Zaranler - Parte II
ATO IV
Ao ver sua face, um reconhecimento chocante me atinge. — Ézus? — Exclamo, surpreso ao identificar o rosto familiar sujo de sangue, marcado pelo combate.
A raiva fervilha em meu peito ao encarar Ézus. — Traidor maldito — declaro com ódio.
Ele se ergue diante de mim, seus olhos refletem com fúria enquanto ele rebate. — Vocês que são os traidores! — Lançando-se contra mim com um soco carregado de raiva.
Minha resposta é instantânea, intercepto seu punho com um semblante de ódio em meu rosto, segurando-o firmemente em minha mão. Sinto os músculos de Ézus tensionados sob minha pegada, a força dele lutando contra a minha, mas ele está em desvantagem. Com um movimento rápido, piso fortemente em sua perna, ouvindo o som agudo de um osso se partindo sob o peso. Seu grito de dor é abafado pelo meu golpe no seu rosto, um golpe de vingança que o faz cambalear e cair de cara no chão.
O sangue de Ézus mancha a grama, escorrendo de seu nariz quebrado, enquanto ele tenta inutilmente se erguer.
Olho para ele com frieza. — Depois eu cuido de você — declaro, minha voz séria e distante, enquanto piso sobre ele, sentindo seu corpo se contorcer sob meu peso, e caminho em direção ao pequeno guerreiro.
Porém, a distração é uma sombra traiçoeira. Ézus se erguendo brande seu machado com uma ferocidade que ultrapassa os limites da sanidade.
Mas, no último instante, Críngu intervém, a foice da kurasi atravessando o campo e se fincando na greva da armadura de Ézus. O impacto é violento, um grito de cristal se chocando contra cristal, e em um piscar de olhos, Ézus é arrastado para baixo enquanto a foice rasga a armadura e a carne.
— Não nos subestime — adverte Críngu, retornando a foice, manchada com o sangue de Ézus, obedientemente à sua mão.
— Eu digo o mesmo — ressalta o pequeno guerreiro. Com um instinto veloz, ele crava a adaga primordial profundamente na palma da minha mão já ferida. Em um movimento ainda mais cruel, ele arranca a adaga, e antes que eu possa reagir, um chute me atinge, lançando-me ao chão.
Caído na terra encharcada de lama e sangue, sinto a dor do golpe, mas ela é quase irrelevante. A dor física não se compara à voragem do luto que me consome por dentro. Meus pensamentos se afastam da batalha e se fixam em Lésnar, minha amada perdida. A lembrança de seu rosto, o som de sua voz, tudo me atinge com uma força mais devastadora do que qualquer golpe físico.
— Lésnar, meu amor... por que teve que partir e me deixar neste mundo desolador? Por que não posso acompanhá-la? — penso, com o coração pesado de saudade enquanto o sangue escorre entre meus dedos. — Cada gota de sangue que derramo... cada dor que sinto... nada disso importa sem você. Ézus e esse guerreiro são insignificantes comparados a mim. Mas talvez eu devesse deixá-los me matar. Eles podem me ferir, podem quebrar meus ossos, mas nada se compara à dor de perder você. — A presença de todos se torna nebulosa, figuras distantes em um mundo que perdeu seu brilho.
Olho para o céu cinzento, nuvens escuras se acumulando, presságios de uma tempestade iminente. — Se tivéssemos deixado esta guerra para trás, poderíamos estar juntos agora, em um lugar onde apenas nós existiríamos. — uma pequena gota de chuva cai sobre minha testa e escorre por entre meu rosto. — Mas não foi o que fizemos. E agora, estou aqui sozinho, combatendo pela vida enquanto anseio pela morte.
A ideia de abandonar esta existência e me juntar a ela na eternidade é uma tentação crescente, mas uma promessa feita ecoa em minha mente.
Levanto-me lentamente, lembrando de seu pedido. — Aceito morrer — murmuro. — Mas não enquanto sua irmã permanecer nas garras de Máterum — A visão de Lésnar em meus pensamentos me impulsiona, cada fibra do meu ser se recusando a decepcioná-la. — Vou viver para protegê-la como me pediu, meu amor. E cada ser que se opuser a esse propósito será extirpado. Só quando a guerra estiver terminada e Réslar estiver segura, poderei te encontrar em paz, sabendo que cumpri meu último voto.
