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O Vazio do Universo

ATO I

       Silêncio absoluto permeia o obscuro vazio, onde a escuridão é tão densa que engole qualquer noção de ver, tocar ou sentir. A única presença tangível é o som, um caos ensurdecedor de vozes, choros e sussurros que ecoam do além, tão íntimos aos ouvidos que se tornam gritos. Imagens tumultuadas inundam minha mente, uma enxurrada incessante de milhões de fragmentos por segundo, cada uma carregando um vislumbre efêmero e doloroso de memórias alheias.

Uma voz exausta e áspera rompe a cacofonia com uma pergunta nutrida de desespero, gritando enquanto empunha uma grandiosa espada dourada que reflete um brilho fantasmagórico no vazio: — POR QUE NÃO MORRE?!

Em contraparte, uma voz trêmula, cheia de medo se asfixia com o próprio sangue enquanto suplica por socorro: — Por favor, alguém!

Incredulidade gera a voz de outro, que larga sua arma no chão com um som metálico ressonante, quase que não acreditando nas próprias palavras: — Você está vivo!

A tristeza permeia a voz de outro enquanto segura sua amada nos braços, sua voz um lamento suave: — Ela não sobreviveu.

Cada voz, cada imagem, traz consigo um peso emocional distinto, com sentimentos que me envolvem e me consomem. A cacofonia se torna insuportável, e num impulso desesperado, clamo ao vazio, minha voz ecoando em um espaço sem corpo físico: — Calem a boca! Parem de falar! Parem!

Surpreendentemente, o Vazio responde. Uma voz etérea sussurra diretamente em minha mente, uma palavra que reverbera com significado desconhecido: — Void!

— Void? — questiono, tentando compreender o significado dessa palavra.

O nome “Void” ecoa repetidamente, cada repetição mais distante que a anterior, até que, abruptamente, um silêncio sepulcral se instala. Observo, então, com fascínio e cautela, uma névoa avermelhada se formando lentamente do horizonte do absoluto vazio.

— Que lugar é este? — pergunto ao vazio, intrigado por esta dimensão desconhecida.

A resposta vem como um sussurro. — Vermo! Vermo.

A perplexidade aumenta, e com ela, uma necessidade urgente de compreender minha própria existência neste lugar enigmático. — Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? — Questiono.

Sem aviso, a realidade ao meu redor se desfaz e se reconstrói em algo novo, um ambiente árido e claro, onde trilhões de grãos vermelhos jazem espalhados, como se o chão estivesse coberto por rubis diminutos. Minha voz quase um sussurro perdido no imenso deserto pergunta: — Onde estou agora? — Sentindo a intensa luz do lugar.

O vazio responde, sua voz uma melodia distante e enigmática dentro da minha mente: — Arcríris.

Movido pela curiosidade, vasculho o horizonte até que algo chama minha atenção. Erguendo a voz em apreensão, indago: — O que é aquilo?

Diante dos meus olhos, uma figura solitária jaz caída entre os grãos vermelhos. Aproximando-me, percebo ser uma entidade de aparência extraordinária, com cabelos loiros que se destacam vivamente contra o vermelho do deserto. Sua presença me faz questionar novamente: — O que é esse ser?

E, do vazio, vem a resposta em um sussurro: — Um deus.

O deus caído ergue sua mão ensanguentada em um gesto de súplica desesperada. Seu apelo silencioso me atinge profundamente, despertando em mim um sentimento de compaixão. Paralisado, encaro a figura divina, enquanto luto para entender o significado daquele encontro.

“O azul dos olhos enterrado na vermelhidão das areias”

            Diante do ser agonizante, uma compreensão misteriosa se instala em minha consciência, como se um véu fosse retirado da minha visão, deixando-me consciente de que sou semelhante a ele em essência.

— Ele precisa de ajuda. — Meus instintos me empurram para estender a mão, desejando tocar, mas sou impedido pela ausência de um corpo físico, sentindo uma frustração intensa e desoladora por não poder intervir.

De repente, como se atendendo a um comando não falado, sou arrancado dessa cena e transportado para um novo cenário: um espaço vasto e sombrio, dominado por cinco rochas redondas colossais que se destacam no horizonte.

— Onde estou? O que quer me mostrar agora? — Questiono.

A resposta do Vazio é sucinta: — Planetas.

