Incógnitas
"Então tiha como faço?" Questiona Tray enquanto tentava me persuadir. Estávamos a poucos raios da escuridão e ele persistiu por toda a alvorada de que eu deveria lhe treinar, me seguiu por todos os lados. Por fim me sentei em uma pedra e ele pegou meu arco no canto dizendo que se eu não iria lhe ensinar, ele haveria de aprender sozinho, mas já havia esquecido a parte de aprender sozinho e estava agora a me questionar constantemente o que deveria fazer. "Tiha?"
"Já lhe disse, não vou ensinar."
"Ahhh.. Você podia pelo menos dizer o por quê?"
"Não estou com vontade."
"Não é uma justificativa satisfatória."
"Agora resolveste falar bonito?"
"Eu aprendo rápido, mais um motivo para você me ensinar a usar o arco." Ergo o olhar para encará-lo de longe.
"Então me responda: Por que queres aprender?" Tray me encara de volta e fica pensativo pela primeira vez. Por fim ele finalmente parece ter se decidido.
"Não sei. Quando te vi usá-lo achei legal e divertido, mas agora está um pouco além disto. Acho que passei a admirar a forma como você o usa" Ele diz envergonhado. Avaliei sua resposta e pensei que ele mentiria dizendo que era para caçar ou para se proteger, confesso que não esperava sua sinceridade. Me levantei e fui até ele.
"Primeira coisa que tens de aprender é observar ao seu redor. O arco é uma extensão do seu corpo e de seus olhos. Sua postura está errada, tú deves ficar de lado para seu alvo." Arrumo seu corpo para a posição correta "Deves colocar a flecha na corda em cima do rest. Com sua mão esquerda segure o arco." Vou dizendo enquanto ele segue todos meus ensinamentos sem pestanejar. "Com a direita puxe a corda. Coloque a flecha entre seu dedo indicador e o anelar, mas deve segurar a corda com os três dedos." O ajudo a posicionar os dedos. "Agora tens de respirar fundo e controlar sua respiração, qualquer alteração pode lhe fazer errar. Isto mesmo, agora levante o arco o mantendo na direção do alvo, puxe a corda e leve sua mão até a sua boca e quando se sentir pronto, solte." Tray demora alguns raios, sua respiração estava inconstante. Quando ele solta a flecha não passa nem perto de seu alvo. "Agora repita isto até se acostumar, para pegar outra flecha abaixe o arco e faça tudo novamente. Leve meu arco e minhas flechas quando acabar, vou indo."
Espero ele armar o arco outra vez e quando vejo que o faz apropriadamente vou em direção a taberna, Tray não desvia sua atenção. Entro na taberna e me deparo com Amber.
"Ely sente-se, Clint acabara de fazer alguns biscoitos vou buscar para ti." Diz ela e sem delongas partiu cozinha a dentro. Me sento no banco perto do balcão, estava mesmo com vontade de comer algo. Amber volta alguns raios depois. "Aqui está." Ela coloca uma bandeja com biscoitos ao meu lado e um copo de leite.
"Agradeço."
"Onde está Tray? Trouxe um copo para ele também."
"Tray ficou do lado de fora." Respondo.
"Incomum. Tray te segue por todos os lados." Amber me dá as costas e começa a abastecer o recipiente de bebida. "Como está o biscoito?"
"Ótimo como sempre." Levo mais um a boca.
"Clint disse que ficou ruim, como ele é exigente consigo mesmo, me dá nos nervos." Mordo mais um pedaço tentando descobrir a diferença entre este biscoitos e o outros que Clint já fizera. Falho, não havia diferença alguma para mim.
"Não encontro diferença alguma, para mim está ótimo como sempre."
"Foi exatamente isto que eu disse." Amber se volta para mim jogando os braços para cima "..Mas ai ele me disse que não sei de nada e que meu paladar é igual a de um cavalo que come tudo que encontra pela frente. Acho que isto quer dizer que seu paladar também não é lá essas coisas."
