto e meu coração sentiu-se acolhido por aquelas palavras. Bateu descompassado sem permissão e me recriminei por gostar daquela atenção do rapaz da propriedade vizinha.
Tomei uma segunda nota mental de que, depois do agradecimento pela preocupação em guardar kimchi para mim, dar-lhe um cascudo por rir da minha cisma das histórias da Chae Rin. Claro que ele riu ao escrever aquilo. Mas por mais que eu tentasse me aborrecer com ele por rir de mim ou por me deixar esperando mensagens, simplesmente não consigo. Parece que nossa falta de comunicação algumas vezes é sempre compensada por atos simples e sinceros do Kim e esta é uma das coisas que faz com que o gelo em meu peito derreta lenta porém constantemente.
Ao contrário do que estou acostumada pela grande parte das pessoas da cidade, ele não espera nada em troca pelos seus atos gentis. No início pensei que estivesse se aproximando apenas por pena e isto me fazia querer ficar longe de tudo e de todos, mas ele não parece se esforçar quando pergunta como estou ou quando cuidou de mim nas vezes que me trouxe comida e lenha durante o inverno. Ficávamos em frente à lareira conversando coisas quaisquer ou simplesmente deixando que o tempo passasse em silêncio por entre nossos dedos e nada era incômodo.
Passei a querê-lo por perto mesmo quando nem eu mesma me suporto. Sem que eu percebesse, comecei a ansiar pela presença daquele rapaz singular.
Respirei fundo segurando ainda a carta em mãos e fui até o quarto para guardá-la em minhas coisas. Em seguida caminhei até a horta ao fundo da casa. Estava mal cuidada, com plantas murchas e alguns legumes podres. Como deixei isto assim por tanto tempo? Pelo menos deveria ter limpado. Afinal, os tempos de inverno passaram.
"Deixar apenas o que tem boas raízes... Para a chegada da primavera". – As palavras da carta ecoaram me encorajando de forma significativa. Prendi meus cabelos de um jeito qualquer e corri até a dispensa da casa me sentindo ansiosa. Procurei por enxadas e pás, arregacei minhas mangas e fui me sujar de terra com a disposição que não tive até aquele momento.
Era cedo e comecei com o sol ainda ameno naquele dia de primavera. Arranquei algumas das plantas murchas e queimadas do gelo intenso que havia passado. Limpei a terra com uma vassoura de jardinagem e pesquisei na internet formas de afofar toda aquela terra para futuras sementes que germinariam ali. Estava decidido.
"As estações mudaram".
Meu peito inflava satisfeito e feliz. Minha mente estava mil vezes mais leve e por um segundo pensei que levava jeito para viver no campo, apesar do meu começo nada agradável por aqui.
Passei a sentir o sol reluzir bem acima da minha cabeça à medida que esquentava toda a terra ainda úmida, assim como meu interior aquecia aos poucos. Enxuguei o suor do rosto com a manga da roupa e pausei respirando fundo me sentindo cansada. Sentia meu rosto arder pelo calor e tudo que eu desejava era um bom banho, mas não antes de concluir com a missão do dia. Deixaria minha horta pronta para o cultivo. Já havia negligenciado demais estes cuidados, afinal, esta agora é minha casa, eu aceitando ou não. Além de precisar me alimentar, poderia me manter se levasse isto à frente.
Continuei com o trabalho árduo, limpei boa parte de todo o canteiro para o plantio e afofei a terra até onde aguentei com a ajuda da enxada. Precisaria ainda drená-la e fortificá-la... Ainda teria muito trabalho pela frente e isto não seria feito em apenas um dia ou semana. Faria uma lista de materiais para começar com a horta, mas e depois? Entre uma horta e refeições diárias, sem dúvidas que devo gastar com alimentação.
Talvez esta seja apenas uma perda de tempo. Não terei como manter uma horta se nem ao menos consigo repor as quantias que gasto comigo mesma.
Quem sabe o melhor seria eu dar ouvidos à minha mãe e vender isto aqui...
Meus cabelos estavam úmidos e eu estava bastante suja. Minhas mãos estavam cheias de calos e minhas costas doíam pelo esforço repentino. Passei as mãos no rosto, largando a enxada e senti vontade de chorar. O que eu estava fazendo, afinal?! Já não conseguia me sentir pertencente a lugar nenhum como imaginava que era quando tinha minha vida estável na cidade, tampouco como pensei que poderia ser agora que parei no fundo do poço, nesta fazenda no interior. Tantos pensamentos ainda me rondavam como névoas indesejadas.
Toda a minha disposição inicial estava indo por água abaixo e se esvaindo junto à luz do dia.
O sol aos poucos diminuía seu brilho dando lugar à uma brisa refrescante e logo mais a noite estaria batendo à porta. Eu deveria entrar e descansar. Teria esquecido por ainda mais tempo de que mal me alimentara se não fosse pelo meu estômago que roncou escandalosamente.