ATO V
Enquanto jazia na lama e um silêncio ensurdecedor engolfava meu mundo, no campo, além das sombras da minha dor, Ézus aperta suas mãos sobre o cabo do machado, seu rosto marcado pela surpresa e incredulidade. — Como fez isso? — Ele indaga para Críngu. — Desde quando você detém o poder da telecinese?
Do outro lado, Gálidus, com uma postura imponente apesar de seus ferimentos, ergue a voz com autoridade. — Rendam-se agora! Estamos em vantagem! — Sua declaração é um rugido de desafio, um lembrete do poder que ainda possuímos.
Ézus, com uma seriedade amarga, cospe um bocado de grama do campo de batalha. — Acham mesmo que estão em vantagem? Não sejam tolos de achar que somos os únicos inimigos aqui.
Bucu, em uma reflexão preocupada, comenta: — Theos e Tanri devem estar enfrentando perigos próprios.
Críngu, observando-me levantar da lama, me chama, quebrando minha introspecção. — Zilevo! — Sua voz é um grito de guerra, um chamado para a ação. — Vá ajudar seus irmãos! Deixe que eu cuido desses dois.
Mas a fúria me consome, e não consigo me desviar da vingança que clama por justiça. Sem dar atenção ao chamado de Críngu, viro-me para o pequeno guerreiro. — Eles são um perigo para Réslar — a determinação de cumprir minha promessa a Lésnar eclipsando qualquer outro pensamento. — Eu mesmo os matarei! — Profiro com uma voz baixa e ameaçadora, cada palavra pingando com a promessa de um fim brutal.
Avançando impetuosamente contra o pequeno guerreiro, lanço um soco direto, visando o elmo do meu adversário, mas ele, com uma agilidade irritante, se desvanece como a névoa ao amanhecer, inclinando-se para trás com um movimento torto, desviando-se por meros centímetros.
O pequeno guerreiro, tentando tirar vantagem da situação, lança um soco rápido em meu rosto, mas o antecipo e bloqueio seu punho. Não dou espaço para ele respirar, minha resposta é imediata: um golpe de cima para baixo, esmagando a articulação do guerreiro, deixando seu braço visivelmente inchado sob a armadura, tornando-se uma massa deformada e inútil, presa em um ângulo antinatural. Ele grita, um urro de dor e raiva, enquanto tenta se recompor.
Sem hesitar, lanço um chute violento nas costelas do guerreiro. A força do impacto é tão brutal que o som do choque entre a carne e a armadura ecoa pelo campo. Ele cambaleia para trás, cada respiração se tornando um suplício, enquanto tenta conter um grito de agonia.
A dor, porém, não é só dele. Uma onda de sofrimento percorre meu próprio corpo. Sinto minha panturrilha queimar, o inchaço se formando rapidamente, enquanto fraturas microscópicas irradiam uma dor desmedida em minha mão. O preço de golpear a armadura de arcríris desprotegido.
Enquanto me recomponho, Ézus se ergue para intervir. Ele sabe que existe uma chave para desestabilizar minha luta e a usa: — Nosso pai também veio conosco, Zilevo!
Essas palavras, como uma flecha envenenada, atravessam minha essência, despertando uma tormenta de ódio e vingança. Mas antes que possa digerir essa revelação, o pequeno ser tenta me inflamar com mais uma provocação: — Jamais esquecerei do rosto patético de choro que seu irmão fez quando...
Não deixo que ele termine. Minha reação é explosiva, um caos de raiva irrompendo. Com um movimento preciso, derrubo o guerreiro no chão, suas palavras cortadas por um impacto brutal. Meu pé encontra o rosto dele, empurrando-o contra a grama úmida com força suficiente para que a terra e a lama se misturem ao sangue que começa a se espalhar.
