Era Primordial - Parte II
ATO V
Durante um período extenso, as salas de Máterum ecoaram com as vozes de intensos diálogos entre ele e os deuses. Em meio a conversas, Máterum se maravilhava com a emergência de novos deuses, mas uma inquietação crescente permeava seu ser. Ele percebeu que essa nova realidade, repleta de seres poderosos, trazia consigo potenciais perigos.
Com um peso em seu coração, Máterum, após longas horas de deliberação, tomou uma decisão que marcaria sua existência e a de seus filhos. A proibição.
Ele se levantou, sua postura refletindo a seriedade de seu próximo pronunciamento. — Os deuses não devem mais utilizar seus poderes em virtude da criação! — Sua voz ressoava com autoridade e uma sombra de tristeza. Máterum, em sua sabedoria, acreditava que essa proibição era necessária para a segurança de todos, uma barreira contra as consequências imprevistas da criação desenfreada.
No início, a maioria dos deuses acatou a ordem sem objeções. Suas expressões revelavam uma mistura de compreensão e hesitação, pois reconheciam a gravidade das palavras de Máterum.
Contudo, um deus, distinto dos demais, escolheu um caminho diferente. Com um silêncio obstinado, ele recuou, afastando-se do grupo. Sua postura era tensa, um retrato de desacordo. Ele permaneceu em silêncio, mas seu semblante falava volumes, banhado de um descontentamento crescente e um desafio velado à decisão do Primordial.
Máterum observou essa dissidência com um olhar empático. Ele sabia que a proibição não seria aceita facilmente por todos, mas mantinha a firme convicção de que era o melhor caminho para prevenir um futuro incerto e potencialmente perigoso.
No seio daquela tapeçaria divina de predestinação, uma variedade de reações se desenrolava. Entre os deuses, alguns refletiam uma aceitação silenciosa de seu papel na ordem imposta, uma harmonia melancólica entre sua vontade e a vontade do Universo.
Em nítido contraste, o deus rebelde destacava-se em meio à resignação coletiva. O deus, com coração e mente em constante conflito, lutava internamente contra as amarras de seu destino. Seu semblante divino era um mosaico de desafio, descontentamento e uma ânsia ardente por autonomia. A tensão em sua testa, o franzir de suas sobrancelhas, e o brilho tempestuoso em seus olhos revelavam uma luta interna contínua, uma batalha entre o dever e o desejo de liberdade.
Os movimentos do deus eram marcados por uma impulsividade controlada, cada gesto refletindo sua rebelião interior. O ar ao seu redor vibrava com sua presença insatisfeita, uma energia que desafiava as expectativas e as normas estabelecidas pelo Universo.
Máterum observava seu filho e em seus olhos havia uma preocupação paternal. Os outros deuses, por sua vez, lançavam olhares cautelosos em direção ao irmão, percebendo nele um espírito indomável que poderia, de alguma forma, moldar o futuro de todos eles.
Esse deus, era o deus da alma, Theos, o primeiro filho renegado.
ATO VI
Ao longo dos anos, Theos, apesar de sua natureza rebelde, contida pelo amor e respeito que nutria por Máterum, manteve-se em uma discreta discordância, um silêncio protestante. Porém, assim como nós humanos, os pensamentos dos deuses também são sujeitos a transformações. Theos, com o passar do tempo, sentiu uma mudança crescente em seu íntimo. Uma inquietude que não mais podia ser contida.
Chegou um momento em que ele não conseguiu mais reprimir seu desejo ardente de criar, de expressar seus poderes. Não queria mais ser limitado, cerceado por regras que nunca havia aceitado. Com uma determinação feroz, Theos decidiu confrontar Máterum, impulsionado por um desejo de mudança, de liberdade.
A discussão que se seguiu foi tumultuada e repleta de emoções intensas. Theos, com sua voz elevada e gestos enfáticos, expressava sua paixão e sua frustração. Ele argumentava com fervor, buscando persuadir Máterum a reconsiderar a proibição.
Máterum, por outro lado, encarava Theos com uma expressão que oscilava entre a incredulidade e a ira. Era a primeira vez que Theos via tal intensidade de raiva no rosto de seu pai. As palavras de Máterum eram cortantes, sua postura rígida, um sinal claro de sua firme oposição às súplicas de Theos.