"Acredito que sim." Digo sem me importar.
"Então brigamos e ele foi embora dizendo que eu devia jogar os biscoitos fora, tú acredita?" Não respondo, tendo certeza que a pergunta era retórica, ela continua a falar confirmando assim meu raciocínio. ".. Ele deixou duas bandejas sobre a mesa e saiu pisando firme. Não vou jogar os biscoitos fora. Coloquei tudo para assar, Clint me matará quando souber."
"Bom, já que meu paladar é igual ao de um cavalo se lhe disser que eu comi é quase como dizer que jogou fora." Amber me encara estranhando meu comentário mas logo depois começa a rir.
"Acredito que faz sentido, então também poderei comer e talvez encontre mais alguns voluntários."
"Acredito que Tray se encaixará nestes requisitos" Digo.
"Sim, talvez Lyan e seu amigo também. Vou chamá-los" Amber sai quase que correndo escada a cima. Poucos raios depois ela volta.
"Disseram que vão descer." Diz ela animada, chego a conclusão que Amber gosta de muitas pessoas ao seu redor, seu trabalho realmente lhe cai bem. "Vou pegar o restante dos biscoitos e uma jarra de leite."
Amber entra na cozinha e eu volto minha atenção ao copo de leite que está quase no fim. Ouço vozes atrás de mim e vejo outros hóspedes que desconheço descendo as escadas e logo atrás vejo o homem que conheci na floresta e o jogador de Clarins.
"Nos encontramos de novo Ely." Diz o hivess que se me lembro bem se chama Kaydes. Ele se senta ao meu lado e seu amigo ao lado dele. "Amber nos chamou e disse paladar de cavalo, não entendi muito bem." Ele sorri para mim.
"Coisas de Clint e Amber. Não há com o que se preocupar." Digo levando o copo a boca e tomando o último gole de leite.
"Claro! Preocupação com uma garota bonita me chamando para comer seria a primeira coisa que me viria a mente." E o sarcasmo estava de volta. Ele era realmente difícil de entender. Vejo Amber voltando ao salão da taberna.
"Ah.. vocês chegaram, aqui está." Ela coloca os biscoitos na frente dos dois e enche meu copo com mais leite sem que eu requisitasse. "Aceitam leite?"
"Por favor." Reponde os dois. Amber coloca o copo na frente de ambos e os enche.
"Agradeço." Responde Kaydes. Ele morde um pedaço. "O biscoito está ótimo."
"Ahhh, mais um com paladar de cavalo. Falta você." Amber olha para o outro hivess, que lhe lança um sorriso charmoso antes de morder o biscoito.
"Está ótimo, como tudo feito pelo cozinheiro." Responde e toma um gole de leite.
"Esfregarei isto na cara de Clint. Fiquem a vontade, podem comer tudo."
"Algo a ver com meu paladar de cavalo, suponho." Diz o hivess de cabelos negros. Lyan foi como Kaydes o chamara ao nascer do sol.
"Acertou!" Amber puxa uma cadeira e se senta do outro lado do balcão. "Separei os de Tray." Amber diz direcionando o olhar para mim, dou de ombros. Logo atrás ouço o som de novos passos descendo as escadas, quando olho me deparo com o hivess que se apresentara como Arti na escuridão passada.
"Saudações a vós." Ele vai até a cadeira do lado de Lyan e se senta.
"Saudações." Respondo e Amber repete logo em seguida.
"Aceita leite?" Oferece Amber.
"Por favor." Amber o serve e também coloca o biscoito a sua frente o encarando, aguardando sua reação. Quando ele percebe pega o biscoito e o leva a boca.
"O que achaste?"
"Está bom, mas o gosto do ovo está a se destacar um pouco." Amber o encara abrindo um pouco a boca, atônica. Alguns raios depois ela se recompõe e toma a vasilha que se encontrava na frente de Arti.
