Zaranler - Parte V
ATO XV
Conforme a lança líquida se crava em Toihid, uma cascata de sensações a envolve, e pela primeira vez, ela sente algo que nunca havia experimentado antes: o medo, tão avassalador que a consome de dentro para fora, uma emoção tão estranha e poderosa que a paralisa.
Ela se vê em uma espécie de transe, onde vislumbra a imponência de sua forma original: um vasto e majestoso planeta, um gigante primordial flutuando na vastidão do espaço cósmico. Ela se lembra das estrelas cintilando em seu entorno e dos cometas que vagueavam em sua órbita. Porém, essas lembranças são extintas com uma nova percepção: uma sensação aguda de perda e vulnerabilidade que jamais sentiu antes.
Toihid reflete sobre as noções de bondade, maldade e empatia, conceitos que eram alheios à sua existência planetária. Seu papel cruel de monstro na história dos deuses, nunca foi sua culpa. Sua essência não era de ser vivo, e ela percebe a ironia cruel de sua transformação imposta pelo Universo. De uma entidade eterna e poderosa, ela foi reduzida a um ser finito, plenamente capaz de experimentar medo, dor e, o mais devastador, a mortalidade. A realidade dessa transformação, da perda de sua eternidade e força indomável para um estado de existência vulnerável, é um golpe quase insuportável para a sua recém-descoberta consciência.
Envolvida em uma nuvem de medo paralisante, Toihid se enxerga diminuída, uma mera sombra de sua grandiosidade passada. Sentindo o sangue quente e viscoso escorrer de seu ferimento enquanto a lança líquida continua a se alojar mais profundamente em seu corpo, Toihid sente o medo se transformar em desespero. A dor física da ferida é intensa, mas é o terror da morte iminente que a consome por completo. Ela percebe, com uma clareza assustadora, que a crueldade e a brutalidade que exibiu em sua forma mortal se voltaram contra ela de uma maneira que nunca poderia ter imaginado.
O silêncio que envolve a cena é sufocante, apenas interrompido pelo som suave, porém sinistro, do seu sangue caindo ao chão. Ela, com olhos arregalados, levanta um olhar de espanto e dor para Tanri. Seus olhos, antes cheios de fúria, agora exalam desespero. Ela tenta formular palavras, não maldições ou súplicas, mas um desejo, porém o sangue que escorre de sua boca torna sua fala ininteligível.
— Eu... só... — consegue murmurar, sua voz fraca e trêmula. Ela se esforça para erguer o corpo, mas suas forças a traem, e ela cai de joelhos, uma figura trágica e desamparada. Com mãos trêmulas e desesperadas, ela toca o cabo da lança, ainda firmemente cravada em seu ser. — ...queria... — Ela luta para dar voz ao seu último desejo, um desejo simples, porém agora inatingível.
Com último suspiro, ela tomba de bruços, a vida se esvaindo junto com o sangue que forma uma poça ao seu redor. — ...orbitar o Sol. — Estas palavras finais, murmuradas com um fio de voz, ressoam com uma tristeza profunda. Toihid, uma vez um planeta majestoso, uma entidade outrora poderosa reduzida a um estado de puro desespero.
No íntimo de Toihid, enquanto a vida se esvai, um sonho por sua identidade primordial e uma vida sem as complicações e crueldades que vieram com sua transformação em um ser vivo, ressurge em seu fim. Em seu coração ferido, ela anseia por retornar à sua verdadeira essência, aquela de um planeta glorioso, um titã cósmico que acalentava a vida em sua vastidão estelar.
Toihid, na pureza de seu sonho, imagina-se como um berço da vida, desde os minúsculos microrganismos até civilizações avançadas. Ela sonha com mares vastos e profundos, florestas exuberantes que cobrem suas terras, montanhas majestosas que tocam as nuvens com seus picos nevados, e com desertos misteriosos, onde segredos antigos dormem sob a areia quente. Ela se vê em um santuário no vasto e frio vazio do espaço, um lugar onde a vida poderia prosperar e evoluir.
