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Tonico

Me chamo Antônio Severino, mas desde criança sou conhecido como Tonico, filho caçula do seu Nerso da venda; um homem simples que criou seus sete filhos ao lado de minha mãe dona Tonha, uma mulher batalhadora de muita fé. Rezadeira, muito procurada na região, curava quebranto, mau-olhado, vento virado, espinhela caída, desatava nó nas tripas, uma infinidade de coisas, e ainda era a parteira oficial da comunidade. 

Minha velha era pau pra toda obra, brava feito uma onça com uma mira de dar inveja em qualquer um, se fosse para as olimpíadas, com certeza seria medalha de ouro em arremesso de chinelo. Bastava um olhar atravessado, e sua vida passava diante dos olhos com direito a musiquinha de despedida.

Apesar de muito paquerado, eu não era o mais belo dos homens, nem nunca pensei que fosse. Era alto feito um cabide, pele clara queimada de sol e cabelo revoltado. Naquela época tinha feito a barba que desde cedo era fechada, diferente dos meus irmãos que tinham um fiapo aqui outro acolá. 

Sempre peguei pesado no serviço, trabalhei desde moleque, me vestia como um peão porque esse era meu estilo, então enfrentar desafios não me metia medo algum. Nunca saí da quinta série porque ao invés de ir para a escola, eu brincava de médico com a filha da vizinha embaixo do pé de café na roça do pai dela. A bichinha era desprovida de beleza, mas tinha um fogo que só vendo.

O problema é que a freguesia aumentou e virou triagem do SUS, só atendia por ordem de chegada, às vezes enfermaria conjunta e passava na frente os casos mais urgentes, retorno então, sem data prevista. Eu tinha uma para cada dia, mas meu sucesso durou pouco, foi uma brincadeira dessa que me fez pegar gosto pela estrada, quando um boi bravo, depois de uns infortúnios, gentilmente me expulsou da comunidade com sangue no zóio e uma espingarda carregada na mão.

Me lembro como se fosse hoje, eu tinha dezenove anos e acabara de ganhar o meu poizé, um fusca vermelho ano 78 no bingo da igreja, que me fez aposentar a margarete, minha bicicleta cargueira companheira de tantos anos, que como um bom empreendedor, eu troquei em uma cabrita com seu zé verdureiro. A bichinha dava leite que só vendo. 

Não sei o que aconteceu, mas de repente fiquei bonito e as meninas começaram a brotar no meu portão. Comunidade pequena parada no tempo e esquecida no meio do nada, não tinha muita distração para os jovens e quando pintava uma oportunidade, não dava para jogar fora. Todas as noites, eu levava as meninas para ver as estrelas atrás do muro do cemitério, lá era tranquilo e os vizinhos não chamavam a polícia se fizesse barulho. O engraçado é que quando eu tinha bicicleta ninguém me queria, mas agora, até as filhas do seu Genaro do mercadinho que nunca me deram bola queriam passear de fuscão. Mas, com essas eu não mexia, o homem era muito bravo e eu não queria morrer de ataque cardíaco causado por uma bala no quengo. 

 Desde a adolescência eu fazia as entregas da venda do meu pai, e como sempre, na sexta a tarde, levava a linguiça preferida da dona Sônia; uma galega de seus quarenta e poucos anos, casada com seu Jair, um madeireiro que raramente parava em casa deixando a patroa solitária e doida por uma companhia, então ela virou minha professora da vida. Dona Sônia dizia que era minha namorada secreta, e eu tonto de nascença, me achava o cara mais sortudo do mundo, tinha uma namorada que não tinha ciúme das minhas paqueras.

Aquela tarde fatídica, antes de deixar sua casa, ela me convidou para tomar um vinho depois do expediente como na sexta passada que eu só fui embora quando o galo cantou no telhado. Dona Sônia era muito bondosa, me deixava desfrutar do ar condicionado de seu quarto naquele calor arretado do verão de Pendura Saia, e ali, ela me ensinava muitas coisas que eu treinava com as meninas no banco de trás do meu fuscão, porque aprendi na escola que a prática levava a perfeição.

