| Capítulo 5
Após alguma insistência por parte de Aruanda, Velinor permitiu que eles ficassem juntos para o almoço. Pelo que souberam a reunião ainda estava acontecendo quando a comida foi servida.
--- Que acha que estão decidindo? --- Indagou José, cutucando os pedaços de carne e verduras em seu prato --- Sabe, sobre nós.
--- Sei não... --- Ametista empurrou seu prato, sorrindo para ele --- Mas, aposto que não vão mandar vocês matarem ninguém, então fica de boa.
O garoto riu, parecendo mais animado para comer. Wanderley observou os dois e ficou quieto.
Eles estavam na varanda do quarto, todos haviam se livrado das vestes humanas e agora usavam roupas de tecido leve e prático. Apenas Ametista usava preto.
--- Será que podemos sair? Do quarto. --- Jasper indagou, parando de comer e empurrando o prato. Ele não queria verduras, caldos ou frutas. Queria arroz e feijão.
--- Ah, eu queria ver mais desse lugar! --- A de olhos dourados suspirou, enchendo uma taça de suco de frutas, que ela desconfiava ter rum misturado --- Será que é seguro?
--- Talvez... possamos pedir pra nos escoltarem. --- Sugeriu Ametista. Alguém bateu na porta, e eles se entreolharam. Ela se levantou --- Eu abro.
Ametista caminhou até a porta rapidamente. Ela não havia se acostumado com os sapatos de couro, então os tirou para ficar descalça.
Quando abriu a porta, ficou surpresa ao ver o Imperador Anthorin ali, acompanhado da mesma criada de cabelos verdes de antes.
--- Ah, Imperador. --- Tista acenou com a cabeça. O loiro sorriu, acenando de volta.
--- Meu senhor os convida para um passeio. --- Explicou a criada.
Os cinco se olharam.
Eles foram levados para ver os jardins, os estábulos e as oficinas onde novos navios estavam sendo construídos. O Imperador ainda lhes ofereceu um passeio pela feira e pela cidade, antes do jantar, se mostrando um ótimo anfitrião.
Ametista achou tudo muito bonito. Era realmente um mundo novo e ela gostou de ver tantas criaturas diferentes, mas havia algo lhe incomodando. Lá no fundo, seu coração se apertava e ela questionava suas próprias origens, sua própria história.
O Imperador Anthorin era um homem gentil e jovem, e ela não se ressentia pela faca arremessada algumas horas atrás. Ele também não falava, era mudo e Tista notou uma cicatriz grotesca escapando pelo colarinho de sua camisa branca. Parecia que alguém havia lhe cortado a garganta de uma orelha a outra.
Apesar de não falar, o Imperador gesticulava bastante e Tista notou que era uma forma de comunicação, pois a criada de cabelos verdes sempre traduzia seus gestos.
--- Acho que vou voltar pro quarto. --- Avisou Ametista, quando todos se encaminharam para a cidade e a feira --- Até depois.
--- Vou com você. --- Jasper parou de andar, a meio caminho dos portões.
--- Precisa não. Vá com eles, vá. Sei que quer ver a feira. --- Ela se virou para os degraus que levavam para o Presa Branca --- Vejo vocês no jantar.
Tista se perdeu no caminho de volta.
Ela nunca fora realmente boa com direções e suspeitava que a idade pioraria isso. Após entrar no mesmo corredor cheio de janelas pela terceira vez, ela parou.
--- Desgraça de lugar. Tudo é igual nesse caralho! --- Bufou, segurando as saias do vestido --- Tinha que ter era umas placas aqui. Falta de sinalização é crime, caceta!
Ela ainda estava resmungando quando ouviu passos atrás de si e virou num pulo para ver quem era.
--- Er Ganisthy. --- Cumprimentou o Cavaleiro Vermelho, parado a sua frente.
--- Ah, oi. --- Tista soltou as saias, cobrindo as pernas novamente e dando um passo para trás --- É o quê?
--- Posso ter uma palavra com você?