"Não possuíste paladar de cavalo. Sendo assim não podes comer, espero que se contente com seu leite." Amber diz com a cara emburrada. Enquanto isto Kaydes e Lyan se curvavam de tanto rir, até mesmo eu seguro um sorriso perante a cena.
"Não acredito que até seu paladar é pomposo Arti, sério você devia mesmo trabalhar este lado fresco seu." Fala Lyan entre risos.
"Qual seria o problema? Lhe ofendi missa?" Arti pergunta seriamente e os dois hivess riem ainda mais.
"Se desejares um pão buscarei para ti." Amber leva a bandeja ainda mais para o meu lado.
"Não há necessidade alguma, estou satisfeito com os biscoitos. Não fora minha intenção insultar sua comida." Responde o hivess um pouco constrangido com a situação.
"Não é minha comida, se fosse obra minha tenho certeza que não conseguiria sequer engolir. Mas não poderás comer o biscoito, como lhe disse se quiser algo posso lhe trazer o pão desta alvorada."
"Todavia.."
"Vais querer o pão?" Amber corta Arti.
"Sim." Responde ele aparentemente constrangido, mas não abaixa a cabeça e nem hesita ao falar.
"Certo, vou ir pegar." Amber vai até a cozinha mais uma vez.
"O que acabara de acontecer, podes me explicar?" Arti se volta para seus dois supostos amigos.
"Você a irritou."
"Esta parte eu entendi Lyan!"
"Não sabemos, tudo que dissemos foi que estava bom. Então ganhamos biscoitos. Ely também pode comer." Kaydes diz e aponta para mim. Pela primeira vez Arti direciona seu olhar em minha direção, me inspeciona e continua a me encarar.
"És a arqueira." Continuo olhando para frente sem me importar com seus olhos cravados em mim. O ignoro.
"Não seja grosso Arti. Chame-a de missa ou de Ely." Repreende Kaydes.
"Peço perdão." Faço um sinal afirmativo com a cabeça sem me importar com o hivess. Antes que ele possa dizer mais alguma coisa a porta da taberna é quase jogada ao chão quando Tray entra.
"TIHA! Eu consegui acertar um tronco." Ele se põe ao meu lado em questão de pouquíssimos raios.
"Um?" O questiono quando este senta no banco vazio ao meu lado.
"Qual é? Não mereço um elogio?"
"Um tronco me diz que tú não acertaste o tronco que queria."
"Não anula o fato que acertei alguma coisa." Responde ele empolgado.
"Acho que estas mesmo começando a se acostumar a falar com firulas." Digo a ele me lembrando de sua palavra para se referir ao jeito de conversar de Edyn.
"Eu disse que aprendia rápido." O garoto se vangloria.
"Você disse firulas?" Interrompe Kaydes. Vejo Tray quase saltando do assento, acho que ele não percebera a presença dos outros. Ele ainda tinha a péssima mania de enxergar só o que lhe convinha.
"Tray me disse isto uma vez." Respondo.
"Já gostei de você garoto. Acho Edyn e suas formalidades uma chatice." Kaydes olha para Tray.
"Chatice acho que ainda é pouco, são quase insuportáveis." Os dois começam a rir juntos como se fossem amigos. A porta da cozinha se abre e Amber sai.
"Tray! Onde estava?"
"Praticando com o arco. Falando nisto, aqui está." Tray me entrega o arco e aljava.
"Não estou acreditando!! Você conseguiu fazer com que ela lhe ensinasse??" Questiona Amber atônica.
"Algo assim." Responde Tray com um largo sorriso.
"Você está ensinando o garoto a usar o arco?" Desta vez fora Lyan que me questionara e sua voz não continha nada além de surpresa.
"Só lhe ensinei como armar o arco. Nada demais" Digo sem interesse.
"O que houve com sua mão?" Arti avalia Tray e se levanta para pegar sua mão que estava sangrando, Tray a puxa no mesmo instante, assustado. "Perdão, não fora minha intenção assustá-lo."