Theos, embora movido por uma vontade genuína de criar e expressar-se, sentiu-se profundamente desiludido com a reação de Máterum. Ele buscava compreensão, mas encontrava apenas rejeição. Ele sonhava em ser como seu pai, um criador! Mas o Universo não entendera. Sempre soubera tudo, porém dessa vez, não entendeu.
A angústia e a indignação enchiam alma de Theos, pesando em seu coração como a densidade de um buraco negro supermassivo. Apesar de seu amor e admiração pelo Universo, era incapaz de seguir um caminho que lhe parecia tão opressivo.
Escondido do Primordial, Theos, movido por um impulso incontido, tentou secretamente libertar seus poderes. Contudo, antes que pudesse concluir seu ato de desobediência, Máterum o impediu.
O Primordial, ao flagrar Theos no limiar da rebelião, sentiu uma onda de exasperação misturada com traição. Sua paciência, já desgastada, atingiu seu limite. Em um ímpeto de desapontamento, ele tomou sua segunda medida drástica. Com uma voz tonitruante e um olhar de indignação, Máterum sentenciou Theos, seu amável filho sonhador, ao exílio em Salacrum, uma prisão mágica reservada até então para os monstros.
Os deuses originais, Tanri, Ózis e Zilevo, testemunhando o infortúnio de seu irmão, sentiram o desespero. Com urgência, eles se reuniram diante de Máterum, suas vozes entrelaçadas em um coro de súplicas. — Por favor, libertai Theos! — eles imploraram, suas expressões marcadas por uma angústia profunda e um apelo sincero.
Contudo, longe de acalmar a fúria de Máterum, seus pedidos apenas inflamaram ainda mais sua ira. As palavras de Máterum ressoaram como um golpe, ameaçando aprisionar junto a Theos os que desafiassem sua autoridade. Os deuses recuaram, abalados pela fúria inesperada de seu pai. Eles estavam perplexos, incapazes de compreender a aversão súbita de Máterum pela criação, algo que ele próprio havia abraçado com tanto amor no passado.
Máterum, agora um enigma para seus próprios filhos, parecia consumido por um ódio inexplicável pela liberdade criativa. Seus olhos, antes repletos de sabedoria e compreensão, agora ardiam com uma luz sombria, refletindo um conflito interno profundo e um medo daquilo que a criação descontrolada poderia desencadear.
O criador, agora, parecia detestar o próprio ato de criar. O medo da perda o fazendo afastar.
ATO VII
A verdadeira mudança ocorreu quando Zilevo, movido por um sentimento de irmandade, decidiu agir. Ele se embrenhou furtivamente nas sombras de Salacrum. Lá, ele testemunhou a situação deplorável de Theos. Deixando-o imerso em uma batalha interna entre a submissão e a revolta.
Zilevo observava, seu coração apertado pela compaixão e pela dor de ver seu irmão em tal estado. Ele sabia que confrontar Máterum diretamente seria um desafio colossal, mas também sentia que não poderia permanecer indiferente à injustiça do aprisionamento de Theos.
Com um suspiro pesado, Zilevo retornou aos seus irmãos. Reunindo-os, ele compartilhou sua angústia e suas descobertas, descrevendo a condição torturante de Theos.
Ao ouvir Zilevo, os irmãos foram tomados por uma odisseia de sentimentos. Eles já não concordavam mais entre si. Alguns clamavam pela libertação de Theos. Outros, no entanto, hesitavam, divididos entre a lealdade a Máterum e o desejo de ajudar seu irmão. Eles se debatiam com o dilema, temendo as consequências de desafiar a autoridade do Universo. Suas expressões refletiam a agonia da escolha, e o conflito entre a lealdade e a justiça.
No fim, após intensas deliberações e debates, a maioria dos deuses, para desgraça e melancolia do Pai, optou por uma decisão dolorosa. Eles escolheram a traição, não por desrespeito ou ódio a Máterum, mas movidos por uma necessidade profunda de agir contra o que consideravam uma injustiça. Seus olhares trocados eram sombrios, cientes da gravidade de sua escolha, mas firmes em sua decisão.
Essa decisão marcou um ponto de virada trágico, uma escolha que traria desgraça e infelicidade ao coração do Universo, um reflexo do amor fraturado entre um pai e seus filhos.