Nos céus de seu sonho, estrelas cadentes riscam a noite com trilhas de esperança, e auroras dançantes.
Ademais, acima de tudo, Toihid sonha em ser um testemunho do ciclo da vida, da morte e do renascimento. Ela deseja ser um espelho da maravilha da existência e da interconexão de todas as coisas. Em seu sonho, ela é mais do que apenas um corpo celeste; ela é um lar, um guardião, e um celebrante do milagre incessante da vida.
Entre o sonho do que poderia ser e o terror do que é, uma voz suave, porém penetrante, ecoa em meio à sua agonia. — Pobre Toihid, perdida de si mesma. A essência de um lar transfigurada em um espectro vagando em seu próprio vazio — murmura, sua voz uma melodia melancólica que traz consigo uma compaixão que Toihid há muito não sentia.
Toihid, agora uma essência sem forma em um espaço vazio, tenta concentrar-se na voz, procurando alguma compreensão em meio a escuridão.
— Quem é você? — sussurra Toihid, sua voz fraca e trêmula.
— Sou aquele que te acolherá — responde a entidade, sua presença sentida, mas não vista.
— Eu... não queria isso... Eu era... um planeta... — gagueja Toihid, suas emoções aflorando em contrariedade a vida.
— Sim, um gigante entre as estrelas, um lar para muitos — continua a entidade, sua voz um sussurro reconfortante. — Mas o destino te transformou, te reduziu a um papel que nunca foi verdadeiramente seu.
Tentando se agarrar a qualquer resquício de sua essência, Toihid tenta falar, mas sua hora chegou.
— Não tema, Toihid. Em breve, estará livre deste sofrimento. Sua essência retornará ao cosmos — a entidade fala suavemente, sua voz trazendo uma estranha sensação de paz em meio à guerra.
Toihid, ouvindo essas palavras, sente um último fio de consciência se desvanecer, e uma calma estranha a envolve. O desespero se dissipa, substituído por uma quietude profunda. Seus últimos pensamentos ecoam silenciosamente: um desejo de retornar ao que era, de ser novamente um gigante pacífico no espaço, livre da dor e do medo.
Com um último suspiro, Toihid se entrega ao abraço final da entidade, sua essência deixando seu corpo físico, levada pela voz suave da entidade, rumo a Finoim, onde sua essência se dissipará como poeira estelar, retornando ao Universo do qual um dia foi parte.
Finoim – o destino transcendental dos deuses após a morte. Diferente dos outros planos, Finoim é um plano de existência atemporal e imaterial, onde as divindades continuam a existir em uma forma espiritual elevada, contudo em um descanso eterno. É um espaço inacessível a qualquer ser, representando o fim.
ATO XVI (Theos)
Enquanto acelero ao auxílio de Críngu e Gálidus, a proposta de Máterum novamente reverbera em minha cabeça, e eu não posso deixar de sentir uma pontada de indignação. Afinal, o que ele ofereceu é o cerne do meu desejo, a semente que germinou esta guerra devastadora.
— Será que vale a pena continuar lutando? — me pergunto, o vento chicoteando meu rosto, trazendo o cheiro de terra molhada e fumaça. — Arriscando perder mais vidas... — Meus pensamentos são interrompidos pela visão pungente que se forma em minha mente: Tanri e meus outros irmãos caídos em batalha, seus corpos inertes e olhares vazios. — Talvez eu realmente devesse reconsiderar...
No entanto, essa tentação de ceder é reprimida toda vez pela lembrança vívida de Zilevo enfrentando Máterum, lutando por minha liberdade. — Zilevo foi o primeiro a ficar do meu lado. Mas dessa vez ele agiu por vingança, colocando seu rancor acima da paz que poderíamos ter conquistado — penso, indignado. Mas, ao mesmo tempo, uma compreensão mais profunda emerge, iluminando a escuridão da minha raiva.
