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Capítulo 6

O lugar não era perfeito, mas Malaika sabia que momentos de desespero pediam medidas desesperadas.

Quando não souber para onde ir, olhe para trás e saiba pelo menos de onde vem, lembrou.

A princesa Kalejaiye sentou na terra seca à sombra de uma árvore, ignorando a protuberância de uma raíz ao seu lado. Teria preferido a umidade da margem de um rio, onde poderia pegar a água fresca para a oferenda, mas estava disposta a se contentar com a vela que conseguira afanar no caminho e com o ar puro.

Tempos de desespero, medidas desesperadas, pensou outra vez.

As cinco guerreiras que a acompanhavam naquele momento observavam a alguns metros. Ninguém a deixaria sair do palácio e se embrenhar sozinha e sem proteção na floresta que quase o envolvia, mas as mulheres bem treinadas sabiam quando precisavam deixar a princesa a sós com os próprios pensamentos.

Ou com os ancestrais.

Apesar de estar longe de casa e não ter ideia se seria ouvida pelos ancestrais omlai bem no coração da nação de Hanbyeol, Malaika precisava tentar. Seu coração estava ansioso, o medo do futuro a tomava desde a noite anterior.

Não havia nada de errado com o palácio ou a corte, ela já esperava ser recebida com reticência. As guerreiras estavam se adaptando e continuavam sempre prontas para defendê-la. Shin Taeyang não poderia parecer mais perfeito e era óbvio que estava tão disposto a tentar fazer o casamento dar certo quanto ela, mas...

Nada disso era suficiente para acalmar seu nervosismo.

Tudo era tão diferente ali. Os costumes, as pessoas, até as roupas... As regras. Quem diria que ela não teria permissão para deixar o palácio sem que o rei desse seu aval? Por isso, deixara seu pavilhão logo antes do nascer do sol e lá estava, vendo a luminosidade mudar lentamente em meio às folhas das árvores.

Tempos de desespero, repetiu em pensamento.

Entretanto, Malaika conhecia aquela sensação. Estava familiarizada com a dificuldade para dormir e as perguntas se acumulando em sua mente. Os mgangas nunca deram um nome para aquilo, mas concordavam que era uma condição possível e até normal; que a princesa, inclusive, não era a única a se sentir assim.

Com o tempo, porém, Malaika descobrira algo que ajudava e era isso que buscava ali.

Eu sei quem sou, porque sei de onde venho.

Fechou os olhos devagar, expirando o ar lentamente, tentando se acalmar. Já havia acendido a vela e posicionado a tigela com água limpa ao lado – outro item que pegara emprestado do palácio.

Medidas desesperadas. Um suspiro acompanhou o pensamento.

Então a princesa posicionou as duas mãos no chão e, em seguida, a cabeça, assumindo uma posição que muitos considerariam desconfortável. Ela, porém, não se incomodava depois de anos de prática.

O esforço valia a pena. Toda e cada vez, valia a pena. Os ancestrais lhe trariam a calma de que ela tanto precisava para continuar.

Começou a sussurrar, misturando cântico e conversa, algo que um estranho nunca entenderia.

Algumas vezes, se estivessem particularmente generosos, os acestrais traziam também respostas.

— Talvez eu deva me apresentar para a família dele — disse Malaika com ar pensativo, sem olhar para as guerreiras que a ouviam.

Voltara da mata com aquela ideia em mente.

Se você está construindo uma casa e um prego quebra, você deixa de construir ou muda o prego?, lembrou-se do provérbio de sua terra que a fez pensar em agir.

Instantaneamente, os olhares de Nia e Hadiya foram até ela, sentada em uma cadeira estofada em seus aposentos enquanto tentava fazer um penteado diferente no arco teimoso de cabelos crespos.