Ózis, Tanri, Zilevo, juntamente com Urum, Críngu, Lésnar, Réslar e Gálidus, os deuses que optaram pela deslealdade, se moveram pelas sombras em direção a Salacrum. Seus passos eram silenciosos, mas íntegros de um propósito firme: libertar Theos de Salacrum.
No entanto, ao chegarem a Salacrum, eles se depararam com uma realidade inesperada. Máterum, ciente da traição, havia preparado uma armadilha astuta. Os deuses se viram repentinamente envoltos em uma emboscada, suas expressões transformando-se rapidamente de determinação para surpresa e desespero.
Máterum, com uma fúria fria e um desapontamento profundo, condenou esses filhos ao aprisionamento eterno em Salacrum. Ele os encarava, seus olhos refletindo a dor de um pai traído.
Zulfiqar e os outros deuses restantes, Dynes, Tempórious, Ézus e Muntera, haviam escolhido permanecer leais a Máterum durante a rebelião. Eles observavam a cena com expressões complexas, o alívio por terem mantido sua lealdade, mas com a tristeza crescente pela traição para com seus irmãos.
Apesar da lealdade inicial, a tensão continuou a crescer e, dois anos depois, Zulfiqar e Tempórious conspiraram para libertar os deuses aprisionados. Máterum, descobrindo a conspiração, reagiu com uma decepção ainda maior. Sua decisão de aprisionar Zulfiqar e Tempórious refletia um coração cada vez mais endurecido pela desconfiança e pela traição.
A atmosfera entre os deuses tornou-se carregada de melancolia e um sentimento de perda irreparável. O que antes era um panteão unido, agora estava fragmentado por escolhas difíceis e lealdades divididas. Máterum, olhando para seus filhos restantes, não via mais resquícios dos deuses originais a sua volta. Ele lutava internamente com a realidade de que suas ações haviam alterado irreversivelmente o curso de sua família divina.
Máterum, agora envolto em um manto de isolamento e desilusão, caminhava pelos corredores de sua morada divina com seu olhar semelhante ao que possuía antes do nascimento de seus primeiros filhos. Ele parava ocasionalmente, seu olhar perdido no vazio como quando no Grande Vazio, refletindo sobre as escolhas que havia feito, as relações que haviam sido quebradas.
O ambiente ao seu redor era permeado por um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som de seus passos. A solidão que ele outrora procurou preencher com a criação de seus filhos agora retornava, mais opressiva do que nunca. As paredes que antes ressoavam com a alegria e o dinamismo de seus filhos agora repercutiam com o eco de suas próprias dúvidas e arrependimentos.
Máterum, em momentos de reflexão solitária, ponderava sobre o paradoxo de seu destino. Ele, que havia moldado um mundo inteiro e dado vida a seres divinos, agora se via confrontado com a dura realidade de que sua criação havia se voltado contra ele. As escolhas que fez, embora movidas pelo desejo de proteção, tinham custado a ele o amor de seus próprios filhos.
Nas raras ocasiões em que ele se permitia expressar suas emoções, sentimentos físicos da tristeza de um criador primordial caíam silenciosamente, desaparecendo antes de encostarem o chão. Eram sentimentos de um pai que lamentava a distância de seus filhos, de um governante que se perguntava se o preço da ordem e do controle havia sido alto demais.
Os poucos deuses que permaneceram ao seu lado observavam Máterum com um respeito silencioso, mas suas expressões revelavam um desalento gradativo. Eles sentiam a dor de seu pai e líder, mas também compartilhavam da dor de seus irmãos aprisionados.
ATO VIII
Conforme as décadas se desenrolavam, uma nova geração de deuses surgia, trazendo com eles uma dinâmica diferente ao panteão. Jonglam, Yestek, Forlêck, Shapes, Trogy, Korla, Mélus, Gaidoras, Vâgis, Kinkara, Báron, Cesaretti e muitos outros emergiram, cada um com suas peculiaridades e poderes únicos.
Ézus, um dos deuses encontrados por Máterum no nevoeiro de Hungu, desempenhou um papel fundamental entre os deuses. Com uma habilidade notável para a persuasão, ele conduziu uma campanha sutil, sem a ordem de Máterum, para moldar as opiniões dos novos deuses. Seu discurso era sedutor, e ele habilmente cultivava um sentimento de desconfiança e aversão aos deuses aprisionados, rotulados agora como “deuses renegados”. Suas palavras eram convincentes, criando uma rede de ódio e medo em relação a eles, alterando as percepções e as lealdades dentro do panteão.