Ela assentiu e ele começou a caminhar para fora do corredor. Tista o acompanhou.
--- Você é o Cavaleiro que quase bateu nas velas do barco quando estávamos no mar. --- Ela ficou ao lado dele --- Onde... onde está o dragão?
--- "A". Myer é uma fêmea. --- Corrigiu ele, suavemente.
--- Jura? Babado. E onde ela tá?
--- Se alimentando.
--- E o quê ela come?
Dain sorriu de canto.
--- O quê quiser.
--- Tá amarrado. --- Ametista balançou a cabeça.
Dain parou diante uma janela e se virou para vê-la. Seus olhos de fogo a examinando. Queimando sua pele. Ametista ergueu uma sobrancelha e o encarou de volta.
--- Que é?
--- Você não tem uma missão fácil nas mãos. Colocaram um peso em seus ombros do qual não poderá se livar. --- Disse ele --- Será difícil. E desafiador. Confesso... que não depositei fé quando soube do plano. Me pareceu imprudente.
--- É imprudente. E é um péssimo plano, viu?
--- Você é a garota da profecia. Não é um plano imprudente. --- Ele olhou através da janela, fazendo uma pausa --- Você tem a minha lealdade em suas mãos.
Ametista arregalou os olhos.
--- Como é, amigo?
--- Sou um Cavaleiro. --- Dain pegou a espada que trazia na cintura, se ajoelhando --- E estou fazendo um juramento.
--- Que diabo... ei, ei, ei, não...
Antes que ela pudesse continuar, Dain voltou a falar. As palavras soaram estranhas, mas familiares novamente. Aquela língua encantadora e diferente que todos eles falavam.
--- Dell Dain, Myer echa, quan xi uteh shoer vazili. Shoer gueva. Shoer javrest. Shoer alin. Resh came toa shoer, resh aman toa shoer. Shoer gueva toa resh gueva, shoer alin toa resh ipon. *(Eu, Dain, Montador de Myer, prometo a você minha lealdade, minha espada, meu dragão, minha vida. Suas alegrias serão minhas e suas dores serão minhas. Minha espada será sua espada e minha vida será seu escudo.)*
Ele estava ajoelhado diante dela. Ajoelhado para ela. Sobre sua espada, Dain fez um juramento que unia seus destinos e suas vidas.
--- Dain... --- Ametista sussurrou --- Obrigada, mas não entendi caralha nehuma do que disse.
O Cavaleiro sorriu e se levantou. Ela sorriu de volta enquanto ele guardava a espada.
--- Você foi muito esperada, Er Ganisthy. --- Dain se curvou --- Era tudo que nos faltava para acabar com esse mal. Ele é o puro mal. As Trevas que dominam nosso mundo. É... escuridão. Sabe o quê vence a escuridão?
--- A luz. --- Respondeu Ametista.
Dain a olhou nos olhos de novo. O sorriso ainda brincando em seus lábios quando respondeu:
--- Você é a luz.
Ametista perdeu o fôlego. Suas veias esquentaram e ela sentiu as pontas dos dedos aquecerem. Sentiu o poder pulsando por seu corpo. A luz escapando de suas mãos.
Ela fechou os punhos com força, escondendo as mãos atrás das costas.
--- Não seria melhor chamar o Padre Fábio de Melo? --- Indagou, sorrindo amarelo --- Tenho certeza de que ele consegue exorcizar esse cara.
--- Quem é esse senhor? --- Dain franziu a testa --- Padre... Fábio de Melo?
--- Ah, ele derrota Satanás na base da oração e da beleza. Aposto como resolveria isso rapidinho.
--- Hm. --- Seu cenho continuava franzido --- Acha que devemos ir atrás dele?
--- Talvez na próxima.
Eles se olharam, sorrindo, então voltaram a olhar pela janela. O sol estava quase se pondo, a tarde chegava ao fim e Ametista nem conseguia acreditar em tudo que havia lhe acontecido em menos de 24 horas.