Meus passos desaceleram involuntariamente. Os arredores parece desfocar, dando lugar à imagem de Zilevo durante a proposta. — Seus olhos naquela hora... Não havia outra escolha, a não ser aceitar sua decisão — reconheço. — Eu compreendo sua dor. A perda de Lésnar é imperdoável. Eu não posso, não devo, ignorar isso. Mas esta guerra... ela é maior do que nós, maior do que sua vingança e minha liberdade. — penso, absorvendo o impacto da situação e do que estava por vir. — Esta guerra não é apenas sobre Zilevo e Lésnar. Não posso ignorar o que ele sente, mas também não posso deixar que sua dor dite o destino de todos nós. Se continuarmos, ainda temos muito a perder.
ATO XVII (Críngu)
Os cravos, que outrora embelezavam o campo com sua majestade, agora jazem em ruínas, suas pétalas amassadas e corrompidas com o sangue derramado na batalha. A violência desenfreada que se abateu sobre eles é um reflexo da brutalidade que consome o campo de batalha, transformando beleza em desolação.
Cercado por essa visão de destruição, me vejo consumido por uma dor que parece corroer cada fibra do meu ser. Cada movimento é um martírio, cada fôlego uma luta contra o abismo que me chama. No entanto, em meio a esse desespero, uma centelha de determinação arde dentro de mim. Gálidus precisa de mim, e a responsabilidade de protegê-lo reacende uma força que eu pensei ter perdido.
Com um esforço absurdo, tento me erguer, ignorando a dor que grita em cada músculo, cada osso, cada órgão dilacerado. Meu corpo protesta, mas minha vontade é inabalável. O pensamento de deixar Gálidus à mercê do inimigo é mais insuportável do que qualquer ferimento físico.
Com um grunhido de esforço, me levanto. Meus olhos buscam Gálidus. A dor, embora intensa, torna-se um mero pano de fundo para a missão que se impõe: proteger meu companheiro a qualquer custo.
— Desculpa, Críngu, mas pediu por isso quando... — Ézus mal consegue terminar a frase antes de ser lançado impiedosamente para longe pela força invisível e brutal da minha telecinese. Suas palavras se perdem no vento, abafadas pelo rugido da chuva.
— Cala a boca! — Murmuro.
Ignorando a dor dilacerante que me consome, retiro o machado do meu corpo. Um grito sufocado escapa dos meus lábios, o sangue escorrendo quente e pegajoso entre meus dedos — Ainda não desisti para ouvir seus discursos patéticos. Não vou permitir que mais um companheiro caia, não enquanto eu puder lutar. — Com o resquício de força, arremesso o machado no planeta-vivo, que se move com agilidade, esquivando-se do golpe com um sorriso de escárnio.
— Lento demais! — Ele zomba, sua voz um grunhido cruel que corta o ar chuvoso.
— Não era para acertar — resmungo com fôlego falho, observando Gálidus se libertar das amarras rapidamente.
Torço para que Gálidus use a oportunidade para fugir, mas, em vez disso, ele se lança contra o planeta-vivo. Seus punhos cerrados prontos para golpear, mas o planeta-vivo antecipa cada movimento e, com um soco devastador, ele atinge Gálidus no rosto, enviando-o ao chão com um estrondo.
O planeta-vivo, com um sorriso sádico, pisa na adaga cravada na panturrilha de Gálidus, sua lâmina afundando ainda mais, rasgando carne e tendões. — Poderia ter fugido, idiota — ele zomba, com baixa risada.
— Nunca fugirei de uma batalha, SEU MERDA! — Gálidus urra, a dor transmutando-se em raiva indomável.
— Tenho que fazer algo! — penso, sentindo que se der mais um passo sucumbirei à dor e desmaiarei.
