| Capítulo 3
Ao recobrar os sentidos, Ametista percebeu que estava sentada num chão feito de madeira que não ficava quieto. Estava frio demais, embora sentisse o sol em suas bochechas.
Ela apertou os olhos com força e viu as mesmas figuras encapuzadas ao seu redor.
--- Quem são vocês? --- Indagou, se ajeitando melhor. Percebeu que não estava amarrada --- E que raio de lugar é esse?
--- Finalmente acordou, hein. --- A voz vinda da direita a fez ter um sobressalto --- Achei que ia dormir o dia todo, Tista.
--- O quê...? --- Ametista encarou o grupo no chão ao seu lado --- Aru! Jas! Tio... Zé...?
--- Aí, meus orixás. --- Marcelina ficou livída --- Fomos sequestrados? Eu não tenho dinheiro não, viu? Sou CLT. E estudante. E nem pai eu tenho.
--- Tá devendo algum agiota? --- Jasper ergueu as sobrancelhas para o tio, que o encarou ofendido.
--- Por quê acha que é culpa minha?
--- Sempre é culpa sua.
De repente, uma das figuras cruzou os braços. Parecia impaciente. Todos eles eram muito altos, notou a Ametista, assim como notou o som de ondas a sua volta. Ao olhar para o céu, uma brisa balançou seus cabelos. Estava em alto mar. Tinha certeza.
--- Precisava trazer todos eles, Velinor? --- A voz masculina indagou, chamando sua atenção.
--- Não sabia qual deles era o certo. --- Respondeu o quê estava no meio, de braços cruzados --- E os outros me viram. Se queria melhor do que isso, então que fosse você, Yondher. Da próxima não vou mais.
--- Ah, parem com isso. --- O terceiro deles, que tinha a voz menos grave, murmurou impaciente --- Quanto drama. Faça de uma vez.
--- O quê? --- A primeira figura se virou. Ametista notou que ele parecia alto demais e largo demais para qualquer pessoa que ela conhecia.
--- A pergunta, Yondher!
--- Ah. Podia ter dito logo, Felliny. --- Ele limpou a garganta e avançou um passo em direção aos gêmeos --- Qual de vocês nasceu primeiro?
--- Como é, amigo? --- Jasper levantou as sobrancelhas.
--- Vocês são do IBGE por acaso? --- Ametista franziu a testa.
--- Vocês nasceram da mesma gestação, correto? São gêmeos. --- Apontou para eles, impaciente --- Então, respondam quem dentre vocês é o mais velho.
De repente, ficaram todos em silêncio.
Nem mesmo suas respirações faziam barulho pois estavam presas em suas gargantas. Apenas se ouvia a água agitada a sua volta. Ametista e Jasper se olharam e a figura avançou mais um passo.
--- Se não responderem por bem, vão responder por mal.
--- Eu. --- Tista respondeu, olhando-o de queixo erguido --- Eu sou a mais velha.
--- Venha aqui. --- Chamou a outra figura, aquele que chamaram de Velinor.
--- Não. --- Ela se negou --- Acho que mereço uma explicação primeiro. Eu fui arrastada pra cá contra a minha vontade e a menos que vocês queiram ver o quê é um bom quebra-pau estilo baiana, acho bom me explicarem que desgraça tá acontecendo aqui.
--- Bem típico de humanos. --- Novamente a figura cruzou os braços --- Muito bem, se você quer uma explicação, então terá.
As outras figuras pareceram inquietas. Ametista encontrou o olhar de Aruanda e viu o medo em suas orbes douradas. José estava agarrado ao braço dela, mudo. Wanderley não tirava os olhos dos três encapuzados.
Um deles, o menor, com a voz mais suave que, agora, Ametista começava a achar que poderia ser uma mulher, se virou para o de braços cruzados.
--- Velinor... vaest dharil nanimos. *(Tenha cuidado nas palavras)* --- Murmurou, numa língua que Ametista não conhecia, mas que lhe parecia familiar.