Os deuses moviam-se com uma energia diferente dos originais, seus gestos e interações refletindo as influências de Ézus. Havia uma tensão subjacente em seus encontros, um reflexo da divisão criada pelas histórias e pelos preconceitos instilados. Eles olhavam para o passado com um misto de curiosidade e desdém, desconectados dos eventos que haviam moldado a realidade atual.
O Universo observava o surgimento e o crescimento desses novos deuses com um olhar distante. Apesar de sua imensa sabedoria e poder, ele se sentia impotente para preencher o vazio que se aprofundava em seu coração. A ausência de seus filhos originais, aqueles que ele havia criado com tanto amor e esperança, deixou uma lacuna que nenhum dos novos deuses, os quais nunca desejou criar, poderia preencher.
Os deuses renegados, distantes fisicamente, mas sempre presentes na mente de Máterum, continuavam a ser um símbolo de suas decisões passadas e das consequências que ainda reverberavam. A figura de Ézus, com sua capacidade de influenciar e moldar opiniões, representava um desafio contínuo para Máterum, que via a complexidade de seu panteão se desdobrar de maneiras inesperadas e, muitas vezes, dolorosas.
Seu caminhar pelos domínios divinos era lento e contemplativo, seus olhos frequentemente se perdendo em memórias distantes. A solidão que ele outrora buscara preencher com a criação de seus filhos agora parecia mais profunda, mais pungente.
ATO IX
Conforme os meses se transformavam em anos e os anos em décadas, o inevitável aconteceu: os deuses renegados, confinados nas profundezas de Salacrum, encontraram sua oportunidade de fuga. Refugiando-se em Zaranler, onde respiraram pela primeira vez o ar da liberdade há muito negada. Apesar de estarem livres, a sombra da prisão ainda se estendia sobre eles, uma lembrança constante das provações que haviam enfrentado.
Enquanto isso, Máterum, distante em seu domínio divino, permanecia um enigma. Havia ele percebido a fuga de seus filhos? E, se sim, por que escolhera não intervir? Sua figura imponente se destacava contra o pano de fundo do cosmos, seus olhos contemplativos perdidos no vazio. Seus pensamentos, um labirinto de emoções e ponderações, permaneciam inacessíveis.
A fuga dos deuses de Salacrum representava uma mudança significativa no equilíbrio do poder divino. Alguns deuses em Primárium e outros lugares se agitaram com a incerteza, preocupados com as implicações dessa fuga para o futuro de Marum.
Após a fuga, Theos, seus irmãos e os demais deuses renegados, que outrora nutriam grande amor por Máterum, agora se viam consumidos por sentimentos de cólera e desprezo. A injustiça de seu aprisionamento havia transformado a admiração em rancor.
Durante o tempo em que estiveram confinados em Salacrum, eles haviam forjado um plano audacioso, uma estratégia para desafiar a autoridade de Máterum e acabar com o que consideravam ser sua tirania.
— Vamos fazer exatamente aquilo que ele nos proibiu — declarou Theos. — Vamos criar, dar vida a novos deuses. — Sua proposição era um desafio direto às leis impostas por Máterum, um ato de desafio supremo.
Entretanto, ao tentarem dar vida a sua rebelião, os deuses renegados logo descobriram as limitações de seu poder de criação. Embora fossem seres de grande força e capacidade, nenhum possuía a magnitude do poder criativo de Máterum. Suas tentativas iniciais de criação eram marcadas por frustração. Eles se reuniam, concentrando suas energias, suas mãos entrelaçadas em círculos de poder, seus rostos marcados pela concentração intensa. Mas, a cada tentativa frustrada, a realidade de sua limitação se tornava mais evidente.
Os deuses renegados se entreolhavam, seus semblantes refletindo decepção. — Não podemos desistir — insistia Zulfiqar, sua esperança indomável se recusando a ceder. — Há uma maneira, tem que haver. — Seu otimismo, mesmo diante das adversidades, servia como um norte de esperança para os demais.