Sentei-me em meio a todo aquele terreno vazio sem me importar em ficar ainda mais suja e apenas assisti ao céu mudar de azul brilhante para um claro tom alaranjado naquele crepúsculo cheio de nuvens. Passei ali alguns minutos em uma luta interna entre meu próprio inverno e primavera. Mas me assustei ao ouvir uma voz conhecida por sobre meus ombros, próxima aos meus ouvidos.
— Olá.
Olhei para trás assustada e senti meu coração quase sair da caixa torácica, mas logo sorri ao me deparar com Taehyung encurvado próximo a mim, com os olhos bem abertos e as sobrancelhas arqueadas. Sua surpresa em me ver ali era visível.
— Oi. — Cumprimentei já sentindo-me constrangida por aquele olhar inquisidor.
— Por que não me chamou, Na Ri? Eu teria ajudado a limpar tudo aqui.
— Não quis incomodar. — Murmurei — E... Pensei que daria conta sozinha, mas acho que devo mesmo voltar para a cidade. — Me surpreendi ao me sentir triste assim que ouvi o que falei.
— Voltar?! — Ele sentou-se ao meu lado sem se importar com sua roupa limpa — Na Ri, podemos tentar isto juntos. Vai dar certo.
Minhas incertezas e inseguranças transbordaram mais uma vez, me traindo, e meus olhos se encheram de lágrimas. Me condenei por isto. Eu deveria ser forte.
Mas...
— Eu não consigo, Taehyung. — Choraminguei sentindo novamente o peso da reviravolta da minha vida em minhas próprias costas.
Resquícios ainda do inverno.
— Não se cobre assim. — Ele falou me observando como se pudesse ler meus pensamentos e me estendeu sua mão.
Olhei-o nos olhos por breves segundos com os sentimentos instáveis e frágeis, mas logo retribuí o gesto. Eu precisava daquilo que o Taehyung aos poucos me oferecia e que era desconhecido para mim. Ele, tão sábio de alma simples e livre e eu, uma jovem mulher que tenta se reerguer de um turbilhão de problemas. Uma lágrima insistiu em escorrer e não pude evitar em abaixar meu rosto na tentativa débil de esconder minhas fraquezas. Mas Taehyung, naturalmente, estendeu a outra mão e enxugou aquela lágrima parecendo imerso em pensamentos e, sentados naquele chão de terra, sob os últimos raios de sol daquele dia, ele me puxou gentilmente para um abraço, me acolhendo como da primeira vez em meio a neve.
Ali descobri que tenho um lugar para ficar.
Taehyung levantou-se e me puxou para que eu fizesse o mesmo. Em silêncio, deixamos a horta e assim que entramos na cozinha me deparei com várias sacolas espalhadas pela mesa e balcão.
— O que são todas estas coisas? — Falei um tanto surpresa.
— São para você. — Ele respondeu simples, animando-se — Hoje cedo tive que dirigir até um armazém para comprar materiais para nossa horta. Aproveitei que estava com a caminhonete e fui até o supermercado. Pensei que estaria precisando. A Chae Rin me disse que seu arroz estava acabando e que você comentou que precisaria comprar mais coisas.
— Chae Rin-ah! — Exclamei lembrando-me de hoje pela manhã quando comemos juntas. E eu pensando que ela não estava atenta ao que eu dizia.
Taehyung sorriu ao ver minha expressão incrédula para com sua irmã.
— Por favor, aceite. Não se incomode, queremos apenas ajudar. — Deu uma pausa e me apontou uma cadeira para que eu sentasse — E... – Pigarreou — Minha avó gosta muito de você. — Acrescentou parecendo haver pensado em outra coisa e, envergonhado, desviou o olhar para os próprios pés.
— Tudo bem, obrigada. — Minhas bochechas arderam e desta vez não foi pelo sol.
Sem me explicar o que pretendia, Taehyung vasculhou a cozinha apressadamente em busca de um pano limpo e o umedeceu com água morna. Em seguida, sentou-se à minha frente e puxou minhas mãos, solícito, com cuidado.
Crispei os lábios sem saber como agir.
— Mas o que você--
— Você viu minha carta? — Ele me interrompeu — Pensei que conversaríamos sobre cuidar da sua horta. – Ele mudou de assunto e me pareceu desapontado por eu não ter pedido sua ajuda, à medida que observava minhas mãos calejadas pela enxada. Ele sabia que eu precisaria, mas eu não.
— Bom, eu não pensei que daria tanto trabalho assim em limpar e não quis incomodar. Você já faz muito por mim, Taehyung. — Tentei puxar minhas mãos de volta, mas ele as segurou em silêncio, me impedindo. Me restou desviar a atenção daquele olhar sereno e me detive em encarar nossas mãos unidas.
— Mas posso fazer mais por você, Na Ri. — Ele murmurou e olhei novamente para ele. Meu coração descompassou.
