Capítulo 8
Malaika passou alguns instantes encarando as paredes depois que Hee Jin saiu. Não sabia o que fazer. Não imaginava que preparar e compartilhar uma refeição com a tia do rei fosse ter como resultado uma discussão e insultos voltados para ela.
Estava claro desde o início que algumas pessoas não concordavam com a presença dela em Hanbyeol nem com seu casamento com Taeyang, mas ela não esperava que a animosidade fosse tão visível. Ela estava pronta para burburinhos e dificuldades políticas, até alguns obstáculos para ser aceita socialmente, mas não tinha previsto discussões acaloradas e enfrentamentos.
Com corpo e mente inquietos, Malaika deixou a antessala de seus aposentos e rumou para fora do pavilhão. Parou bruscamente ao olhar para as duas guerreiras que estavam de guarda. Não eram Nia e Hadiya dessa vez e a princesa engoliu um muxoxo ao mesmo tempo em que sentia algo pesar em seu coração. Precisava das amigas agora mais do que das guerreiras.
Estava sendo difícil aguentar todas as adversidades de cabeça erguida. Longe de casa com apenas as guerreiras como amigas próximas e confiáveis, Malaika vinha tentando olhar para todos os acontecimentos com bons olhos e tirar o melhor proveito de cada situação, mas até seu coração naturalmente gentil e empolgado tinha um limite para evitar enxergar que era indesejado. Aos olhos da princesa, se ela analisasse com cuidado, apesar de poucas exceções como o próprio rei, seu aprendiz de guarda Jae In e a criada Seo Yun, todos pareciam condená-la e rechaçá-la.
Mas Malaika tinha escolhido aquilo para si e tinha assegurado ao irmão que podia enfrentar as dificuldades quando ele a alertou sobre elas. Balançando a cabeça como se o gesto pudesse ajudá-la a se concentrar em algo mais produtivo que a tristeza, voltou a andar, com as duas guerreiras seguindo-a de longe. Encontraria as amigas e, com a ajuda delas, conseguiria colocar a cabeça no lugar. Nia pensaria em como evitar que a princesa fosse atingida tão frequentemente pela hostilidade dos byeol e Hadiya teria a receita perfeita para animá-la. Ela sempre tinha.
Concentrada em como as amigas sempre tinham a habilidade de fazê-la se sentir melhor, Malaika caminhava apressadamente de cabeça baixa e só percebeu que estava prestes a colidir com alguém quando levantou os olhos e seu rosto já estava a apenas centímetros de um peitoral largo.
Ela subiu os olhos do corpo vestido com roupas byeol de seda azul, obviamente caras, para encontrar o rosto oval de pele clara, lábios estreitos bem desenhados e incrivelmente cheios, nariz asiático e definitivamente aristocrata e finalizado por olhos castanhos amendoados que a fitavam com um brilho divertido e sobrancelhas arqueadas. Fosse quem fosse, de alguma forma aquele homem se parecia com o rei, ainda que provavelmente fosse alguns anos mais velho.
— Eu sinto muito — Malaika se apressou em se desculpar. — Estava distraída.
Como princesa, alguns diriam que ela não precisava se desculpar – que ela nunca precisava, na verdade, a não ser para o rei ou rainha, que, nesse caso, não existia. Mas Malaika tinha o costume de tratar todas as pessoas como iguais. Seu pai dizia que se o respeito fosse mantido, os títulos não eram tão necessários quanto pareciam. Sem contar que esbarrar nas pessoas não era uma conduta esperada de uma princesa, então as desculpas eram válidas.
O homem sorriu, iluminando ainda mais o rosto bonito.
— Eu também estava — contou ele.
Wang Joon Ho observava a paisagem da arquitetura dos edifícios do palácio misturada às árvores que o ladeavam ao fundo, que sempre o fascinava, enquanto andava despreocupadamente pelo pátio, sem perceber que se aproximava do pavilhão que agora pertencia à noiva de seu primo. Pelo menos até quase colidir com ela.
Mas o príncipe, que morava fora do palácio e só o visitava com pouca frequência, não complementou sua resposta, deixando Malaika encarando-o em expectativa.
— Eu... ahn... acredito que sim. — Malaika limpou a garganta enquanto se afastava um passo. — Ou algum de nós teria percebido antes. O senhor certamente não iria querer esbarrar em mim tanto quanto eu não queria esbarrar no senhor...
— Vossa Alteza.
— Sim?
Malaika piscou, surpresa ao ouvi-lo chamando-a enquanto ela falava.
— Quero dizer eu — corrigiu Joon Ho. — Você deve se referir a mim como Vossa Alteza.