            Envolvido pelo silêncio, contemplo as rochas colossais com um pressentimento crescente. Parece que, em algum nível profundo, eu sei que algo monumental está prestes a acontecer. E acontece. Sem aviso, um dos planetas explode em uma conflagração apocalíptica, enviando uma onda de fogo em minha direção. O calor abrasador se aproximando, a luz intensa quase tocando minha essência incorpórea, quando de repente sou teletransportado novamente.

Desta vez o local é ainda mais escuro e claustrofóbico. A presença reconfortante do Vazio está ausente, deixando-me com uma sensação de isolamento profundo. Mas antes que a solidão me consuma, dois olhos brilhantes emergem das sombras.

 Não consigo ver nada além desses olhos cintilantes. Sinto a dor, a mágoa, a raiva e a ansiedade que emanam deles, transmitindo uma intensidade emocional avassaladora. Surge em mim um desejo profundo de alcançar esses olhos, mas estou preso na minha forma incorpórea, incapaz de interagir fisicamente com esse ser misterioso.

À medida que me aproximo daqueles olhos misteriosos, buscando descobrir o rosto que se esconde por trás deles, sou abruptamente arrancado do momento. Desdobrando-se uma nova realidade diante de mim, um lugar que parece ser a própria personificação das trevas e do desespero. A atmosfera infestada com uma malignidade emanada de uma figura caída no chão. Esta entidade é uma visão de horror: uma entidade formada por sombras retorcidas e distorcidas, tão perturbadora que até mesmo o Vazio parece hesitar em sua presença.

A escuridão é densa e opressiva, mas seus olhos brilhantes perfuram a negrura como brasas ardentes. Sinto um arrepio percorrer minha essência incorpórea quando percebo que seu olhar está fixo em mim, penetrando as sombras para alcançar minha consciência. A criatura parece ter a habilidade aterradora de sondar os recantos mais profundos da minha mente, lendo meus medos e desejos mais obscuros.

Enquanto os pensamentos e sentimentos perturbadores emanam dessa figura sombria, sou envolvido por um terror inimaginável. É como se cada fragmento do meu ser estivesse clamando em desespero para fugir dessa visão macabra. No entanto, estou preso, incapaz de me mover ou agir, paralisado pela presença ameaçadora diante de mim.

De repente, uma voz gutural e sinistra se faz ouvir, ecoando no ambiente fechado e sombrio. — Saiam daqui, antes que eu mate vocês! — A voz parece vir das profundezas de um abismo sem fim. Repleta de uma promessa de violência indescritível e um aviso sombrio que faz minha essência incorpórea estremecer com medo.

Com um desejo desesperado de escapar dessa presença sinistra, anseio por um refúgio, um lugar livre da escuridão asfixiante que essa criatura representa. Porém, antes que eu possa reunir a coragem necessária para enfrentar esse medo, sou subitamente arrancado desse abismo de terror e transportado para um destino desconhecido.

Me vejo em um ambiente repleto de luz e vida, uma mudança drástica da escuridão opressiva que acabei de deixar para trás. No entanto, o terror incutido pela criatura sombria ainda me acompanha, como uma sombra persistente em minha mente. Cada detalhe do novo cenário, cada pétala delicada das flores que me cercam, é examinado com uma cautela e desconfiança que não consigo sacudir. A presença maligna ainda ressoa em meu ser, um eco arrepiante da entidade perversa.

À medida que exploro o novo ambiente, uma sensação de assombro se instala suavemente. Percebo a beleza indescritível que se revela diante de mim. As cores vibrantes das rosas e orquídeas, as nuances exuberantes da vegetação, e a harmonia sublime dos elementos naturais começam a infiltrar-se em minha essência incorpórea. No entanto, mesmo no meio dessa beleza, um detalhe sinistro chama minha atenção, quebrando a ilusão de perfeição. Uma garra de madeira preta, coberta de sangue coagulado, solitária no chão. Ela atesta a violência que uma vez perturbou a paz deste lugar. Esse objeto macabro, tão destoante da beleza ao redor, me faz sentir uma pontada de receio, uma lembrança de que nem tudo é o que parece.

Embora o receio permaneça em algum lugar profundo dentro de mim, começo a observar mais atentamente os arredores, examinando cada detalhe em busca de pistas. O silêncio persistente naquele ambiente cheio de vida parece esconder segredos insondáveis.

— O quê aconteceu aqui? — Pergunto, buscando respostas que o Vazio não me oferece.

