Lunox
Sinto várias flechas atravessando o meu peito de uma só vez, algo parecia sugar minha alma para fora do corpo minha visão estava turva e sentia a morte a espreita, olho para todos os lados e não vejo ninguém além de Lyan estirado ao chão, seus olhos estavam sem vida e seu corpo estava dilacerado, o sangue já era marrom e o cheiro era de podridão. Sinto um nó na garganta, meu coração estava batendo freneticamente e minhas mãos estavam cobertas de sangue, meu corpo tremia e minha cabeça estava prestes a explodir, agonia.. Esta simples palavra pesava fortemente no meu peito, nem mesmo ser chicoteada doeu tanto quanto o que estava sentindo naquele instante. Tento tirar a flecha que estava cravada no meu peito e sinto a ponta da flecha rasgando minha carne, grito de dor.. e acordo.
Me levanto bruscamente e coloco a mão no peito, não havia nada. Olho para os lados e vejo Lyan e Tray dormindo, solto o ar que estava prendendo e percebo que era apenas um pesadelo. Seco o suor na minha testa e sinto o quão alta estava minha temperatura, procuro minha mochila e pego o medicamento que deixei preparado, o líquido desce queimando em minha garganta e quase engasgo com o mesmo. Sinto dificuldades em respirar e estou prestes a me levantar quando reparo em movimentos bruscos vindos de Lyan. Estava bem escuro já que restava apenas um feixe de luz da lua, não conseguia ver quase nada além de suas pernas batendo no chão e o som da sua mão arranhando o metal do cabo de sua arma. Me aproximo devagar e levo minha mão em sua testa e antes que eu chegasse nela, a mão de Lyan agarra meu punho e imobiliza meu braço o girando para trás.
"Quem és?"
"Sou eu." Ele não solta meu pulso, então completo "Ely"
Sinto sua mão relaxando, seus dedos acariciam o local que antes estava apertando.
"Foi mal raio de sol." Sua voz estava trêmula.
"Pesadelo?" Me sento ao seu lado e minha pele roçava na sua de tão próximas.
"Algo assim."
"Posso verificar sua temperatura?" Ele não responde, estendo minha mão da mesma forma. Quente.
"Beba um pouco" entrego a ele o frasco ao qual eu estava bebendo alguns instantes antes.
Lyan se senta ao meu lado e ficamos ainda mais perto, o calor emanava de nós dois. Lembro-me de Luara dizendo que as nossas escuridões seriam difíceis, imaginava que tudo isto tinha algo a ver com ela.
"O menino tem um sono pesado, disse que ficaria de guarda e olhe ele agora" Tray estava dormindo no canto oposto.
"Imaginei que algo assim poderia acontecer. Não tem problema, desta vez estamos bem escondidos e minha audição não é ruim."
"Modesta você." Lyan diz e fica um instante em silêncio " Você também está quente"
Não respondo. Eu fazia ideia do que poderia estar acontecendo, mas não queria entrar no nosso tópico da alvorada anterior. Lyan não estava aberto para ouvir sobre o que acontecera e eu não estava interessada em voltar a discussão. Ele parece entender meu silêncio, assim como minha hesitação. Era estranho o quanto nos entediados até mesmo no silêncio.
"Sely e Arti estão bem?" Mudo o tópico do diálogo.
"Quer saber se gritar para nobreza de Xhilis sobre a realeza de Edyn estar passeando sobre seu território causou algum problema?"
"Eu não gritei" digo timidamente me sentindo culpada. Não conseguia ver Lyan direito, mas eu tinha certeza que ele estava olhando para mim.
"Deveria mesmo se sentir envergonhada, afinal por causa disso minha irmã está em custódia enquanto Arthimus vai até o castelo buscar com a Coroa o pedido de resgate sem causar uma guerra entre os reinos"
"O quê??" Digo espantada. "Não deviam fazer isso a uma marquesa!! Aumentei seu título justamente para isso!"