"Sem problemas, foi só reflexo. Não é nada demais, acho que bati em algum lugar e não percebi porque tava todo animado, deve ter aberto um pouco a ferida."
"Ferida? O que lhe ocorreu?" Questiona Arti realmente preocupado. Continuo sentada sabendo o que estava por vir.
"Ahh... a tiha perfurou minha mão com a adaga dela." Responde Tray apontando para mim como se isto explicasse tudo, de fato explicava mas acho que Arti não gostara muito do que ouviu.
"Ela fez o quê?" Questiona ele quase gritando e se virando para mim com raiva.
"Você é surdo?" Tray questiona, mas o ignora no instante seguinte se virando para o balcão para pegar seu copo de leite.
"És louca? Como se atreve a machucar uma criança indefesa." Ele eleva a voz para mim tentando chamar minha atenção, já estava transtornado. Me lembrei quando ele agarrara o colarinho de seu amigo para lhe dar um soco, agora a cena fazia um pouco mais de sentido para mim. Arti não era paciente e tirava muitas conclusões precipitadas, já era a segunda vez que eu o via perder o controle em menos de um ciclo, isso beirava a tolice.
"NÃO sou uma criança."Protesta Tray com a comida na boca.
"Arti vá se sentar você nem sabe a história toda." Kaydes se levanta e puxa de leve o braço de Arti.
"E isto interessa? Esta mulher agrediu uma criança!" Diz ele irritado se aproximando cada vez mais, acredito que o fato de eu nem sequer lhe direcionar o olhar não melhorava seu temperamento.
"Lyan, uma ajudinha por favor?" Kaydes pede.
"Naahh, estou bem aqui." Olho de canto para ele e me surpreendo ao ver que ele também olhava para mim então ele sorri e eu desvio o olhar.
"Você é um inútil!" Fala Kaydes.
"Não irá ao menos se justificar?" Sua mão estava prestes a pegar no meu ombro, provavelmente por ter cansado da minha indiferença. Então em um movimento muito rápido o próprio Tray se põe entre nós e agarra a mão de Arti.
"A tiha não tem nada para explicar a você!" Ele encara Arti e todos olham surpresos para cena. Até mesmo eu não consigo esconder a surpresa e demoro alguns raios para me recompor, mas não antes de notar que Lyan percebeu tudo, inclusive minha reação. Ele me observa por alguns raios e dado por satisfeito se volta para seu companheiro.
"Ela teve motivo e qualquer um teria feito a mesma coisa no lugar dela, então Hiv. extressado não se meta no que não faz parte da sua história." Diz ele em um tom sério, e assim surge outro apelido. Arti se volta para ele, mas sem ressentimento nos olhos. Ele não diz mais nada e volta para onde estava sentado. Quem se desculpa é Kaydes, apenas dou de ombros. Olho de canto para Tray, ele parecia tempestuoso e esta era a primeira vez que o via daquela forma.
"Nossa, vocês parecem uma bomba prestes a explodir. Sério tens algum problema com paz de espirito?" Amber pergunta para ninguém em particular mas seus olhos estavam cravados em Arti.
"Imagino que ele tenha." Responde Lyan apontando para Arti.
"Vou averiguar como está Sely." Arti se levanta e vai em direção as escadas.
"Qual o problema dele?" Questiona Amber, quando o hivess já estava longe.
"Me pergunto a mesma coisa desde de que o conheci." Kaydes fala baixo. Amber desvia sua atenção para Tray.
"Então, como está o biscoito?" Pergunta Amber ansiosa, se esquecendo totalmente da cena anterior.
"Maravilhoso, posso comer mais? Tô morrendo de fome." Assim que Tray responde, Amber salta de alegria e puxa a bandeja para o encontro de Tray.