Aproximo-me da garra manchada de sangue. É um vestígio sombrio e perturbador de uma batalha. Meus sentidos aguçados, captam a atmosfera carregada de tensão e o odor do sangue seco que paira no ar, mas antes que eu possa tenta decifrar os segredos do cenário, um grito de lamúria ressoa de algum lugar distante, na profundeza da floresta.

E então, subitamente sou arrancado desse cenário inquietante e transportado para outra realidade.

Encontro-me agora cercado por deuses que formam um círculo em torno de uma deusa deitada. Seus cabelos ruivos derramados sobre a tábua de madeira escura, envolvida por fios verdes.

Ao contemplar a deusa imóvel, uma onda de perplexidade e pesar me invade. Sua imobilidade é perturbadora, uma quietude que parece gritar um triste epílogo. — Ela está morta? — pergunto ao Vazio, ansiando por uma resposta que possa dissolver a incerteza que me assola.

O Vazio retorna, respondendo com frieza, uma sentença final cortando através da imensidão silenciosa: — Sim. — A palavra atinge minha essência, despertando um sentimento melancólico que corrói meu ser.

Ao lado da deusa, observo um deus ajoelhado. O modo como pressiona sua cabeça na barriga da deusa enquanto segura delicadamente a mão dela comunica uma perda inimaginável. Seu lamento: — Eu sinto muito! Sinto muito mesmo! — ecoa como uma sinfonia de desespero, suas palavras carregadas de uma emoção crua que transborda de seu ser.

Aproximo-me da deusa caída, absorvendo os detalhes de sua beleza serena. Seu rosto, marcado por pequenas e delicadas manchas, remete a um céu noturno estrelado. Essa beleza etérea, presente até na morte, contrasta dolorosamente com a tristeza do momento.

Antes que eu possa processar completamente a magnitude daquela perda, o Vazio comunica, em um tom sério: — Falta mais uma coisa.

Então, num piscar de olhos, sou transportado desse ambiente de luto para um cenário drasticamente diferente. Encontro-me agora em um deserto ensolarado. O contraste brusco entre a atmosfera anterior e a aridez impiedosa do novo local causa uma sensação de desamparo e incerteza.

Diante de mim, materializa-se um deus de aparência enigmática, cuja presença imediatamente capta minha atenção. Sua pele, pálida como o alabastro, forma um contraste marcante com o intenso lilás de seus olhos. Seus cabelos castanho-escuros, cortados de maneira precisa, emolduram um rosto simétrico. O nariz, sucinto e discretamente achatado, harmoniza-se com um maxilar quadrado e orelhas ligeiramente pontiagudas. Seus lábios, pequenos e bem delineados, evocam um misto de mistério e serenidade.

O Vazio irrompe nesse momento de contemplação, sua voz ressoando com uma proclamação que me envolve: — Void — A insinuação é clara; ele sugere esse deus, sou eu. — Daqui em diante, serás enviado a Marum, o mundo físico, onde todos os deuses vivem. Lembrar-te-ás das coisas que aprendeste e viste, contudo não de mim.

Uma pergunta urgente surge em minha mente, nascida de uma necessidade incontrolável de entender. — Mas, quem é você? — as palavras mal escapam e uma parte de mim parece fundir-se com a entidade vazia diante de mim, uma sensação de transição e transformação me envolve.

Então, sou abruptamente teletransportado enquanto escuto a resposta do Vazio. Ao despertar, a lembrança da resposta desvanece, deixando apenas a sensação de um conhecimento importante que escapa do meu alcance, um enigma que permanece sem solução.

Vermo – dimensão que precede a existência, este plano é um reino de silêncio absoluto e escuridão impenetrável. É aqui que as essências aguardam o momento de seu nascimento, existindo em um estado de potencialidade pura, desprovidas de forma ou consciência. Vermo representa o começo insondável de todas as jornadas vitais, um limiar entre a não-existência e a vida.

ATO II

A sensação da areia macia sob meus pés desperta minha consciência, e lentamente abro os olhos. Diante de mim, revela-se a figura imponente de uma deusa de pele parda. O equilíbrio de força e graça é evidente em cada linha do seu corpo esbelto, marcado por uma musculatura bem definida. Seu rosto, traços fortes e delicados coexistem em equilíbrio. O queixo é suave, mas firme. Seu nariz tem um contorno elegante, bem definido, que harmoniza com o resto de suas feições. Os cabelos castanhos, volumosos e levemente cacheados, emolduram o rosto com uma beleza natural, enquanto os lábios bem delineados, com a curvatura superior sutilmente mais proeminente, desenham um arco grácil que capta minha atenção.