Surpreendendo-me com Ézus aparecendo subitamente, acertando a posterior da minha patela e me derrubando no chão lamacento.
— Vai pagar por ter feito aquilo! — Ézus ruge, a voz carregada de um ódio visceral. Ele levanta a perna e desce com força impiedosa sobre a minha perna direita, fraturando-a terrivelmente. A pele rasgada revelando ossos brancos e destroçados, manchados pelo sangue que jorra em um fluxo violento. — HAAAA! — Meu grito de dor é primal.
— CRÍNGU! — Grita Gálidus, ouvindo meu berro de dor. Ele se ergue rapidamente, mas sua bravura é rudemente interrompida pelo planeta-vivo que aplica um chute desdenhoso em suas costas, o impacto fazendo seu corpo dobrar-se de dor, lançando-o novamente ao chão.
— Por quê? Por que nos traiu? — questiono outra vez, com as pernas trêmulas com sangue esguichando sobre a grama.
Ézus me encara. — Nunca os trai — ele afirma. — Vocês que traíram Máterum e a nós. — Sua justificativa soa oca, desprovida de qualquer arrependimento.
Cuspindo sangue, rebato com amargura: — Você fingiu estar do nosso lado.
Ézus se ajoelha ao meu lado, seu rosto com uma serenidade forçada. — Jamais fiquei do lado de vocês, apenas os vigiei para informar a Máterum dos planos vergonhosos de libertar Theos.
— Éramos irmãos — murmuro com dificuldade, apertando a grama ensopada com os dedos trêmulos, buscando alguma forma de suporte em meio à dor.
— Sim, e Máterum nosso pai. — Ézus responde, sua mão envolvendo meu pescoço com uma força sufocante. — Só quero que saiba, Críngu, que não sinto prazer em fazer isso...
Interrompido por estrondoso som saindo das nuvens negras, revelando-se colossal bola de fogo que dispersa todas as nuvens e desce velozmente de encontro ao solo. Seu brilho é um espetáculo aterrorizante, pintando o mundo em tons de vermelho e laranja.
— Acabe logo com ele, Ézus — postula o planeta-vivo, levantando Gálidus do chão. — Vamos levar este aqui conosco!
Ézus, com uma expressão involuntária de pesar, me prende em um aperto mais firme, seu braço em volta do meu pescoço. — Lamento, Críngu — ele murmura, e nesse momento, sinto a inevitabilidade do meu destino. Cada tentativa de puxar o ar para meus pulmões parece mais um grito por socorro.
A agonia se intensifica, a pressão no meu pescoço se tornando insuportável. Minha visão começa a escurecer nas bordas, e a bola de fogo no céu parece ser a última coisa que verei, um símbolo final da destruição que nos envolveu, consumindo tudo em seu caminho implacável.
Meu corpo se contorce, uma luta instintiva e fútil pela sobrevivência, mas a força de Ézus é inabalável. A realidade ao meu redor começa a desaparecer, minha consciência se afastando, como se estivesse sendo sugada para um vórtice de escuridão.
Mas então, justo quando sinto a inevitabilidade de meu destino, o mundo muda. Em um piscar de olhos, como se fosse arrancado da realidade por mãos invisíveis, me encontro em um lugar totalmente diferente. [CG1] A grama molhada e sangrenta é substituída por areia quente e granulada, o campo de batalha se transforma em um vasto deserto envolto pela escuridão da noite. O ar seco e frio preenche meus pulmões de repente, uma lufada de liberdade que me faz tossir, um som áspero e doloroso.
Minhas mãos, trêmulas, vão para o meu pescoço ainda marcado pelo aperto cruel. A confusão me domina, meu coração batendo desenfreadamente contra as paredes do meu peito. Sinto-me como se tivesse sido arrancado de uma realidade e atirado em outra, uma transição abrupta e desconcertante. O alívio de ter escapado da morte se mistura com a incerteza e a desorientação. Não tenho ideia de onde estou, perdido em um deserto que parece tão real quanto o campo de batalha do qual fui arrancado. A realidade e a fantasia se entrelaçam, deixando-me incerto sobre o que é verdade e o que é ilusão.