Seu peito apertou ao lembrar da vida que deixara para trás.
Dain a observava de canto e pois as mãos atrás das costas, pensativo. Por fim, sussurrou para ela:
--- Quer conhecer Myer?
Ametista abriu um sorriso de orelha a orelha.
Dain a guiou pelos corredores de pedra até chegar a um pátio amplo nos fundos, de onde era possível ver o mar. Ametista parou assim que chegaram ao centro do pátio. Haviam desenhos nas pedras do chão. Uma caveira com rosas brancas saindo dos olhos e da boca.
Ela quis perguntar a Dain onde estava Myer, mas o Cavaleiro assoviou e um vento forte balançou seu cabelo e seu vestido antes que pudesse abrir a boca. A figura vermelha de Myer desceu dos céus e pousou no pátio diante deles, rugindo.
Ametista arfou. A criatura era ainda mais bonita de perto.
Suas escamas vermelhas brilhavam sob a luz do fim da tarde e seus olhos dourados eram como ouro derretido. Seus grandes dentes estavam manchados de sangue e ela abriu as asas majestosas sobre eles.
--- Ela é... incrível. --- Sussurrou Tista --- Deslumbrante. Eu... é perfeita.
Dain sorriu, os olhos brilhantes ao contemplar a criatura.
--- Venha. --- Ele estendeu a mão para Ametista, que aceitou.
Os dois caminharam até Myer, que parou de bater as asas e chiou. Dain ficou perto o suficiente para tocar as escamas do pescoço dela, segurando a mão de Ametista junto com a sua.
--- Va nessie. Va idere. *(Se comporte. Se acalme.)* --- Sussurrou o Cavaleiro --- Barvi dae jonan orane. Dae esso. *(Ela é a garota da profecia. Seja gentil.)*
Ametista sentiu as escamas sob sua pele, quentes e afiadas. A criatura gruinhiu e chiou, mas Dain cantarolou uma música para ela, que por fim, ficou quieta. O Cavaleiro parou de cantarolar.
--- Se aproxime. Não tenha medo, Er Ganisthy. --- Sussurrou ele.
--- Ametista. --- Disse ela, se virando para vê-lo.
--- Perdão?
--- Me chame de Ametista. --- Pediu a garota. Suas mãos ainda juntas sobre as escamas.
Dain sorriu.
--- Parece que ela gostou de você, Ametista.
A garota acariciou a pele escamosa, sorrindo.
--- Eu adoraria ter um dragão.
--- Javrest. --- Corrigiu o Cavaleiro, e explicou ao ver a expressão confusa dela --- Javrest é como chamamos as serpentes de Fogo. Dragão é... o mais próximo de uma tradução para a sua língua. Há muitos como Myer vivendo selvagens no Vale. Alguns passam a vida sem ter um montador.
--- Está dizendo que posso conseguir um dragão?! Quer dizer... um... Javrest? --- Os olhos dela brilhavam de empolgação.
--- Não. Seria suicídio. --- Ele balançou a cabeça --- Você não terá um javrest.
Ametista lhe lançou um sorriso felino.
--- Duvida? --- Ela ergueu uma sobrancelha.
Dain a olhou como se soubesse que aquele sorriso não era um bom sinal. E realmente não era.
Eles permaneceram no pátio até o sol se pôr completamente, e quando já estava escuro criados vieram ascender as tochas e lampiões do pátio, então o Cavaleiro sugeriu voltar.
Ametista encontrou Jasper e Aruanda no caminho de volta. Os dois haviam decidido voltar antes dos outros, pois Wanderley e José aceitaram o convite do Imperador para jantar na feira.
--- Você teria gostado da feira. --- Disse Aru, segurando as saias do vestido enquanto caminhava --- Apesar do cheiro não ser dos melhores. Preciso de um banho. E de novas roupas. Isso aqui não combina com o meu aesthetic.
--- Espero que eles não sejam como os europeus. Eu preciso de pelo menos dois banhos por dia. Se estiver calor são quatro. --- Emendou Jas --- Quanto tempo vamos ficar aqui?
