Hipernova - Parte II
ATO III (Lésnar)
As lágrimas traçam caminhos salgados por minha face, marcando a pele com o peso da decisão. Cada gota que escapa dos meus olhos é um lembrete pungente da escolha que fiz: deixar minha irmã, Réslar, entregue à sua sorte cruel. A força gravitacional do meu coração parece me puxar para trás, para ela, mas cada fibra do meu ser sabe que não posso, não devo olhar para trás. Virar-se significaria enfrentar a realidade esmagadora da minha ação: abandonar minha própria carne e sangue em um momento de desespero mortal.
O sol, impiedoso em sua jornada pelo céu, verte raios inclementes sobre mim, como se cada um fosse um julgamento ardente pelos meus atos. O calor onipresente torna-se um reflexo tangível do conflito que arde dentro de mim, um lembrete constante de Réslar, apesar de sua coragem, estando sozinha e vulnerável. Meu corpo exausto e superaquecido clama por descanso, uma pausa na tormenta emocional e física que me consome.
Em meio ao terreno hostil, meus olhos cansados avistam uma salvação temporária: uma entrada estreita, quase oculta, que conduz a um buraco que promete um breve alívio.
A entrada do buraco é como um portal para outro mundo, onde talvez eu possa escapar, mesmo que momentaneamente, do peso das minhas escolhas.
A umidade de seu interior me envolve em um abraço frio. A escuridão, no entanto, é mais do que a ausência de luz; é um véu que cobre meus pensamentos, uma cortina pesada que separa a realidade da ilusão de paz.
Neste refúgio úmido e sombrio, permito-me desabar, meu corpo encontrando o chão com uma resignação cansada. A terra fria e úmida sob mim é um leito improvisado, mas bem-vindo. Enquanto me encolho, as emoções que eu luto para conter começam a emergir: a solidão, o medo, a tristeza, todas se manifestando em um chuva que ameaça me afogar.
Envolvida na quietude do esconderijo úmido, a urgência de uma missão crucial permeia meus pensamentos. — Preciso avisar os outros — murmuro para mim mesma, minhas mãos trêmulas vasculhando a bolsa em busca de materiais para um meio de comunicação improvisado. Encontro uma estaca robusta e algumas pedras de areia, e começo a compor uma mensagem.
A estaca, agora transformada em um suporte para minha missiva, é cuidadosamente posicionada diante de mim. Cada grão de areia que coloco sobre ela moldando uma carta para Theos. “Theos, suas suspeitas estavam certas,” escrevo, a areia aderindo à estaca como se compreendesse a gravidade da mensagem. “Máterum planeja um ataque contra nós,” continuo, minha escrita se tornando cada vez mais apressada à medida que escrevo.
“Alguns seres desconhecidos atacarão Zaranler em breve,” adiciono, sentindo um arrepio de medo ao pensar nas criaturas e na ameaça que representam. “Nossas posições foram comprometidas; logo, informações são escassas, mas prometo enviar mais assim que possível.” escrevo.
A carta, agora quase completa, é um testamento da nossa vulnerabilidade. “Quando esta mensagem lhe alcançar, é provável que tanto Réslar quanto eu estejamos nas mãos de Máterum.” admito. “Mas imploro, não se detenha por nós. Priorize a segurança de Zilevo e dos demais. E por favor, seja cauteloso!”
A carta termina com uma observação que me atormenta: “suspeito que os seres desconhecidos possam ser os planetas desaparecidos. Máterum deve tê-los transformado em entidades vivas enquanto estávamos em Salacrum.”
Com a carta completa, desamarro cuidadosamente meus longos cabelos, cortando uma mecha para atar a mensagem à estaca e usando as folhas vermelhas da bolsa para selar a carta.
Respiro fundo, fechando os olhos por um breve momento, sentindo a umidade fria do esconderijo em minha pele. Com um movimento suave das mãos, invoco o poder criacional dentro de mim, uma energia que flui dos meus dedos para a carta. — Que estas palavras cruzem os céus e encontrem Theos... antes que seja tarde demais — oro, observando o poder envolver a mensagem, transformando-a em algo mais do que palavras: um pedido de ajuda, um sinal de alerta.