Atrás de mim, deparo-me com colossal estrutura cercada por muros imensos esculpidos em ébano. — Conheço este lugar — reflito, tentando me levantar, mas minhas pernas se recusam a me obedecer.
Forço para manter meus olhos abertos, a dor latejando por trás deles, uma cortina de escuridão ameaçando fechá-los a qualquer momento. Então, vejo algo extraordinário: uma névoa imensa e ameaçadora emerge dos confins do deserto, movendo-se em minha direção, como se fosse guiada por um propósito quase vivo.
— Nevoeiro Hungu? — Exclamo em um sussurro rouco, tentando arrastar meu corpo exausto para longe daquela massa espectral, mas os muros de ébano formam uma barreira intransponível, me encurralando.
O nevoeiro se aproxima, mas para repentinamente, como se uma força invisível o mantivesse à distância. — Não! — penso, meu coração acelerando, o terror e a incredulidade lutando pela supremacia em minha mente que se perde, girando em busca de respostas.
Então, a compreensão me atinge.
— Como vim parar aqui? Como vim parar em...
Antes que possa completar o pensamento, sou abruptamente arrancado daquela realidade. Uma dor violenta explode em minha cabeça. O mundo gira, as cores se fundem em um redemoinho caótico, e então, desmaio.
ATO XVIII (Tanri)
Observando a morte de Toihid, sinto uma sensação de triunfo, mas é rapidamente emaranhada por uma emoção, mesmo que por um breve momento, mais sombria e complexa.
A lembrança de uma frase dita por Máterum surgindo em minha mente: — Toda vida tem seu valor. — Essa frase me faz pensar no que Toihid poderia ter sido em outra vida, um planeta majestoso orbitando o Sol, um lar para inúmeras formas de vida, não um monstro de batalha.
Negando esse sentimento, endureço minha expressão, e comento, tentando extinguir qualquer traço de emoção: — É feia até mesmo morrendo. — menosprezo, observando a poça de sangue fluindo por entre seu cadáver, misturando-se com a lança, que volta a ser água.
Córpulus, com o rosto coberto por lama e o peitoral de sua armadura destroçada ainda aderida ao corpo, ergue-se trôpego ao lado do cadáver de Toihid. Seus olhos, enterrados em uma cova de luto e raiva, fixam-se em mim. Com a voz embargada pela emoção, ele murmura: — Toihid... — Em seguida, seu olhar se endurece em uma promessa silenciosa, mas clara. — Você morrerá por isso!
— Não. Não irei. — afirmo. Desafiadoramente, ergo minha mão esquerda em sua direção, desencadeando uma força telecinética que o puxa para perto. — Senão posso te repelir, — declaro, concentrando minha energia em uma corrente invisível que o arrasta implacavelmente em minha direção. — te trarei até mim!
Córpulus resiste, cravando os pés no solo, mas é inútil. Com um grito de resistência, ele é arrastado, a terra se rasgando sob seus pés enquanto ele luta inutilmente contra a força que o arrasta.
— Meus poderes estão diminuindo. Estou sentindo a exaustão se instalando em meu corpo. Preciso terminar essa batalha antes que seja tarde demais — reflito, fechando a mão esquerda e aumentando a intensidade.
Mas, quando bem próximo de mim, Córpulus desaba abruptamente no chão.
— O quê aconteceu? — Questiono, surpreso com a anulação repentina de meus poderes telecinéticos. — Ainda tenho poder, por que não... — Minha atenção é subitamente desviada por uma lança de fogo que corta o ar em minha direção. Com reflexos afiados, salto para o lado, esquivando-me por um triz da arma incandescente. Mas, antes que possa reagir, sou lançado de volta para a cratera por uma força telecinética avassaladora.