"Ahh então foi por isto, esta parte ainda não tinha entendido" seu tom muda por uns instantes e neste momento consigo me tranquilizar, Lyan retorna para seu tom melancólico " pois sinta-se culpada ! Sely está na cadeia por sua causa"
"Como podes brincar com uma coisa tão séria ?" Digo cética e ouço o riso abafado de Lyan.
"Foi mal, não resisti, prometo ser mais convincente da próxima."
"Está se desculpando por ser descoberto na sua brincadeira?" Eu não podia acreditar naquele homem.
"Claro! Tenho que manter meu título, não é justo te decepcionar assim."
Dou um soco leve em seu braço e sinto que ele sorria, apesar de não conseguir ver.
" Estão bem, não era nada que eu não pudesse lidar."
"Modesto você "
"Obrigado."
" Onde estão?"
"No vale das lembranças" Reviro os olhos, Lyan estava brincando novamente. Fico satisfeita pela escuridão não poder revelar a ele o quanto ele conseguia me provocar, por mais que Kaydes dissesse que eu era imune a ele, se tornou uma inverdade.
O vale das lembranças era outra lenda famosa que circulavam os reinos. O local não existia de fato, pelo menos eu acreditava que não.
Ouço ele rindo novamente me tirando de meu transe "Eles estão voltando para a vila de Nyla." Fico estranhamente aliviada ao ouvir que estavam seguros. "O que faremos com garoto?"
"Como assim?"
"É mais fácil se estivermos apenas nós dois, agora que seus ferimentos.." ele interrompe sua fala percebendo em qual assunto poderíamos entrar " enfim, conseguimos no proteger, mas ainda é arriscado para ele."
Eu não havia dito nada sobre meus ferimentos a Lyan, era perceptível o quão bem eu estava. Entendia seu ponto, só não sabia se concordava, afinal .. eu não sabia pelo que passaríamos nas escuridões e também não sabia o que era melhor para Tray ou para Lyan já que o maior problema deles não era Kazin e sim eu mesma, não queria pensar nisso agora, prometi a mim mesma que os deixaria em segurança primeiro.
"Eu não vou embora" Tray interrompe o assunto e sinto Lyan se mexendo de susto ao meu lado.
"Caramba garoto, cadê sua educação? Ouvindo conversa dos outros assim.."
"Minha educação ficou bem do lado da sua!" Diz Tray claramente irritado. "Olha Tiha e Hiv. Convencido não vou ficar pra trás de novo e não vou atrapalhar vocês! Sei me virar sozinho mas, vou levar a Tiha de volta e eu tô cagando pra o que vocês dois problemáticos disserem"
"Eu? Problemático? Desde quando? Você é o garoto sem noção que foi atrás de uma gangue de assassinos e ela a garota que se entregou pra própria morte, e EU sou problemático?"
"Mercenários" o corrijo
"Detalhes" Lyan dá de ombros
"Como disse, estou cagando pra vocês" ele faz uma pausa " mas.. não esquentem comigo, sei que não sou forte, não vou atrapalhar, se algo der errado eu fujo."
Eu sabia que não era verdade, sabia que Tray faria qualquer coisa para nos ajudar.
"Ahh garoto, estava mesmo esperando você dizer que nos salvaria heroicamente mesmo que tivesse que sacrificar sua vida, eu estava aguardando ansiosamente por esse discurso emocionante."
"Cara, você é uma canalha sabia?"
"Ouço isso bastante do Kaydes, você me lembra muito ele."
"Cala boca." Tray diz irritado.
Apesar do caos, rio. Os dois se calam.
"Ela está rindo??" Tray pergunta abismado.
"Sim, ela faz isso as vezes, dá para acreditar?" A voz de Lyan beirava a um tom desconhecido, carinho talvez? Claro que não, era fruto da minha imaginação.
"Não" responde Tray.
Acabei me apegando aqueles dois.
"Não vou te deixar pra trás Tray. Iremos juntos até a vila de Nyla."
"Sério?" Tray diz animado "Você promete?"
"Sim."