Perdido em pensamentos, me questiono em silêncio: — Quem é essa deusa? —  Seus olhos cor de mel, acentuados e vívidos, transmitindo uma intensidade que me prende. — Ela tem um olhar intenso — penso.

Suas pálpebras possuem uma sombra suave, como se tocadas pelo resquício do poente, e os cílios longos e curvos emolduram o olhar penetrante que parece me estudar. Suas orelhas são pequenas e, próximo ao seu olho direito, uma pequena pinta acrescenta um toque de elegância a seu semblante.

— Quem é você? — Interroga a deusa.

A pergunta me atinge com uma força inesperada, fazendo-me emergir dos meus devaneios. Levanto-me da areia, sentindo uma leve tontura que me faz hesitar por um momento.

Observo a deusa mais de perto enquanto me ergo, notando a perfeição de seu torso, um exemplo de beleza, com músculos abdominais discretamente marcados. A cintura firme, fluindo em linhas que demonstram tanto a sua capacidade atlética quanto uma inegável graça feminina. Os quadris, moldados de forma a sugerir uma base estável, servem como a base de sua postura imponente.

— Quem é você? — indago, esquecendo a pergunta da deusa.

O calor do Sol desaparecendo sob a imponente sombra que paira sobre minhas costas, ao me virar, percebo a presença de outro deus, uma figura que exala autoridade. Sua pele bronzeada brilha sob o sol, complementada por cabelos loiros que descem até seus ombros, com pontas ainda mais reluzentes. Uma barba bem aparada adorna seu queixo forte, emoldurando um rosto musculoso e angular. Seus traços, fortes e definidos, incluem um nariz achatado e uma testa retangular, contrastando com o maxilar quadrado. Seus lábios compridos e carnudos suavizam os contornos mais rígidos do seu rosto, adicionando um toque de gentileza à sua aparência viril.

— Olhe para ele, Dynes! Deve ter acabado de “nascer” — comenta o deus, com um sorriso irônico.

— Devemos matá-lo. Ele é claramente um espião dos deuses renegados! — anuncia ela com uma convicção apressada. As palavras são afiadas, cortantes como as adagas de cristal arcririsiano prateado que segura firmemente em cada mão.

O deus ao lado dela, cujos olhos avelã captam e refletem a luz solar como espelhos da natureza, mantém uma expressão serena, quase como se estivesse em meditação, fala com uma voz tranquila, porém firme: — Você deveria ser menos impulsiva, Dynes. Às vezes, parece até um dos planetas-vivos. Lembre-se de que é importante avaliar todas as possibilidades antes de tomar uma decisão tão drástica.

Dynes, com suas sobrancelhas franzidas, retruca. — Não estou sendo impulsiva, e sim cautelosa. Ele apareceu do nada. E essa chegada oportuna, bem no momento em que estamos vulneráveis? É muita coincidência, Ézus. Não podemos simplesmente ignorar que ele seja uma ameaça! Os deuses renegados são astutos; ele pode ser claramente um espião. Precisamos eliminá-lo antes que ele possa causar danos maiores!

Ézus escuta atentamente cada palavra que ela diz, com o rosto imóvel e uma leve inclinação de cabeça, prossegue: — Dynes, entendo sua preocupação, e concordo com sua cautela. Mas eliminar um deus, assim sem mais nem menos? Se continuar com esses pensamentos, o que nós diferenciará da escória dos deuses renegados daqui alguns anos? — sua voz tranquila destacando a tensão entre impulso e ponderação que os divide.

Percebendo a tensão nas mãos de Dynes, onde as adagas de cristal tremulam com sua impaciência, observo seus olhos cor de mel queimando. Em minha mente, as dúvidas giram: — Quem são esses deuses renegados? Por que ela desconfia que sou um deles? Não sei nem quem são esses deuses. Preciso encontrar uma maneira de tirar essas suspeitas e ganhar a confiança deles.

Antes que eu possa formular uma resposta, Dynes irrompe com impaciência: — Não temos tempo para investigações demoradas! Podemos acabar nos arrependendo se não agirmos rápido. Deixe-me acabar com isso agora mesmo!

Assustado com o movimento repentino de Dynes em minha direção, tento correr, porém tropeço na areia e vou de encontro ao chão.

