Ele surgira de um facho de luz.

Sua mente formara um turbilhão maravilhoso e de repente Ele viu-se imaginando algo perfeito. Algo que até então nunca existira e jamais existiria igual.

Um brilho maravilhoso cobriu o universo, um brilho que alcançou dimensões inconcebíveis formando um turbilhão. Mas era um turbilhão suave, lindo, maravilhoso de se ver.
Ali não havia fúria nem violência. Somente o amor que regia o universo, o amor que fazia parte Dele mesmo.

Quando a luz tornou-se intensamente brilhante de maneira que somente o criador podia olhar, ele surgiu.

Suas asas eram lindas! Cobriam seu corpo formando um manto do mais puro branco que existia. Sua pele era alva, parecia ser feita de porcelana.

De repente Ele viu que aquilo era a total perfeição. O máximo que Ele conseguia chegar. Era a essência do que era perfeito.

Ele seria o modelo, o aferidor da medida.

Era tão belo vê-lo! Era como olhar-se no espelho; era como Ele via a sua própria face todos os dias refletida na água cristalina e pura do lago. Aquele era um ser perfeito e agora ele existia.

Ele olhou para o Criador ainda atordoado, esperando receber o amor, o amor que ele sentia pulsar como um coração recém arrancado do peito. Ele sentira desde o início, e mesmo depois, quando ficaria impossível alcançar aquilo novamente, ele ainda continuaria sentindo.

- Quem sou eu?- Perguntou ele, e sua voz parecia uma linda canção.

- Você é Lúfifer. - Respondeu o criador.

- Por quê?

- Porque você saiu da luz.

O criador sorriu e se aproximou.

Seus braços se abriram e ele se jogou naquele abraço. Ele sentiu o beijo em sua face. Ele sentiu o amor.

- Você é o primeiro de outros que virão.

- Haverá outros como eu?

O criador o olhou nos olhos. Era lindo olhar dentro daqueles olhos, ver todos os misterios e universos que se encontravam ali dentro. Havia um desejo incontrolável de entrar neles, de viver todos aqueles mistérios insondáveis e maravilhosos.

- Não. - Respondeu o pai. - Nunca haverá outro como você. Você é único. Você será o aferidor das medidas, o modelo de tudo o que é perfeito.

E novamente veio aquele abraço, o prazer da comunhão e do amor que emanava entre a criatura e o criador.

Tudo o que existia, tudo o que importava, estava ali, e nada mais havia.

O criador lhe deu vestes brancas adornadas com ouro e pedras preciosas.

Ele caminhou pelo palácio de ouro puro e pedras preciosas e viu o trono.

Seus olhos se encheram com o explendor da visão, uma cena que ele levaria para o resto de sua eternidade, uma visão que mais tarde se tornaria uma tortura. Mas agora lhe causava prazer, e um sentimento de amor e paz.

O criador lhe mostrou sua casa e o levou até a câmara onde ficava o pífaro. Um pífaro todo de ouro, algo que produzia um brilho intenso que atraia seus olhos.

Seus olhos se encheram de luz ao contemplar o pífaro e ele olhou para o criador cheio de vontade.

O criador meneou a cabeça e ele se aproximou tocando o pífaro com as mãos, sentindo a leveza de sua textura, sentindo que sua alma se unia àquele pífaro assim como estava unida ao criador.

Ele olhou novamente para o criador que o contemplava de perto e pegou o pífaro.

- Faça uma canção. - Disse o criador.

Seus dedos começaram a percorrer as casas e novamente a luz encheu o lugar.