--- Não sei. Acho que não muito, vi uma vassoura atrás da porta. --- Brincou Ametista e os outros dois sorriram --- Mas, também acho que eles estão com pressa. Sem tempo.
--- Ainda bem que esse ano é bissexto. --- Respondeu Aruanda.
Mais tarde, quando todos eles já estavam juntos novamente, e José contava sobre tudo que vira na feira e na cidade, bateram a porta novamente. Dessa vez, não esperaram que alguém se levantasse para abrir.
A Princesa Adhalina entrou, acompanhada da mesma elfa de pele negra que carregava uma espada na cintura.
--- Princesa. --- Ametista se levantou assim que a viu.
---- Boa noite. --- Saudou ela, com toda sua graça e leveza --- Você deve partir em dois dias. O grupo selecionado rceberá as previsões necessárias para fazer a viagem até Sanemarin. Os líderes orcs já foram avisados e também estão prontos para acompanhar você.
Ela se aproximou um passo, pondo uma mão sobre o peito.
--- Essa jornada, o caminho até Sanemarin, será muito mais do que um trajeto. --- Começou, encarando a menina --- Será seu treinamento, sua preparação para a missão que deve realizar.
--- Só para esclarecer... --- Jasper se levantou da cadeira onde estava --- E quanto a nós?
A princesa piscou, então encarou os outros espalhados pelo quarto. Pareceu um pouco desconcertada, mas logo reverteu a expressão.
--- Vocês... --- Ela fez uma pausa, pensativa --- Ah! Vocês! São...?
Jasper revirou os olhos, impaciente. Desde o início, desde que Ametista dissera que era a mais velha, todos haviam sido postos de lado. Como se fossem um animal indesejado. Um problema.
--- Sou... sou Marcelina. Ou Aruanda. Nome de guerra. --- A garota se apresentou, quebrando o silêncio que havia se instalado.
--- Wanderley, satisfação.
Tio Wanderley cutucou o sobrinho nas costelas quando ele continuou em silêncio. O garoto bufou. A princesa o observou com curiosidade, e ele ergueu as sobrancelhas.
--- Jasper. --- Murmurou, a contragosto.
--- É... sou o Zé.
Adhalina sorriu, se virando para a outra elfa.
--- Zilrat, o quê íamos fazer com eles? Relembre-me, por gentileza. --- Pediu, passando as mãos pela seda das vestes.
--- Daremos a oportunidade de escolha. --- Começou Zilrat, tão impassível quanto uma pedra --- Vocês podem permanecer na ilha, sob vigilância dos Piratas, ou acompanhar a comitiva em direção ao baile do Solstício.
--- Baile do Solstício. --- Disparou Aruanda, sem pensar.
Os demais assentiram e Ametista baixou os olhos para suas mãos. Para os pequenos feixes de luz que escapavam de debaixo de suas unhas. O esmalte roxo lascado nas pontas. Apagando aos poucos as suas sutis experiências mundanas.
--- Organizaremos tudo, então. --- A princesa se virou para a garota de olhos violetas, enquanto Zilrat abria a porta novamente --- Ametista. Venha jantar comigo esta noite. Quero falar com você.
--- Claro... --- Ela engoliu em seco --- Alteza.
Duas criadas vieram aos aposentos depois que a princesa saiu.
Elas insistiram para que os garotos fossem para outro cômodo e após algum trabalho os convenceu a ficar nos aposentos vizinhos aquele. José pediu para ficar com Jasper, pois tinha medo de ficar sozinho. Wanderley disse que não ficaria sozinho também e se enfiou no quarto com eles.
Aru não moveu um músculo e quando uma das criadas sugeriu que ela mudasse de quarto, a garota disse que queria vê-lá tentar tira-lá dali. Elas deixaram um baú com novas roupas e saíram reclamando em sua língua.