Malaika piscou outra vez. A naturalidade com que ele disse aquelas palavras a surpreendeu e maravilhou ao mesmo tempo. Era como se o título fosse tão inerente ao homem que a correção nem soava como arrogância.
— Perdão? — perguntou Malaika, sua mente tentando entender quem poderia ser aquele homem.
— Eu posso não morar no palácio, mas ainda sou um membro da família real. — Joon Ho explicou, os olhos vagando discretamente por conta do tédio de ter que explicar quem era. — Wang Joon Ho, sobrinho do antigo rei Shin Ha Jun, filho da princesa Wang Hee Jin e primo do rei atual. Sou um príncipe para todos os efeitos e devo ser tratado como Vossa Alteza.
Malaika conseguiu parar de piscar repetidamente enquanto a informação finalmente a atingia. Ela estava diante do único outro parente de Taeyang, o príncipe Joon Ho, filho da mulher que momentos atrás tinha deixado claro o quanto a achava inapropriada como futura rainha. Não era à toa que ele se parecia com Taeyang.
A princesa afastou-se mais um passo dele e o analisou de novo. Apesar de suas palavras, os olhos castanhos ainda tinham um brilho leve e ele mantinha as mãos unidas às costas, como se aquela fosse uma situação corriqueira.
Wang Joon Ho não parecia irritado, apenas entediado por ter que explicar quem era a uma estrangeira que não conhecia a família real como deveria. Ele esperava que, no palácio, todos o conhecessem.
Entretanto, disposta a não fazer papel de tola duas vezes em uma única noite, Malaika de repente se manifestou:
— Bem, eu também.
Os olhos de Joon Ho se voltaram para ela emoldurados por um franzir de sobrancelhas tão leve que mal marcava o rosto.
— O que quer dizer? — perguntou, entre surpreso e intrigado.
— Deveríamos ter sido apresentados formalmente antes, presumo. — Em contraste à arrogância sutil do homem à sua frente, Malaika recorreu a sua usual confiança alegre. Ela sabia quem era e tinha orgulho de suas origens. — Meu nome é Malaika Kalejaiye. Sou filha do rei Azekel Kalejaiye de Omlai, irmã do futuro rei Kayin Kalejaiye e noiva de rei atual rei, Shin Taeyang. Acredito que, mesmo em um país diferente, eu deva ser chamada de Vossa Alteza, e não de você.
Os olhos de Joon Ho se abriram um pouco mais, mas Malaika não pôde dizer se ele estava impressionado, espantado ou só surpreso.
— Será possível que eu esteja diante da princesa omlai em pessoa?
Os olhos dele passearam rapidamente pelo corpo dela até os pés e voltaram para o rosto. Sem saber como reagir às palavras dele, mesmo que não conseguisse entender como ele poderia não reconhecê-la, dada todo o contraste com qualquer pessoa byeol, Malaika sorriu e deixou a cabeça pender levemente para o lado.
— Precisamente.
Então, Joon Ho tornou impossível que Malaika mantivesse a expressão alegre quando continuou:
— Eu podia jurar que estava diante de uma de suas guerreiras.
O quê?!
Por mais que todas as omlai fossem tão diferentes dos byeol e mesmo que estes não conhecessem nem um pouco da cultura do país distante, a distinção entre Malaika e suas guerreiras sempre tinha sido óbvia. Como o primo do rei podia...
— Temo não ter visto muita diferença nas roupas — explicou Joon Ho, compreendendo corretamente a expressão da princesa. — As cores escuras e os tecidos...
— Eu não uso o couro que elas usam para proteção — Malaika explicitou, quase para si mesma, lembrando-se das diferenças entre suas roupas leves e normalmente coloridas e os uniformes justos e protetores das guerreiras.
— Ora, se me permite dizer, seria mais fácil reconhecê-la se usasse roupas de Hanbyeol. Os tecidos e bordados designados para a princesa herdeira evitariam qualquer confusão parecida com essa.
Confusão de uma mente tão certa de que sabia tudo o que era necessário e que a cultura com a qual estava acostumada era a única a ser seguida que não se dava o trabalho de prestar atenção em detalhes evidentes que diferenciavam outras pessoas.
Malaika desviou os olhos do homem à sua frente, lembrando-se da roupa byeol com que Mi Suk a presenteara mais cedo naquele dia. O que aconteceria se ela acatasse o conselho de Joon Ho e usasse as roupas dadas por Mi Suk? A princesa omlai perderia sua essência para satisfazer o gosto visual dos byeol?