— Cale a boca, seu verme! — Grito, esfregando seu rosto no chão, a grama aderindo à sua pele ensanguentada. — Isso é pelo meu irmão — murmuro com ódio, enquanto arranco seu elmo com um puxão seco, revelando a face de um planeta-vivo de pele azulada manchada de sangue e sujeira.
Seguro a nuca do ser impotente e me abaixo perto o suficiente para que meu sussurro seja o último som que ele ouça antes de mergulhar na escuridão: — Como é ser humilhado por um deus, criatura patética? — E com um movimento final, lanço seu elmo para longe, como se descartasse um objeto sem valor, antes de desferir um chute visceral em seu rosto inconsciente.
Ao mesmo tempo, a batalha entre Críngu, Gálidus e Ézus se desenrola. Críngu usa suas habilidades com a kurasi, girando-a rapidamente. Gálidus, embora ferido, se mantém firme ao lado de Críngu, seus olhos focados, pronto para qualquer ataque. Juntos, formam uma dupla formidável, uma união de habilidade e determinação que protege Urum e Bucu enquanto estes partem em auxílio aos demais deuses renegados.
Ézus, por sua vez, se ergue dos escombros da batalha, o semblante marcado por uma determinação que vai além da simples lealdade a Máterum, mas por uma convicção profunda, a crença num propósito maior. — Eu não vou deixar que escapem — ele brada.
Minha mente, entretanto, se afasta momentaneamente do caos da batalha, transportando-me para uma memória marcante. A imagem de Ézus em Salacrum, seus olhos avelãs penetrantes e cheios de uma intensidade que agora compreendo. — Você não entende, Zilevo — sua voz ecoando em minha mente. — Não os denunciei a Máterum apenas para cumprir ordens. Fiz isso para terminar com o ciclo destrutivo que vocês, filhos de Máterum, criariam com esse pensamento tolo de criação caótica. — Exalando uma frustração e um pingo de tristeza em seu tom, como se lamentasse nosso caminho.
Essas palavras da memória me fazem refletir. Por um momento, fico preso em uma reflexão dolorosa. — Será que a maior ameaça para Réslar é o próprio Máterum? — O pensamento ganha força, alimentado por um ódio crescente. — Se eu o matar, estaria protegendo Réslar, terminando esta guerra sem sentido e, mais importante, vingando a morte de Lésnar — o pensamento ganhando uma resolução de ódio.
A voz de ódio em meu âmago grita em desespero. — ELE É O CULPADO DA MORTE DE LÉSNAR! ELE TEM QUE MORRER! — Seu ódio crescendo de uma maneira incontrolável em minha essência.
Então, neste momento crucial da batalha, sinto uma mistura de emoções intensas. As memórias de Lésnar, como uma melodia sombria, tocam constantemente em minha mente, entrelaçando-se com a sede de vingança que me consome. Enquanto o confronto se desenrola diante dos meus olhos, me vejo diante de uma difícil decisão.
Uma voz em minha mente clama por justiça, instigando-me a permanecer a lutar ao lado de Críngu e Gálidus contra os guerreiros que nos desafiam. Contudo outra voz, mais profunda e insistente, grita com uma urgência crescente, alimentando o ódio da vingança em meu coração.
A balança de minha decisão pende perigosamente. Deixo meus olhos percorrerem o campo, fixando-se em Críngu e Gálidus. Vejo o esforço e a dor estampados em seus rostos, a luta árdua que travam. Eles estão debilitados, feridos tanto pelo recente treinamento quanto pela atual batalha, mas a necessidade de vingança que me chama é inegável.
Meu olhar se fixa nos guerreiros, mas é Máterum que preenche meus pensamentos.
Essa voz de ódio dentro de mim, me conduz por um caminho escuro e inflama meu coração com uma raiva visceral, pintando Máterum não apenas como um inimigo, mas como a própria personificação de todo meu flagelo. O criador de minha essência, mas o assassino do meu coração.
— Cada dor que sente, cada lágrima que derrama, é culpa dele — a voz declara, suas palavras arranhando minha essência. — Ele roubou Lésnar de nós, arrancou a luz de nossas vida e nos deixou neste mundo maldito.