Velinor permaneceu de braços cruzados e se virou para Ametista, dizendo:
--- Você não está mais em seu mundo, criança. --- Ele falava mais firme agora, mais sério --- E agora tem uma missão, uma que deve cumprir com excelência se quiser retornar para sua vidinha medíocre e mortal.
--- Não fode. --- Tista riu de escárnio --- E onde é que eu tô? Nárnia? Terra do Nunca? Casa do caralho? Venha cá, grandão, a graça já morreu e tá é fedendo. Pode parar a palhaçada.
--- Não acredita em mim?
Ela empinou o queixo, retrucando:
--- Não.
Velinor descruzou os braços e tirou o capuz, os outros três fizeram o mesmo em seguida. Ametista engasgou. Eles não eram humanos.
--- Vocês... --- As palavras morreram em sua garganta.
Velinor parecia ainda mais alto agora, sua pele era de um tom profundo de verde oliva e seus cabelos eram longos e brancos como as nuvens no céu. Suas orelhas eram pontudas e havia uma acidez em seus olhos que tornava desconfortável olhá-lo por muito tempo.
Aquele que era o maior, a quem chamavam de Yondher, tinha a pele na cor de um escarlate vibrante. Seu cabelo era negro como carvão, longo e rebelde sobre seus ombros largos. As grandes presas que saíam de sua boca o tornavam hostil.
A terceira figura, Felliny a menor, era mesmo uma mulher. Ou quase isso. Sua pele era azul como o céu acima de suas cabeças, suas presas não eram tão grandes, mas eram afiadas como os dentes de um tubarão. Seu cabelo curto era de um azul tão escuro que parecia preto.
--- Que porta do inferno abriu pra sair esse tanto de Satanás? --- Soltou Jasper, de olhos arregalados.
--- Não são nenhum Satanás. --- Disse José, pela primeira vez --- São Orc's!
--- Como se mudasse muita coisa. --- Murmurou o outro.
--- Puta que pariu... que fantasia mal feita. --- Ametista balançou a cabeça, descrente --- Comprou onde, no Brás? Aaaaa, já sei. É pegadinha do Silvio Santos. Silvio Santos? Pode aparecer. Silvio Santos?
Houve um silêncio profundo da parte dos três orcs. Velinor franziu o cento com força e deu um passo para trás, suspirando enquanto exclamava:
--- Desisto!
A orc de pele azul o afastou com o cotovelo e tomou seu lugar, se abaixando e sentando no chão de madeira.
--- Eu explico. --- Ela não falava tão bem quanto Velinor, Ametista notou que sua linguagem era mais relaxada, mais prática --- Existe uma profecia no nosso mundo, sobre uma criança prometida. Uma que traz a vida nos olhos e que viria em forma de luz para derrotar as trevas. Você é essa criança. E agora, você deve cumprir a profecia. Por isso te buscamos. Precisamos que você corte o mal pela raiz.
Tista sentiu os ombros caírem. As palavras lhe atingiram como um tapa no rosto. A orc segurou suas mãos.
--- Ametista... --- Ela olhou em seus olhos --- Você precisa assassinar o Rei dos Elfos e libertar nosso mundo da tirania dele.
--- Vou nada.
Ametista soltou suas mãos e se levantou, balançando a cabeça. De pé ela conseguia ver toda a estrutura do navio onde estavam. Não era nada moderno como um iate, era feito de madeira e cordas, como os navios antigos que via nos livros de história de sua escola.
--- Isso é um erro muito grande. Gigantesco. Colossal. --- Ela começou a andar de um lado ao outro --- Vocês estão enganados. Eu não sou a garota de profecia nenhuma, tá?
--- Não pode fugir do seu destino. --- Foi o de pele vermelha quem falou, pondo as mãos nos quadris. Ele havia se livrado da capa e relevado suas roupas de couro.
--- Não posso? --- Tista riu --- Pois me observe. Tô nem frescando.