Não que as roupas fossem a essência de Malaika, mas o estilo omlai de se vestir fazia parte de quem ela era e seu coração se apertava no peito só de pensar em nunca mais usá-lo. Sem contar que, mesmo que a mudança começasse pelas roupas, seria só o primeiro passo em um caminho sem volta que ela temia nunca terminar.
Por outro lado, o rei havia dito que ela poderia usar o que quisesse e a fizesse bem. Taeyang não parecia se importar com o que ela vestia ou como se parecia. Ao contrário, o rei parecia genuinamente interessado nela do jeitinho que ela era.
Seus pensamentos foram interrompidos, porém, por Joon Ho falando de novo, sobressaltando-a por parecer verdadeiramente empolgado dessa vez:
— Mas eu garanto que não cometerei o mesmo erro de novo agora que a conheço. E vou dizer a Taeyang o quanto fiquei chateado por não termos sido apresentados adequadamente, com cerimônia e uma refeição espetacular.
Malaika continuou encarando-o sem saber o que dizer. O primo do rei era arrogante, ainda que sutilmente, exigia o tratamento adequado antes mesmo de se apresentar, tinha julgado suas roupas e a confundira com as guerreiras – ainda que, para Malaika, ser comparada àquelas mulheres incríveis fosse de fato um elogio, o homem não tivera essa intenção. Mas, ao mesmo tempo, ele parecia realmente alegre por tê-la conhecido e falava do rei com carinho, além de não ter dito uma única palavra sobre ela ser inadequada como futura rainha de Hanbyeol ou estar no lugar errado na corte byeol.
Era difícil decidir o que pensar sobre o príncipe Wang Joon Ho, principalmente quando ele se despediu de forma educada – e adequada, chamando-a de Vossa Alteza – e se afastou em uma postura leve e despreocupada enquanto Malaika ainda o observava.
No momento em que decidiu recomeçar sua caminhada até o pavilhão de treinamento, porém, Malaika ouviu uma voz feminina chamá-la.
Seus olhos se estreitaram ao encontrar Mi Suk. Ela ainda está no palácio, pensou. Imaginava que a nobre teria deixado o local assim que Malaika saíra para passear com Taeyang.
— Vossa Alteza parece triste — Mi Suk comentou, o tom de voz preocupado e doce.
Malaika voltou o corpo na direção da nobre, imaginando que simplesmente sair andando seria rude de sua parte.
— Não estou triste, só um pouco cansada — Malaika mentiu, apesar de seus sentimentos realmente não serem mais tão angustiantes quanto eram quando deixou seus aposentos.
— Mesmo assim, parece que um ombro amigo lhe faria bem — insistiu a byeol, aproximando-se um pouco mais e tocando o braço de Malaika levemente.
Se a situação fosse diferente ou se estivesse em Omlai, Malaika receberia aquele toque e o tom preocupado com boa vontade e agradeceria pela nova amizade, mas já tinha tido o suficiente dos byeol por um dia e estava verdadeiramente cansada, não só física, mas mentalmente também.
Provavelmente teria que lidar com os byeol no dia seguinte e certamente precisaria fazê-lo pelo resto de sua vida depois do casamento com o rei deles, mas, ao menos naquela noite, ela acreditava ter o direito de dispensá-los.
— Estou aqui se quiser conversar — continuou Mi Suk, solícita.
— Eu agradeço, mas só preciso de uma boa noite de sono. — Malaika conseguiu sorrir.
Então, como se de repente tivesse uma ideia brilhante, recomeçou a andar, mas para a direção contrária à que seguia antes. Não precisava ir até Nia e Hadiya, por mais que apreciasse as expressões surpresas das duas amigas sempre que fazia isso. A princesa podia simplesmente mandar alguém chamá-las e esperar quietinha em seu quarto, sozinha e, principalmente, longe de qualquer comentário maldoso de um byeol.
Malaika sentia que finalmente conseguia respirar normalmente de novo. Ela já não via um byeol há algum tempo e suas amigas estavam ali.
Nia e Hadiya tinham abandonado a postura de guardiãs para sentarem na grande cama de pernas cruzadas, formando um círculo – que mais parecia um triângulo, porque só tinha três pessoas – sobre os lençóis, como costumavam fazer em Omlai durante a adolescência da princesa.
Logo ao lado da porta, do lado de fora da antessala, outras duas guerreiras estavam de guarda, dando a suas líderes a oportunidade de relaxar por um momento. Malaika não temia por sua vida, apesar do repúdio que vinha recebendo de alguns byeol, mas Nia preferia ser cautelosa. Para a comandante, os nobres petulantes de Hanbyeol eram apenas uma demonstração sofisticada do que realmente acontecia na nação com relação a Malaika e a guerreira não queria esperar de braços cruzados até que ocorresse uma demonstração mais atroz, como o ataque na estrada.