Essa voz me lembra de cada momento de felicidade que tive com Lésnar, agora transformado em cinzas pela crueldade de Máterum. — Ele não se importou com nosso amor, com nossa dor. Ele viu nossa felicidade e a esmagou sob seus pés. Nem a despedida de Lésnar ele respeitou. E esses guerreiros que enfrentamos são a prova disso.
O ódio cresce dentro de mim, alimentado por lembranças de Lésnar: seu sorriso, sua risada, o toque suave de suas mãos. — Máterum é o fim, é o caos. Ele não merece misericórdia, nem compaixão. Ele merece apenas a morte. Ele nos deixou neste mundo despedaçado, onde cada batida de coração é uma lembrança daquilo que perdemos. Onde cada respiração é um esforço para sobreviver em um mundo onde vivemos sufocados pelo vazio da perda.
A voz é incontrolável em fúria, mas é sincera em sua dor. — MATE-O! Faça-o pagar por cada lágrima, por cada grito de dor. Sua morte será a única justiça verdadeira, a única forma de honrar a memória de Lésnar. VINGUE-A. Vingue-se tudo que ele nos tirou.
A voz se torna um rugido dentro de mim, uma raiva que me empurra para frente, me guiando em direção ao confronto final com Máterum. Ela promete que a vingança trará paz, que o fim de Máterum será o fim do sofrimento. E eu acredito nela, pois sem Lésnar, sem a chance de vingança, o que mais me resta senão esse ódio ardente e essa sede insaciável de justiça?
Com um semblante sombrio, desprovido de qualquer vestígio de alegria, me viro para encarar Críngu e Gálidus, sentindo o peso da decisão que paira sobre mim, aumentando a pressão do meu pé sobre o rosto do ser desprezível abaixo de mim. — Críngu, tem certeza que pode enfrentá-los sozinho? — minha voz carrega uma mescla de preocupação, enquanto avalio a situação diante de mim.
— Sim! — Críngu responde com firmeza, girando a Kurasi com uma destreza que reflete sua prontidão para o combate. Seu olhar é focado, sua postura, inabalável.
Resignado e impulsionado pela minha sede de vingança, comunico minha partida: — Que assim seja.
Prestes a partir quando Ézus, impulsionado por uma fúria selvagem, avança em minha direção com o machado em mãos. — Acha que ficarei aqui parado esperando você fugir? — ele ruge, mas é abruptamente interrompido, arremessado contra uma árvore pelos poderes telecinéticos de Críngu.
— Vão logo! Cuidaremos desses dois! — Críngu comanda, sua voz ressoando com autoridade, enquanto observa o planeta-vivo se levantando e o lança para longe, garantindo nossa retirada.
— Vamos! — Ordeno a Urum e Bucu.
Parto, cada passo carregado com a resolução e o peso de minha escolha. A batalha continua atrás de mim, mas meu caminho agora é outro, guiado pela sede de vingança e pela promessa de justiça para Lésnar.
— NÃO! — O grito desesperado de Ézus corta o ar, uma tentativa fútil de me impedir. Ele arremessa seu imenso machado em minha direção, mas é paralisado no ar pela intervenção telecinética de Críngu, que o devolve em direção ao seu dono. Com reflexos rápidos, Ézus se joga no chão, evitando por pouco a morte.
Deixo meus aliados para trás em uma batalha perigosa, consumido pela vingança. Sei que essa é uma escolha arriscada, ainda assim a escolho, partindo em busca de Máterum.
Companheiros descartáveis em prol de vingança descontrolada. Amada morta sobrepujando os vivos que o acompanham. Correndo atrás da morte à procura de vida.
ATO VI (Theos)
Enorme nuvem negra se aproxima do campo de margaridas, consigo, agressivas partículas de água e companhia odiosa.
— O quê faz aqui? — pergunto com a voz transbordando uma raiva mal contida, surpreendido pelo visitante indesejado enquanto mostrava o acampamento para Lesus.
