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O Peso do silêncio

ATO I (Lesus)

O cenário em Gáudium é desolador. A luz alaranjada do céu parece congelada no tempo, como se o planeta estivesse aprisionado em um crepúsculo eterno. O vento sopra esporadicamente, carregando consigo o eco distante das árvores retorcidas que pontuam o horizonte, seus galhos rangendo como se fossem ossos velhos.

— Agora que chegamos... qual é o plano? — Pergunto, esperando uma resposta estratégica.

— O plano é simples: caminhar até encontrarmos Zulfiqar — responde Urum, com uma seriedade tão absurda que fico até na dúvida se ele está brincando.

Como pode dizer isso de uma forma tão séria? — penso, enquanto ele encara o horizonte com uma estranha calma.

Antes que eu possa indagar mais, Urum simplesmente começa a caminhar.

— Ei, espera aí! — exclamo, apressando o passo para alcançá-lo. — Claro, vamos só vagar pelo meio desse lugar desolado... ótima ideia — resmungo, sentindo o sarcasmo ferver na garganta.

Chego mais perto dele e percebo que está murmurando algo para si mesmo.

— Tanri estava certo... Gáudium mudou bastante... mas o que será que...

— O que você tá falando? — Interrompo, pegando-o no susto. Ele me olha como se eu tivesse acabado de crescer outra cabeça.

— Por que está me olhando assim? — Pergunto, desconfiado.

Ele não responde logo. Seus olhos vagueiam sobre mim, como se estivesse fazendo uma lista mental. Avaliando... ou julgando. Isso me incomoda.

— Theos falou bastante sobre seus feitos em Zaranler — diz ele, sério, mas com uma expressão que deixa claro que ele acha isso no mínimo... questionável.

Ah, claro, agora ele vai me testar — murmuro para mim mesmo, tentando não perder a paciência. Endireito a postura, estufando o peito. — Não acredita? Se não fosse por mim, Theos não estaria nem aqui pra contar a história — declaro, o mais heróico que consigo, mas Urum só levanta uma sobrancelha e faz um aceno que parece dizer “tá bom, então.”

A vontade de socá-lo é real. Aperto os punhos. — Ele está me provocando de propósito — reflito.

De repente, ele se aproxima, o que só aumenta a minha confusão.

— O que você tá fazendo? — Pergunto, recuando um pouco, mas ele continua a me observar de perto.

— Onde está sua arma divina?

— Minha... o quê?

— A Gêmines. Theos falou que foi graças a ela que ele conseguiu enfrentar Máterum. E comentou que era... bem impressionante.

— E é! — Respondo, me afastando. — Mas ela não tá comigo agora.

Urum franze a testa. — Você deixou ela pra trás?

— Não.

— Então você perdeu? Que incompetência — murmura ele, como se estivesse ponderando se valia a pena me acompanhar.

— Não! — Grito, quase rindo de nervoso. — Eu destruí uma das Gêmines na batalha contra Máterum. Agora, estou remodelando ela... dentro de mim!

Ao invés de qualquer reação dramática, Urum só assente, do jeito mais desinteressado do mundo, e se vira com um gesto que deixa claro que não acreditou em nada. O sangue me sobe à cabeça, mas, antes que eu possa explodir, invoco a Gêmines, formando fina camada de gelo em minha coxa, e dela materializando a reluzente Gêmines em minha mão.

— Acredita agora? — Pergunto, triunfante.

Ele para, olha para a arma, depois pra mim, e sorri.

— Mas eu já tinha acreditado antes.

E, com isso, ele se vira e volta a caminhar como se nada tivesse acontecido. Fico ali, encarando-o, completamente sem palavras.

Quando penso em responder, ele se vira de novo, com aquela mesma sobrancelha levantada.

— Não vai vir?

Suspiro, sacudindo a cabeça, e sigo em silêncio.

ATO II

Andamos até o anoitecer, o céu lentamente se desfazendo daquele laranja cansado e cedendo espaço a um manto escuro, pontuado por estrelas opacas. O vento se torna mais frio, e as árvores, que antes eram apenas figuras tristes no horizonte, agora se agitam de forma inquietante. O solo sob nossos pés já não faz barulho; até ele parece conformado com o silêncio deste lugar. Após horas de caminhada, finalmente paramos.

— Vamos ficar aqui por hoje — anuncia Urum, quebrando a quietude com seu pragmatismo habitual.