Eu ainda estava muito próxima de Lyan e por isso o sinto ficar tenso, não sabia se era por causa que teríamos que proteger Tray ou porque ainda sentia dor.
"Não deveria enganar o garoto assim." Ele sussurra apenas para que eu ouvisse. Ele havia entendido o sentido de minhas palavras, levaria Tray de volta, nada além disso. Seguiria caminho sozinha depois de levá-lo a Nyla.
---***---
"Falta muito para chegarmos ao rio?" Questiona Tray.
"Sim" Eu não tinha forças para responder nada além disso, estava me concentrando em permanecer em cima do cavalo. Estávamos cavalgando a 3 alvoradas e já podia ver o sol se escondendo no horizonte. Meu corpo estava pesado e dolorido, minhas pernas mal respondiam ao meu comando assim como meus braços. Todas as escuridões sonhava com Lyan sendo dilacerado de formas diferentes isso sem dizer que algumas vezes Tray também aparecia morto, os sonhos eram vividos assim como a dor. O mais estranho eram as vezes em que parecia que minha alma era sugada, assim como minha vida era drenada aos poucos e isto também doía.
Cavalgar era exaustivo, dormir era medonho já que eu sabia que quando fechasse os olhos aquele sonho estaria lá de novo, mas o real problema estava no meu corpo, apesar de serem apenas sonhos eu podia sentir a dor durante toda alvorada e ela se intensificava conforme a escuridão chegava. Suspiro, tento canalizar o resquício de força que eu tinha no meu tronco.
Olho para frente e vejo Tray cavalgando tranquilamente, o garoto não percebia nossa condição. Lyan escondia muito bem eu sabia que ele também estava passando por algo similar. Olho para o lado e o vejo cavalgando como se nada estivesse acontecendo, entretanto eu podia ver a gota de suor escorrendo no canto da testa, as olheiras debaixo de seus olhos e se reparasse muito, Lyan apertava as rédeas do cavalo com mais força, ele não demonstrava fraqueza e eu não conseguia deixar de pensar o quão incrível seria Lyan como Rei. Eu só imaginava o que estava acontecendo porque Luara havia dito que teríamos problemas, Lyan também sabia que eu estava com dor, todavia ele não perguntava, evitava qualquer conversa sobre aquela escuridão.
Olho para frente e vejo o sol se esconder ainda mais, a dor se intensifica um pouco, aquilo era realmente incomodo. Olho para Lyan novamente, nada.. não consigo ver nada além do que já tinha visto. Ele se vira para mim.
"Desculpa, cheguei no limite" antes que eu pudesse dizer qualquer coisa Lyan começa despencar do cavalo, por pouco não consigo o segurar.
"Tray!" Grito pedindo ajuda.
Tray vira alarmado e já puxa a rédea de seu cavalo.
"Caralho, não temos um raio de paz nesta droga?" Reclama Tray enquanto me ajuda a segurar Lyan.
"Vamos desce-lo"
Procuro um local para passamos a escuridão e levamos Lyan até lá, coloco minha mão sobre sua testa e me assusto, como ele estava suportando? Então Lyan começa a tremer convulsivamente, meu coração acelera, droga.. como iria lida com aquilo sem água gelada?
"TRAY, ME DÊ A ÁGUA" pego praticamente toda a água que tínhamos e começo a jogar na sua roupa molhando toda extensão do seu corpo, pego outro pano e molho e depois o jogo em seu rosto. Me viro para Tray de novo. "Pegue o cavalo e olhe nas redondezas, precisamos de água, um riacho, um lago ou que seja um poça, por favor tente achar algo assim"
Tray sai correndo e monta em seu cavalo. Eu pego minha mochila e despejo todo conteúdo no chão, precisava de algo a mais. Aquela erva não serviria, o que poderia servir? O que? Desespero.. droga.. eu não podia perder o controle. Respiro fundo, fecho os olhos e solto o ar. Olho de novo para cada um dos meus pertences, febre, dor, relaxantes.. e paro ali. Relaxantes, uma vez estava sonhando exaustivamente com a alvorada em que minha mãe morreu e estava com dificuldades de dormir, tomei aquilo e dormi sem sonhos naquela escuridão. Como não me lembrei disto?