Com um último olhar para a carta envio-a através das dimensões esperando que encontre Theos a tempo. A energia se esvai de mim, deixando-me exausta, mas com um sentimento de dever cumprido. Agora, resta apenas esperar e sobreviver, na esperança de que os deuses se preparem para o ataque antes que seja tarde demais.
ATO IV
Após minutos angustiantes desde o envio da carta, sons abafados de vozes invadem a quietude da escondida toca.
— Estamos procurando por ela faz horas, acho melhor nós voltarmos — comenta uma voz rouca e cansada, tingida de frustração.
— E arriscar ouvir um sermão de Máterum por nossa falha? Nem pensar! — rebate uma voz feminina, firme e incisiva. Enquanto ela fala, o som de passos cautelosos se aproxima — Olhe! Aqui tem pegadas recentes. Ela deve está por perto.
Meu coração acelera com a proximidade. Mantenho a respiração controlada, tentando não emitir um som que possa me denunciar. Meus olhos varrem a escuridão do esconderijo, buscando qualquer sinal de que fui descoberta.
De dentro da caverna, observo furtivamente através de uma discreta abertura no teto, a fonte daquela voz feminina. A figura que se revela diante de mim é um contraste surpreendente em relação à sua companheira mais ríspida. Ela parece uma musa de um poema feito pelo Universo.
Seus cabelos, castanhos e ondulados, emolduram seu rosto com a suavidade de folhas ao sabor do vento outonal. Cada mecha joga sombras delicadas sobre suas feições. Seus olhos são duas amêndoas brilhantes, irradiando a calorosa tonalidade do âmbar, cercados por longos cílios e, encimados por sobrancelhas que desenham arcos perfeitos.
A pele da deusa é parda, sem mácula. Seu nariz é elegante e sutilmente desenhado e seus lábios em um contorno suave de cor pêssego. O queixo levemente apontado confere-lhe uma aparência delicada.
Observo enquanto ela vasculha o ambiente com olhos atentos, eu me encolho ainda mais no meu esconderijo, consciente do perigo que sua presença representa.
— Preciso atacá-las antes que elas me achem...— penso, saindo precipitadamente do esconderijo ao perceber a criatura albina inclinar a cabeça para baixo, presumindo que havia me visto.
Em um momento de pura adrenalina, meus dedos trêmulos mergulham na bolsa e emergem com cinco shurikens de madeira.
A albina percebe minha presença, e seus olhos se estreitam em alerta. Sem hesitar, lanço as shurikens na direção da deusa ao lado dela.
— Cuidado, Korla! — A albina grita, avisando a deusa distraída que se vira e num movimento ligeiro gira seu bastão e intercepta e desvia as shurikens uma após outra. Mas esta dança de defesa não é sem suas consequências, sendo acertada por uma das shurikens, desviada com menos precisão, de raspão no braço, abrindo uma ferida que logo começa a se encher de sangue. A vermelhidão viva pintando a pele parda de Korla, que examina o ferimento superficial em seu braço, e apesar da dor, seus olhos não perdem a calma.
A albina, conhecida como Toihid, se posiciona diante de mim. Ela é maior que a maioria dos deuses que já vi, uma gigante de pele alva e músculos protuberantes. Seu rosto um contraste com a beleza de Korla, seus olhos são grandes e amendoados, sem vestígios de íris ou pupila, seu nariz achatado, orelhas pontiagudas e curvadas para trás, e testa curta exalam uma ameaça selvagem. Seus lábios carnudos se curvam em um sorriso amarelado.
Não há cabelo para enfeitar sua cabeça, nem sobrancelha ou cílios, apenas a suavidade pura de sua pele que se estende até o alto crânio.
Seu primeiro soco é um vulto mirando minha cabeça, mas com um mergulho desesperado esquivo por pouco, sentindo o vento de seu punho passar raspando. Rapidamente me reequilibro e desfiro um chute lateral que é bloqueado por seus antebraços maciços.