Nesse exato momento, Ézus intervém, posicionando-se entre mim e a deusa, segurando-a firmemente pelo pulso para impedir que ela ataque, e a encarando com seriedade. Seus olhos se encontram, e neles, Ézus revela um leve sorriso irônico em seus lábios, como se ele soubesse que sua presença é o único baluarte contra a precipitação de Dynes.

Ela resiste inicialmente, a frustração e a impaciência marcando seu rosto, mas aos poucos sua expressão se suaviza. Há uma relutância em seus olhos, mas a firmeza de Ézus parece acalmá-la.

Inspirado por esse momento de calmaria, reflito. — Mantendo uma postura firme e palavras sinceras, devo conseguir dissipar as suspeitas dela e abrir espaço para uma relação de confiança.

Com essa vontade em mim, formulo minhas palavras e encaro Dynes diretamente, numa tentativa de transmitir minha honestidade. — Entendo suas preocupações e suas suspeitas. Mas eu juro a você, não tenho conexão com esses deuses renegados, nem qualquer motivo para ser um espião. Não tenho muitas lembranças, nem sequer sei como vim parar aqui.

Faço uma pausa, deixando que minhas palavras sejam absorvidas por Dynes.

— Eu entendo sua preocupação, mas peço que você considere todas as possibilidades antes de tirar conclusões precipitadas.

À medida que as palavras sinceras ecoam no ar, uma transformação súbita ocorre no semblante de Dynes. Seus olhos, antes raivosos e impacientes, suavizam e se iluminam com uma expressão travessa. Seu sorriso malicioso desabrocha, quebrando a tensão que nos envolvia. Com uma leveza quase teatral, ela relaxa a postura, o corpo todo expressando uma alegria quase infantil, e exclama com uma risada cristalina: — Rá! — Apontando para o deus, sua voz é uma mistura de diversão e triunfo. — Parece que você perdeu.

Confuso, meus olhos se arregalam, e interrompo seu divertimento com uma interjeição perplexa: — Como assim?

Dynes, agora completamente diferente da figura tensa e ameaçadora de antes, coloca a mão em meu ombro com uma familiaridade descontraída. Sua voz descontraída enquanto ela brinca: — Você acredita que esse grandão achava que você era um espião dos deuses renegados? — A provocação em sua voz me deixa ainda mais confuso.

— Mas era você... — começo, ainda tentando entender.

— Não. Não — nega Dynes, balançando a cabeça negativamente, mas seu sorriso se alarga, revelando sua satisfação pela encenação bem-sucedida. — Tudo isso foi uma encenação. Eu sabia que você não era um espião. Apostei com Ézus que poderia provar isso — Ela faz uma pausa dramática, olhando para Ézus com um brilho de vitória nos olhos. — E eu ganhei! — Sua exclamação é carregada de uma alegria vibrante.

Meu rosto, que até então refletia uma perspicácia por achar ter persuadido Dynes, agora se transforma numa máscara de surpresa genuína. — Então, foi tudo encenação?

Dynes sorri, triunfante. — Sim, e agora, graças a você, recém-nascido, ganhei o direito de comandar a próxima patrulha. — Sua expressão sugere seu deleite em ter superado Ézus nessa aposta peculiar.

Ézus, cuja postura calma até agora parecia uma segunda pele, muda de maneira surpreendente. Sua expressão serena desvanece, substituída por um semblante rigoroso, a postura de um deus que não é tão benevolente quanto parecia. Seus olhos, antes calmamente analíticos, agora queimam com uma intensidade que revela uma natureza muito mais complexa. — Está bem — ele declara, soltando a mão de Dynes, que se afasta um pouco, desequilibrada. — Parece que subestimei sua astúcia, Dynes.

Ele se volta para mim, e seu semblante se torna ainda mais sério, quase intimidador. — Vou considerar suas palavras. Mas fique avisado, estaremos de olho em você. Qualquer sinal de traição ou ameaça, não hesitaremos em agir. — Suas palavras são um aviso severo.

Sem reação, eu apenas assinto.

— Levante-se — Ele ordena, estendendo a mão para me ajudar a levantar. Seu gesto é firme, mas há um vislumbre de alívio em sua voz quando ele acrescenta: — De qualquer maneira, estou aliviado que minha desconfiança estava errada, e que você é realmente um recém-nascido. Não desejava manchar minhas mãos hoje.