Peguei Tandein que era um pó branco que comprei quando estava em Tenma e Fyre, a erva lilás de antes e as misturei. Corri de volta para Lyan, seu semblante estava terrível podia ter ideia da dor que ele estava sentindo. Seu corpo tremia e sua pele era como fogo. Levantei levemente sua cabeça e o fiz tomar o líquido viscoso. Torci para que aquilo funcionasse. Peguei a água e molhei os panos novamente, que já estavam quente.
Tray parecia demorar uma eternidade para retornar e a temperatura de Lyan parecia não abaixar, recolho meus joelhos e sentada jogo minha cabeça entre as pernas fazendo preces para Tray encontrar algo... Olho para o lado e vejo o semblante de Lyan suavizar um pouco.
Meu corpo também estava quente, mas não tanto quanto o dele. Sentia que a dor e indisposição era a pior parte da minha situação só que eu não podia tomar aquele remédio, o relaxante me faria dormir e sentia que a erva Fyre não fazia mais efeito em mim, eu teria que simplesmente lidar com aquilo.
O sol já estava escondido no horizonte, o céu estava alaranjado. Só restava metade do último cantil de água e eu temia pelo que estava por vir naquela escuridão.
"ENCONTREI" avisto Tray. "Vamos, coloque ele no cavalo."
Repetimos nosso ato das alvoradas anteriores e colocamos Lyan em cima do cavalo. Cavalgamos o mais rápido que conseguimos.
Alguns raios depois visualizo uma pequena queda d'água escondida em meio a floresta. A queda tinha quase a minha altura e formava um pequeno poço que cobria até minha canela, o feixe da queda estava pequeno devido a época de seca mas, era perfeito. Colocamos Lyan deitado no chão e começo a tirar suas roupas e sapatos, o deixo apenas com a roupa debaixo, logo depois começo a tirar a minha.
"O que está fazendo?" Questiona Tray.
"Alguém precisa segura-lo"
"Eu posso fazer isso" Tray começa a retirar suas botas.
"Pode dei.."
"Tiha eu cuido disso" começou a tirar a calça.
"Pininho" falo devagar para chamar sua atenção, ele me olha "Eu também preciso entrar, minha temperatura está alta."
Tray me olha confuso e temoroso.
"Algo aconteceu naquela escuridão, não sei explicar o quê mas eu e Lyan estamos sofrendo a consequência disso."
A confusão em seus olhos não se dissipou no entanto parou de tirar suas roupas.
Fiquei apenas com as roupas debaixo e com ajuda de Tray me posicionei com Lyan dentro do poço de forma que sustentava sua cabeça fora da água. Estava extremamente frio.
" O que aconteceu?" Tray estava agachado em terra firme, o céu já estava escuro o suficiente para não vê-lo direito.
"Lyan foi acertado no peito com uma flecha, não sei como, estava escuro e não víamos arqueiros foi tudo muito rápido." Me lembrei de meu desespero e instintivamente repousei minha mão no peito de Lyan para ter certeza de que estava respirando " ele estava prestes a morrer quando algo ou alguém o salvou."
"Quem?"
"Acho que foi a lua" digo receosa, não estava confortável de falar sobre aquilo depois da reação que Lyan tivera. Tray fica mudo não conseguia saber o que ele pensava. O céu já havia se tornado completamente escuro a lua não estava presente naquela escuridão, não conseguia ver o semblante de Tray.
"Vou acender uma fogueira, pra mim não dá pra conversar sobre algo tão louco como isso sem ver sua cara de coruja."
Havíamos juntado nossas coisas antes de vir, afinal estava escurecendo e não conseguiríamos retornar para o local anterior e sempre tínhamos materiais para a fogueira em nossos pertences.