— Vim trazer a paz que tu e teus irmãos roubastes — a voz de Máterum é tão serena e firme quanto sua imponente armadura de zérum, impávida sob o peso de tal acusação.
Lesus, com um tom de desprezo e um sorriso zombeteiro, intervém, suas palavras gotejando deboche... — Então, esse é o vultoso Máterum? — girando sua espada. — Parece mais um estorvo do que um adversário à altura!
O olhar sério de Máterum se desloca para Lesus, encarando o deboche com indiferença, demonstrando quão pouco valor dava à provocação.
— Mais um bastardo — responde Máterum, desembainhando a espada primordial lentamente.
Lesus, cujo rosto se contorce em raiva, reage instintivamente ao insulto de Máterum. — Bastardo?! — Ele rosna, sua impulsividade o levando a disparar em direção a Máterum, mas detido abruptamente por uma força invisível.
Lesus luta freneticamente, seus músculos se contraindo em vão contra a pressão esmagadora que o prende.
— Não me profiras a palavra, bastardo — ordena Máterum, com um aceno displicente de mão, arremessando Lesus com agressividade contra uma das numerosas árvores no local. — Deverias ter ensinado a ele algumas maneiras, meu filho — diz, raspando a lâmina da espada primordial no solo, destroçando margaridas e grama à medida que avança.
— Filho?! — Minha voz se eleva em indignação. — Perdeu o direito de me chamar assim quando me aprisionou em Salacrum.
— Sabes muito bem o porquê de eu ter te feito isso — Máterum responde, encarando-me diretamente. Sua voz, embora calma, parece esmagar a resistência em minha alma. Ele está tão perto agora que posso sentir a pressão de sua presença, o poder infindável que ele detém.
Lesus, agora revestido por uma armadura imponente de água sólida, que reflete a luz como um cristal líquido, interrompe. — Não vire as costas para mim! — Ele grita, arremessando uma das Gêmine diretamente contra Máterum.
O Primordial, com calma e agilidade, levanta o braço num reflexo surpreendentemente rápido. Sua mão encontra a Gêmine no ar, detendo-a pela lâmina adjacente seu rosto com facilidade. — Não aches que só porque possuís uma armadura e uma arma que serás capaz de me enfrentar — ele declara, segurando a Gêmine pelo cabo. — Ainda mais com esta reles espada.
Lesus, no entanto, não se intimida. — Com essa espada reles que irei te matar! — Ele exclama, estendendo a mão e a Gêmine, como se atendendo a seu chamado silencioso, escapa da mão de Máterum e retorna ao seu portador.
Observo a cena, minha mente digerindo a ação. — Essa espada emana um poder de criação tão intenso que até Máterum não conseguiu mantê-la sob seu controle.
— Fantástico! — Máterum admite, um raro reconhecimento de respeito em sua voz. — Não achei que veria outra arma divina.
— Outra? — pergunto-me.
— Não és digno de sublime benção — ele proclama, brandindo sua espada primordial. — Pegá-la-ei para mim e a oferecerei a um deus digno — avançando em direção a Lesus.
O chão parece tremer a cada passo. Mas em um movimento veloz o intercepto, meus dedos agarrando firmemente seus pulsos, tentando deter seu avanço. Em sequência desferindo uma joelhada potente em seu abdômen, no entanto Máterum permanece imóvel, não cedendo um único centímetro com o golpe.
— Achaste que me machucaria com esse chute? — Questiona Máterum com seriedade, empurrando sua espada contra mim.
— Ele é muito forte! — penso, percebendo a inutilidade do meu esforço, meus pulsos doem com a tensão. Máterum continua a empurrar sua espada primordial em minha direção. Sua lâmina se aproximando perigosamente do meu rosto.
— Sempre foste o mais fraco fisicamente entre teus irmãos — confessa Máterum.
De repente, Lesus salta em minha defesa. Suas Gêmines prontas para perfurar Máterum. Mas, antes que possa atacar, é violentamente arremessado para longe pela telecinese de Máterum.
— Agora é minha vez — penso, liberando os pulsos de Máterum, recuando um passo e, no instante seguinte, canalizando uma rajada de água de proporções impressionantes que disparo contra Máterum, que tenta resistir, mas a força da água é considerável, arremessando-o para trás e se tornando uma mancha distante no horizonte.