— Nossos nomes você já sabe. Mas qual é o seu nome? — Ela pergunta.

— Void. — Respondo, ainda tentando compreender toda mudança de perspectiva.

— Como veio parar aqui, Void? — Dynes indaga, seus olhos brilhando com interesse genuíno.

— Não me lembro, simplesmente acordei aqui — Minha resposta é sincera, acompanhada de uma sensação de desorientação.

Observo o sorriso caloroso de Dynes, um contraste vívido com a nova expressão fechada e desconfiada de Ézus. — Você se saiu muito bem sob pressão. Sua sinceridade foi convincente — ela admite, seu tom transmitindo aprovação e uma ponta de surpresa. — Se eu estivesse realmente desconfiada, suas palavras teriam abalado minhas suspeitas.

— Agora que as apresentações estão feitas, vamos nos concentrar em assuntos mais sérios — Ézus interrompe, retomando sua seriedade. — Temos muito o que fazer, e você, Void, tem muito o que aprender.

— Vem conosco, recém-nascido! Te levaremos ao nosso lar! — Dynes anuncia, seu entusiasmo evidente enquanto dá um leve tapa amigável em minhas costas, um gesto que me encoraja a segui-la, caminhando sem esperar por mim.

Movido pela curiosidade e seguindo o gesto encorajador de Dynes, me preparo para acompanhar os dois deuses, ainda tentando absorver as complexidades deste novo mundo. Entretanto, Ézus, interrompe nossos passos. — Dynes — ele chama. Acredito que você é mais do que capaz de continuar a patrulha sozinha.

Dynes, surpresa pela confiança repentina de Ézus, ilumina seu rosto com um sorriso triunfante, e seus olhos brilham com entusiasmo renovado. — Realmente? Isso é ótimo! — Ela exclama, a voz vibrante com excitação.

Virando-se para mim, Ézus exibe uma expressão mais séria. — Void, vou levá-lo ao nosso lar. É importante que você comece a entender o nosso mundo e seu lugar nele. — Sua voz é calma, mas com um peso de responsabilidade.

Seguindo-o e deixando Dynes para trás.

ATO III

Conforme nos aproximamos do destino, fico cada vez mais impressionado com a imensidão da estrutura que se ergue diante de nós, imponente como uma montanha tocando os céus. A magnitude da fortaleza é de tirar o fôlego, suas torres se perdendo nas nuvens.

— Chamamos de Malbork — Ézus comenta casualmente, mas com um toque de orgulho na voz, notando o reflexo de pura admiração em meus olhos.

— Realmente é incrível — respondo num sussurro reverente, enquanto tento absorver cada detalhe da colossal construção.

De repente, sinto algo pousar delicadamente em meu ombro. Ao me virar, encontro uma criatura minúscula, com asas delicadamente coloridas, pousada ali. A surpresa me faz erguer a mão, encantado, para observar mais de perto.

— O quê é isto? — Pergunto, fascinado, enquanto a criatura se move gentilmente sobre meus dedos, suas asas pulsando com cores vivas.

— É o castelo onde moramos — responde olhando a colossal estrutura.

— Não, não me referia ao castelo. Quis dizer esta criatura aqui. — explico. Sentindo a suavidade de seu corpo contra minha pele, enquanto a criatura se acomoda em minha palma.

Ézus, percebendo minha confusão, olha para o castelo e então para a criatura. — Ah! Isso é um dos milhares de insetos que Máterum criou para nos ajudar na construção do castelo. — Explica ele com uma expressão que suaviza sua feição até então séria. — Chamamos esse inseto específico de borboleta. Aquelas pequenas ali são chamadas de formigas. — Apontando para parede do castelo repleta de milhares de seres bem menores que a borboleta.

Com um movimento delicado, permito que a borboleta voe de minha mão, seus movimentos graciosos formando um pequeno balé no ar antes de se dirigir para o alto do castelo. Seguindo seu voo, avisto uma silhueta de um deus no topo da estrutura, tão distante que parece quase uma miragem.

— Quem é aquele? — Questiono, apontando para a figura solitária contra o vasto céu azulado.

— Córpulus. Ele que está no comando da construção.

— Ele é o líder? — Pergunto.