O bloqueio de Toihid é eficiente, seus músculos se contraem absorvendo o impacto do meu chute. Uma onda de dor irrompe pelo meu pé, uma consequência aguda da resistência monstruosa da albina.
Toihid como um monstro desencadeado lança-se sobre mim, seus socos são brutos. Desvio e bloqueio como posso, mas a cada contato meus ossos tremem com o impacto. Toihid ri, uma risada de sadismo, como se estivesse se deliciando com minha luta desesperada e zombando da minha resistência.
De repente, um soco de Toihid encontra seu alvo. A força do golpe é monstruosa, atingindo meu estômago com a intensidade de um meteoro. O impacto é tão violento que o ar é expulso dos meus pulmões com um som abafado, deixando-me ofegante e dobrada em agonia, sentindo o gosto de sangue invadir minha boca.
Aproveitando-se do meu momento de fraqueza Toihid agarra meu cabelo e me levanta como se eu fosse um troféu. Sinto cada fio de cabelo puxando meu couro cabeludo. Seus olhos fixos nos meus, um olhar de vitória predatória.
Com um esforço gigantesco luto contra a agonia que domina meu corpo, reunindo cada fagulha de força que me resta e desferindo um soco em direção ao rosto de Toihid. O som do impacto é um estalo úmido, a sensação do osso encontrando carne e cartilagem. Sangue espirra, um vermelho vivo, marcando sua pele alva com a evidência da minha resistência.
Surpreendida pela minha investida, Toihid me solta e tropeça para trás, seus olhos se arregalando em raiva. Vejo o sangue escorrendo pelo seu rosto, salientando sua expressão de ódio visceral.
Mas a pausa é efêmera, ela se recupera rapidamente e com um grito ensurdecedor de ódio avança novamente, sua fúria amplificada pela ferida que lhe causei. Seu punho carregado com uma força selvagem acerta meu crânio com brutalidade e um clarão de dor explode em minha cabeça, uma sensação de fragmentação que me arrasta para a inconsciência por breve momento, e quando percebo já estou no chão.
A areia embaçando minha visão já turva pelo sangue e suor. Uma dor latente em meu crânio ferido. Luto para manter a consciência, para não me perder na escuridão que se fecha ao meu redor.
Caída no chão, encaro a ameaçadora figura de Toihid erguendo-se sobre mim, uma sombra colossal que prenuncia a morte. Ela levanta seu punho, preparando-se para desferir o golpe fatal. No entanto, em um êxtase de adrenalina, reúno as últimas reservas de minha força e chuto seu abdômen, fazendo-a se contorce de dor, seu corpo maciço se afastando do meu.
Sem perder um segundo, rolo para longe e atiro uma rajada de shurikens em Korla, que tenta se aproximar, mas com habilidade surpreendente ela gira seu bastão e num movimento ágil retira duas shurikens cravadas nele e as lança de volta contra mim.
Salto, formando um arco desajeitado no ar, enquanto desvio dos projéteis letais, tentando recuperar as armas no voo, entretanto, antes que pudesse atingir o chão, Toihid aparece repentinamente, suas mãos enormes agarrando meu pescoço, suspendendo-me no ar.
— Achou mesmo que poderia fugir de mim? — Questiona Toihid, apertando meu pescoço. Sua força é avassaladora, seus dedos apertando como uma corda ao redor da minha garganta.
Engasgo, lutando por cada lufada de ar enquanto me debato em suas garras e vejo seus olhos sem cor me olharem com desdém, como se eu fosse uma criatura inferior que deveria ser abatida.
— Não esqueça as ordens de Máterum, Toihid — Korla intervém, sua voz cautelosa. — Ela não deve morrer. — Sua mão pressiona o ferimento na coxa, o sangue formando uma mancha escura em seu traje.
Sinto a pressão em meu pescoço diminuir ligeiramente. Com um lampejo de esperança, contorço meu corpo em um esforço desesperado, meus pés batendo contra o tronco robusto de Toihid, mas é como chutar uma montanha. Ela ri da minha tentativa inútil, um som que faz meu sangue ferver.
