Estava cansado, meus ouvidos não paravam de zumbir com o barulho das máquinas de costura. Eu posso dizer que amo meu emprego, mas as vezes canso da mesmice do cotidiano e até mesmo mesmo da minha vida.

Suspirei angustiado ...

Tento não chorar com o peso que carrego comigo. Eu o amo tanto, como ele reagiria a isso? Meu amor pode não ser o suficiente e esse é meu medo.

Atravesso a Avenida Afonso Pena e desço a rua da Bahia para nosso apartamento. Dou um sorriso triste quando penso em nosso, até quando?

Dou boa noite ao porteiro, um velho calvo simpático que não passava de seus cinquenta anos. Vou até o elevador e aperto o décimo terceiro andar. Minhas mãos tremiam de nervosismo.

Tem que ser hoje!

O elevador se abre e já sinto o cheiro delicioso vindo do 1301. Meu amado, como sempre estava fazendo nosso jantar com todo o amor que cabia em si. Já não estava tão certo de minha decisão.

- amor! Cheguei- tiro meus sapatos e minha bolsa e os coloco em um canto.

Sou rececionado pela minha linda gatinha lulu. Me lambida e se estragava em min, como se eu não a visse todos os dias.

Essa gata tem problemas. Pensei.

-Ela ficou miando em frente a porta a horas, não que eu também, tenha feito algo parecido, mas acho que ela ganhou pelo drama. Como esta meu lindo namorido?- perguntou se aproximando, cheirando meu cangote com sua barba, maldito! Ele sabia que isso era meu ponto fraco, Caio era uns dois palmos maior do que eu o que eu sinceramente amava, era bronzeado de forma natural e pelos em todas as partes que se tem direito. Digamos que a barba era meu ponto favorito do meu urso peludo.

- estou cansado como sempre, mas faminto. E o seu dia, passou o dia inteiro bailando seus chefes ? - ri de como ele ficava puto com as reuniões online.

- Você me conhece, eu adoro ficar sentado, falando um monte de merda desnecessária so para agrada-los- Caio recitou seu olho. Enquanto montava a mesa.

Ajudei ate finalizarmos a mesmo e começarmos a comer. Era um idiota sortudo, além de lindo, cozinhava maravilhosamente bem.

O jantar foi tranquilo e por mais nervoso em que eu me encontrava, eu queria aproveitar aqueles, pequenos momentos e guarda-los em meu coração.

Sentamos no sofá em frente a varanda e o silêncio era bem vindo. Eu o admirava em todas as chances em que eu podia, seu olhos castanhos claros e o cabelo liso já quase esbranquiçado. Tudo nele era perfeito. Por que eu tinha que ser assim ?

- amor? O que foi?- ele me fitou preocupado.

- eh eu tenho uma coisa para lhe contar, mas não sei como chegar lá. - disse ja em prantos.

Ele me olhou em negação, segurando as lágrimas. - não acredito que foi capaz de fazer isso!Me trair? Eu faço tudo por você Muriel!

-nao . Não é isso meu amor. Mas penso que não irá gostar do que eu tenho a dizer. - comecei a desabar eu não queria que meu sonho termina-se 

- Amor... eu ... Sou uma mulher trans! - disse as últimas palavras com convicção quem nem achava que tinha.

O silêncio pairou novamente porém era torturante.

- diga algo por favor!- supliquei.

-voce tem certeza disso? - Disse atônito.

- tenho , faço terapia a 4 meses e já tenho pura convicção disso.

- eu. Eu não sei O que te dizer. - ele parecia dececionado como eu imaginava. Isso doeu como uma facada.

- não precisa na verdade. - não consegui segurar o choro.

- amor não fica assim!- tentou me segurar com a mao mas eu me afastei, estava em pânico, tudo que eu imaginei tornara verdade.

- Você sabe que eu sou gay, mas eu não sei Eu posso tentar... - Caio também estava desesperado. - eu te amo, independe de como você seja.

- mas não irá me desejar da mesma forma...- disse o óbvio.

Caio se calou, era o suficiente. Eu corri para o nosso quarto e me tranquei la. Eu precisava respirar, tirar essa dor impregnada de mim. Eu sempre fui forte, não seria agora que eu deixaria de ser.