Ametista tomou um banho demorado na banheira cheia de água perfumada. Havia um sistema de encanamento ali, ele não passava por dentro das pedras, mas por fora delas, canos prateados e desenhados traziam água para as torneiras.
Ela achou um vestido de tecido leve, na cor lilás, que servia perfeitamente. Ametista dispensou o corset e qualquer coisa que a apertasse e revirou o quarto até achar sandálias de couro para calçar. Aruanda estava procurando uma camisola quando saiu.
Zilrat a esperava no final do corredor. Ainda impassível, ainda com a espada na cintura. Ela guiou Ametista até um salão vazio, exceto pela mesa de jantar e a Princesa sentada nela.
--- Fico muito feliz por ter se juntado a mim. Sente-se. --- Adhalina apontou para a cadeira vazia --- Não precisar fazer essa expressão. Não vou machucar você. Na verdade, apenas quero conversar.
Ametista caminhou até a mesa e se sentou. A princesa continuava radiante apesar das vestes brancas simples.
Tista examinou a comida. Não havia carne. Apenas frutas, verduras, legumes. Alguns bolos e doces. Ela cheirou tudo discretamente, pensando se devia comer.
Sua barriga roncou. "É, pensou ela, melhor morrer envenenada do que de fome."
--- Confesso a você que não me agrada ter que colocá-la nisso. --- Adhalina cortou pequenos pedaços de melancia em um prato e entregou a Ametista, junto com uma fatia de bolo --- Meu coração padece de pesar pelo peso que coloco em seus ombros, mas não tenho outra escolha.
Ametista aceitou o prato e começou a comer. As frutas pareciam mais saborosas e doces do que estava acostumada.
--- Assumi a missão de proteger meu povo e todos os outros. Não quero esse solo sagrado maculado pelas transgressões daquele que se autodenomina rei. --- Continuou a princesa --- Você parece uma mulher de grande força e coragem. Posso ver isso em seus olhos. Deposito muita fé em você, Ametista e quero que me veja como uma aliada e uma amiga.
--- Palavras bonitas vindas de alguém na sua posição, Alteza. --- Ametista parou de comer para encarar a elfa --- O quê eu poderia dizer estando na minha?
Adhalina a fitou por um momento e então encheu duas taças com vinho.
--- Sua posição é mais privilegiada do que pensa. --- Ela entregou uma das taças a garota --- Deve aprender a ter fé em si mesma, e os demais também terão. Foi isso que aprendi.
Ela tomou um gole da bebida e pois grutas em seu prato. Parecia pensativa.
--- Sua situação é delicada, eu admito. --- Adhalina manteve os olhos azuis em suas frutas --- O Conselho de Guerra que montamos é mais instável do que gosto de admitir. Somos todos inimigos declarados do rei e desejamos proteger nossos povos, mas cada um têm seus próprios interesses. Não é fácil conciliar. --- Ela a encarou --- Mas, você pode.
Tista continuou comendo. Não tinha certeza se sabia como responder a princesa de uma forma educada.
--- Você é o elo de que precisávamos para consolidar a aliança. --- Continuou Adhalina, deixando a comida de lado --- Se você estiver a frente, eles seguirão você. Sem mais acusações de egoísmo, trapaça e nem nada parecido. Estaremos todos na mesma posição e com o mesmo objetivo.
Agora, Ametista não comia mais. Sua garganta se fechou e ela tomou alguns goles do vinho para disfarçar.
--- Estamos lutando por um mundo melhor. Com paz e justiça. Quando acabar... --- Adhalina fez uma pausa, os olhos azuis encontrando os violetas --- Você estará livre para fazer o quê quiser e voltar para seu mundo com seus amigos e sua família. Eu prometo garantir a segurança de todos.
Ela esticou o braço, agarrando a mão de Ametista.
--- Estou pedindo a você... --- Sussurrou a elfa --- Ajude-nos.
Ametista encarou a mão que segurava a sua.
--- Vocês irão se decepcionar. Não sou uma heroína. --- Ela balançou a cabeça --- Mas, se essa é a condição para que eu vá embora... então, eu aceito.