— Não se preocupe, Korla. Só a machucarei um pouco — Toihid responde, sua voz em um tom de prazer perverso. Com um movimento brusco, ela me lança ao chão. O choque é brutal, como se cada osso do meu corpo gritasse em uníssono, e a areia se ergue ao meu redor enquanto luto para recuperar o fôlego.
Ao chão, cada respiração é uma luta, enquanto a dor lateja em meu pescoço marcado. Nesse meio tempo, posiciono duas shurikens entre meus dedos, prontas para serem lançadas.
Minha mente corre freneticamente em busca de um plano, — Como posso atacar um monstro com reflexos tão rápidos? — mas sou interrompida quando Toihid avança, seu punho como um projétil em minha direção.
Intercepto seu golpe no último segundo, minha mão chocando-se contra seu punho. Com agilidade, apoio meu pé em sua coxa, sentindo o músculo tenso sob minha sola e com um impulso desfiro um chute em seu abdômen.
Toihid é empurrada para trás pela força do meu chute, mas se recuperando rapidamente. Sua expressão, antes confiante, agora com uma fúria crescente.
Korla, observando a cena, exclama: — Sua resistência é admirável, — sua voz é calma, mas carrega um tom de aviso sombrio. — mas fútil, Lésnar! Não será pare a para nós duas! Renda-se, antes que se machuque mais — aproximando-se enquanto rodopia o bastão.
— Nunca! — Respondo.
Korla avança com uma agilidade felina, ela gira o bastão com maestria, o ar vibra com o zunido do bastão. Meus reflexos são testados ao extremo, esquivando-me de cada golpe por um triz, mas ela não deixa brechas para recuar e, a dor e a exaustão começam a tomar conta, cada movimento meu se torna mais lento, mais arriscado.
Um golpe do bastão atinge meu antebraço, um som de madeira contra carne soa, inchando a parte atingida.
Korla, com seu semblante sereno, murmura. — Tão determinada, Lésnar, mas completamente superada — rodopiando o bastão. Cada movimento dela é um aviso claro: não há escapatória.
Eu me forço a continuar, a resistir, apesar do medo e da dor que me consomem. — Não posso desistir — penso, tentando manter a guarda alta. A luta é desesperada, uma batalha não apenas contra Korla, mas também contra meu próprio corpo, que grita por descanso.
Korla, percebendo minha exaustão, aumenta a intensidade de seus ataques. Cada golpe seu é mais rápido, mais feroz, um turbilhão de violência que não mostra sinais de desacelerar.
Eu recuo, cada passo trás um esforço doloroso. Meus pulmões queimam, meu coração bate descontroladamente. — Não posso cair agora — eu me forço a pensar, apesar da escuridão que começa a se fechar ao redor da minha visão, o mundo se tornando um borrão de dor e desespero.
Toihid, furiosa, se junta à batalha. Ela dispara contra mim, mas outra vez intercepto seu punho, segurando-a com uma força inexplicável. Com uma explosão de força, meu pé se lança contra o peito da albina. Os músculos de Toihid absorvem a força, mas desta vez o impulso é forte o suficiente para jogá-la para trás, seu corpo colossal batendo no chão e levantando a poeira ao seu redor.
Presenciando a queda da sua companheira, Korla arremessa três shurikens, que estavam no chão, contra mim. Com um giro ágil desvio das shurikens sem problemas, mas forçada a me afastar de Toihid para isso.
Consumida pela ira a Albina se ergue, seus dentes amarelados rangindo em um eco de raiva. — Não se meta, Korla! — Ela exclama mantendo os olhos furiosos em mim. — Você vai morrer! — Ameaça correndo em minha direção.
Esquivo do agarram com um salto mortal para trás. — Estou usando toda minha força, mas nem sequer arranhei essa besta — penso, esquivando de mais um agarram de Toihid direcionado as minhas pernas. — Arf! Se ela me agarrar, será meu fim — reconheço, meus músculos gritando de dor a cada movimento, meu corpo respondendo com uma série de esquivas acrobáticas, desviando de outro agarram.