Com um riso suave, Ézus balança a cabeça, dissipando a ideia. Seu riso parece ecoar ao redor de nós, trazendo uma leveza ao momento. — Líder? Haha! Não, Void, nós não temos um líder. — Sua mão encontra meu ombro em um gesto fraterno, apertando suavemente para enfatizar suas palavras. — Temos um pai. Temos Máterum. Em breve terá o privilégio de conhecê-lo. Tenho certeza de que ele ficará muito feliz com sua chegada.

Por um momento, Ézus se perde em pensamentos, seus olhos brilhando enquanto ele acaricia suavemente sua barba. — Somente ele se alegra mais que nós com o nascimento de novos deuses. É meio óbvio, já que, para nós, nasce um irmão e, para ele, um filho. — Sua voz assume um tom suave, quase reflexivo.

Então, com um gesto convidativo, Ézus indica que eu o siga para dentro de Malbork.

ATO IV

Ao nos aproximarmos do portão imponente de Malbork, minha atenção é capturada pela presença de uma deusa de pele negra retinta, cujos cabelos platinados e lisos brilham sob o sol, como fios de luz.

Seu rosto é uma obra de características marcantes: o maxilar curvado, pronunciado como o de uma guerreira; lábios pomposos que se curvam ligeiramente em um sinal de respeito silencioso; e um nariz miúdo, perfeitamente esculpido, dando-lhe uma aparência quase nobre. As orelhas, pequenas e discretas, são adornadas por joias que brilham sutilmente, e a testa arqueada ostenta a dignidade de uma coroa invisível.

Com um corpo alto e robusto, a deusa está parada com a postura firme em frente ao portão do castelo. Transmitindo imponência em cada aspecto de sua aparência. Seus olhos escuros e penetrantes, e sua aura dominante faz dela uma figura verdadeiramente majestosa entre os deuses.

Conforme nos aproximamos do grandioso portão de Malbork, a deusa se move graciosamente para nos receber. Sua voz, surpreendentemente suave e melodiosa, flutua pelo ar com uma autoridade velada: — Desculpe, Ézus. Não pode entrar agora.

Ézus, com um leve franzir de testa que revela sua surpresa, responde enquanto ascende os degraus. — Tenho em minha companhia um recém-nascido — ele argumenta, sua voz misturando respeito com um toque de insistência. — Máterum gostará de vê-lo.

— Com certeza gostará, mas não agora — ela afirma, com sua mão repousando sobre o ombro de Ézus. — Máterum está fazendo algo importante com Báron e Térax. Volte mais tarde! — A autoridade em sua voz é inquestionável.

Ela definitivamente não é alguém para se desafiar — penso, observando a cena.

Meu semblante não escondendo o fascínio com a imponência de Muntera. Sinto a tensão sutil que envolve os dois deuses, uma dinâmica de poder e respeito mútuo. Ézus, apesar de sua estatura e autoridade, aceita a decisão de Muntera com um respeito silencioso, evidenciando o alto status dela no castelo. Seu semblante revelando um vislumbre de frustração ao descer as escadas, um ato que fala mais do que palavras.

Descendo os degraus com uma leveza que contradiz sua frustração, Ézus lança um olhar resignado em minha direção. — Pelo visto teremos que esperar — ele murmura, uma nota de desapontamento sutil permeando sua voz. Sua postura, embora ainda imponente, carrega um peso de inconformidade momentânea.

Enquanto o vento levanta uma suave brisa de grãos de areia, fecho os olhos por um instante, deixando a brisa fresca acariciar meu rosto.

Ao abrir os olhos, vejo Ézus me observando com um novo brilho de entusiasmo. — Que tal vermos os calabouços? Há algo... ou melhor, alguém que deve conhecer — ele sugere. — É um novo prisioneiro.

Minha curiosidade é imediatamente acesa. — Prisioneiro? — pergunto, meu tom refletindo um interesse genuíno.

— É um antigo irmão, — Ézus começa, sua voz baixando um tom — um que traiu nossa confiança pelos deuses renegados. — Ele não consegue esconder uma faísca de emoção complexa, uma mistura de ressentimento e uma tristeza subjugada. — Moam o capturou recentemente durante sua missão — sua voz com uma nota de aprovação. — Ele tem olhos cintilantes, semelhantes aos de nosso pai. Você verá — afirma, puxando-me consigo aos calabouços.

            O vazio não está mais só. Vida nova. Mas tudo o que vive, morre. Na espera. Calabouço, lar onde sua alma descansará. O sangue que cura. Amigo que trai, o inimigo que ajuda. Percebendo está outra vez só.

Void

Dynes

Ézus


Muntera

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