Eu assinto, exausto e um pouco agradecido, embora não vá admitir isso em voz alta. Não seria nada bom para minha reputação. Me sento na grama, do lado oposto a Urum, mantendo aquela distância segura.

Ele nem se dá ao trabalho de se acomodar muito antes de dizer com confiança: — Vou ficar de vigia. Você dorme.

Claro, que vai — penso, mas apenas faço um aceno de cabeça e me deito no chão duro. Fecho os olhos, apenas o suficiente para parecer que estou dormindo. — Se Urum acha que vou perder a chance de descobrir um pouco mais sobre ele, está enganado. — Sei que ele não é do tipo de simplesmente contar as coisas... Mas se ele achar que estou dormindo? Talvez eu consiga algo.

Fico imóvel, mantendo a respiração constante, tentando me convencer de que essa é a pior ideia possível, mas a curiosidade fala mais alto. Escuto Urum se afastar um pouco e se acomodar em uma pedra próxima. O silêncio se arrasta por alguns minutos, e quase começo a acreditar que ele não vai falar nada... até que ele solta um longo suspiro, carregado de um cansaço que ele nunca demonstrou antes.

— Zulfiqar... — murmura ele, sua voz carregada de uma fadiga que ele nunca admitiria. — Será que você está mesmo aqui em Gáudium? Não acho que você desistiria de procurar Ózis em Arcriris tão facilmente.

Abro um pouco os olhos para tentar enxergar melhor, mas tudo o que vejo é Urum de costas para mim, a postura relaxada, algo incomum nele. — Ele está finalmente baixando a guarda?

— A única razão para você estar aqui seria ter encontrado Ózis, ou.... Não... não posso pensar assim — continua ele, sua voz vacilando ligeiramente. — Talvez você pense que todos nós morremos em Zaranler...

Vê-lo vulnerável, mesmo que ele não saiba que está sendo observado, é estranho. E fascinante. — Quem diria que ele tinha todo esse drama guardado? — penso, espiando, agora com mais interesse.

Ele passa a mão pelo rosto, como se quisesse apagar as lembranças. — Espero que possamos nos encontrar novamente — sussurra, e sinto uma pontada de culpa por estar escutando isso. Mas não o suficiente para parar.

Porém, minutos se passam e o silêncio para que não será mais interrompido. Nesse ponto, decido que já ouvi o bastante. Respiro um pouco mais fundo, fingindo acordar.

— Você... estava falando com alguém? — Pergunto, esticando os braços como se tivesse acabado de acordar de um cochilo profundo e reparador.

Urum se vira para mim com uma expressão completamente neutra. Se ele sabe que eu o ouvi, não deixa transparecer.

— Só pensando em voz alta. Nada que te interesse — diz ele, de volta ao seu tom habitual.

— Certo... — respondo, não conseguindo esconder um pequeno sorriso. Ele me encara por um momento, como se estivesse tentando ler meus pensamentos, mas então desvia o olhar, voltando sua atenção ao horizonte escuro.

— Volte a dormir. Ainda temos muito chão pela frente — comanda.

Mas eu não consigo evitar. — Tenho uma dúvida antes — comento, sentando-me na grama.

Ele suspira, o desinteresse visível, mas me olha como se dissesse “vamos lá, o que é agora?”.

— O que acontece se não encontrarmos Zulfiqar? — A pergunta é direcionada ao emocional de Urum, esperando alguma reação.

Mas sua resposta vem tão fria quanto o vento ao nosso redor. — Seguimos com o plano de Theos de montar uma base aqui em Gáudium.

Então, de repente, ele se levanta e abre os braços como se estivesse se dirigindo a uma multidão.

— E será aqui que começaremos nossa fortaleza! Derrubaremos algumas árvores, usaremos seus troncos para as primeiras paredes, e depois reforçaremos tudo com material mais resistente...

Enquanto ele continua com seu monólogo, eu apenas penso no quão bom ele é em mudar de assunto quando quer evitar falar sobre o que realmente sente.

— Urum! — Chamo, interrompendo sua divagação. — Chega de se fazer de idiota. Zilevo disse antes de partirmos que você é perspicaz, um excelente líder. Então por que esse teatro?

O silêncio cai entre nós, pesado. Urum me olha com um ar diferente dessa vez, como se estivesse me avaliando mais profundamente. Ele se aproxima devagar, e, antes que eu possa reagir, ele solta uma risada.