A queda é brutal. Meu corpo choca-se contra o solo com uma força violenta, quase ofuscante, enquanto tento recuperar o fôlego. Olho em volta, procurando o autor desse ataque surpresa. Deitado na cratera, escuto uma voz grave ressoar de fora da cratera. — Estás bem, Tera? — A voz questiona com preocupação.
Erguendo-me trêmulo da cratera, o cenário diante de mim é um caos. Diante de Muntera, ferida e desamparada, está Máterum, imponente em sua armadura de zérum, ostentando a espada primordial em suas costas.
— Não deverias ter ferido ela, filho — Máterum profere com uma voz carregada de repreensão, enquanto se inclina para Muntera. Suas palavras são como um estalo, despertando uma fúria arrebatadora em mim.
— E você não deveria ter aprisionado seus próprios filhos! — rebato, as palavras saltando de minha boca como chispas de raiva. Com um impulso telecinético, deixo a cratera para trás, canalizando cada fragmento do meu poder oculto, direcionando-o totalmente em Máterum. Contudo, duas muralhas de fogo descomunais surgem em sua defesa, suas chamas rugindo como bestas enfurecidas. Mas meu poder telecinético as assola, dispersando as chamas, embora resistindo o suficiente para protegê-lo.
— Ficaste mais poderoso, filho. — Máterum reconhece, ficando de pé. — Mas não te iludas pensando que podes te igualar a mim — adverte, conjurando uma lança de gelo, adornada com chamas espirais, e a disparando em minha direção.
No último instante, Pólimos se recupera de sua paralisia, seu corpo agindo como um escudo vivo. Ele me empurra com uma força desesperada, evitando por pouco a lança.
— Arf! Obrigado! — agradeço, contemplando o incomum estrago feito pela lança.
Toda a vegetação que sobreviveu ao poder oculto na região pulverizada em instantes pela fusão glacial e ardente da lança.
De repente, poderoso tremor abre uma extensa rachadura no chão, separando eu e Pólimos de Máterum.
O Primordial mostrando claramente sua falta de vontade de permanecer na batalha, coloca Muntera em suas costas e levanta Córpulus do chão telecineticamente. Com um adeus rápido, ele se vira, prestes a se teletransportar.
— Não vire as costas para mim! — Grito, insultado com sua insolência.
Pólimos, ao meu lado, exala preocupação, sua voz um sussurro de cautela. — Espera, Tanri! Deixe-o ir, ele é muito mais poderoso que nós! Essa batalha é impossível de vencer!
— Impossível será se eu não tentar — retruco, a obstinação queimando em cada sílaba. Com uma força que parece emergir das próprias profundezas da terra, bato o pé no solo rachado e da colossal fissura, um jato de água surge, um monstro líquido, alimentado pela minha vontade, torcendo e se direcionando contra Máterum com uma força bruta, atingindo suas costas com uma violência que o lança longe.
Um triunfo pisca em meus olhos, mas é efêmero.
— Isso, não é o suficiente — ressoa a voz de Máterum, um frio aviso na sombra que se materializa ameaçadora atrás de Pólimos, ainda carregando Córpulus e Muntera.
Meu coração gela ao perceber a inutilidade do meu ataque, a realidade de nossa desvantagem se tornando dolorosamente clara. Máterum, com um movimento sucinto suspende a espada primordial, com sus lâmina mortal apontada como a sentença final para Pólimos. A luz da espada ilumina a cena com um brilho sinistro, lançando sombras ameaçadoras sobre o chão rachado. Pólimos, congelado pelo terror, é incapaz de desviar a tempo. Porém, no momento crítico, com uma velocidade estonteante, uma figura surge.
Zilevo, com seu punho endurecido pela fúria se colide contra o queixo de Máterum, pego de surpresa pela ferocidade inesperada do ataque e cambaleando para trás. Seu corpo, antes imóvel e imponente, agora treme sob o peso do golpe. A espada escapa de seu controle, seu brilho se apagando enquanto cai ao chão com um som metálico, deixando Muntera e Córpulus desabarem no chão.
