❄ Capítulo 4 ❄
Escrito por: Apenas_Kaari
Acabei espremida no cantinho da cozinha da Srª Kim depois que Chae Rin resolveu brincar com suas primas. Ela havia me tirado de casa numa tarde e me levado para a sua, porém me esqueceu vinte minutos depois.
A propriedade da família Kim era bem maior que a minha, com uma casa cheia de quartos e um terreno enorme para plantação. Eles eram agricultores, de fato. Parecia que a casa da minha falecida avó era um grão de arroz em comparação a propriedades em volta.
- Tae me contou que está pensando em plantar. - A velhinha disse enquanto mexia em algo na panela. Deveria estar já preparando o jantar.
- Bem, pensando sobre ainda.
- Podemos te dar sementes.
- Minha avó deve ter sido uma pessoa muito especial para quererem me ajudar tanto. - Murmurei observando a senhora, mas ela virou-se para mim e senti que receberia para uma repreensão.
- Eu não gosto de gente da cidade, sabe por quê?
Neguei com a cabeça.
- Porque não sabem o significado de gentileza, de humanidade. Estão tão presos na importância do dinheiro, em guardar as coisas para si, que não fazem nada sem segundas intenções. Perdem o que é importante de verdade. Entende o que quero dizer, Na Ri?
- Acho que sim. - Engoli minha saliva.
Aquela família apenas me fazia sentir vergonha de mim mesma. Mas não queria me culpar tanto, porque havia sido criada daquela forma, em outra realidade, estava no meu instinto de garota da cidade desconfiar dos outros.
Me recolhi mais um pouco quando o Sr. Kim, avô do Taehyung, entrou na cozinha e brincou com sua esposa sem perceber que eu estava ali. Ainda pareciam ser um casal, com sorrisos e broncas íntimas. Ver aquela cena me deixou triste e saí da cozinha sem ligar sobre a casa não ser minha.
Nem todas as mulheres da família Kim pareciam ir com a minha cara. Algumas torciam o bico em me ver, diziam que eu era a garota fresca da cidade num tom que eu podia escutar, brincavam sobre quanto tempo eu iria durar... A senhora Kim e seu neto podiam ter um coração diferenciado, mas parecia que a humanidade que eles tanto falavam não estava relacionada apenas sobre ser da cidade ou do campo.
Vaguei pela casa querendo me distanciar dos grupos de pessoas e logo encontrei uma área vazia. Me encostei na parede, a qual tinha cor do cimento, sem nenhum revestimento, e respirei fundo. Será que eu conseguiria voltar sozinha para casa?
Taehyung passou por mim de repente, o que me deu um susto. Ele estava com uma toalha enrolada no pescoço e os cabelos úmidos. Enquanto esfregava a toalha em seus cabelos, o rapaz me olhou com os olhos bem abertos.
- Como veio parar aqui? - Ele disse já segurando a maçaneta de uma porta ao lado.
- Havia mulheres lá atrás, o Sr. Kim na cozinha, não encontrei a Chae Rin... - Gaguejei sem saber explicar. - Entrei por aquele corredor. Acho que me perdi.
- Não. - Ele riu. - Achei estranho ter vindo para a nossa casa.
- Aah. - Sorri sem jeito, passando as mãos pelo meu casaco marrom. - Chae Rin me arrastou até aqui, mas sumiu logo depois.
- Aquela garota. - Torceu a boca. - Esse é meu quarto. Entra.
Ele escancarou a porta e apenas entrou tranquilo, enquanto ainda tentava enxugar seus fios escuros. Hesitei antes de dar um passo para dentro, mas fiquei na entrada. Não havia nada lá, além de uma cama, e um pequeno armário ao lado, as paredes não eram revestidas. Taehyung se aproximou do espelho arranhado na parede. Vagando meu olhar para o local, eu vi a única coisa colorida ali, um retrato sobre o armário.
- Pode sentar. - Ele disse apontando para a cama.
Sentei-me e apenas segui o rapaz com os olhos. A cama era dura, e o cobertor parecia pinicar. Ele pegou um suéter azul no armário e vestiu sobre a camisa branca que estava usando. Logo depois se sentou ao meu lado, cruzando as pernas como um índio.
- Melhor eu ir antes que escureça. - Murmurei sem saber para onde olhar. - Se ver a Chae Rin, diga que precisei ir.
- Você não sabe o caminho de volta.
- Está subestimando minha capacidade...? É, eu não sei. - Suspirei, e minha brincadeira o fez rir, e sem querer sorri também.
- Pode ficar um pouco mais. Eu te acompanho depois.
- Você acabou de tomar banho, por que vai sair nesse frio? - Fiz uma careta e neguei com a cabeça. - Consigo me virar.
Taehyung riu mais um pouco e abaixou sua cabeça parecendo divertido.
Eu não sabia muito sobre ele. Nunca tinha ouvido falar de seus pais, se ele tinha namorada, se visava seguir algum sonho... Eu não sabia nem a sua idade. De alguma forma me apeguei àquela figura, porque ninguém parecia tão confortável para estar perto.
- Sua namorada não deve gostar de você trazer mulheres para seu quarto. - Falei interrompendo sua risada e me mantive séria quando observada.