— Você é retardado? — Ele ri, colocando a mão em meu ombro.

Prestes a afastar a mão dele do meu ombro, sinto um impacto repentino e esmagador na minha garganta. Urum se move com uma rapidez que meus olhos mal conseguem acompanhar. Sua outra mão, como uma cobra disparando, acerta minha traqueia com precisão. A dor é instantânea e o fluxo de ar é cortado imediatamente. Eu caio de joelhos, sufocando, asfixiado pelo golpe que continua pulsando em minha garganta, como se ela estivesse sendo comprimida de dentro para fora.

Meu corpo treme enquanto luto desesperadamente para respirar, cada tentativa falhando enquanto o pânico toma conta. Meus pulmões queimam, implorando por ar, mas tudo que recebo é o vazio. A visão começa a embaçar nas bordas. Tento levantar a cabeça para encará-lo, mas sou recebido com outra rajada cruel.

— Quem é o idiota agora? — Ele sibila, a voz fria e letal, antes de me atingir com uma cabeçada devastadora.

O impacto ecoa dentro da minha cabeça como o som de um trovão em uma caverna. Minha testa colide com a dele com um estalo surdo, que sinto reverberar pelo meu crânio. A dor explode em espirais brilhantes atrás dos meus olhos, e imediatamente sinto o sangue quente escorrer pelo meu rosto, manchando minha visão. Meus ouvidos zumbem enquanto o gosto metálico de sangue começa a se formar na boca.

Desnorteado, tento me erguer, lutando contra a vertigem que ameaça me derrubar novamente. Coloco uma mão trêmula no chão, sentindo a terra fria contra minha palma, e a outra no meu joelho, tentando usar o pouco de força que me resta para me levantar.

Mas Urum não me dá trégua.

Ele dispara um chute violento no meu peito, o som do impacto ressoando como madeira se partindo. O golpe é brutal e direto, seus dedos afundando entre minhas costelas com uma força que parece perfurar até meus ossos. Sinto um estalo profundo dentro de mim, como se minhas costelas tivessem rachado sob a pressão. O ar, o pouco que eu havia conseguido recuperar, é expulso de mim como uma lufada desesperada. Meu corpo é arremessado para trás, colidindo com o chão.

Tento inspirar, mas é como se houvesse lâminas dentro de mim. O sabor de ferro preenche minha boca quando percebo que estou tossindo sangue. A sensação é sufocante, o sangue quente misturando-se ao ar frio de Gáudium.

— Não se levante — Urum ordena, sua voz fria e distante, como se estivesse dispensando uma ordem sem emoção. Ele me encara de cima, com um desprezo gelado que faz meu sangue ferver. — O que te faz pensar que eu sou idiota o suficiente para fingir algo por sua causa?

Eu o encaro, sentindo o sangue escorrer pela minha testa e gotejar no solo abaixo. O chão parece mais acolhedor a cada segundo, mas meu orgulho, minha raiva, não me deixam desistir. Urum está me esmagando, física e emocionalmente, e a ferocidade com que ele faz isso só aumenta minha fúria.

Mas ele não terminou. Seu rosto, uma máscara de desprezo calculado, se contorce em um sorriso sádico. Ele pisa no meu peito, forçando minhas costelas rachadas a se comprimirem ainda mais, torcendo a dor já excruciante. Um grito escapa da minha garganta, rouco e afogado pelo sangue que escorre pelos meus lábios. Sinto cada fragmento do osso quebrado roçar dentro de mim, como lâminas afiadas penetrando ainda mais fundo.

— Fraco... — murmura ele, seus olhos cravados em mim, como se estivesse confirmando uma verdade que ele já sabia desde o início. Ele pressiona o pé mais forte, como se quisesse me enterrar de vez na terra fria de Gáudium.

Ignorando a dor que grita em cada nervo do meu corpo, minha mão se move automaticamente para a Gêmines, sentindo a frieza do gelo se formando sob meus dedos. O brilho da arma reluz, mas antes que ela possa se materializar completamente, Urum percebe o movimento. Com um gesto quase preguiçoso, ele chuta minha mão para longe, a Gêmines se desfazendo no ar antes mesmo de ter a chance de me salvar.

— Tsc, tsc... — ele balança a cabeça, os olhos brilhando com desprezo. — Como eu imaginei. Sem sua preciosa arma, você não é nada além de um deus fraco, inútil.