Deixo Tray lidar com aquilo e olho para baixo, não consegui vê-lo mas sentia sua temperatura estável e quente. Minha mão esquerda repousava em seu peito coberto de água e a outra passava por seus fios de cabelo levemente molhados. Quando conheci Lyan seu cabelo era curto e dos lados era praticamente raspado e agora as laterais estavam grandes o suficiente para que eu conseguisse emergir meus dedos. Era macio. Fico alguns raios fazendo isso, Tray parecia ter um pouco de dificuldade para acender a fogueira, não me importava nem um pouco com a demora.
Depois de alguns raios a luz da fogueira espanta a escuridão e a primeira coisa que vejo é os olhos de Lyan fixados em mim. Ele estava acordado.
"Então Tiha, continue" a voz de Tray me acorda, olho para o garoto e ele ainda estava concentrado em estabilizar a fogueira quando volto meu olhar para a pessoa a minha frente percebo que uma de minhas mãos ainda estava alojada em seu peito e a outra em seu cabelo, as recolho rapidamente um pouco envergonhada.
"Está se sentindo melhor?" Questiono. Tento fingir que nada tinha acontecido, era estranho. Já havia beijado Lyan, na verdade muito mais do que simplesmente beijar mas aquilo que eu acabara de fazer parecia ainda mais íntimo do que nosso beijo. Sinto meu rosto queimando, devia ser a febre.
"O fracote acordou?" Tray pergunta agora se virando pra nós.
Lyan ainda olhava fixamente para mim.
"Acordou surdo!?" Tray insisti.
"Seu senso de percepção é péssimo garoto" Lyan bufa e se levanta do meu colo. "Sim, estou melhor."
"Por quê?" Contesta o pininho.
Levo as costas das minhas mãos até a bochecha tentando medir minha própria temperatura, me sentia mais quente do que antes. Vejo Lyan observando cada movimento meu com o canto dos olhos, era difícil saber o que pensava.
"Deixa pra lá. Que buraco nos enfiamos agora?"
"A gente não tá longe da trilha." Responde Tray.
"Entendi." Ele olha em minha direção de novo "E você? Como se sente?" Aceno com a cabeça positivamente.
"Você sabia que ela estava se sentindo mal?"
"Como eu disse, você é péssimo para perceber as coisas."
"Talvez"
Lyan suspira e passa os dedos pelos cabelos os jogando para trás.
"Está frio pra cacete aqui."
"Você não era de Edyn? Um marquês ou algo do tipo?"
"Algo assim." Responde dando de ombros.
"Ely tem mais comportamento do seu reino do que você."
"Também acho. Enfim, ainda preciso ficar aqui?" Ele direciona a pergunta para mim.
Mudo de posição colocando meus joelhos no chão e me inclino levemente em sua direção, as costas de minha mão encostam primeiro em sua testa e depois no seu pescoço. Lyan engole seco, faço o mesmo e recuo.
"Sua temperatura está bem mais baixa, pode sair."
Sem pensar duas vezes Lyan desvia seu olhar e se levanta abruptamente resmungando algo que não consigo entender.
Eu deveria fazer o mesmo mas ainda me sentia quente, vou esperar mais um pouco.
Tenho certeza que se não fosse por Tray o silêncio teria se instalado.
"Então, sobre a lua.." Tray tenta voltar sobre o assunto.
Olho na direção de Lyan, ele estava de costas para mim vestindo suas roupas.
Faço um gesto para Tray sinalizando para conversarmos sobre isto depois. Ele parece entender e encerra o assunto.
Lyan acaba de vestir suas roupas e se senta do lado da fogueira
"Pode falar, também quero ouvir." Era a primeira vez desde aquela alvorada que ele tocava naquele assunto "acabei de prejudicar todo mundo só pelo fato de não querer perguntar sobre aquela escuridão, foi imaturidade minha."
Não pergunto duas vezes por que sabia que tínhamos que conversar sobre isso. Vou contando aos dois todos os detalhes do que havia acontecido, enquanto saía da água e vestia minhas roupas.