Tomei banho apressado e saí ao encontro dela, não é delicado deixar uma dama esperando. Estacionei o poisé na rua dos fundos e entrei pelo buraco da cerca, não podia chamar a atenção. A porta da cozinha estava aberta como sempre, então, tirei a roupa ali mesmo e armado para a batalha, fui logo para o andar de cima vestido apenas com minha cara de pau e uma cueca de elefantinho que comprei especialmente para aquela ocasião, afinal de contas, não é só a mulher que tem que ousar na relação.

— Te prepara minha potranca que teu macho chegou — sussurrei em seu ouvido, querendo impressionar.

E foi assim que um mal entendido mudou a minha vida... — Que porra é essa!

Um grito grave acompanhado de uma mão calejada que agarrou meu pescoço, me fez entender que não era saudável mexer com a mulher do próximo. Principalmente se o próximo fosse bravo virado na peste.

— Jair, meu bem, eu posso explicar! — Disse dona Sônia vindo apressada.

— Explica pra minha espingarda — ele rosnou pulando da cama e alcançando aquela arma atrás da porta.

— O menino é sonâmbulo e... isso é uma cueca de elefante? — ela me olhou confusa.

— Essa tromba roçou em mim, e o defunto me chamou de potranca — disse o homem com uma carranca.

— Ele é sonâmbulo, não está vendo? — Disse ela entredentes fazendo um sinal que logo compreendi.

— Sonâmbuloooooo — murmurei caminhando pelo quarto.

— Acorda quando fizer a passagem — ele deu um passo a frente bloqueando a saída.

— Põe a mão na consciência, homem, ele é só um garoto — argumentou ela enquanto o marido carregava os cartuchos da espingarda.

— Não posso, vai espetar no chifre.

— Que chifre, Jair, olha pra ele. Você acha que um garoto magrelo desse com cara de lombriga vai aguentar comigo?

— Epaaa, apela não! — Meu protesto saiu sem querer, e me arrependi no segundo seguinte quando o cano frio do passaporte para o além, encostou em minha testa me fazendo ajoelhar.

— Que bom que acordou, eu não mato ninguém dormindo.

— Pra que tanto ódio no coração, homem, deixe o garoto ir embora — ela se sentou na cama cruzando as pernas na tentativa de fazer um charme, que não funcionou.

— Esse cabra da peste entrou na minha casa e invadiu minha cama, pelado, com uma mão cheia de dedo falando que era meu macho. Eu quero que você me explique isso, Sônia! — Exigiu enquanto eu estava com as mãos pra cima pedindo perdão pelos meus pecados até da vida passada.

— Eu é que quero uma explicação, Jair. Que história é essa de seu macho!? — A mulher era mais doida do que eu pensava. — Pode ir soltando a língua antes que eu pegue a peixeira e arranque os bagos dos dois!

— Sou macho de ninguém não — falei com o coração acelerado.

— Sônia, não brinca comigo! — Ameaçou. — Ou me explica o que esse cabra veio fazer aqui, ou mato os dois pelo preço de um.

"Oh, meu santo protetor dos come quieto, não quero morrer nem de morte morrida, nem de morte matada, me livra dessa que eu prometo que não pego mulher casada nunca mais na minha vida", eu pedia em pensamento.

— É o menino do seu Nerso, homem, não bate bem da cabeça.

— Bato não, nunca bati — confirmei de olho fechado.

— A única coisa que eu carrego na cabeça, é chapéu, dou cabo desse cabra é agora! — O homem caminhava de um lado pro outro bufando feito um touro bravo.

— Ai mamãe! — Misturei todas as rezas e inventei mais umas mil enquanto minha vida passava diante de meus olhos que a terra há de comer, só não precisava ser aquele dia.