Sua voz ecoa na minha mente, alimentando a raiva e o ódio que já borbulham dentro de mim. Eu me forço a levantar novamente, cada movimento um esforço contra a dor esmagadora. O mundo ao meu redor gira, mas algo dentro de mim não cede. Ele está jogando sujo, e eu estou perdendo. Mas não por muito tempo.

Respiro fundo, sentindo o gosto metálico do sangue misturado ao ar frio de Gáudium. Meus punhos se apertam enquanto a adrenalina toma conta. — Vou te mostrar quem... — mal termino de falar, e ele  com um giro rápido, me atinge com um chute giratório diretamente na lateral do meu rosto. Meu corpo é lançado, batendo no chão com um estalo nauseante. A dor é insuportável, mas o que realmente me destrói é a humilhação.

— Levante-se, Lesus. — A voz de Urum é fria e cortante, mas agora há uma raiva diferente em seu tom. — Se você quer sobreviver aqui, terá que aprender a ser mais do que sua arma. Se continuar lutando como um deus mimado, vai morrer como um.

Ele se aproxima lentamente, os olhos fixos em mim com uma intensidade avassaladora.

— E eu não vou deixar que você seja o elo fraco.

Engulo em seco, tentando me levantar mais uma vez, mas as forças começam a falhar. Urum para na minha frente, seu semblante agora mais sério, quase... preocupado?

— Pense, Lesus. — Ele se abaixa, pegando minha mão, forçando-me a olhar nos seus olhos. — Ou será tarde demais.

— Filho da... — Grito, a raiva fervendo dentro de mim, mas antes que eu possa me mover, ele me oferece a mão, como se nada tivesse acontecido.

— Theos tinha razão sobre você. — O tom de Urum é impassível, quase casual, o que apenas alimenta minha fúria.

Minha respiração está pesada, os músculos latejam de esforço e dor, mas tudo que vejo é a chance de retaliação. Puxo sua mão com força, usando o impulso para desferir um soco direto em sua traqueia. Mas Urum, levanta o antebraço em um bloqueio perfeito, desviando o ataque com facilidade. O impacto do meu punho contra seu bloqueio reverbera pelo meu braço, uma dor surda correndo até meu ombro, mas a raiva me mantém firme.

— Você tem potencial, Lesus, — ele diz, a voz baixa e carregada de uma calma irritante. — Mas enquanto continuar permitindo que seus inimigos controlem suas ações, não vai durar.

As palavras dele são como veneno. Cada sílaba parece diminuir minha dignidade, como se ele estivesse me rebaixando a um recém-nascido furioso. Sinto meus dentes rangerem, a dor e o orgulho ferido se mesclando. Com um grunhido raivoso, reúno toda a força que ainda tenho e desço com o pé em um chute feroz, mirando sua pelve. O movimento é bruto, selvagem, feito para esmagar. Mas Urum, mais uma vez, se move com agilidade. Ele bloqueia com a lateral da perna, e antes que eu possa reagir, ele agarra meu braço com firmeza e com um movimento fluido, como se fosse a coisa mais natural do mundo, Urum me ergue sobre seu corpo. Sinto o chão se afastar dos meus pés por um momento que parece uma eternidade. O mundo ao redor gira quando ele me lança ao solo com uma brutalidade devastadora. Meu corpo colide com a terra como se tivesse sido esmagado por uma onda gigante. Um estalo ecoa na minha coluna, o impacto espalhando uma dor paralisante pelas minhas costas e ombros. Por um momento, o ar me escapa completamente, e tudo que resta é a agonia.

— Chega! — Exclama Urum. — — Pare de ser idiota e comece a pensar, Lesus! — A intensidade em seus olhos revela mais do que desprezo; revela frustração.

Ele se agacha sobre mim, o rosto tão próximo que posso ver cada gota de suor em sua testa, seus olhos faiscando de raiva contida. — Theos disse que você enfrentou Máterum sozinho e que foi capaz de sobreviver. E aqui está você, incapaz de desviar de um mísero golpe! — O tom dele mostrando indignação... até demais.

Cada palavra dele penetra como um espinho afiado, mas, de repente, algo em mim muda. — O que estou fazendo? — Me questiono,  conectando as palavras de Urum, embora carregadas de desprezo, revelando algo mais que não desejava.