"Sabia que poderia confiar em seu paladar Tray. Acho que agora julgarei as pessoas pelo paladar me parece bastante apropriado basear quem eu gosto em algo assim. Uma pena que Clint será excluído do meu novo ciclo de pessoas legais."
"Ham?" Tray olha para Amber sem entender.
"Apenas coma. Todos vocês na verdade!" Pego mais um biscoito e os outros me seguem fazendo o mesmo, pego mais um e me levanto do banco.
"Agradeço imensamente a refeição Amber. Irei me retirar agora." Pego o arco a aljava e saio andando até as escadas e ouço Tray gritando atrás de mim.
"Ei tiha. Me empresta o arco na próxima alvorada?" Me viro para ele e dou de ombros.
"Obrigado!!" Ele se volta animado para seu prato de biscoitos. Continuo andando mas ainda consigo ouvir as vozes atrás de mim.
"Isto foi um sim?" Questiona Kaydes.
"Acho que foi um não me importo. Se ela não se importa, então é um sim." Responde Tray animadamente.
Subo as escadas me afastando das vozes. Adentro meus aposentos e vou direto até meus mapas, havia percorrido um novo trecho da vila enquanto Tray me seguia por todos os lados. Pego meus marcadores e me sento no chão. Começo a traçar de onde havia parado, primeiro as ruas depois o que a contornava. Me perdi naquele espaço por vários raios. A lua já estava no céu iluminando fortemente meus aposentos, mas minha vista já estava embaçando tendo apenas a lua como fonte de luz, então tive que parar para acender uma vela e assim que o fiz me deparei com meu reflexo em um pedaço de refletor que eu havia colocado sobre a mesa, vejo uma cor indesejável querendo apontar em minha sobrancelha. Desço até a cozinha e coloco um pouco de água para esquentar com a autorização de Clint. Não me demoro e subo com dois baldes quentes o os misturo com mais três direto do poço. Retiro minha rouba e entro na banheira.
Assim que acabo de me banhar e vestir minhas roupas, penteio o cabelo e o deixo solto. Vou até onde guardei minhas ervas e pego uma que possuía uma cor acastanhada, bem ao seu lado está um pote pequeno de madeira com um pistilo e um óleo natural. Pego tudo isto e vou até a mesa, parto a erva em pedaços e coloco dentro do pote junto ao óleo mineral. Macero tudo até formar um líquido viscoso na cor castanho. Vou até o refletor e começo a passar um pouco nas duas sobrancelhas. Após esperar alguns raios, pego um pano e passo água morna para tirar o excesso. Olho no refletor e me dou por satisfeita.
Ouço o barulho alto vindo da taberna e percebo que talvez seja mais tarde do que imaginara. Prendo meu cabelo molhado no pano e decido descer para comer algo. Quando saio de meus aposentos, percebo que a taberna estava mesmo cheia, mas havia algumas pessoas diferentes das usuais no estabelecimento, supus que fossem viajantes. Vasculho o ambiente e não vejo Tray, encontro Nyla no balcão e vou em sua direção.
"Saudações cara Nyla."
"Saudações Ely. O que deseja?"
"Kumis, por favor." Nyla se vira até um jarro de vidro e despeja o líquido preto no copo.
"Aqui está."
"Agradeço." Pego o copo posto a minha frente." O que Clint está a cozinhar nesta escuridão?"
"Frango agridoce acompanhado de ovo banhado ao molho rosa." Seria a primeira vez que iria provar o frango de Clint. "Fiz um bom negócio com um fazendeiro e acabei por ganhar alguns frangos, para a minha alegria. Gosto de frango." Completa Nyla.
"Imagino que não exista algo que Clint possa fazer que seja ruim."
"Frutos do mar. Ele é péssimo em tudo que venha de água salgada, mas não o diga que lhe contei. Clint é fácil de lidar a não ser que o assunto seja sua comida." Nyla pisca para mim e eu dou de ombros sem me importar nem um pouco com a informação. Quando estava preste a me levantar vejo um vulto de cabelos negros se sentando a dois bancos de mim, os olhos de Lyan estavam cravados em Nyla.