- Namorada?
- Você não tem uma? Ou é mais de uma? - Estreitei meus olhos, curiosa.
Taehyung era um homem muito bonito para imaginá-lo tão solitário. Ele podia até querer, mas era belo demais para não atrair atenção, e certamente a maioria das mulheres da região queriam uma chance. Talvez ele tivesse tido vários casos e gostasse de apenas se divertir, sem compromisso algum. Ou quem sabe, um amor não correspondido impedisse que ele olhasse para outras mulheres. Talvez ele nem tivesse interesse em mulheres.
Ele negou com a cabeça com um olhar confuso. Foi fofo.
- Alguém disse que eu tinha? - Perguntou parecendo preocupado.
- Não, mas você também não disse que não tinha.
- Faz sentido. - Ele concordou com a cabeça e pareceu fascinado com o momento, ou pelo menos com a minha lógica daquela pauta sem sentido. - Mas eu não tenho namorada.
- Nenhuma mulher te atrai? - Murmurei e inevitavelmente toquei na minha nuca, por debaixo dos cabelos, quando percebi a bobagem que estava falando.
Um sorriso torto se formou em seus lábios enquanto me encarava diretamente. De repente parecia que eu estava procurando suas informações para gerar um plano romântico, o que de fato não era. Só senti vontade de saber mais sobre ele, porém parecia que eu não sabia como conhecer as pessoas.
- Não sou gay. - Ele disse tranquilamente.
Anuí com a cabeça com um sorriso sem graça. Ele havia entendido perfeitamente minha deixa. Taehyung era assustadoramente inteligente.
- E sua mãe? Ela não mora aqui? - Mudei de assunto tentando fazê-lo esquecer a cena anterior.
Ele sorriu um pouco e bagunçou um pouco seu cabelo ainda úmido. A demora da resposta me fez pensar que talvez não tenha sido uma boa ideia tocar no assunto.
- Desculpe. - Falei já sabendo que novamente havia cometido um erro. - Acho melhor eu ir.
Mas ele tocou meu braço me impedindo de levantar.
- Ela morreu. Faz muito tempo.
- Sinto muito. - Murmurei e abaixei minha cabeça.
- Tudo bem.
Não soube mais o que dizer. Ele tirou sua mão do meu braço silenciosamente e pude ouvir seu suspiro. Foquei minha atenção na foto em cima do armário e enxerguei um casal, deveria ser seus pais, considerando que Taehyung parecia-se muito com a mulher.
- Aí está você! - Chae Rin entrou no quarto. - Te procurei em todos os lugares.
- Eu me perdi na casa. - Respondi me sentindo estranhamente triste pela aparição dela. - Preciso voltar para casa. Acho que vai escurecer logo mais.
- Humm. - Chae Rin pôs as mãos na cintura. - Tenho um compromisso com as meninas, o que faço? - Virou o olhar para seu irmão.
- Você vai ganhar um prêmio por ser tão tratante. - Taehyung murmurou. - Eu ia levá-la antes mesmo de você dizer, peste.
- Eu te amo, maninho! - Chae Rin soltou alguns beijos para o garoto, e ele sorriu com aquilo. - Espero que não se importe, Na Ri.
- Não quero incomodar. - Respondi.
A senhora Kim me deu uma sacola com alguma refeição e me sorriu antes que eu saísse. Não sabia bem porquê, mas eu me sentia bem perto dela e do Taehyung, apenas.
Segui Taehyung por um caminho que senti reconhecer quando fui com a Chae Rin, mas certamente não conseguiria ir sozinha.
Ele havia vestido um casaco sobre seu suéter azul e calçado as botas. Me sentia mal por tê-lo feito sair de casa, mas estava grata ao mesmo tempo. Taehyung não parecia se importar, ele sempre sorria quando nossos olhares se encontravam e pegou a sacola de minha mão quando comecei a parecer cansada.
- O inverno está acabando. - Taehyung disse depois de inalar o ar com força. - Logo, logo será primavera.
- É a sua estação favorita?
- Gosto de todas. Cada uma é uma fase diferente para nós na fazenda. - Ele sorriu, e sua felicidade me soou muito sincera. - Mesmo que o trabalho seja cansativo, eu me sinto feliz no final do dia.
- Na cidade as estações só influenciavam em que roupa eu iria usar para ir ao trabalho.
- Que triste.
Concordei com a cabeça e em pouco tempo avistei a propriedade da minha avó. Taehyung me deu algumas informações sobre que caminho não seguir caso eu quisesse ir para sua casa novamente, e finalizou dizendo que eu poderia apenas ligar se precisasse de algo.
- Obrigada. - Falei já na minha varanda. - Por tudo. Tenho realmente tentado pensar em viver algo diferente, mas lembrar de tudo que perdi ainda me machuca muito.
- Talvez você só precise deixar tudo derreter com a neve. As flores vão surgir novamente.
Eu consegui sorrir com sua resposta. Foi significativa para mim.
A vida é assim. Nem sempre tudo está bem. Nem sempre tudo está mal.
Não sei bem quando, talvez uma semana depois, uma florzinha selvagem surgiu perto da varanda, em meio a pouca neve que ainda estava lá. Era uma nova estação.
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