A água se espalha, transformando o campo de margaridas em um pântano caótico. Máterum, distante, luta contra a corrente que o arrasta, apesar dela não parecer nada mais que uma mera irritação para ele.
Máterum com sua armadura de zérum manchada por lama e água se ergue inabalável. Em um gesto despreocupado, ele ergue sua mão e dispersa a água ao seu redor, como se afastasse uma névoa irritante.
Exausto, me apoio pesadamente sobre os joelhos. — Arf! Arf! Esse ataque foi mais difícil do que imaginei — reflito, a respiração irregular e ofegante, como se cada gota daquela água tivesse levado todo meu poder extincional. — Não aguentarei fazer isso outra vez.
Máterum, contudo, parece o oposto de mim: um oásis de calma em meio ao caos. — Belo ataque, pequeno — ele diz, e sua voz é um riacho sereno fluindo suavemente em um deserto árido. Há um quê de admiração em suas palavras, mas também seguido de uma certeza perturbadora. — Fico feliz que aprendeste a utilizar teu poder extincional sem portar o cajado. Pena que não conseguirás fazer isso outra vez. — A certeza em suas palavras revela um conhecimento profundo de minha força, ou falta dela.
— Como tem tanta certeza? — desafio, tentando disfarçar minha fraqueza com palavras audaciosas.
— Conheço-te, pequeno, — responde. Seus passos soando lentos e firmes no solo enquanto se aproxima. — Ainda não dominaste completamente o teu poder extincional.
Lesus intervém então, uma chama de raiva ardendo em seus olhos azuis. — Ele não, mas eu sim — ele afirma, e o ar ao seu redor torna-se visivelmente mais frio, como se o próprio inverno estivesse concentrado em sua figura. Com um gesto de suas mãos, reúne a água ao redor e forma uma lança cristalina de gelo e em um movimento contínuo a arremessa contra Máterum.
O Primordial, com uma tranquilidade quase desconcertante, observa a lança se aproximar, é como se ele estivesse a assistindo em câmera lenta. Com um movimento leve e quase preguiçoso, ele desvia da lança, passando por ele e deixando apenas um rastro frio no ar.
— Estás começando a incomodar — Máterum firma, com um tom de leve irritação na voz, mas que não chega a perturbar a serenidade de seu rosto.
Lesus com um sorriso provocante curvando seus lábios responde: — Meu objetivo então está completo — com um aceno casual de sua mão evocando outra lança de gelo e a lançando em direção a Máterum, que novamente desvia com uma facilidade que beira o desprezo.
— O que estás pensando? — Máterum questiona, sua voz adquirindo um tom mais sério. — Ainda que me acertes qualquer ataque, não será o suficiente para me parar — ele afirma. Sabendo que não eram apenas palavras jogadas ao vento, e sim uma verdade absoluta e inalterável.
Lesus, não dissuadido, concentra-se intensamente. — Isso é o que veremos — ele desafia. Suas mãos moldando uma lança minúscula, semelhante a uma flecha, e a disparando com uma precisão letal. Máterum, com um olhar impassível e, com uma demonstração tranquila de seu poder, intercepta o projétil com uma onda de telecinese, revertendo sua trajetória com uma força duplicada.
Lesus surpreendido ergue às pressas uma imponente barreira de gelo maciça. O projétil, impulsionado pela força redobrada, atinge a barreira, quebrando-a em milhares de fragmentos cortantes. O impacto é tão devastador que Lesus é lançado para trás, sentindo o ar gelado se enterrar em sua carne enquanto pedaços de gelo perfuram sua pele e desenham linhas vermelhas de sangue que se espalham por seu corpo.
— Pelo visto também não criarás mais nada — alega Máterum, estalando o pescoço.
Meu coração bate descompassado. — Não temos como ganhar esta luta. Temos que fugir... — minha voz oscila, um reflexo da apreensão que me atinge, quando a silhueta ameaçadora de Máterum se materializa repentinamente diante de mim.