Essa jornada dos deuses renegados, em busca de igualar o poder de criação de Máterum, se tornou uma saga de persistência. Cada fracasso os impelia a buscar novas abordagens, novas formas de combinar suas forças. Eles não buscavam mais apenas desafiar o Universo, mas também afirmar sua própria identidade e poder como deuses.
Marum, o lar do Universo. Plano terreno e físico, onde a vida se desenrola em sua diversidade infinita. Marum é um mosaico de realidades, lar de incontáveis espécies, culturas e histórias. Este plano é caracterizado pela mudança constante e pela interação dinâmica entre seus habitantes, onde o fluxo da vida segue em um ciclo eterno de nascimento, crescimento e morte. No contexto da obra ‘Universo’ é o nome ancestral conferido ao Primordial. Representa não o espaço físico, mas a personificação espiritual e metafísica da entidade. Portanto, Marum, é o termo que substitua a palavra usual ‘Universo’.
Poder de criação, habilidade cósmica intrínseca a Máterum e aos deuses, permitindo-lhes moldar a realidade a sua vontade. Esta capacidade é categorizada em duas vertentes distintas:
· Poder criacional, esta faceta do Poder de Criação outorga aos deuses, ou Primordial, a habilidade singular de dar vida e forma a novas entidades ou objetos. Com este poder, um deus pode tecer a essência do universo para criar seres vivos, artefatos mágicos, ou até mesmo novos mundos, limitados apenas pela sua imaginação e magnitude de seu poder.
· Poder extincional, este aspecto, por outro lado, representa a aplicação do Poder de Criação em um contexto beligerante. Permite que os deuses utilizem suas capacidades criativas de maneira ofensiva ou defensiva, moldando suas criações para fins de combate ou proteção. Esta forma de poder pode ser manifestada de diversas maneiras, como a conjuração de sua essência, a criação de barreiras protetoras ou até mesmo a manipulação dos elementos naturais para atacar adversários.
O nível de Poder de Criação que um deus possui é um indicativo de sua posição e força dentro da hierarquia divina. Quanto mais poderoso o deus, mais formidável é sua capacidade de criar e moldar. No entanto, é raro encontrar uma divindade que domine ambas as vertentes do Poder de Criação em igual medida. Alguns podem possuir um Poder Extincional devastador enquanto seu Poder Criacional é apenas moderado, e vice-versa. Esta disparidade entre os dois aspectos do poder contribui para a dinâmica única de cada deidade dentro do panteão e influencia diretamente suas interações e conflitos.
ATO X
Durante meses a fio, os deuses renegados persistiram em suas tentativas de criar, cada esforço terminando em fracasso, mas alimentando ainda mais sua determinação.
Foi então que uma memória surgiu, iluminando o caminho com uma faísca de inspiração. Eles se lembraram do primeiro presente que haviam dado a Máterum e das alterações que ele fizera. Essa lembrança trouxe um novo ânimo ao grupo. — Vamos usar isso como nossa fundação — propôs Zilevo, com um faixo de inspiração em seus olhos direcionados ao vultuoso Sol.
Novamente, os deuses renegados unificaram seus poderes, mas desta vez com um foco. Eles se concentraram intensamente, suas energias entrelaçando-se em uma única criação. Lentamente, começaram a moldar uma nova forma de vida, uma que iria cobrir o planeta de Zaranler com um manto verde.
À medida que as árvores, flores, frutas e vegetais começaram a brotar pelo planeta, uma sensação de êxtase percorreu o grupo. Seus rostos se iluminaram com sorrisos de realização, e exclamações de alegria preenchiam o ar. A vida verde emergia como um testemunho de sua união e habilidade, cobrindo o solo árido de Zaranler com uma explosão de vida.
Cada nova folha, cada flor que desabrochava era uma celebração de sua criatividade. Os deuses renegados, olhando para o esplendor da vida verde que haviam criado, sentiram um orgulho imenso. Eles haviam conseguido, contra todas as probabilidades, dar um passo significativo em direção a afirmar sua própria identidade e poder criativo.
A criação da vida verde em Zaranler era, sem dúvida, um espetáculo de tirar o fôlego, e seus criadores observavam com maravilhamento. As florestas exuberantes e os campos floridos eram uma visão de puro encantamento, mas os deuses renegados sabiam que seu objetivo final ainda estava além de seu alcance. Eles ansiavam pelo nascimento de um novo deus, um ser gerado a partir da própria essência da vida verde.