Eu me levanto devagar, o corpo latejando de dor, sentindo o sangue seco se misturar à sujeira que cobre minha pele. Minha respiração é irregular, o peito ainda dorido dos golpes brutais, mas uma clareza inesperada começa a se formar. Eu limpo o sangue do meu rosto com um gesto cansado, os olhos fixos nele.

— Quer mais? — Ele provoca, o tom desafiador, como se estivesse testando até onde eu iria.

Meus punhos se apertam, o sangue seco nas mãos me lembrando de cada golpe que ele desferiu. E, então, algo me atinge. Uma ideia cruel e afiada como uma lâmina. Se ele quer me testar, então vou virar o jogo.

— Deve se achar muito incompetente mesmo, — disparo com a voz carregada de malícia, encarando-o com desprezo. — Por não ter sido capaz de fazer nada para ajudar seus amigos em Zaranler, não é?

Minhas palavras cortam o ar como veneno. O impacto emocional é imediato, visível no rosto de Urum. Por um breve segundo, seus olhos se estreitam, e o sorriso calculado desaparece. É sutil, mas sei que toquei em algo profundo. O peso da culpa que ele carrega sobre Zaranler, a falha que o assombra.

Aproveito a fração de segundo em que ele vacila. Sem hesitar, canalizo toda a minha energia, deixando o frio tomar conta de mim. Gelo começa a se formar ao redor do meu punho, estalando no ar com uma intensidade mortal. Em um movimento rápido, avanço e desço o soco com força total no rosto de Urum. O som do impacto é violento, o gelo se despedaçando com o choque, e ele cambaleia para o lado, sangue espirrando de seu lábio partido.

Ele não cai, mas também, não dou tempo para ele reagir. Giro rapidamente e chuto a parte de trás de seu joelho. O golpe é preciso, forçando sua perna a ceder sob o impacto, e Urum cai de joelhos, o corpo momentaneamente descontrolado. Sua respiração se torna mais pesada, mas antes que ele possa se levantar, lanço outro chute, dessa vez no seu tórax. O som da colisão é bruto, e sinto o impacto reverberar pelas minhas pernas, mas Urum é lançado ao chão como uma rocha.

Ele fica deitado por um momento, imóvel. Respiro fundo, o peito arfando, o gosto metálico do sangue ainda nos meus lábios.

Mas, para minha surpresa, o silêncio é quebrado por um som inesperado. Urum ri. Uma risada baixa e rouca, que logo se transforma em uma gargalhada, apesar do sangue que escorre de seu lábio cortado e mancha seus dentes.

Ele se ergue devagar, limpando o sangue da boca com as costas da mão, os olhos brilhando com satisfação. Ele se apoia em um dos joelhos por um momento, ainda sorrindo.

— Sabia que Theos não tinha te escolhido atoa para me acompanhar — ele diz, levantando-se. — Você é mais esperto do que eu imaginava. Não esperava que percebesse o que eu estava fazendo.

O olhar que ele me lança é diferente agora. Não é mais de desprezo. — Mas você percebeu, não é? — Ele diz, inclinando a cabeça para o lado. — Eu estava te testando, Lesus. Queria ver até onde você iria. — Ele cospe sangue no chão, o sorriso permanecendo em seu rosto como uma cicatriz. — E agora eu sei.

— Por quê? — Questiono, exasperado..

— A questão é: Por que não? — Ele retruca, com um sorriso enigmático. — Agora, uma pergunta melhor: se eu fosse um inimigo, preferiria morrer em minhas mãos ou ferir seu orgulho usando as Gêmines?

Eu não respondo. Apenas me viro e volto a sentar na grama.

— Primeiro me responda — provoco, com um sorriso malicioso. — Como você se sente por não ter conseguido salvar seus amigos em Zaranler?

Urum ri, limpando o resto do sangue no rosto e voltando a se sentar na pedra.

ATO III

O silêncio, desta vez, é diferente. Não é o silêncio opressor de Gáudium, mas algo quase confortável. Até familiar. A sensação de que, por mais insuportável que Urum possa ser, ele estava nos testando. Testando a mim. Mas qual é o objetivo real disso?

— Sabe, — começo, sem olhar diretamente para ele — se você continuar escondendo suas emoções atrás dessa fachada de estrategista infalível, um dia vai ser surpreendido. Alguém vai te pegar desprevenido.

Urum me lança um olhar curioso, uma sobrancelha ligeiramente arqueada.

— E quem disse que já não fui pego de surpresa? — ele pergunta, com um sorriso torto. — Você me subestima, Lesus. Pensar que estou escondendo algo é assumir que não estou ciente de todas as variáveis ao meu redor.