--- Ouça. --- Velinor chamou, com sua polidez fria --- Você é a escolhida. Tem um destino a cumprir. Te trouxemos aqui para isso e você não irá embora enquanto não o fizer. Nem você e muito menos eles.
--- Escuta aqui você, meu irmão. --- Ela apontou um dedo para o peito dele --- Eu já vi esse filme antes. Não vou me sacrificar pelo mundo na adolescência. Nem a pau.
--- O mundo precisa de você. --- Argumentou o orc --- Para salvá-lo. Essa missão foi dada a você.
Ametista sentiu o sangue ferver.
--- Dobro e passo pro próximo, muito obrigada e bom dia! --- Ela virou as costas, pisando duro e voltando a se sentar no chão.
--- Deixe-a por enquanto. --- Sugeriu a orc, quando Velinor abriu a boca para retrucar.
Eles ficaram sentados no chão um tempo. Calados. Então, Wanderley se levantou e se espreguiçou, alegando que já tinha dormido o suficiente. Ele saiu para caminhar pela proa do navio e José o seguiu timidamente. Aruanda disse que estava enjoada e se levantou em busca de um lugar que "não chacoalhasse tanto".
No fim, apenas Ametista e Jasper ficaram sentados ali.
--- Achei que quisesse isso. --- Disse ele, após um tempo.
--- Ser sequestrada por um bando de orcs? --- Ela ergueu as sobrancelhas --- Certamente não pedi isso ao Papai Noel.
--- Não necessariamente essa parte. --- Ele suspirou, seus olhos violetas indo para o céu límpido acima deles --- Achei que quisesse viver uma aventura. Sabe, como nos livros que você lê. Sempre disse que não achava que pertencia ao mundo humano, e agora... bem, parece que havia algum sentido nisso, afinal.
--- Me sentir deslocada não é motivo suficiente para querer ir parar num outro mundo, ok? --- Ametista puxou as pernas, apoiando o queixo nos joelhos --- Não... não achei que era possível viver coisas como as que lia nos livros, por isso eu os lia. Para fugir da realidade.
Ela escondeu o rosto nas pernas.
--- Agora a realidade é outra e ela está sambando na minha cara ao som do Zeca Pagodinho. --- Sussurrou --- Não sei se posso fazer isso.
Jasper notou o medo em sua voz e olhou para ela. Depois, olhou ao redor.
O navio, o mar que os rodeava. Os orcs. Tudo parecia um sonho estranho. Mas não era um. E ele sabia disso.
--- Ah, vamos, Tista. Acorda pra cuspir. --- Ele cutucou-a --- Você já leu tantos livros com histórias tão parecidas com essa. Se tem alguém que pode resolver seja lá o quê está acontecendo nesse lugarzinho, então esse alguém é você.
--- Meus livros não me deram um certificado de "heroína com hack de protagonismo que tira poder do cu" sabia? --- Ametista o encarou com raiva --- Eu não sou como Naruto ou Goku ou o Chapolin Colorado. Eu não tenho uma história de superação ou um passado triste que vai comover todo mundo.
Ela suspirou, a raiva em seus olhos murchando enquanto sussurrava:
--- Eu sou só eu. Sem graça. Sem história. Uma menina comum.
Jasper fez uma careta.
--- Nunca mais diga isso.
--- Sobre eu ser comum? --- Ela levantou as sobrancelhas.
--- Não, sobre Naruto e Goku. Eles fizeram por merecer. E o Chapolin também. O cara é foda. --- Ele se arrastou para ficar mais perto dela --- Agora, olhe para mim.
Ela o olhou de canto, quieta. Jasper sorriu, o quê era raro.
--- Ametista, você é minha irmã, então não pense que eu vou deixar você desistir antes de tentar. --- Jas a empurrou com o ombro --- Na verdade não temos muitas escolhas e eu quero permanecer vivo e respirando pelos próximos oitenta anos, então você vai se esforçar, tá? Você consegue fazer isso. Qual a dificuldade de matar alguém?
--- Não sei, Fernandinho Beira-Mar, explica aí como se faz.
--- Virou piadista? Pede emprego no circo, palhaça. --- Jasper deu um tapa em sua testa --- Temos que fazer isso pra voltar. Se quiser voltar.
Eles ficaram em silêncio de novo.
--- Ametista? --- Jasper chamou, em voz baixa --- Você é a protagonista agora.
O peso das palavras de seu irmão atingiram Ametista como um soco no estômago e algo se remexeu em suas entranhas. Talvez fosse medo.
Jasper se levantou e lhe estendeu a mão antes que pudesse pensar demais.
--- Vamos. Você não vai querer ficar o resto do dia sentada aí. Temos que fazer com que eles nos contem mais sobre essa história.
Ametista hesitou um instante, então agarrou a mão do irmão e se ergueu.
--- Você tem razão. --- Concordou ela, ajeitando a roupa amassada, ainda usava o jeans da noite anterior e a camisa preta do Nirvana --- Vamos exigir alguma explicação. Uma mais plausível que profecias.
Eles caminharam pelo navio em busca de Aruanda, Wanderley e José. Não foi difícil achá-los, visto que estavam os três juntos num canto. Ametista notou que não havia mais ninguém a bordo, exceto eles e os três orcs.
--- Venham comigo. --- O orc vermelho, Yondher se aproximou deles --- Estamos quase chegando.
--- Onde? --- Indagou Ametista, seguindo-o junto com os outros.
--- Ao Império Pirata.
--- Ah, ótimo. --- Ela bufou --- Estou em One Piece agora.
Eles seguiram o orc até o toldo armado no meio da proa e ali encontraram Velinor debruçado sobre um mapa.
Aquela não era uma embarcação grande ou ornamentada, não haviam cômodos inferiores nem aposentos. Era um navio para viagens rápidas. Havia comida ali e foi para ela que Yondher apontou.
--- Café da manhã. ---- Explicou ele.
Ametista espiou a comida. Não era tão diferente quanto imaginou. Haviam frutas e algumas carnes e tortas.
José e Wanderley não perderam tempo, logo estavam atacando as cestas de frutas. Jasper parecia desconfiado demais para comer.
--- De onde é esse mapa? --- Aruanda questionou ao orc de pele verde.
Velinor a encarou pelo canto do olho por um momento, então afastou o corpo da mesa e apontou para o pedaço de pergaminho. Sua carranca havia diminuido.
--- De nosso continente, Briene. Pelo menos a parte dele que nos interessa. Nosso povo não explorou o quê há além do Mar das Serpentes... --- Ele mostrou o mar no mapa, tocando nos desenhos das enormes criaturas --- Nem das terras depois dos Vales. Mas, sabemos um pouco sobre alguns reinos e impérios que ficam nas outras partes do continente.
A garota de tranças se curvou para observar os desenhos. Os bosques amplos, os vales cercados de montanhas. E então as duas ilhas na parte inferior.
--- Parece um lugar muito bonito. --- Disse ela, se virando para o orc.
Velinor ficou calado, olhando para ela. Então, se virou para o mapa e começou a guardá-lo, murmurando:
--- Sem dúvidas.
--- Sem querer interromper, mas já interrompendo... --- Wanderley cruzou os braços, segurando metade de uma maçã --- Quando é que vocês vão explicar o quê está acontecendo de verdade? Melhor ainda, quando vou poder ir embora desse maldito barco e... aquilo foi um dragão?
Uma rajada de vento havia sacudido o navio, balançando-o de um lado a outro com força suficiente para fazer todos a bordo perderem o equilíbrio. Algo grande e vermelho, com asas longas passou acima deles com a velocidade de um cometa, sumindo entre as nuvens em seguida.
--- Sim, e um dos grandes. --- A orc de pele azul deslizou por um corda, descendo do mastro e pousando com um estrondo no convés. Ela se virou para Velinor --- Já sabem que estamos chegando.
--- Quê? --- O homem grisalho olhou de um para o outro, franzindo a testa --- Quem sabe? O quê era aquilo?
--- Aquele era Dain, o Cavaleiro Vermelho. Ele estava nos monitorando. --- Explicou Felliny, olhando para as nuvens onde a criatura alada havia sumido --- É um montador de dragão.
--- Jura? --- Wanderley deu uma risada de escárnio, pondo as mãos nos quadris. Sua maçã havia caído --- Eu não havia notado, com aquela besta vermelha voando em cima do meu cocuruto! --- Ele suspirou --- Isso é loucura. Eu devo ter exagerado no algodão doce, deve ser isso.
--- É, com certeza seria o algodão doce e não os três quilos de maconha que você anda fumando. --- Murmurou Jasper, observando o mar.
--- Isso é ridículo! --- Yondher balançou a cabeça, esbravejando --- Eles não vão conseguir nos ajudar. Vão piorar as coisas! Se já não tínhamos chances antes, agora pior. Olhe pra eles!
--- Calma aí, docinho de morango. --- Ametista passou por ele, indo ficar ao lado do irmão para ver o mar --- Não precisa exculhambar.
O orc de pele vermelha suspirou irritado. Aruanda observou os gêmeos e depois os demais presentes, encolhendo os ombros. O clima estava ficando hostil.
--- Querem saber o quê está acontecendo, não é? Então eu conto. --- Yondher apontou para Ametista --- Ela é a nossa única esperança. É a heroína por quem estávamos esperando e agora que ela está aqui, tem uma missão para cumprir. E vocês... são... --- Ele olhou para os humanos a bordo, suspirando --- Os imprevistos.
--- Que? --- Wanderley levantou as sobrancelhas --- Escuta aqui, pimenta malagueta, se você não está gostando disso, nós menos ainda, entendeu, meu chapa?
--- Vocês não deveriam estar aqui. --- Velinor concordou, recolhendo os demais mapas sobre a mesa --- Devia ser apenas ela.
--- É. Mas não podíamos correr o risco de deixá-los soltos após nos verem, então tivemos que trazê-los mesmo assim. --- Felliny comentou, olhando distraída para o céu --- Era isso, ou matar vocês e esquartejar os corpos.
Aruanda sentiu um arrepio na espinha e Jasper desviou os olhos do mar para observar os orcs a bordo pela primeira vez naquela manhã. José deixou as laranjas de lado e voltou a se agarrar ao braço da garota de tranças. Wanderley engoliu em seco, ajeitando os ombros.
--- Já disse que adorei o navio? --- Ele riu, nervoso --- É bem... marítimo.
Ametista voltou os olhos para o mar, e então avistou duas Ilhas. Elas estavam próximas uma da outra e ela podia ver vários navios âncorados em seus portos. A luz morna vinda do sol da manhã atingiu suas bochechas e ela se deu conta de que não estava mais no mundo que conhecia.
Estava muito, muito longe de casa.
Quando o navio finalmente parou, num porto movimentado e colorido, Ametista ficou sem palavras diante do que via.
Felliny pegou uma bolsa de couro e jogou para Wanderley.
--- Vistam. --- Mandou.
Ali dentro haviam capas negras com capuz que todos eles vestiram antes de deixar o navio, cobrindo suas roupas humanas.
Haviam comerciantes, feiras e muitos, muitos navios. Ametista viu outros orcs por ali, e pessoas altas, parecidas com humanos, mas de orelhas pontudas. Figuras pequenas e barbudas, cheias de ouro e prata. Viu Piratas com tapa-olho, pernas-de-pau e chapéus coloridos cheios de penas.
Era um mundo completamente novo, vibrante e colorido.
--- Chegamos. --- Felliny sorriu, seus dentes de tubarão ficando a mostra --- O Império Pirata.
--- E o quê estamos fazendo aqui? Suponho que não sejam compras. --- Tista pois as mãos nos quadris, notando que os transeuntes começavam a encará-los --- Eu ficaria decepcionada, já que deixei a carteira em casa.
--- Temos uma aliança com os Piratas. Essas duas Ilhas são as Ilhas Irmãs, Sylvia e Sila. Elas abrigam um enorme grupo de piratas que fazem parte do Império e aceitaram a aliança. --- Contou a orc, guiando-os para fora do porto --- Sei que estão confusos, mas terão explicações logo.
Ela os levou por uma trilha de pedras entre as árvores, em direção à uma colina, na qual havia uma vila tão movimentada quanto o porto. No centro da colina, havia uma construção grande, feita de pedra branca, com uma única torre.
--- Estão nos esperando lá. --- Contou Felliny --- É o Presa Branca, castelo do Imperador.
--- Bastante simpática, a arquitetura. --- Comentou Jasper, com sarcasmo.
Eles atravessaram a Vila discretamente. Yondher ia a frente do grupo e Felliny atrás, Velinor estava no meio, entre Ametista e Aruanda. Tista encarou as costas do orc a sua frente, pensativa. Ele também usava capa.
Ela puxou o tecido para chamar atenção dele e recebeu um olhar mortal em resposta. Sem desanimar, a garota se pois ao lado do orc.
--- Como ele se chama? --- Perguntou, curiosa --- Sabe, o tal Rei dos Elfos.
--- Nós não falamos o nome dele.
--- Ah, para né. --- Tista revirou os olhos --- Que é isso? Harry Potter?
Velinor ergueu um sobrancelha.
--- Quem é Harry Potter, menina?
--- Depois explico. --- Ela balançou as mãos --- Diz aí, qual o nome dele?
--- Ninguém sabe, realmente. Seu nome morreu a muitos anos. --- Contou --- Apenas o chamam de O Maligno.
Ametista engoliu em seco. Encolhendo os ombros.
--- Boa coisa ele não deve ser, né.
O resto do trajeto, ela fez em silêncio.
Não havia muito o que falar, embora José parecesse encantado com o mundo a sua volta. Por um rápido momento, Ametista se lembrou da madrinha do garoto e se perguntou o que ela estaria fazendo. Provavelmente, já devia ter colocado a polícia inteira atrás do menino.
Quando finalmente chegaram ao Presa Branca, Ametista notou que a construção era ainda mais imponente de perto. Haviam guardas armados nas entradas, homens e mulheres com espadas e pistolas, nas portas e parapeitos. Haviam dois homens parados na sacada da torre solitária, olhando-os de cima.
--- Quem são aqueles? --- Ametista indagou a Velinor, mas foi Felliny quem respondeu.
--- Dandelor e Anthorin Bellator.
Ela franziu a testa. Tinham o mesmo sobrenome, mas não eram nada parecidos. Enquanto um tinha o cabelo preto e a barba cheia, o outro tinha cabelos dourados como o sol e olhos azuis como o céu.
--- São irmãos? --- Questionou por fim, antes que chegassem mais perto, aos portões.
--- Não, eles são casados. --- Felliny contou, coçando o queixo --- São os Imperadores dos Piratas, comandam as Ilhas e os mares. São nossos maiores aliados.
--- Claro. --- Assentiu Ametista, apertando os lábios --- E eles vão me ajudar a matar o mal como estou destinada a fazer? Estou curiosa, eles pretendem usar as âncoras?
Velinor bufou, virando-se para ela.
--- Você é mais agradável quando está em silêncio. --- Disse o orc.
Ametista fez uma careta.
--- E você nem assim. --- Retrucou.
Quando passaram dos portões, pátios de pedras e árvores frutíferas os esperavam nos jardins do Presa Branca. Poderia ser apenas um casarão numa ilha tropical, mas estava longe de ser tão simples. Os guardas treinando e andando pelos pátios e jardins deixavam isso claro.
Quando chegaram a porta de entrada, dois guardas esperavam por eles. Velinor ia a frente do grupo e parou para se virar aos demais.
--- Vocês ficam. --- Ele apontou para Ametista --- Apenas ela virá.
Tista abriu a boca para retrucar, mas foi Jasper quem falou, num tom hostil.
--- Não vai levá-la. --- Ele segurou os ombros da irmã --- Não sem mim.
Velinor fez uma careta e os guardas levaram as mãos às espadas. Ametista se soltou do irmão e ficou ao lado do orc.
--- Tudo bem. --- Disse, embora estivesse com medo --- Eu vou.
Aruanda tentou argumentar, mas ela não deixou. Ametista virou as costas e encarou o corredor a sua frente. Os guardas levaram seus amigos para outro cômodo, na direção contrária.
--- Para onde estão os levando?
--- Ficarão seguros até que você termine o quê veio fazer aqui. --- Garantiu Velinor --- Venha. Você precisa se limpar antes da reunião.
Uma mulher negra e alta, com cabelos longos e esverdeados encontrou-os no corredor e levou Ametista para um quarto onde duas criadas a esperavam. Elas encheram uma banheira com água perfumada e apesar dos apelos da jovem para ficar sozinha, a banharam e lavaram seus cabelos.
Quando finalmente ficou sozinha para se vestir, após ameaçar as criadas com uma escova de cabelo, Tista teve vontade se afundar naquela banheira e não sair. As batidas insistentes na porta a fizeram desistir da ideia.
As criadas haviam deixado um vestido para ela. Ela longo, mas fresco, o quê era um alívio naquele clima. Tinha mangas longas, e seu tecido era escuro, com adereços lilases mas barras e Ametista o vestiu antes de deixar os aposentos.
--- Tava querendo derrubar a porta, é? --- Ela indagou a Velinor, que também havia trocado de roupa e a esperava --- Devia ter chutado logo.
--- Estão nos esperando. Pare de drama. --- Ele bufou, saindo. Ela o seguiu.
--- Eu quero água. Estou com sede. --- Tista correu para ficar ao lado dele.
--- Depois.
--- Não vou morrer desidratada!
--- Eu não teria tanta sorte.
Ametista revirou os olhos, mas um sorriso dançou em seus lábios. Era divertido implicar com Velinor. Eles viram a direita no corredor e se depararam com uma longa escada.
Havia um homem parado lá, os esperando.
Ele era alto, mas não como os orcs e suas orelhas não eram pontudas. Seus cabelos eram tão longos que chegavam a cintura e tão vermelhos quanto sangue. Suas vestes eram pretas como a noite e ele trazia na cintura uma longa espada.
Ametista o observou com atenção.
Não era velho como Wanderley, nem jovem como Jasper. Havia uma barba ruiva, crescendo como grama nova em seu queixo. Ela percebeu que ele não era apenas bonito, como charmoso.
--- Dain. --- Velinor cumprimentou, parando em sua frente.
Ela espiou por cima do ombro do orc, se lembrando do dragão. Ele era o Cavaleiro Vermelho.
Os olhos do estranho foram para a garota atrás do orc, quase escondida em suas costas. Ametista se sentiu nervosa com o olhar, que parecia queimar sua pele.
--- Barvi dae? *(É ela?)* --- Perguntou, a voz vibrante como rajadas de vento. Seus olhos não desgrudaram dos dela.
Velinor olhou do Cavaleiro para a garota, franzindo o cenho.
--- Sim, é ela. Podemos ir? Ou talvez você queira olhar mais um pouco, para pintar um quadro depois?
Dain piscou e desviou os olhos. Sua postura era impecável e ele apontou para as escadas com um aceno.
--- Er Ganisthy.
Ela franziu a testa, e olhou para Velinor, que começou a subir os degraus.
--- Er Ganisthy... --- Repetiu o orc --- A Prometida.
Ametista e Dain se encararam, enquanto Velinor subia.
V
elinor
Felliny
Yondher
Dain, o Cavaleiro Vermelho
Ilustrações do capítulo
( Presa Branca, Castelo do Imperador, Ilha Sila)
(Ametista e Dain)
O quê acharam do capítulo? Eu criei uma lingua para Briene, então sempre estarei colocando as traduções para vocês.
(Por favor, não usem as imagens sem minha autorização!)
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