— Deixe de bobagem, homem, o único que dá conta de mim é você, que é forte cheio de energia. Só de te olhar fico toda arrepiada, olha!

— Tá falando isso pra me agradar — o homem bufou outra vez. — Se pego esse cabra contigo, Sônia...

— Que jeito homem, olha pra ele, isso aí nem sobe.

— Sobe não — concordei. — Morreu faz tempo, e depois dessa, nunca mais acorda, nem com simpatia.

— Pior que levar chifre, é perder meu réu primário com uma cara frouxo desse jeito — disse ele abrindo a cortina e olhando pela janela.

— Eu vou deixar o casal conversar a sós, já está na minha hora — aproveitei que a porta estava livre, me levantei e fui saindo. — O senhor desculpa o incomodo, é que eu ando dormindo, mas não vai se repetir. Com sua licença...

— Só um minuto — disse ele me obrigando a fazer uma parada brusca. — Eu não sabia que sonâmbulos dirigiam, e estou vendo o fusca que, "eu" doei para a igreja fazer o bingo, estacionado ali na rua de trás.

— Corre que a casa caiu! — Disse dona Sônia.

Não precisou falar duas vezes, desci as escadas aos berros e pulei a cerca da vizinha.

— É hoje que eu mato um!

— Calma totó — eu dizia pro vira lata que rosnava pra mim enquanto colocava um vestido estampado que encontrei no varal porque na correria, nem consegui resgatar minha roupa.

— Não adianta esconder que eu te acho! — Dizia o homem raivoso me procurando por todos os cantos.

— Totó, pega tisc pega tisc — aticei o caramelo que corria e latia sem saber pra onde ir, e aproveitei para ganhar a rua.

Consegui despistar o boi bravo, mas como a sorte não caminha ao meu lado, era dia de festa da igreja e fui parar no meio de uma procissão de Santo Antônio. Ô vida difícil!

— É promessa para arrumar casamento — falei ao ser observado pelas beatas de rabo de zóio.

Não julgo a cara de espanto, não é todo dia que um homem barbado de quase dois metros participa de uma procissão vestido de mulher. O duro foi ser visto pelas meninas daquele jeito, eu sempre fui vaidoso, tinha orgulho de ser peão e agora... bem não tive muita escolha.

— É o menino do seu Nerso da venda, sempre foi esquisito — sussurrou uma senhora que deveria ter no mínimo uns duzentos anos, caminhando apoiada no braço de outra mais ou menos da mesma idade.

— Irmãos, é tempo de vigiar — dizia o padre caminhando a nossa frente. — Mas não a vida dos outros, e sim, nossas próprias atitudes porque temos que viver na caridade. Não julgueis para não serdes julgados. Eu ouvi um amém?

— Amém — respondi olhando preocupado para todos os lados.

— Aquele que nunca errou, que atire...

Antes mesmo de o padre terminar a frase, um tiro soou no alto da rua...

— Segura esse filho da peste!

O corno revoltado desatou a atirar, e como um estouro de boiada, a multidão se dispersou. Era gente gritando pra todo lado, cachorro latindo, criança caindo, uma cena de terror. Até a dona Guta que usava bengala passou sebo nas canelas. Naquele momento não tinha artrite, esporão, nem unha encravada, as beatas esqueceram o reumatismo e fizeram trilha de poeira, foi perna pra que te quero, nem o padre quis esperar.

Meu velho pai sempre dizia que a gente nunca perde por andar na linha e ele tinha razão. Eu tinha umas par de menina bonita mandando recadinho, mas fui pular a cerca, e por conta de um mal entendido, pensei que fosse a mulher, e acabei agarrando o marido que quase me manda pro além. 

Se aprendi a lição? Rapaz do céu, nem te conto, levanta ainda não, que o trem é de arrepiar os cabelos, a história ainda nem chegou na melhor parte. 

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