Adhalina sorriu.
--- Helf ur angran malessi at uru traten.
--- Não entendo o quê você diz, mona.
‐-- "Que a luz do amanhecer brilhe sobre nossa amizade." --- A princesa soltou sua mão, voltando a atenção para o prato --- Espero que possamos ser boas amigas.
Ametista pegou a taça de vinho, dando mais um gole antes de responder:
--- Isso não depende de mim, Alteza.
Quando voltou ao quarto, já era tarde da noite. Ametista fechou a porta e encontrou Aruanda sentada na varanda, esperando-a.
--- Como foi? --- Indagou a de tranças, se levantando.
--- Ela não parece alguém ruim. A princesa, sabe? Senti bondade nela. Desejo de ajudar. Só não sei quem ela quer ajudar mais, eu ou ela. --- Ametista parou no meio do quarto --- Sei que faz isso pelo povo dela. E acho que isso faz dela uma pessoa boa.
Ela começou a tirar o vestido e Aruanda pegou uma camisola de seda branca e lhe entregou.
--- É melhor ter ela como aliada. Você já tem inimigos demais. --- Disse.
--- Fico me perguntando... --- Ametista passou a camisola pela cabeça e continuou --- O quê o rei vai fazer quando souber que uma pirralha está indo matá-lo.
--- Melhor rezar para ele não saber, Tista.
As duas se encaram.
--- Parece que vamos fazer uma longa jornada. --- Comentou Aruanda, voltando para a varanda.
--- Você devia ficar. --- Ametista foi se sentar com ela, na murada da varanda --- Seria mais seguro, Aru.
--- Eu não poderia.
--- Você sabe que, se fosse eu no seu lugar, ficaria aqui, não é? Eu não iria, se pudesse escolher.
--- É, mas você não pode, né mana. E como sua melhor amiga eu vou ficar com você.
--- Sinto muito por te colocar nisso. --- Ametista encarou o céu cheio de estrelas acima delas --- Te pago um açaí quando voltarmos.
--- Não é sua culpa, você não sabia de nada disso. Mas, aceito o açaí.
Elas sorriram uma para a outra. A ilha estava silenciosa.
--- Tista. --- Aruanda segurou as mãos da amiga --- Seja forte. Vai precisar.
As duas foram dormir depois que Velinor, no aposento vizinho, apareceu na sacada para manda-las calar a boca.
Os dois dias seguintes passaram rápido. Eles não tiveram contato com ninguém além dos Imperadores, Velinor e Adhalina que vez ou outra aparecia para vê-los.
Anthorin havia sido um ótimo anfitrião. Ele e o marido os levavam para passeios, almoços e jantares. Fizeram se sentirem em casa.
Ametista gostava da companhia deles. E de Adhalina também.
A princesa era gentil com ela, a visitava com frequência e tratava a todos muito bem. Ela não vira Dain depois do encontro no corredor, mas sonhara com o Cavaleiro, embora... não conseguisse se lembrar do sonho.
Quando o sol do terceiro dia deles na ilha surgiu detrás da Colina Fantasma, criadas apareceram com baús nos aposentos que Tista dividia com Aruanda.
Elas foram banhadas e lhes entregaram roupas novas. Calças, túnicas e botas pesadas. Depois, prenderam seus cabelos e as guiaram até o pátio inferior, já cheio.
Os Imperadores estavam ali, junto com a princesa e os guardas. E os quatro líderes orcs.
Adhalina deu um passo a frente quando todos se reuniram diante dela, incluindo Jasper, Wanderley e José.
--- Sua partida é o ponto inicial de sua missão. Mas, não ache que está sendo abandonada. --- A princesa segurou as mãos da garota --- Estaremos com você para o quê precisar, Ametista. Mesmo que signifique nossa morte. --- Garantiu Adhalina.
--- E provavelmente, significará. --- Emendou Velinor.