"Mas .. que..?" Tray estava sem palavras quando terminei de contar e ficava intercalando o seu olhar entre mim e o céu
Lyan estava sério e não falou absolutamente nada enquanto eu relatava o ocorrido.
"Por fim, tem esses sonhos.. parecem ter algo a ver com a sua NÃO morte." Omiti partes da história e a principal delas é que provavelmente eu havia encurtado meu tempo de vida e a outra parte seria sobre o meus olhos.
"O que você sonha?" Pergunta Lyan.
"Você sendo morto de várias formas diferentes, flechas me acertando, já sonhei com a morte de Tray poucas vezes." Resumo o máximo possível, eu nunca morria em meus sonhos eu apenas sentia uma dor insuportável, uma dor que parecia rasgar os meus ciclos de mim. Os sonhos que tinha com Tray eram diferentes, menos ferozes." E você?" Percebo Lyan cerrando fortemente os punhos.
"Nada muito diferente, sempre sonho com minha morte e com uma garota de cabelos brancos muito parecida com a que você descreveu." Eu não estava sendo totalmente sincera sobre meus sonhos, nem Lyan. "Enfim, então tudo isso se trata de uma troca? Minha vida pela essência de uma suposta garota chamada Luara e tormentos noturnos envolvendo doenças e terror psicológico? Não me parece o preço justo a se pagar pela vida de alguém."
"Sim, ela disse algo similar, apenas sua essência não seria suficiente e que teríamos alvoradas difíceis pela frente mas que a balança iria se equilibrar e tudo voltaria ao normal."
"Então todo esse tormento é o preço que pagamos por eu estar vivo?"
"Foi o que ela disse." Respondo. Ele não estava convencido, só que desta vez não era por causa da Lua. Lyan sabia que eu não estava contando tudo "Tem mais uma coisa." Lembro-me de algo que não tinha citado e desvio o assunto "Quem é Lunox?"
"Onde ouviu esse nome?" Lyan parecia surpreso.
"Luara disse algo sobre protegidos de Lunox estarem sempre lhe causado problema, parecia se referir a você como um deles."
"Hum.." ele parecia pensativo "estranho ouvir alguém além de minha mãe falar sobre Lunox." Ele solta um suspiro e coloca o cotovelo em seus joelhos e cruza as mãos "Não conheço muito bem sobre essa história, sei apenas palavras soltas que minha mãe as vezes me contava. Edyn não tem crenças em deuses só que talvez Lunox seja uma exceção a está afirmação. Existe um grupo seleto de pessoas que acreditam em uma guardiã divina, alguém que zela por Edyn e por seus escolhidos, dizem que esta guardiã viveu nos ciclos onde a Lua era viva, antes dela dar sua vida para salvar o garoto. Lunox era alguém dotada em conhecimento e magia, seus poderes eram algo além da imaginação de qualquer um, dizem que ela foi a responsável por ajudar a Lua a salvar o garoto da lenda e foi assim que surgiu os protegidos de Lunox. Minha mãe sempre me disse que está cicatriz " ele abaixa a gola de sua blusa mostrando uma queimadura que parecia um chama " era o símbolo de Lunox em mim."
"Que porra é essa que vocês estão dizendo? Tudo parece loucura demais!! Estão me dizendo que as lendas são reais? Tipo... Todas?" Tray estava tão confuso quanto nós.
"Não sei garoto, perguntou para pessoa errada. Ninguém desacredita mais nessa baboseira do que eu."
"Cara, você morreu, reviveu, sonhou com a garota que te reviveu e ainda por cima acabou de falar sobre uma divindade louca que te protege e te botou um selo no peito. Você é O UNICO aqui que não pode desacreditar nessa "baboseira"" Tray gesticula fazendo aspas na baboseira e Lyan apenas o olha entediado.
"Como eu disse, a quantidade de pessoas que acreditavam ou acreditam em Lunox é insignificante. Não é crença da população de Edyn, nem mesmo meu pai acreditava nisso."