Como a princesa não disse mais nada, Hadiya, sentada no chão com as costas apoiadas contra a parede, olhou para Nia em busca de ajuda, já que não tinha ideia de como responder. Quando a comandante apenas deu de ombros e continuou de pé, com os braços cruzados no peito e apoiada contra a mesma parede que a amiga guerreira, as duas voltaram a observar Malaika ainda sem dizer nem uma palavra.

— Quero dizer, eu acabei de chegar aqui — continuou Malaika, como se falasse consigo mesma. — Certamente deveria conhecê-los e mostrar respeito. Certo?

Então a princesa virou-se para trás e encontrou as guerreiras com olhos levemente arregalados pela pergunta que não sabiam responder. Malaika sorriu, mesmo que se sentisse um pouco frustrada.

Não conhecia ninguém na corte byeol além de criadas e suas melhores amigas, além de serem estrangeiras como ela, eram guerreiras que não entendiam muito sobre etiqueta. Ela tinha certeza, porém, de que deveria fazer alguma coisa.

Se a resposta sutil dos ancestrais era uma ideia repentina de que ela deveria agir em vez de esperar ser aceita, faria isso de bom grado.

O rei obviamente estava ocupado com assuntos de Estado e não tinha tempo para ensiná-la os pormenores sobre os costumes da corte byeol, menos ainda para apresenta-la à própria família.

— Não tenho ideia de como essas coisas são feitas por aqui, mas é certo que eu deveria conhecê-los. Digo, a família do rei. — As palavras de Malaika completavam seus pensamentos. Parecia que ela teria que discutir a questão consigo mesma, já que as amigas não pretendiam ajudar. — Quero dizer, em Omlai, isso seria o certo a fazer. Então, como não posso tomar o tempo do mfalme pedindo que me apresente a sua família, talvez eu deva me apresentar sozinha. Certo?

As duas guerreiras piscaram, sem saber o que dizer, mas Malaika sentia que enlouqueceria se não obtivesse uma resposta, qualquer uma, mesmo que fosse das paredes. Talvez sua tentativa de receber orientação dos ancestrais não tivesse sido tão efetiva quando parecera, afinal. Então, quando a princesa abriu a boca para começar a tagarelar – parecia uma alternativa melhor que suspirar sem parar –, Hadiya finalmente quebrou o silêncio em solidariedade ao nervosismo da amiga.

— Talvez devêssemos perguntar... — Fez uma pausa, mas continuou ao ver Malaika fechar a boca rápida e não tão graciosamente quanto gostaria: — a alguém como as coisas são feitas por aqui.

Nia franziu o cenho ao olhar para Hadiya. Mas, afinal, a quem elas poderiam perguntar aquele tipo de coisa sem parecerem as estrangeiras ignorantes que boa parte da corte byeol já pensava que eram?

Então, como se algum ancestral tivesse ouvido os questionamentos e se compadecido do nervosismo da princesa omlai, a porta do quarto foi aberta devagar, mas com firmeza e as três omlai observaram atentamente enquanto Seo Yun entrava com uma bandeja nas mãos.

Ao perceber que era atentamente encarada por três pares de olhos escuros em rostos sérios, Seo Yun parou a apenas alguns passos da porta como se tivesse congelado com a bandeja nas mãos.

Malaika não conseguiu evitar um pequeno sorriso que confundiu mais ainda a criada byeol. Talvez os ancestrais omlai pudessem mesmo atuar tão longe de sua terra natal e ela agradecia por intercederem naquele momento. Sobretudo por não a deixarem sem resposta depois de sua súplica.

Mas enquanto você reza, vá fazendo, ordenou-se Malaika com mais um provérbio.

— Pak Seo Yun — Nia pronunciou o nome pausadamente para não correr o risco de errar — será que... você poderia nos ajudar com uma questão?

A criada voltou a se mover agora que não estava mais sendo estranhamente escrutinada e colocou a bandeja sobre a mesa ao lado de Malaika, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.

— Se estiver ao meu alcance, eu ficaria honrada em ajudar — foi sua resposta educada.