Nos anos que se seguiram, os deuses esperaram pacientemente, seus olhos percorrendo as vastidões de Zaranler, procurando sinais de uma nova divindade. A cada ano que passava sem o surgimento de um novo deus, a dúvida começava a se instalar. Tanri, com uma expressão pensativa, expressou a preocupação crescente do grupo. — Talvez, nossas criações não gerem deuses, como as de Máterum — ele ponderou, sua voz tingida de desapontamento. Os outros deuses compartilhavam olhares incertos, o desânimo começando a pesar em seus corações.
Todavia, exatamente no primeiro dia do sétimo ano após a criação da vida verde, quando a esperança parecia ter se esvaído, um milagre ocorreu. Das profundezas das florestas de Zaranler, surgiu Bucu, o primeiro deus criado pelos próprios deuses.
Os deuses renegados, ao testemunharem o surgimento de Bucu, sentiram uma onda de alívio inundar seus seres. Eles se aproximaram com admiração, observando a figura divina que haviam gerado. Seus olhos brilhavam em felicidade, e exclamações de maravilha e gratidão ecoavam pelo ar. A presença de Bucu era a prova viva de que, apesar de todas as adversidades, eles haviam conseguido alcançar a essência da criação.
ATO XI
Enquanto os deuses renegados vivenciavam sua ascensão e descobertas em Zaranler, Máterum, em seu domínio, enfrentava seus próprios conflitos internos.
Em sua busca por seus filhos, Máterum revelava uma expressão complexa, onde a esperança de reencontrá-los se entrelaçava com a incerteza de suas verdadeiras intenções. Por vezes, ele parava e olhava para o horizonte, seus olhos primordiais penetrando as vastidões do espaço em busca de qualquer sinal de seus filhos rebeldes. Havia momentos em que sua figura parecia vacilar, como se a dúvida sobre a sinceridade de sua busca o assombrasse.
Em outros momentos, Máterum parecia perder-se em reflexões, questionando se sua procura era genuína ou se era apenas uma forma de se iludir, de acreditar em um retorno que, no fundo, sabia ser improvável. Seu olhar se tornava distante, perdido em pensamentos de um possível reencontro, de um lar reunificado, interrompidos apenas pela realidade da situação presente.
Essa ambivalência era visível em suas expressões e gestos. Havia uma tristeza subjacente em sua busca, um reconhecimento implícito de que os laços que outrora os uniram estavam agora profundamente estremecidos. Máterum, o Primordial, o Universo, o criador divino, agora se via confrontado com a possibilidade de que seus filhos talvez nunca mais retornassem ao lar que ele havia criado para eles.
ATO XII
O nascimento de Bucu representou um ponto de inflexão crucial na saga divina. Para Máterum, a notícia do surgimento desse novo deus, fruto da rebelião de seus filhos, foi um golpe brutal em suas últimas esperanças de reconciliação. A revelação despedaçou suas ilusões, substituindo-as por uma fúria avassaladora.
Máterum, sentindo a energia pulsante do nascimento de Bucu, foi consumido por uma raiva intensa, uma emoção tão forte que ofuscava qualquer vestígio de razão. Em um estado de ira cega, ele recorreu a seus poderes telepáticos, sua voz ressoando na mente de cada um dos deuses renegados. — Todos os deuses devem retornar imediatamente a Primárium e sentenciar Bucu em minha presença. Só assim, obterão meu perdão! — Sua mensagem era um ultimato, a ordem de um pai furioso, desafiando a autonomia de seus filhos.
Os deuses renegados, ao receberem a mensagem de Máterum, sentiram um choque de indignação. Suas expressões se endureceram, e um sentimento de desafio cresceu entre eles. Longe de acatar a exigência de Máterum, eles escolheram o caminho da resistência. — Não! — Declararam em uníssono, uma voz coletiva de rebelião. — Declaramos guerra contra o Universo e todos os deuses que permanecerem ao seu lado. — A declaração era firme, marcada por uma revolta feroz de lutarem pela liberdade e pela proteção de Bucu.
Máterum, ao perceber a rejeição total de seus filhos, sentiu a dor. Seus olhos, que antes demonstravam uma tristeza profunda, agora obrigados a assumir a seriedade de um líder prestes a entrar em uma guerra que ele nunca desejou, mas que se via obrigado a travar.
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