"Eu poderia dizer que você possui visão do futuro mas não acredito nessa bobagem, aí pensei na possibilidade de ter um dispositivo que permitisse você ver o futuro, caí novamente na parte de não acreditar em coisas como estas. Então, cara Nyla você poderia ter a bondade de sanar minha curiosidade sobre meus dilemas e me dizer como você sabia da doença de minha irmã antes mesmo que lhe contasse?" Seu tom de voz era leve e até mesmo beirava a brincadeira, mas sua postura e seu olhar poderiam deixar qualquer um intimidado. Permaneci sentada, estava curiosa quanto a resposta de Nyla.
"Vejo que não é apenas um rosto bonito." Nyla sorri de lado.
"Digo o mesmo." Responde Lyan e Nyla abre mais seu sorriso e se coloca na frente do hivess.
"Não possuo nada a esconder." Eu quase rio com a dimensão daquela mentira. "Na escuridão passada dei de encontro com sua irmã, quando nos tocamos sua pele estava febril e seus olhos vermelhos e alguns instantes depois a vi vacilar várias vezes enquanto dançava, mesmo que parecesse conhecer a dança tão bem. Conforme o tempo foi passando seu corpo foi ficando mais fraco até que por fim ela foi se sentar. Poderia supor que era cansaço mas eu ouvira um de seus colegas falando sobre seus companheiros que ficaram doentes em sua trajetória. Juntei as peças e pronto. Conheço os sintomas muito bem, então não fora difícil." Lyan a encara parecendo vasculhar todas as palavras de Nyla cuidadosamente.
"Certo. Na verdade faz muito sentido então vou aceitar como verdade."
"Não acreditas em mim?" Questiona Nyla um pouco surpresa.
"Não leve para o lado pessoal missa, tudo pode ser mentira e tudo pode ser verdade a capacidade de manipular qualquer uma das duas depende do talento individual de cada um. Então a muito tempo decidi não confiar completamente na palavra de ninguém, nem mesmo na minha." Ele sorri e pisca para Nyla, vejo que seu olhar também é direcionado a mim mas ele logo o desvia.
"Sábio. Bom, já que saciei sua dúvidas, retribua o favor. Como descobriste?"
"Ahh, não foi nada muito elaborado como sua explicação. Kaydes esbarrou em Amber enquanto estava andando pela vila, ela contou a ele que tinha passado na casa medicinal por ordens suas, dadas na escuridão anterior. Eu vi ela chegando até a taberna com umas ervas e uma delas tinha um cor alaranjada, agora sei que a cor pertencia a uma flor. Quando você me deu a erva para macerar e colocar o pó na língua de Sely, percebi que a cor da flor era a mesma que vi no saco de Amber e então deduzi que você já sabia. Afinal Amber foi instruída a busca as ervas antes que eu te contasse que Sely estava doente. Na verdade foi sorte, o que é engraçado já que é a segunda vez que tenho sorte atrelada ao meu destino quando o assunto é relacionado a você."
"Sorte. É uma perspectiva interessante pensar que ligaste isto tudo por simples sorte e não por talento." Nyla diz e Lyan ri alto.
"Talento?! Terei de fazer Kaydes ouvir que você me chamou de talentoso acho que ele não acreditará se eu contar, se eu chamá-lo você pode repetir?"
Seu ar mudou novamente para brincalhão, Nyla também percebeu que ele desviara facilmente o rumo da conversa, ela apenas sorriu para Lyan que retribuiu o sorriso e sem delongas dá as costas para ela sem render o assunto mas também sem ser rude por deixar a conversa por terminar.
"Acho que terei de fazer uma aliança com este também." Nyla me diz e acompanho seu olhar compreendendo o que a frase significava. Ele era mesmo algo a mais.
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