A adrenalina se torna minha aliada, cada célula vibrando em alerta máximo. Toihid ataca novamente, seus braços como guilhotinas buscando me quebrar ao meio, mas com movimentos ágeis esquivo de seus abraços mortais, cada um mais perigoso que o anterior.
A areia sob meus pés, antes firme, agora parece se mover contra mim, um desafio adicional à minha já exausta resistência.
Toihid com um rugido de frustração avança novamente, seu punho mirando minha cabeça, mas no último segundo me lanço para o lado, evitando por pouco o impacto que teria sido o fim, tremendo a terra com o impacto e formando uma cratera onde eu estava.
— Não posso deixar que ela me acerte, não vou aguentar mais nenhum golpe — a consciência da minha situação me enchendo de um terror frio. Minha respiração é ofegante, cada desvio um tributo à minha exaustão, mas a adrenalina me mantém de pé.
Desfiro um soco mirando o rosto de Toihidi, mas ela se esquiva com uma destreza perturbadora. Em um contra-ataque feroz, ela dispara um chute poderoso em minha dorsal, contudo me viro e bloqueio o golpe com meus antebraços, e a defesa é dolorosa, sentindo os ossos dos meus antebraços inchados vibrarem dolorosamente, uma sensação de quebra iminente invadindo cada nervo.
Empurrada para trás pelo golpe, sinto minha resistência desmoronar. Meus braços vacilam e minha defesa se desfaz. Toihid, reconhecendo sua vantagem, avança para o golpe final, sua silhueta uma sombra ameaçadora que se aproxima rapidamente.
Impulsionada por mais adrenalina, atiro uma rajada de shurikens em sua direção. Os projéteis são rápidos, mas Toihid com um rugido chama por sua companheira.
Korla, ágil e atenta, lança o bastão para Toihid que o agarra no ar e o gira habilmente, criando uma barreira intransponível que desvia cada um dos meus projéteis.
As shurikens caem no chão, inúteis, enquanto Toihid, imparável avança com o bastão girando. Desvio desesperadamente, e, por um instante fatal, minha consciência se apaga, o mundo escurecendo ao redor.
Contudo, no último momento, antes da escuridão total, minha mente clareia e percebo que estou caindo. Rolo na areia, um movimento instintivo de sobrevivência, evitando por pouco o golpe mortal do bastão de Toihid. Durante minha queda, meus olhos capturam um vislumbre de algo ao longe que poderia ser minha salvação, um fio de esperança em meio ao caos da batalha.
Minha mente corre freneticamente, tecendo um plano enquanto me esquivo e bloqueio os golpes incansáveis de Toihid. Cada ataque trazendo o risco de ser o último.
— Só preciso ganhar tempo, manter a luta por mais alguns minutos — murmuro para mim mesma, um mantra de esperança.
Diferente de mim, Toihid não mostra sinais de cansaço. Seus olhos frios e desprovidos de cor fixos em mim, calculando cada um dos meus passos. Sua força é esmagadora, seus golpes, um assalto constante contra meus sentidos.
Korla, um pouco afastada, observa a luta com seu olhar calmo. Sua postura é a de alguém que sabe que a vitória é certa. Seus olhos seguem cada movimento meu, antecipando o fim.
Dentro de mim a agonia supera qualquer outro sentimento — Não vou aguentar mais — penso, meus músculos doem, meus ossos gritam em desespero, mas ou continuo, ou é o fim. Cada esquiva é apenas um adiamento contra o destino que parece inevitável.
— Se eu apenas puder manter isso por mais alguns minutos — repito em minha mente, minha visão já borrada, apenas vendo o vulto branco que me ataca em contraste com o amarelado dourado da areia sob o Sol. — Preciso de uma brecha, um momento, qualquer coisa. — A esperança, tênue e frágil, persistindo em meio à dor e exaustão. E é essa esperança que me mantém em pé, lutando contra as sombras da derrota.