Seu trabalho de proteger Malaika fazia parte de sua natureza, porém, e seus sentidos ainda estavam em alerta enquanto Nia ouvia cada palavra que a princesa contava sobre o dia cansativo e cheio de enfrentamentos que teve.
Malaika contou sobre como se sentiu com a aparição repentina e o presente dúbio de Mi Suk logo pela manhã, apesar de as guerreiras terem estado presentes quando isso aconteceu, e como Taeyang a tinha feito sentir melhor quando interrompeu o encontro dela com a nobre e disse que ela podia vestir o que quisesse. Era como se o rei afirmasse que ela podia ser quem quisesse, ser ela mesma, e que isso era o que ele queria e o que o povo byeol aprenderia a aceitar.
Então, contou também sobre como toda a animação que o rei trouxe desvaneceu com a refeição compartilhada com a tia dele e a conversa, ainda que rápida, com o primo.
— O mais estranho foi que ele não pareceu me repudiar, especificamente — comentou Malaika sobre Joon Ho enquanto as guerreiras a fitavam com interesse. — Quanto mais ele falava, mais parecia... que ele só estava ensinando uma criança a se comportar adequadamente.
Hadiya fez uma careta que indicava sua dificuldade de entender por que alguém faria isso com a noiva do rei.
— Bem, talvez devamos ignorar Wang Hee Jin e Wang Joon Ho por completo — sugeriu a segunda no comando da guarda da princesa.
Malaika suspirou antes de falar:
— Hadiya, eles são a única família do rei. Não podem ser ignorados.
— Bem, talvez não ignorados, ainda mais politicamente, mas Vossa Alteza não quer participar da política nesse momento, quer? — Ao ver Malaika franzir o cenho levemente em dúvida, Hadiya continuou: — Neste momento, tudo o que Vossa Alteza quer é se aproximar do rei e aprender o máximo que puder sobre os costumes e a cultura de Hanbyeol. E não precisa da tia e do primo do rei para isso. Deixe que Shin Taeyang cuide de seus próprios familiares.
Os olhos de Malaika se abriram ligeiramente e ela murmurou algo ininteligível, parecendo demonstrar surpresa e interesse, mas quem falou foi Nia:
— Se eles não podem ser ignorados completamente, podem ao menos ser evitados ao máximo. O rei deixou bastante claro que não pretende mudar seus planos por causa de sua família, então Vossa Alteza não precisa se preocupar com a animosidade, apenas evita-la até que desapareça ou até que possa enfrenta-la.
Malaika ia concordar, mas apenas conseguiu balançar a cabeça afirmativamente quando Seo Yun entrou na antessala com uma bandeja nas mãos logo depois de ser anunciada por uma das guerreiras do lado de fora.
Quando a criada depositou a bandeja em cima de uma mesa e se virou para sair, não pôde deixar de ouvir a voz animada de Hadiya, que se levantava energicamente da cama e ia em direção à bandeja enquanto falava:
— Ótimo, então agora que decidimos esquecer a família do rei e seu desprezo incoerente por pelo menos alguns dias, podemos tomar o chá e relaxar enquanto ouvimos tudo sobre os encontros com o rei. — O sorriso da guerreira era largo, como se estivesse a ponto de ouvir algo por que esperava há meses.
Seo Yun olhou da princesa para as guerreiras e de volta para a princesa antes de tomar coragem para falar:
— Vocês estão falando da princesa Wang Hee Jin, a tia do rei Taeyang?
Hadiya olhou para a criada com os olhos semicerrados de irritação. Ela tinha acabado de encontrar a deixa perfeita para mudar de assunto e fazer Malaika focar em algo tão melhor que as intrigas da corte, e a criada resolvia voltar ao assunto desagradável anterior.
Mas Hadiya não teve a chance de reclamar da atitude da criada, pois Nia levantou uma única sobrancelha intrigada e respondeu mais rapidamente:
— Sim. Há algo que devamos saber sobre ela?
— Bem, eu suponho que a refeição não tenha sido exatamente como Vossa Alteza planejou — Seo Yun tentou confirmar, direcionando-se a Malaika. Quando recebeu apenas um aceno de cabeça como resposta, continuou: — Eu sinto muito, não sabia como falar antes.
— Como falar o quê? — O rosto de Nia estava inexpressivo, mas sua voa soava ligeiramente mais dura.
— A princesa Hee Jin... tem uma reputação.
— Uma reputação ruim, você quer dizer? — sondou Hadiya.