O Kim começou a limpar minhas mãos cheias de calos delicadamente com o pano úmido, retirando todos os vestígios de terra e, à medida que passava, o ensopava novamente na água morna, até precisar trocá-la, continuando com o trabalho. Seu toque era suave e cuidadoso e aliviava o incômodo dos ferimentos em minha pele fina.
Aquele gesto me emudeceu e me senti ao mesmo tempo surpresa e comovida. Quis agradecer apesar de também querer me retirar desesperadamente, mas algo me deixava ali, quieta, apenas admirando-o, me sentindo atraída como dois imãs de polos opostos.
— Deveria ter me chamado, Na Ri. — Ele falou preocupado em tons de bronca pousando minhas mãos na mesa e encharcando o pano mais uma vez — Se a vovó Kim visse suas mãos desse jeito na certa te daria uma bronca bem maior do que a primeira quando a conheceu. E se fosse a Chae Rin a te ver assim, a reclamação da vovó seria ainda pior. Sabe como a Rin-ah é dramática com as coisas. — Taehyung se permitiu sorrir ao falar da irmã mais nova, mas logo em seguida, passou um tempo em silêncio em meio a alguns suspiros que me deixaram inquieta. Ele colocava mais uma vez o pano úmido em minhas mãos. — Por que você age assim?
Aquela pergunta não me foi clara parecendo retórica e eu não soube o que responder, afinal. Franzi os cenhos buscando uma explicação naqueles olhos escuros. Vendo que eu não responderia, continuou:
— Por que nega minha ajuda, Na Ri? — Começou e sua voz era mansa apesar do puxão de orelha que estava prestes a me dar — Nós só queremos te ajudar e você não precisa viver sozinha, aqui, com medo e longe de todos. Quando penso em me aproximar, você parece ter dúvidas sobre me aceitar por perto e se afasta... Ora parece bem, ora parece querer fugir. Na Ri, não precisa ser assim. Está tudo bem agora. — Ele respirou fundo e apertou com delicadeza minhas mãos nas suas deixando o pano de lado. Ele parecia tímido por ter desabafado estes sentimentos me pegando desprevenida, mas respirou aliviado — Me desculpa. — Murmurou olhando diretamente para mim - Só pensei que estivesse se sentindo parte de nossa família durante este inverno que passou aqui. Mas talvez nós tenhamos exagerado um pouco. Você precisava de um tempo.
— Não, espera. Taehyung, você está entendendo tudo errado. Na verdade eu quem devo desculpas por não ter sido tão presente como têm sido comigo... Eu ficava esperando que me mandasse mensagens sempre que não vinha me trazer lenha para conversarmos diante da lareira ou quando não vinha ver se eu precisava de agasalhos. Eu sentia falta das nossas conversas, mas simplesmente não sabia como me aproximar. Eu apenas me sinto um peso para vocês...
— O quê?! — Taehyung exclamou incrédulo com minha última frase.
Tocar neste meu ponto fraco acabava me deixando mais sensível, mas deveria ser sincera com o Taehyung. Ele estava confuso sobre como agir comigo e isto era minha culpa.
— ...Assim como me sinto com os meus pais que já nem ligam para mim. Eu na verdade nem queria estar aqui. – Concluí me arrependendo de minhas palavras assim que as lancei.
Taehyung afrouxou nossas mãos e seu semblante mudou, mas manteve-se tranquilo, mesmo visivelmente triste com o que ouviu.
Que ótimo. Mais uma vez acabei sendo a vilã por puro egoísmo enquanto eles sempre preocupados comigo davam o melhor de si. Quando eu pararia de me lamentar pela minha vida e recomeçaria de vez?
— O que acha de cozinharmos algo, hum? Você precisa se animar um pouco. — Ele levantou-se e falou tão de repente que eu não soube o que dizer ou como reagir tamanha a maturidade daquele jovem homem à minha frente. Senti-me envergonhada e as lágrimas logo vieram, intrusas, piorando tudo.
Ele nada fez por breves segundos, apenas me observando chorar enquanto eu escondia o rosto com as mãos, mas depois pude ouvir sua voz mais próxima, paciente e reconfortante:
— Vem cá. — Ele mais uma vez me ofereceu seu ombro amigo e fui até seus braços sem titubear sentindo-me péssima com tudo que havia provocado. Ele me abraçou afagando minha cabeça e me acalmei pensando que seria melhor me afastar ou o magoaria mais — Na Ri, nada sobre você é um peso para nós. E sempre venho por me sentir bem com você. Achei que estivesse claro.
Aquelas palavras diretas mexeram ainda mais comigo.
— Não quis te magoar, Taehyung. Me desculpa. Só me sinto confusa, sem rumo. — Funguei — Não aceito ter perdido tudo!
— Na Ri. — Levantei meu olhar ao ouvir meu nome vibrar em sua voz tão próxima — Você pensa que perdeu tudo, mas está ganhando sem perceber. Já viu as flores que brotaram lá fora? O inverno cortante não as impediu de crescer e mostrarem sua cor.
Acabara de constatar que estava com saudades do Taehyung.
Talvez ele seja minha melhor primavera.
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