Embora cada músculo do meu corpo implore por descanso, um poder oculto me mantém de pé, resistindo à exaustão. Levanto os olhos para Korla, minha adversária sentada sobre uma imensa pedra de areia. Ela me observa atentamente, e apesar da nossa inimizade, há uma centelha de admiração em seu olhar, como se ela reconhecesse e valorizasse a tenacidade que demonstro.
A luz do sol se reflete sobre o sangue seco que mancha sua coxas. Mas Korla parece indiferente à dor e ao desconforto da ferida. Seu rosto mantém-se sereno e imperturbável. Sua expressão é uma máscara de concentração e calma, os traços impecáveis de uma deusa.
Seus olhos não se desviam, fixos em mim com intensidade. Posso sentir o peso de seu olhar, avaliando cada um dos meus movimentos, me lembrando a todo momento que, ainda que eu vença Toihid, ela está pronta para me enfrentar.
Mas, apesar disso, por um breve instante, Korla deixa escapar um olhar de compaixão para mim. Seus olhos não compactuando com a agressividade de Toihid. Ela inclina a cabeça ligeiramente, seus cabelos dançando ao vento, e suas palavras chegam até mim como um julgamento sombrio: — Desista, Lésnar. Toihid é mais veloz, mais forte. Você está apenas adiando o inevitável. — Suas palavras, embora cruéis, carregam uma verdade que sinto em cada músculo dolorido do meu corpo.
— Você é uma excelente guerreira, mas já está na hora de parar — seu tom é implacável, mas não sem uma pitada de respeito relutante. Ela reconhece minha bravura, mesmo enquanto destaca a futilidade de minha luta. Sua expressão é impassível, mas seus olhos traem uma ponta de admiração por minha persistência.
Eu, por outro lado, me encontro em um estado de exaustão extrema, meus músculos tremem sob o peso da dor e do cansaço. O suor mistura-se com a poeira e o sangue em minha pele, formando rastros sujos que marcam meu esforço. Minha respiração é ofegante, cada inspiração é uma luta. Apesar da verdade nas palavras de Korla, uma centelha rebelde de desafio ainda arde em meu peito. Meu olhar, embora nublado pela dor, ainda não me permite desistir.
Toihid, ainda imponente e ameaçadora, não se comove com a cena e persiste em seus ataques. Cada passo dela faz a areia vibrar sob meus pés, enquanto tento em vão manter distância, meus músculos exaustos mal respondendo aos meus comandos desesperados.
Eu recuo, mas ela é implacável. — Só preciso de mais tempo — penso, mas Toihid, como se lesse meus pensamentos, se adianta com uma velocidade estonteante, seu punho se chocando contra meu peito com tamanha força que faz meu corpo sair do chão.
Enquanto voo pelo ar, o céu se torna uma aquarela de dor: tons de vermelho e azul se mesclam em minha visão turva. O choque com o solo é um martírio: cada osso do meu corpo protesta contra o abuso. Sinto o sabor do sangue inundando minha boca enquanto a areia, misturada ao líquido vermelho e espesso, se aloja nos cantos de meus lábios rachados.
— Foi mais forte que pensei... — consigo pensar, antes que os dedos de Toihid enlacem meu pescoço.
Ela aperta com uma força desmedida, cada vez mais sufocante, esmagando minha traqueia. Minha visão se enche de manchas escuras, minha respiração se torna um sopro débil e agoniado.
Toihid olha para mim, seus olhos desprovidos de compaixão. Ela saboreia cada momento do meu sofrimento, um sorriso macabro se desenha em seus lábios enquanto aperta ainda mais. Sinto os ossos do meu pescoço rangendo sob a pressão e a agonia se intensificando até se tornar a única realidade que conheço.
Nesse momento de desesperança, sinto a consciência escapando, a escuridão se aproximando como um véu frio e impiedoso. Meus últimos pensamentos é uma súplica silenciosa por um resgate que sei que não virá. Enquanto a escuridão me envolve, a última coisa que vejo são os olhos frios e vazios de Toihid, a personificação do fim que veio me buscar.
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