Enquanto Seo Yun hesitava em responder, Malaika continuava quieta, apreensiva sobre o que poderia ouvir e atenta às três mulheres à sua frente.
— Sente-se — sugeriu Hadiya, trazendo uma cadeira para perto da criada. — Pode nos contar com calma. Não vamos feri-la.
— A menos que resolva não contar nada. — As palavras de Nia fizeram a criada engolir em seco, mas a guerreira fez um gesto com a mão, indicando que era uma brincadeira, apesar de seus olhos quase negros não perderem o brilho intenso.
A criada ainda olhou para a princesa em busca de permissão – ou de proteção com relação à comandante – e só prosseguiu quando recebeu um aceno gentil de cabeça em resposta.
— A princesa Wang Hee Jin é conhecida como a megera da corte. Ela trata mal quase todos do palácio, com gritos e arremesso de objetos por qualquer mínimo detalhe que não lhe agrade. Apenas o rei e seu filho são poupados e, até algum tempo atrás, o rei e a rainha anteriores também eram poupados, mas a única pessoa que ela realmente trata bem, como se fosse um anjo até, é seu filho Joon Ho.
Os olhos de Nia e Hadiya se encontraram por sobre a cabeça de Seo Yun. Parecia que a família real escapava dos gritos e objetos voadores, mas não da língua afiada. A comunicação silenciosa entre as duas pareceu surtir algum efeito, porque Nia perguntou:
— Então como ela trata o rei?
— Com frieza educada e cordialidade forçada. Sempre foi assim, até com os pais dele.
Nia levantou uma sobrancelha quando seus olhos encontraram os de Hadiya outra vez, mas voltou a observar a criada quando esta falou de novo:
— Os mais antigos no palácio dizem que a princesa se ressentia do próprio pai por não permitir que ela participasse da política e ter dado o reino e toda a responsabilidade para o irmão dela, o rei anterior Shin Ha Jun, apesar de ela ser a primogênita.
— Até onde eu sei, faz parte da lei de Hanbyeol que o rei pode escolher seu sucessor, mas apenas entre seus filhos homens — Malaika finalmente falou, ainda pensativa.
— Sim, é verdade — Seo Yun respondeu, já claramente relaxada. — Mas Wang Hee Jin nunca gostou dessa lei.
Lee Mi Suk passou pelos portões principais do palácio em direção a sua casa ainda tentando acalmar sua irritação. Ela tentara fazer exatamente o que o rei tinha ordenado ao visitar Malaika Kalejaiye pela manhã; à tarde, obedecera às ordens da tia do rei e espionara a estrangeira enquanto ela se aventurava na cozinha na preparação de receitas byeol e alguns pratos estranhos de Omlai; à noite, tentara fazer o que Wang Hee Jin falara e consolar a princesa oegugin, mas nada disso tinha ocorrido como ela imaginou.
Como uma nobre poderia fazer qualquer coisa sem levantar suspeitas se todos ao seu redor eram tão apressados? Com tudo o que estava acontecendo com a princesa em apenas dois dias desde sua chegada, era óbvio que ela não acolheria fácil ou rapidamente a amizade de uma nobre byeol que ela nunca tinha visto na vida.
Mas Mi Suk sabia que logo alguém cobraria dela algum resultado, ela só não podia dizer se seria Taeyang ou Hee Jin.
Ao sentir a brisa fria da noite soprando contra seu rosto e soltar um suspiro pesado, porém, Mi Suk se esforçou para recobrar a compostura. Ela estava só começando, afinal.
E, por mais inacreditável que pudesse parecer, talvez já tivesse feito algum progresso. Ao menos agora a princesa oegugin a conhecia e não poderia rejeitar sua presença com facilidade. O pedido do rei para que ela fosse amiga de sua noiva a estava aproximando da mulher de pele escura e cabelos crespos.
Então, por mais que a nobre byeol não gostasse da situação, precisava admitir que Wang Hee Jin estava certa. Quanto maior a proximidade, mais fácil seria se livrar de alguém, não importando a tática utilizada e, verdade fosse dita, tirando as guerreiras estrangeiras, Mi Suk estava começando a se tornar a mulher mais próxima de Malaika Kalejaiye em Hanbyeol.
Principalmente porque, apesar de preferir ficar sozinha naquela noite, Malaika a tinha tratado com educação e gentileza, tentando não magoá-la. Talvez a princesa estivesse mais disposta a aceitar a amizade de Mi Suk do que as circunstâncias fizeram parecer, afinal.
Agora Mi Suk só precisava usar essa proximidade corretamente para se livrar logo da princesa.
3616 palavras
Conheçam Wang Joon Ho:
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