A princesa olhou de canto para ele, como se cogitasse lhe dar uma bronca, mas optou por continuar.
--- Hoje você dá início a um plano, um projeto que foi muito esperado. --- A elfa sorriu --- Está levando com você os melhores que podemos oferecer. E está levando nossa esperança em seus ombros. Confiamos em você, minha querida, para...
Myer desceu do céu matutino com um chiado e pousou no pátio aberto, batendo as asas vermelhas. Ametista abriu um sorriso, mas Yondher fez uma carranca.
--- Dain. --- Adhalina saudou quando o Cavaleiro desmontou, a princesa parecia surpresa --- O quê faz aqui? Pensamos que deixaria a ilha noite passada.
--- Eu os acompanharei. --- Disse o Cavaleiro, segurando o cabo da espada.
--- Em nome do Vale? --- A princesa levantou uma sobrancelha.
--- Em meu nome. --- Ele olhou para Ametista --- Em nome dela.
--- Bem... --- Adhalina soltou as mãos da menina --- Você está ainda mais segura do que pensei. Helf ur angran malessi at uteh. *(Que a luz do amanhecer brilhe sobre vocês.)*
Ametista agradeceu pelas palavras com um aceno. Criados passaram por eles, carregando baús em direção à cidade. Ao porto.
Havia um grupo incomum ali. Não apenas os quatro líderes tribais orcs estavam presentes, como também aqueles três que realizaram a missão de buscá-los. Velinor, Yondher e Felliny.
Tista passou os olhos por eles. E depois, para sua família. Havia um abismo de diferença. Os orcs eram fortes, nascidos para a guerra, acostumados aquele ambiente hostil.
E quanto a sua família?
Wanderley não era jovem. Como fumante que era, o homem passava mais tempo tossindo que respirando normalmente. E ele era sedentário. Jasper não era diferente. O garoto carrancudo era tão leigo quanto si própria no que dizia respeito aquele mundo. Mas, ela tinha seus poderes. Ele não.
Aruanda era, talvez, a mais preparada. Ela não era indefesa, fraca ou ingênua. Ela era sensitiva, observadora, corajosa. Mas, era humana. Mortal. Seu sangue ainda era vermelho.
E Zé... era só uma criança. Uma que não tinha nada haver com aquilo. Ele não merecia estar naquela confusão.
--- Gostaria de fazer um pedido. --- Ametista avançou até os Imperadores, e apontou para o menino --- Gostaria que ele ficasse aqui.
--- Mas, eu quero ir! --- Protestou a criança, de imediato.
--- Zé... --- Tista se agachou diante dele, que havia corrido até ela --- É perigoso. Será mais seguro se você ficar aqui. Você é... café-com-leite, sabe? Eu sei que está com medo... mas, eles vão cuidar de você.
--- Não quero ficar.
Ametista o olhou preocupada, mas Anthorin se aproximou e a atenção do garoto foi para o pirata, que gesticulava com as mãos. José gesticulou de volta.
--- Você o entende? --- Indagou Tista, ao menino.
--- Anthorin não fala, mas escuta. Eu entendo os sinais que ele faz. --- Zé coçou o queixo --- Ele me levou para andar de barco. Me ensinou os sinais e a navegar.
--- Parece que você tem um amigo aqui. --- Ametista pois as mãos nos ombros dele, trocando um olhar com o Imperador --- Fique com eles.
Dandelor se aproximou, pondo a mão no ombro do marido.
--- Será bem vindo em nossa casa, desde que queira ficar. --- Disse ele ao menino.
--- Prometo que venho te buscar assim que acabar. --- Ametista prometeu --- Confia em mim?
José apertou os lábios. Então, a abraçou apertado.
--- Se cuida, Tista. --- Sussurrou o menino, escondendo o rosto em seu pescoço.
Ametista o abraçou de volta, fechando os olhos.
Ilustrações do capítulo
(Dain fazendo o juramento)
(Dain apresentando Myer à Ametista)
(Princesa Adhalina e Ametista jantando)
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