Reviro os olhos. — Ah, claro. Ele tem tudo sob controle. Até quando está levando um soco no rosto — resmungo em pensamento. — Certo, mestre das variáveis, então me diga... — provoco, sentindo a provocação subir. — Por que Zulfiqar significa tanto para você? Não me venha com respostas vagas ou evasivas, já tivemos o suficiente disso.

O sorriso de Urum se desfaz lentamente. Ele se inclina para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, os olhos agora fixos no horizonte como se estivesse procurando algo distante.

— Zulfiqar é... uma peça essencial. Mais do que você pode imaginar. Você me perguntou o que acontece se não acharmos ele. Essa opção não existe. Temos que encontrá-lo.

Eu observo a mudança em sua postura. Algo nele parece mais... sincero? Ou talvez mais vulnerável, por mais que ele tente esconder. Tento me lembrar de todas as vezes que vi Urum agir como se nada o afetasse, sempre mantendo controle, mas agora ele parece uma peça à beira de se desencaixar.

— Então é pessoal? — Pergunto, suavizando o tom.

Urum solta um suspiro, como se tivesse preste a fingir novamente, mas mudando de ideia no último segundo.

— Sim, é pessoal. Zulfiqar... ele não estava conosco em Zaranler. Enquanto nós lutávamos, ele estava em Árcriris, à procura de Ózis. Não vejo motivo para ele estar em Gáudium agora. Não duvido da perspicácia de Theos, mas o mistério em torno de Zulfiqar não facilita as coisas.

Eu absorvo suas palavras, percebendo que há mais por trás dessa busca do que simplesmente cumprir o plano de Theos. Urum não está apenas seguindo ordens. Ele tem algo em jogo. Algo grande.

— Mas quem é Zulfiqar para você? — pergunto, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.

Urum balança a cabeça lentamente, seu olhar distante.

— Meu mestre. Ele foi o deus que me ensinou tudo que sei. Sua companhia em Salacrum foi fundamental para moldar quem eu sou hoje. É uma pena que seus irmãos, principalmente Ózis, nunca tenham reconhecido isso. Zulfiqar viu coisas que eles nunca imaginaram. Ele nem se quer odeia Máterum, sabia? Mas sacrificou seu amor por ele pelos irmãos. — Urum hesita por um segundo, mas continua. — Ele sempre foi mais do que eles podiam entender.

— Mas o que faz tão especial que temos a obrigação de encontrá-lo — concluo, tentando esconder o desconforto em minha voz.

Urum se levanta, finalmente se voltando para mim. — Você não entendeu? Primeiro Lésnar e Réslar, depois Ózis, Tempórious, Críngu e Gálidus. Agora ainda Zulfiqar? Quantos mais você acha que os deuses renegados aguentam perder? Encontrar Zulfiqar é única chance de devolver esperanças aos deuses renegados. Não encontrá-lo será nossa ruína, então não podemos nos permitir falhar.

Olho para Urum, tentando decifrar o que realmente está se passando na mente dele. Ele parece estar em um ponto onde vulnerabilidade e cálculo se encontram. E, por mais que ele tente manter o controle, sei que achar Zulfiqar para ele é mais que dá esperança aos deuses renegados. É dá esperança para o próprio Urum.

— E qual é o próximo passo então? — Pergunto, cruzando os braços.

Urum limpa os últimos resquícios de sangue dos lábios e sorri.

— O próximo passo? Vamos procurar Zulfiqar. Mas, desta vez, vamos com um plano. E, desta vez, você vai usar mais que seus punhos.

— Ah, então a briga foi um treinamento? — Provoco, sorrindo de volta.

— Você ainda está vivo, não está? — Urum retruca, arqueando uma sobrancelha.

Ele se afasta, voltando a estudar o ambiente. A brisa fria de Gáudium carrega um presságio de algo mais sinistro.

— Vamos descansar, Lesus. Amanhã, começamos a verdadeira busca — diz Urum, finalmente quebrando o silêncio, como se já tivesse elaborado todo o plano em sua mente.

Eu apenas assinto, sabendo que o que quer que aconteça a seguir, Urum estará três passos à frente. Ou, pelo menos, ele pensa que está.

E, com esse pensamento, finalmente me deito, tentando adormecer. Mas, mesmo de olhos fechados, uma parte de mim permanece alerta.

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