"Convenhamos que ainda sim é estranho ela falar sobre isso sem nem mesmo te conhecer, ou ver a sua marca." Entro na conversa.
Lyan não contesta meu argumento.
"Eu arrumei uma dupla de problemáticos" murmura Tray.
"Ela disse quando a tal balança iria equilibrar?" Pergunta Lyan ignorando o comentário de Tray.
"Não.. e não disse como iremos lidar com isso."
"Ótimo" ele suspira "Devo me preocupar com algo além da dor e da febre?"
"Seu estado está pior que o meu Lyan, as consequências parecem pesar mais sobre você" coloco para fora o que estava teorizando em minha mente " meu estado é suportável assim como minha febre. Não posso dizer o mesmo do seu, se Tray não tivesse achado essa fonte seus órgãos corriam risco, nenhum corpo aguenta uma temperatura tão alta, você podia ter morrido."
"Meio irônico não?" Vejo um sorriso de desdém em seu rosto. " Acho que a Lua gosta de brincar com a vida das pessoas, me salva para depois brincar com meus ciclos." Vejo seu punho cerrando de novo, ele estava tentando conter sua raiva, que aquele ponto já parecia incontrolável. Ele levanta e bate as mãos na calça como se limpando um sujeira. "Então preciso de água para caso entre em convulsão e de você pra me dar alguma coisa estranha para beber?"
"Como sabe que te dei algo?" Ele deu de ombros.
"Só imaginei, você sempre me dá algo pra beber quando estou com febre." Franzi a testa com sua resposta.
"Funcionou, certo?"
"O quê?" Ele questiona.
"Quando você desmaiou, estava tendo os pesadelo, te dei um pouco de Tandein e você parecia ter ficado mais tranquilo."
"Pera.." Lyan me olha atordoado " você me dopou com uma droga??"
"Droga?" Tray repete.
"Você conhece Tandein? Estranho.. não é algo muito conhecido." Pergunto calmamente.
"Você está realmente dizendo que me drogou ???"
"Talvez" dou de ombros.
"Não venha com esse dar de ombros pra mim!" Ele parecia um pouco nervoso, acho graça. "Não ouse rir." Sinto ainda mais vontade de rir. "Você só pode estar brincando." Lyan joga as mãos para cima e acabou caindo na gargalhada, sim .. gargalhada. Ele me olha atônico e se vira para Tray "o que está acontecendo?"
"Não faço ideia"
Me acalmo aos poucos e olho para Lyan completamente perdido em minha frente, sinto vontade de continuar rindo mas me contenho. "Tandein é o nome da erva que originou a droga, ela não é viciante nem nociva quando preparada da forma correta. A droga que matou as pessoas no período da peste é totalmente diferente desta que lhe dei, elas apenas possuem nomes iguais pois a droga foi batizada com nome da raiz que é feita para diluir o composto nocivo da droga. Tandein é raiz de uma planta cultivada em Nouri com efeitos de tranquilizantes neurais. O composto nocivo da droga se chama Kyri, ele é artificial, foi produzido por um mestre da medicina que se desvirtuou durante a peste."
Lyan piscava freneticamente seus olhos enquanto me olhava "Você acabou de zoar com minha cara?" Ele se vira para Tray " Ela acabou de fazer uma piada mórbida com a minha saúde?" A droga ela viciante e letal, então o desespero de Lyan era compreensível.
"Em nenhum momento eu lhe disse que havia lhe dado droga"
Vejo ele repassando o nosso diálogo em sua mente
"Ela não disse Hiv. Convencido" Tray já estava se rolando se tanto rir e eu não conseguia esconder o riso em meu rosto.
"Eu criei um monstro." Lyan havia se jogado ao chão, inconformado com o acontecimento.
Me peguei observando aqueles dois, Tray rindo despreocupadamente e Lyan o xingando de forma brincalhona. Era isso o que chamavam de paz..? Porque se fosse, era ainda melhor do que eu imaginava.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro