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Capítulo 9

Alguns dias depois, Mi Suk estava entediada. Malaika parecia evitar a companhia dela – e a de qualquer outra pessoa que não fosse Taeyang – com maestria desde o dia de sua refeição com a tia do rei. Então, sem a possibilidade de se aproximar mais da princesa estrangeira, Mi Suk não tinha muito mais para fazer além de tagarelar consigo mesma em pensamento e tramar.

A nobre estava convicta de que precisava estar no palácio para que sua presença fosse notava e para se tornar necessária. Talvez, se Malaika a visse perambulando por lá com frequência, desse alguma abertura para que a byeol investisse na amizade entre as duas, mesmo que com segundas intenções.

Mas Malaika passava grande parte do tempo em seus aposentos, isolada, alegando não sentir-se disposta a passeios ou visitas e, quando alguém se atrevia a perguntar o que ela sentia, sua resposta sempre girava em torno da saudade de sua família. Família essa que, segundo o que Mi Suk tinha ouvido falar – e essa informação tinha sido conseguida pelos espiões de Hee Jin –, estavam a caminho de Hanbyeol naquele exato momento, podendo chegar a qualquer minuto.

Mi Suk, porém, não esperava conseguir nem um segundo da atenção da princesa naquele dia. Malaika estaria agitada com a chegada iminente de seus familiares e nem sequer cogitaria conversar com a byeol. Então, procurando ocupar seu tempo, a filha do ministro de pessoal decidiu visitar o palácio naquela manhã para algo consideravelmente mais aprazível: encontrar o primo do rei, seu futuro marido – se os planos da mãe dele dessem certo, é claro.

Porém, mesmo com o futuro ainda incerto, o belo príncipe Wang Joon Ho era sempre agradável aos olhos e Mi Suk acreditava que nunca era cedo demais para começar seu relacionamento com um homem como aquele.

Belo, alto e de ombros largos, Joon Ho caminhava descontraidamente com um único guarda a tiracolo e um olhar perdido em suas feições. Ele tinha um ar levemente arrogante que Mi Suk achava completamente natural em alguém tão inerentemente aristocrático.

A semelhança com Taeyang tinha gerado muito falatório e fofoca nos anos de adolescência dos dois, mas, de alguma forma, Joon Ho conseguira eliminar a maior parte das conjeturas acerca de seu próprio direito ao trono com uma constante desconsideração por seu próprio posto. O jovem apenas poucos anos mais velho que o rei sempre mudava de assunto quando surgia a mínima perspectiva de que o assunto de sua possível reivindicação começasse.

Diferente do que a maioria pensava, porém, a evasiva nunca fora um ato dissimulado, apesar de ser deliberado.

Joon Ho realmente abominava todas as insinuações de que ele deveria ser rei no lugar de Taeyang, mesmo quando elas vinham de sua própria mãe. Mesmo se não fosse por ele próprio detestar os trâmites políticos e as horas intermináveis de trabalho que o cargo do rei exigia, seria porque ele acreditava que seu primo tinha verdadeira vocação para o título.

Taeyang havia estudado e treinado a vida inteira para ser rei e gostava do que fazia. Joon Ho não podia ignorar os sorrisos satisfeitos ou os olhos brilhantes de contentamento do primo toda vez que este conseguia atuar como desejava em prol do povo byeol, e nunca tentaria tirar isso dele, do jovem solitário que não tivera qualquer outro amigo na infância além do próprio Joon Ho e seus guardas.

Por causa disso, Joon Ho observou com atenção a jovem nobre que se aproximava dele descaradamente em um dos pátios laterais do palácio enquanto ele conversando com seu guarda de forma compenetrada sobre que espécie de flores seria mais adequada para um pedido de desculpas a Malaika Kalejaiye.

Ele conhecia o olhar altivo que a jovem de pele muito clara, cabelo preto e olhos castanhos de formato oriental arredondado carregava, principalmente porque ele mesmo usava aquela expressão com frequência. Não porque ele quisesse parecer arrogante e se mostrar melhor que alguém, é claro, mas sua altivez era tão incentivada desde que ele nascera que já se tornara inerente.

Seus olhos vagaram por todo o corpo da jovem em uma inspeção silenciosa. Ela era elegante e usava roupas caras, apesar de o pequeno sorriso falsamente tímido não apagar o brilho quase predatório de seus olhos. Ele sorriu em aprovação mais do que em cumprimento quando ela o saudou:

— Príncipe Joon Ho! Que surpresa agradável encontrá-lo aqui.

Os olhos de Joon Ho encontraram os de seu guarda, que não disse uma única palavra para ajudá-lo a entender por que a jovem estava ali e o que poderia querer com ele – além do status que todos queriam ao se aproximar de um membro da família real, evidentemente.

— Eu posso dizer o mesmo, mas preciso que me perdoe por não me recordar de seu nome, senhorita...

— Lee Mi Suk, Vossa Alteza — ela ofereceu a informação sem um único traço de lamento e por um segundo Joon Ho se perguntou se realmente já tinham sido apresentados antes. — Filha do ministro de pessoal.

— Sim, é claro! Como pude me esquecer?

Enquanto o guarda do príncipe fazia uma careta que nenhum dos dois nobres viu, Mi Suk sorriu de forma sensual e recebeu o mesmo tipo de sorriso de Joon Ho em troca.

Ele gostava do jogo de sedução e bajulação a que sempre era submetido, apesar de raramente deixar o jogo chegar a alguma conclusão. Ele podia gostar da atenção, mas não era estúpido. Mesmo sendo um membro da família real, como próximo na linha de sucessão, tornava-se uma peça muito valiosa para alguns interessados em poder e, consequentemente, também se tornaria deveras vulnerável se não tomasse cuidado.

— Eu não sabia que Vossa Alteza tinha voltado para o palácio — Mi Suk comentou, tentando abrir espaço para alguma intimidade. Ela tinha que começar por algum lugar e, se pudesse conquistar o homem com uma boa conversa ambígua, não tinha nada a perder.

— Estou apenas de visita — respondeu Joon Ho, mantendo a conversa, mas com cuidado para não se comprometer com qualquer ideia que pudesse gerar mexerico sobre suas intenções. — É um momento importante para Sua Majestade e eu não podia deixar de lhe apresentar meus sentimentos por tão grande perda e os parabéns pelo casamento.

Mi Suk tentou evitar uma careta, mas não foi eficaz o suficiente para impedir que Joon Ho percebesse. Seria possível que todas as conversas na capital girassem em torno de Malaika Kalejaiye?

— Sim, sem dúvida. Imagino que Sua Majestade esteja feliz em vê-lo — declarou ela, usando o mesmo termo que ele para se referir ao rei, tendo percebido a pequena ênfase que ele usou no termo, como se quisesse demonstrar respeito. — Vocês sempre foram próximos, não é?

— É uma honra poder dizer que sim.

O problema era que ninguém acreditava que isso era verdade. Ninguém além do próprio Taeyang e de alguns poucos guardas reais aceitavam que Joon Ho estivesse mais interessado em sua amizade com o primo no que no trono dele.

Taeyang, por sua vez, parecia ser o único que enxergava claramente as tentativas do primo mais velho de evitar ser associado ao trono ou qualquer coisa próxima a isso, como naquele momento, em que teve um vislumbre da cena que se desenrolava entre o próximo na linha de sucessão e a filha do ministro de pessoal. O rei estava caminhando a passos largos para a recepção preparada – adequadamente desta vez, para seu alívio – para a chegada da família de sua noiva, mas interrompeu seus passos ao notar a tensão em cada passo que Joon Ho dava para trás conforme Mi Suk dava alguns para frente, na direção do príncipe.

Em um certo momento, um dos passos de Joon Ho foi tão largo que ele quase esbarrou em seu guarda, mas o príncipe disse alguma coisa que fez a nobre parar de se mover, os cantos da boca apertados em... irritação, talvez?

Ver seu primo precisar se esquivar de avanços indesejados não era novidade, porém, e Taeyang apenas suspirou quando compreendeu que Joon Ho tinha tudo sob controle. O rei gostaria de receber a visita do primo com mais frequência, mas reconhecia a penosidade do gesto e aceitava, na verdade até incentivava, que a presença do príncipe fosse insólita, para a tranquilidade do primo.

Logo Taeyang voltou a caminhar, porém. Não podia se atrasar para a recepção da família de Malaika. Tinha ouvido falar que a avó da noiva era uma figura sem igual de língua afiada e não queria correr o risco de contrariá-la.

A recepção da família Kalejaiye tinha toda a pompa que a de Malaika não teve. Guerreiros, eunucos, funcionários, criadas e ministros formavam diversas fileiras nas laterais do pátio principal, deixando uma passagem larga no centro que levava até os degraus do edifício que abrigava a sala do trono, onde Malaika estava de pé, com os olhos ansiosos vasculhando cada centímetro dos portões à procura de sua família.

Até mesmo Joon Ho compareceu alguns momentos depois, tendo conseguido se libertar das insinuações da filha do ministro de pessoal, apesar de permanecer quase escondido em um canto, perto dos ministros.

Quando Taeyang se aproximou da noiva e parou ao seu lado, ela o fitou com os olhos escuros brilhando de entusiasmo e sua mão apertou a dele em um gesto impulsivo enquanto murmurava um agradecimento. O rei sentiu todo o sangue subir para seu rosto em um rubor de excitação e acalento e não tentou esconder um sorriso, enquanto segurava a mão delicada dela entre seus dedos por um segundo a mais do que deveria.

A inquietação o obrigou a desfazer o contato, porém, quando pessoas negras apareceram nos portões e a chegada da família real de Omlai foi anunciada.

Assim como tinha acontecido na primeira vez em que Malaika botara os pés no palácio real de Hanbyeol, duas guerreiras vinham à frente dos Kalejaiye, seus passos firmes soando sobre o pavimento do pátio como um aviso ritmado de que elas ainda estavam em alerta.

A poucos metros dos degraus que levavam a Malaika e Taeyang, porém, cada guerreira se retirou para um lado, possibilitando que o rei byeol visse pela primeira vez seu cunhado e a avó dele, que pararam onde estavam.

Gimbya Kalejaiye era uma anciã muito saudável para a idade. Ela não era arrogante ou se obrigava a uma postura rígida apenas para seguir a etiqueta de uma nação à qual não estava acostumada. Era mais como se ela soubesse que, a um único olhar seu, céus e terras se moveriam sem que ela sequer precisasse pronunciar um comando, e sua expressão vagamente satisfeita demonstrava que sabia disso. Seus olhos encontraram os de Malaika e um suave movimento dos cantos de seus lábios indicou aprovação para o que estava vendo. Sua neta estava em seu devido lugar, orgulhosamente ao lado do noivo e rei.

Por outro lado, Kayin Kalejaiye parecia tão imponente quanto a fama de sua nação. Um príncipe herdeiro que antes tinha treinado como guerreiro, Kayin tinha ombros largos e o corpo de pele pouco mais escura que o cobre evidenciava os músculos mesmo sob as roupas elegantes. O rosto anguloso parecia sério e austero, mas sua expressão suavizou com um sorriso largo e radiante assim que fitou a irmã, que sorriu de volta para ele de forma encantadora, como uma criança que não vê um familiar há muito tempo.

A um gesto de Kayin, abrindo os braços como se convidasse a irmã que, para ele, sempre seria sua pequena princesa, toda a etiqueta que Hanbyeol conhecia foi esquecida e os passos apressados de Malaika a levaram para os braços calorosos do irmão.

Com um som intimidador, todas as guerreiras omlai, inclusive as da guarda de Malaika, ajoelharam-se em respeito à demonstração de afeto entre seu príncipe herdeiro e a irmã, enquanto a princesa se aninhava ao peito forte do homem como faria com um travesseiro particularmente confortável e respirava fundo. Parecia que finalmente estava em casa, com seu futuro marido, sua avó e seu irmão reunidos em um mesmo lugar.

Esse pensamento, porém, lembrou-a de outra pessoa e ela se afastou de Kayin para perguntar, enquanto as guerreiras se levantavam, novamente em sincronia:

Baba?

— Achou que seria mais prudente não deixar Omlai sem supervisão. — As palavras do príncipe herdeiro de Omlai levaram uma careta frustrada ao rosto de Malaika, que ele desfez com um carinho do polegar enquanto sorria e tentava consolá-la: — Mas você terá minha ilustre presença até depois do casamento.

Malaika sorriu de novo e o abraçou fortemente de novo, mas dessa vez foi tão rápido que as guerreiras não tiveram tempo de demonstrar seu respeito.

Ao se aproximar da avó, a princesa recebeu um beijo na testa e teve suas mãos seguradas com carinho.

— É bom ver que está feliz, Malaika — proferiu Gimbya, colocando tanta ênfase no nome que os olhos da princesa encheram de lágrimas com a certeza de que a avó o usava, não só como seu nome, mas também por seu significado, chamando-a de anjo.

— Ah, bibi... também senti sua falta!

— Mas é claro que sentiu! — Gimbya se apressou em dizer, fazendo outro sorriso surgir no rosto da neta e espantando a sensação de nostalgia. — Não há como não sentir minha falta.

Quando Malaika se virou na direção de Taeyang, o rei estava sorrindo, mesmo sem compreender uma única palavra trocada entre os omlai. O reencontro era uma linda cena e ele estava mais do que feliz em proporcioná-la à noiva, cuja expressão sorridente pareceu atingi-lo no estômago como um soco, enviando ondas de calor e afeto por todo o seu corpo.

Enquanto Malaika guiava a avó e o irmão pela mão até Taeyang para poder apresentá-los, ambos analisaram rapidamente a reação do rei. Kayin com o rosto austero novamente, os olhos incansáveis tentando se certificar de que o sentimento no rosto do outro homem era verdadeiro; e Gimbya com uma única sobrancelha erguida, positivamente surpresa por constatar que o jovem casal de noivos já nutria aquele tipo de afinidade, mesmo em tão pouco tempo.

Algum tempo depois, Nia chegou ao pavilhão de treinamento e encontrou suas guerreiras paradas, algumas de braços cruzados, ladeando o pátio onde os guardas do palácio treinavam sob os olhares irritados das mulheres omlai.

A comandante franziu o cenho enquanto se aproximava.

— O que está acontecendo? — perguntou no idioma de Omlai quando chegou perto o suficiente para não precisar gritar.

— Nós deveríamos treinar agora, como estava combinado, mas eles chegaram primeiro e se recusam a sair — foi Ayla quem respondeu, baixando um pouco a voz em seguida, como se pedisse desculpas a sua líder ao completar: — Nós não entendemos uma palavra do que eles dizem e acho que eles também não entendem o que dizemos. Então, até que eles decidam sair por conta própria ou que decidamos usar força bruta, não sabemos o que fazer.

Nia sorriu matreiramente para Ayla à menção de força bruta. A comandante sempre gostava dessa opção, apesar de ela mesma não a usar com frequência. Mas voltou seus olhos para os homens que se exercitavam ao mesmo tempo em que tentavam fingir que os olhares atentos das mulheres a sua volta não os afetavam. Aquela questão de que só ela sabia falar a língua deles estava começando a se tornar inconveniente, principalmente porque o capitão da guarda estava fazendo questão de usar isso contra elas – ou contra ela, especificamente.

Como se tivesse sido convocado por seus pensamentos, Young Chul saiu de dentro do pavilhão com postura confiante e seus lábios formaram um pequeno sorriso debochado quando a viu.

Nia lutou para não ranger os dentes, apesar de suas feições austeras não mudarem enquanto se aproximava, decidida, do byeol arrogante.

— Tire seus homens do pátio de treinamento — a mulher ordenou, quase como se ele mesmo fosse um de seus subordinados, porém um pouco mais ríspida.

Chul a olhou da cabeça aos pés. A altura dos dois era quase a mesma e o olhar duro dela indicava claramente que se sentia na mesma posição que ele. Na verdade, se estivessem em Omlai, ela seria sua superior na hierarquia, por ser comandante. Mas Chul gostava de mulheres recatadas e dóceis e não admitiria ser intimidado por ela – ou que ela roubasse seu lugar como chefe da guarda real.

Estava na hora de aquela mulher, suas guerreiras e toda Hanbyeol entenderem que uma única falha, por pior que tivesse sido, não o tornava um líder ou guarda menos apto.

— Meus homens têm o direito de treinar. Esse pavilhão é deles — respondeu e tentou passar por ela, mas ela colocou todo o corpo na frente dele, os músculos bem trabalhados retesados, demonstrando que não seria fácil movê-la dali.

— Esse pavilhão também é nosso e este é o nosso horário de treinamento. Está marcado assim desde que viemos para cá.

— Bem, eu não vejo você treinar, senhorita Okonjo. — Ele deu ênfase à palavra senhorita e pronunciou o sobrenome dela com cuidado. Chul se recusava a chamá-la de comandante e reconhecer o poder que o título guerreiro carregava, mas também não estava disposto a passar vergonha errando a pronúncia do nome estrangeiro. — Além disso, o pátio estava vazio. Se suas guerreiras não estavam usando, meus homens podiam aproveitar e usá-lo.

— O quê? Nós estávamos na... — Então ela piscou e o encarou novamente. — O que quer dizer com isso de não me vê treinar?

— Também não a vejo perto de Sua Alteza Malaika, para protegê-la — Chul alfinetou.

Nia poderia ter considerado um avanço que ele reconhecesse Malaika como sua princesa e a chamasse de Sua Alteza, mas ficou presa em suas outras palavras.

— Acha que eu não protejo Sua Alteza?

— Como poderia, se nunca está com ela?

— Acha que eu preciso estar ao lado dela para protegê-la? — Chul tentava passar pela comandante para sair andando, mas a mulher parecia ter músculos de aço, pois nem se movia quando ele tentava tirá-la da frente. — Acha que uma lâmina ao lado dela, pronta para atingir um inimigo que a ataque abertamente, é a única forma de protegê-la?

Chul a fitou, os olhos castanhos de formato amendoado encontrando os grandes olhos quase pretos dela pela primeira vez. Por sua mente, porém, passavam tantas coisas que ele não tinha o que dizer em resposta às perguntas dela.

Apesar de tudo que ele já tinha visto acontecer na corte byeol, a proteção física de perto sempre foi a mais importante. Ele sempre achou que o rei, fosse ele qual fosse, seria capaz de lidar com o resto. Mas podia ver nos olhos de Nia naquele momento que ela pensava diferente.

Para Nia, a proteção só estaria completa se a pessoa protegida não precisasse se preocupar com os inimigos. Fosse interceptando uma mensagem, conhecendo as pessoas que se opunham à princesa ou organizando a escala de trabalho das guerreiras, mesmo que não precisasse usar seu arco, Nia estava em constante alerta e praticamente trabalhava para proteger Malaika o tempo todo, não descansando nem em suas horas de folga.

— Se não entende como faço o meu trabalho, não deveria me julgar. Eu não julgo a forma como faz o seu — declarou Nia e se afastou do capitão de repente, deixando-o com uma sensação de vazio pela falta da presença dela, que ele mal sentira estar tão perto.

Chul decidiu que a sensação era só porque Nia Okonjo e suas pernas grossas eram consideravelmente maiores que o tipo de mulher que ele considerava ideal, e não porque ele secretamente gostava da sensação do ar carregado de tensão inteligente e competente que sentia toda vez que ela estava por perto.

— Ayla! — chamou Nia, mesmo ainda de longe. — Força bruta — comandou no idioma de Omlai.

A guerreira sorriu para a comandante e Chul não entendeu a comunicação entre as duas, mas viu nitidamente as guerreiras omlai cercando o pátio de treinamento e seus homens como abutres rodeiam carniça e estreitou os olhos quando viu o cerco diminuir. Os rostos de seus homens mostravam confusão e seus olhos estavam arregalados.

Nenhum deles admitiria sentir medo naquele momento, nem que a palavra que passava em suas cabeças para definir as guerreiras omlai era selvagens. Mas Chul, de repente, tinha uma palavra melhor, ainda que não quisesse admitir nem para si mesmo que pensava aquilo das estrangeiras. Implacáveis.

Hadiya se aproximou com Jae In, vindos da sala do trono, e percebeu o pequeno sorriso vitorioso no rosto de Nia, mas manteve-se observando a movimentação das outras guerreiras com uma mistura de surpresa e empolgação, enquanto estas expulsavam os guardas do pátio de treinamento sem nem mesmo encostar neles.

— Foi necessário — Nia comentou, como se explicasse a própria ordem.

Hadiya apenas sorriu e levantou as mãos, querendo dizer que nem tinha pensado em questionar a amiga. Independentemente do que tivesse acontecido, Hadiya sempre gostava de ver as guerreiras omlai em ação.

Alguns segundos se passaram até que as guerreiras começassem seu próprio treinamento no pátio já sem os guardas, então Jae In tomou coragem, limpou a garganta e falou o que vinha esperando o momento certo para dizer:

— Vocês dois estão sendo convocados para o jantar entre as duas famílias reais.

Os olhos de Nia encontraram os de Chul em um leve desafio, mas se voltaram para Jae In quando finalmente percebeu o significado de suas palavras.

— Quem teve a ideia de juntar a família de Vossa Majestade e a de Sua Alteza para uma refeição? — perguntou a comandante a ninguém em particular, mas o aprendiz respondeu mesmo assim:

— Vossa Majestade.

Nia olhou para Hadiya e encontrou resignação em seu rosto. A amiga já tinha pensado o mesmo que ela. Gimbya Kalejaiye e Wang Hee Jin juntas à mesma mesa de jantar não poderia ter um resultado bom.

Chul, ainda irritado por seu plano de atingir Nia e as guerreiras aparentemente não ter funcionado, andava a passos firmes e rápidos na direção que Jae In tinha indicado para o jantar das duas famílias reais, enquanto o aprendiz e Hadiya caminhavam lado a lado pouco atrás, com Nia ainda mais distante, parecendo quase solitária em seus passos controlados enquanto observava as movimentações do palácio no crepúsculo.

Assim como o capitão, a comandante estava irritada, mas usava a satisfação pela forma como tinha finalizado a conversa e pela ação de suas guerreiras como combustível para controlar suas emoções assim como seus gestos.

— Tem ideia do que aconteceu entre os dois? — perguntou Jae In em um sussurro enquanto ele e Hadiya fingiam não prestar atenção em seus líderes.

— Não sei o que eles disseram ou fizeram um ao outro, mas pelo que vi no pátio de treinamento, tenho certeza de que tinha algo a ver com as guerreiras e os guardas — respondeu Hadiya no mesmo tom depois de uma olhada para trás para saber se Nia os observava.

— Acha que ele está usando as regras do pavilhão de treinamento para atrapalhá-las? — Jae In parecia preocupado.

Hadiya observou o belo rosto do homem ao seu lado por um instante, sem saber se deveria manter a conversa voltada para a desconfiança que ela e Nia sentiam com relação ao capitão e a maioria dos byeols. Jae In parecia ser receptivo e confiável, mas também fazia exatamente o que lhe mandavam quase sem questionar. Talvez não fosse inteligente deixar o aprendiz perceber o quanto os sentidos das omlai estavam em alerta.

Os olhos de Jae In, porém, afastaram a preocupação da guerreira, mesmo que relutantemente, ao encontrarem os dela com um misto de apreensão e sigilo, como se tentasse esconder de seu próprio capitão que se preocupava com as consequências das atitudes dele.

Sem querer se comprometer, mas de alguma forma não sendo capaz de ignorar a pergunta do jovem tão genuinamente desassossegado, Hadiya respondeu apenas:

— Acho que Nia pensa assim.

Jae In fez uma careta enquanto olhava bem no fundo dos olhos da guerreira. Se a comandante omlai pensava que Chul estava tentando prejudica-la, era o suficiente para que ela agisse com relação a isso, o que teria consequências, principalmente porque Jae In conhecia seu capitão e sabia que aquela disputa só cresceria até que um dos dois fizesse alguma bobagem.

Pensando que talvez precisasse tentar colocar juízo na cabeça de seu capitão enquanto a comandante omlai ainda estava sendo paciente, comentou:

— Espero que ele não esteja causando muitos problemas.

Então Hadiya sorriu, prendendo a atenção do jovem em seus lábios e deixando a mente dele momentânea e estranhamente vazia.

— Não se preocupe. Ele não conseguiu nada mais que algumas discussões com Nia até agora — contou Hadiya.

Piscando, Jae In retribuiu o sorriso, ele mesmo um pouco incerto se como reação às palavras dela ou apenas para tentar evitar a vontade exorbitante de tocar a pele escura e lisa do rosto dela.

— De qualquer forma — disse ele depois de pigarrear —, espero que ele ou os outros guerreiros não estejam tornando sua adaptação em Hanbyeol mais difícil.

Os olhos de Hadiya suavizaram, perdendo o brilho brincalhão.

— Vamos superar. — Então, com um olhar de esguelha para Nia, ela prosseguiu: — Espero que seu trabalho tenha melhorado ou, ao menos, que não esteja mais te esgotando.

O largo sorriso quadrado que recebeu do aprendiz atingiu algum lugar no peito de Hadiya, fazendo algo quente e delicioso explodir ali.

— Acho que estou me acostumando — disse Jae In em tom de confidência, a voz grossa sussurrada adquirindo um tom rouco sensual que fez os pelos de Hadiya se arrepiarem.

Os dois deixaram-se cair em um silêncio agradável, preenchido apenas pela atração que cada um sentia pelo outro e pela satisfação de caminharem juntos enquanto esperavam pelo momento adequado para avançar nessa questão e seus passos os aproximavam do pátio elegantemente ornamentado onde a refeição da realeza aconteceria.

As famílias reais de Hanbyeol e Omlai, em breve uma única família ligada pelo casamento, já estavam acomodadas em três mesas próximas dispostas como um quadrado aberto com a mesa do rei ladeada por uma de seus familiares e uma dos familiares de sua noiva, cada uma repleta de iguarias acompanhadas de uma garrafa de vinho de arroz.

Como o casamento ainda não havia ocorrido e Malaika ainda não era rainha de Hanbyeol, Taeyang estava sozinho à sua mesa e olhava em expectativa para a noiva, que estava acompanhada da avó e do irmão, de frente para a tia e o primo do rei.

Como se soubesse o campo minado em que tinha posto todos os presentes, Taeyang apenas relaxou quando viu as guerreiras e os guardas assumirem seus postos perto dos nobres, mas ainda alertas. Assim como às mesas, as cores e texturas das duas diferentes nações se misturavam também entre a guarda, com Nia, Hadiya e até mesmo a líder da guarda de Kayin, Imani, junto de Chul, Jae In, um guarda de Hee Jin e o guarda de Joon Ho, Gok Seo Jun.

Deixando de lado suas primeiras – e, até aquele momento, últimas – experiências com a família de Taeyang, Malaika iniciou uma conversa que pensou ser inofensiva, sobre as belezas de Hanbyeol e como ela estava encantada pela nação desde que chegara.

— As construções byeol, tanto do palácio quanto das cidades por onde passamos, parecem muito bem elaboradas e incrivelmente aconchegantes — contou Malaika depois que Gimbya pediu uma explicação sobre como ela estava encantada com Hanbyeol.

— Bem, nossas construções são sempre projetadas para o conforto, principalmente nas partes mais ricas das cidades e no palácio. É bom saber que Vossa Alteza acredita que o propósito está sendo cumprido — foi Joon Ho quem respondeu, parecendo menos altivo que da última vez em que os dois tinham se encontrado, apesar de o orgulho por suas raízes permanecer inalterado.

A princesa viu, porém, os comentários confiantes do primo do rei sobre sua nação instigarem palavras quase de desafio retrucadas por sua própria avó, que afirmava a exuberância e os encantos de Omlai:

— Vocês não acham que seus muros e pátios os afastam da natureza? Mesmo aqui ao ar livre, apesar de algumas árvores e flores, a força da natureza ainda parece longe, como se estivesse banida para as montanhas distantes.

Malaika franziu o cenho, mas manteve a cabeça baixa enquanto pegava uma iguaria byeol e colocava em seu prato. Sua avó sempre se preocupara com a proximidade da natureza onde quer que estivessem e insistia que era fundamental, para manter a energia e os recursos balanceados, mas os byeol não pareciam ter o mesmo pensamento, protegendo-se do clima e dos animais com seus muros, paredes e roupas de seda em vez de couro. A princesa entendia as diferenças nas formas de pensar e agir entre os dois reinos, mas não tinha certeza se as outras pessoas presentes entenderiam.

— Eu entendo isso como um bom sinal, Vossa Alteza, um passo à frente em direção ao conforto, ao luxo e à segurança — Joon Ho respondeu, as feições gentis agora, como se sentisse orgulho pela mulher mais velha ter percebido algo que ele admirava.

Mas ele estava enganado sobre a reação de Gimbya.

— Como é possível ter luxo e conforto sem a energia da natureza? — exclamou a anciã, com uma leve alteração na voz graças ao fato de o jovem à sua frente não ter entendido a reprimenda. — E segurança?

Bibi — Malaika sussurrou, chamando a atenção da avó antes que esta continuasse. — Nossos reinos têm costumes diferentes, a senhora sabe disso.

— Eu sei, mas eles precisam compreender que não há segurança alguma em se afastar da natureza e se aproximar dos homens, mantendo todos enclausurados dentro de seus muros...

Bibi... — A palavra era uma súplica quase inaudível enquanto Malaika apertava uma das mãos de Gimbya por baixo da mesa.

Ela já tinha passado por tantas situações complicadas e desagradáveis graças às diferenças entre os dois reinos, não havia por que permitir que a avó criasse mais uma, principalmente antes que ela conseguisse pensar em um jeito de ultrapassar essa barreira.

— Infelizmente, Vossa Alteza Gimbya — Taeyang começou, percebendo o nervosismo da noiva e sua tentativa de evitar a conversa — Hanbyeol não tem tanta proximidade com a natureza quanto Omlai, ao menos não diariamente. Esse é um dos motivos por que eu quero tanto esse casamento. Podemos aprender muito uns com os outros, byeols e omlais.

Gimbya encarou o rei com uma única sobrancelha levantada por um instante. Para ela, estava claro que Hanbyeol tinha muito mais a aprender com Omlai do que o contrário, se é que o contrário podia ser considerado uma realidade. Mas a anciã viu o jeito com que sua neta agradeceu ao rei com os olhos e como ele retribuiu com um sorriso e uma piscada que indicavam que aquilo não era nada comparado ao que ele estava disposto a fazer por ela.

Taeyang tentava controlar a conversa por Malaika, e não por seus próprios costumes ou desejos diplomáticos, e foi só por isso que Gimbya permitiu que ele mudasse o rumo da conversa, apesar de a vontade do rei falhar amargamente alguns segundos depois, com as palavras de Hee Jin:

— Eu discordo. Acredito que as duas nações estão perfeitamente bem como estão, em relação à proximidade da natureza. Não precisamos dividir a casa com animais nem fingir que não temos mais recursos do que a natureza pode oferecer.

Em Omlai, as mulheres tinham permissão e liberdade para dizer o que pensassem a qualquer hora. Em Hanbyeol, porém, elas deveriam permanecer recatadas e silenciosas, sobretudo quando um homem estava falando. Hee Jin, porém, estava contrariando o rei e seus convidados, o que tornou as feições de Taeyang sombrias.

Ela era sua tia, porém, e ele lhe devia respeito, assim como seu pai a respeitava, apesar das atitudes rebeldes dela.

Gimbya, entretanto, e sua língua afiada foram mais rápidas em responder a Hee Jin:

— Pensa que é assim em Omlai? Que dividimos o espaço com animais? Ora, só com aqueles que são desejáveis, o que aparentemente não é o que acontece aqui, onde qualquer um pode se juntar para o jantar.

Os olhos orientais arredondados de Hee Jin se arregalaram até ficarem quase completamente redondos. Joon Ho engasgou com a própria risada e começou a tossir, em uma tentativa de controlá-la. Kayin abaixou a cabeça para esconder um sorriso e Malaika arfou, pega de surpresa pela insinuação da avó.

Taeyang, porém, não demonstrou qualquer reação física, para maior indignação de Hee Jin. A tia merecia a alfinetada, porém, por não tentar nem uma vez ser agradável com os Kalejaiye.

— A questão — começou Taeyang no momento em que Hee Jin abriu a boca para falar — é que os costumes de Omlai têm funcionado há séculos, assim como os de Hanbyeol. Seria preciso ser cego para não enxergar que há coisas valiosas nos dois reinos e eu acredito que só temos a ganhar aprendendo uns com os outros.

Taeyang enfatizou a palavra eu para lembrar a sua própria tia que ele era o rei e sua vontade imperava sobre a dela e de todos os byeol. Se isso servisse de aviso para os Kalejaiye também, ele não reclamaria.

— Eu só consigo ver vantagens nessa união — Taeyang continuou e seus olhos encontraram os de Malaika com um brilho intenso, mostrando que suas palavras iam além da discussão entre Gimbya e Hee Jin. — Em todos os sentidos.

Se a pele de Malaika fosse mais clara, seu rubor seria visível. Como não era o caso, Taeyang apenas percebeu que a deixou acanhada quando ela abriu um pequeno sorriso tímido e baixou os olhos.

Ainda assim, a princesa omlai encontrou desembaraço suficiente para complementar a fala dele:

— E eu acredito que, se houver vontade e bravura, podemos não só aprender juntos, como amar e crescer também.

Kayin olhou para a irmã e para o futuro cunhado com o semblante indecifrável por vários instantes. Quase podia sentir a união daqueles dois e a força que emanavam juntos, por sua coragem de enfrentar a todos que discordassem do casamento e sua determinação de manter o acordo. Mas não era por isso que o herdeiro do trono omlai estava sem fala.

Em todo o tempo que Kayin acompanhava seu pai e se preparava para o reinado, o príncipe omlai encontrara diversos monarcas e tivera a chance de avaliar seus planos, ainda que de longe, mas nenhum deles demonstrara tanta vontade de crescer – e crescer rodeado por amor, carinho e amizade – quanto Shin Taeyang.

Como omlai e tendo crescido sob os olhos atentos e os ensinamentos rígidos de Gimbya, Kayin sabia a importância da família e do afeto para um monarca ou súdito e podia diferenciar os benefícios e malefícios que o peso e a honra de tais laços poderiam gerar para cada um. Por isso mesmo, era ainda mais admirável que o jovem rei estrangeiro também parecesse entender tudo isso, apesar dos costumes individualistas de seu povo.

5749 palavras

Conheçam Gimbya Kalejaiye:

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