— Esperava que tivesses mudado, pequeno — ele diz, com um traço de desapontamento na voz. Em um movimento rápido e brutal, sua espada primordial rasga meu peito. A lâmina corta minha carne, desenhando um rastro de dor abrasadora que se espalha por todo o meu corpo.
Mesmo com a dor dilacerante, forço-me a permanecer de pé. Com um esforço desesperado, soco o rosto de Máterum, mas é como atingir uma muralha, permanecendo inabalável, enquanto meu punho se contorce com o impacto.
Lesus, num ato impulsivo, tenta golpear Máterum por trás. Mas ele sem nem mesmo se virar, o paralisa no ar com sua telecinese e o atira para longe, arrastando-o violentamente pela grama.
Em continuidade, Máterum me encarando com seu olhar severo diz: — Sinto, que continues o mesmo covarde de sempre — sua voz rigorosa. Ele estende a mão e me arremessa telecineticamente, meu corpo se tornando um mero brinquedo em suas mãos. Sou lançado pelo ar, o vento zunindo em meus ouvidos, até colidir violentamente contra o solo. O choque é doloroso, meus ossos se contorcendo com a força da colisão, cada nervo do meu corpo gritando de dor.
A desolação se estende pelo campo de batalha, cada segundo parecendo eterno. — Mesmo que o acertemos, sua armadura de zérum o deixa praticamente invulnerável e, ainda tem sua telecinese... Não temos chances de vencê-lo — a sensação de impotência me invadindo, entretanto, ao analisar Máterum se aproximando, reparo em uma miúda brecha em sua armadura. — Lesus, me dá uma das Gêmines! — Grito, com um plano em mente.
Lesus, com um reflexo rápido, arremessa uma das Gêmines para mim. Com agilidade a agarro e avanço em direção a Máterum. Ele, antecipando um ataque frontal, se prepara para me repelir, no entanto com um movimento astuto deslizo por entre suas pernas, me levanto cambaleante e cravo a espada no símbolo de espiral em suas costas, mirando no minúsculo ponto rosado, atingindo sua carne mortalmente.
A lâmina penetra fundo, e uma expressão de melancolia inesperada surge no rosto de Máterum, logo em seguida uma camada espessa de gelo, emanando da lâmina, se espalha rapidamente envolta de seu corpo. A transformação é lenta e torturante, o gelo avançando inexoravelmente, aprisionando cada músculo, cada veia, até que ele esteja completamente congelado.
Em meio ao silêncio que se instaura no campo de batalha, uma única palavra é sussurrada, rasgando o ar com uma carga de pesar e remorso. A voz de Máterum, fraca, mas penetrante, alcança as profundezas de minha alma: — Desculpa... — A palavra me paralisa, um pedido final de perdão que transcende o conflito, tocando minha alma.
Neste momento final, não vejo a dureza e a força que sempre caracterizaram Máterum, mas sim uma vulnerabilidade, quase frágil. Seu rosto, antes impenetrável, agora revelando as camadas de remorso acumuladas por anos de decisões tortuosas e ações irreversíveis. Cada linha de seu rosto, cada curva congelada em sua expressão, fala de um pai atormentado por seus próprios erros, lutando contra um legado de dor que ele mesmo criou.
Lesus, com uma mistura de exaustão e alívio evidente em seu rosto marcado pela batalha, luta para erguer-se do chão coberto de grama e lama. Ele tropeça ligeiramente, seu corpo ferido e cansado testemunhando a intensidade do combate. No entanto, a determinação em seus olhos não vacila. Com passos trôpegos, ele avança em minha direção, uma expressão de admiração marcando sua feição. — Conseguiu! — Ele exclama.
— Sim... conseguimos — respondo, minha voz baixa, aliviado, mas com desconhecida parte de mim lamuriando-se.
Olho para minhas mãos, manchadas com o sangue da batalha, e uma sensação de desorientação me envolve. E, em um momento de vulnerabilidade crua, uma fugaz e involuntária gota de lágrima escapa de meu olho, rolando silenciosamente pela minha face.
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