Máterum, recuperando o equilíbrio após o poderoso soco de Zilevo, encara seu oponente com toque de frieza. — Outra vez, coração — ele murmura, a voz tingida de uma irritação mal dissimulada. Ele limpa o fio de sangue que escorre do canto de sua boca. — Belo soco — ele concede, mas seus olhos permanecem frios.
Zilevo, energizado pela adrenalina e pela raiva, encara Máterum com uma intensidade feroz. — E será com eles que você morrerá — ele retruca, os punhos cerrados tremendo com uma força descontrolada, o desejo de vingança emanando de cada fibra de seu ser.
Máterum com a expressão endurecida pela inevitabilidade do conflito, caminha com passos pesados em direção a Muntera. — Lamento em ouvir essas palavras saindo de tua boca, coração — ele confessa. — Mas preciso ir, em breve nos veremos outra vez — ele anuncia, um tom de finalidade em suas palavras ignorando a vontade de Zilevo por lutar.
— Não... — fala Zilevo, interrompido por violento tremor que sacode o solo. Rachaduras profundas se abrindo como a boca de um abismo insaciável.
Pólimos, pego de surpresa, tropeça e cai na fenda, seu grito de terror sendo abruptamente cortado pela minha telecinese, que o resgata no último momento.
— Adeus, coração — despede-se Máterum em um murmúrio. Seu corpo desaparece e reaparece atrás de Zilevo, cortando suas coxas com a espada em um corte rápido e diagonal, seguido por um soco no oblíquo que faz Zilevo dobrar-se de dor e cair de joelhos diante do Primordial.
Em seguida, Máterum recoloca Muntera nas costas e levanta Córpulus com o braço, sua telecinese exibindo uma força torturante mantendo Zilevo imóvel, sem hesitação ele se teleporta, desaparecendo da cena com uma eficiência fria, deixando para trás Zilevo atordoado e ferido, o sangue manchando seus lábios e gotejando no chão rachado.
Zilevo, com os punhos ainda cerrados, solta um grito rouco de frustração. — MALDITO!
Bastante fatigado, concentro o que resta do meu poder, as veias em meus braços pulsando com o esforço, para elevar Pólimos do abismo voraz. Cada fibra do meu ser grita com a tensão, em um esforço final, arrancando-o para fora do buraco, nossos corpos caindo desajeitadamente no chão instável.
Sem tempo para recuperar o fôlego, salto para longe do abismo que agora se alarga com um rugido ensurdecedor, a terra se partindo como um coração fraturado. — Temos que sair de Zaranler o mais rápido possível — grito, minha voz rouca de exaustão. — Onde Theos está? — pergunto, minha mente girando em busca de respostas, temendo o pior.
Zilevo, consumido pela frustração e impotência, aperta os punhos com tanta força que a pele se rompe, o sangue escorrendo lentamente entre seus dedos cerrados.
— Zilevo! — exclamo, alarmado com sua expressão. — Não há tempo para isso! Onde Theos está?
Ele olha para mim, os olhos injetados de dor e raiva, antes de responder com uma voz tensa: — Ele foi ajudar Críngu e Gálidus. Marcamos de nos encontrar no acampamento... — Suas palavras cortadas pela colossal bola de fogo, uma ameaça ardente e apocalíptica, ocupando todo o céu de Zaranler, lançando uma luz avermelhada sobre o mundo abaixo.
— Vamos logo, estamos sem tempo! — grito, a urgência em minha voz inconfundível. Juntos, corremos em direção ao acampamento, nossos passos ecoando contra o solo que se quebra e treme sob a ameaça iminente. Cada passo é uma corrida contra o tempo, um desespero para alcançar nossos companheiros antes que Zaranler se desfaça conosco.
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