— Acontece que... eu sinto que deveria conhecer os familiares do meu noivo e fazer alguma coisa para agradá-los — Malaika tomou a dianteira da conversa, poupando Nia. — É difícil ser uma noiva estrangeira recém-chegada, mas imagino que seja igualmente estranho receber essa noiva. Por isso, acredito que eu deva me apresentar a eles e deixar claro que espero que todos tenhamos uma relação harmoniosa.

Malaika olhou brevemente para Nia em busca de confirmação. Esperava não ter falado nenhuma palavra errada ou com significado dúbio. Era trabalhoso tentar explicar o que estava pensando em um idioma que não era o seu de nascimento.

Hadiya tinha parado de entender a conversa no momento em que Nia começou a falar com a criada na língua byeol, mas não se importou. Sabia que as amigas contariam para ela o que tinham conversado com a criada, então seguiu apenas observando os rostos das três.

— Não há muitas pessoas a conhecer, Vossa Alteza — disse Seo Yun quando alguns segundos se passaram com a princesa fitando-a em expectativa. — A única família do rei Taeyang são Suas Altezas Wang Hee Jin e Wang Joon Ho. — Malaika apenas piscou e indicou com uma das mãos que a criada deveria prosseguir com a elucidação, o que fez Seo Yun respirar fundo. — Wang Hee Jin é imo do rei, irmã mais nova do antigo rei Ha Jun. Como seu marido faleceu há alguns anos, ela vive aqui no palácio, em um pavilhão um pouco mais afastado. O príncipe Wang Joon Ho é filho dela, o que quer dizer que é sachon do rei Taeyang e o próximo na linha de sucessão até que o rei tenha um herdeiro, é claro. Mas o príncipe não vive no palácio como a mãe. É costume que os príncipes, se não forem o príncipe herdeiro, tenham a liberdade de sair e viver fora do palácio, onde bem entenderem.

Por um segundo, Malaika ficou confusa quando a criada se referiu ao primo do rei como príncipe, já que sabia que Taeyang não tinha irmãos, mas a explicação que se seguiu fez todo o sentido. Tudo que Malaika sabia sobre seu noivo eram algumas características físicas, que aparentemente eram uma mistura do pai e da mãe, que ela havia conhecido quando viajaram a Omlai; alguns poucos relatos sobre como ele era competente e comprometido com o reino e o próprio aprendizado e os diversos elogios que ao falecidos pais dele faziam sempre que podiam. Assim, Malaika nem sequer imaginava a existência de Hee Jin e Joon Ho até aquele momento.

— E quanto a me apresentar a eles, se eu quiser fazer isso sem incomodar o rei, como sugere que eu faça? — perguntou Malaika, fazendo um gesto para que a criada se sentasse na cadeira à sua frente.

Seo Yun fez uma careta e apenas colocou uma mão na cadeira, não se atrevendo a sentar diante da princesa como se fosse da mesma classe social. Sua careta, porém, não indicava desconforto por ser tratada de maneira tão íntima, como Malaika imaginou, mas sim uma tentativa de encontrar a melhor forma de dizer à princesa gentil a verdade sobre seu pedido.

— Por favor, Seo Yun, eu preciso disso para evitar desavenças. Não quero desrespeitar a imo do rei ao não me apresentar logo em seguida da minha chegada — Malaika insistiu, interpretando erroneamente a expressão da criada.

— Entendo, Vossa Alteza, é que a princesa Hee Jin tem um temperamento um pouco forte e...

— Bem, e este não é mais um motivo para evitarmos que ela se sinta ofendida por mim logo depois da minha chegada? — Malaika interrompeu a criada em uma tentativa de convencê-la.

Seo Yun olhou para Nia e Hadiya em busca de ajuda, mas as guerreiras apenas a encaravam, esperando uma resposta. Era difícil explicar o quanto Wang Hee Jin podia ser temperamental e como um simples ato gentil poderia se tornar o extremo oposto quando se tratava dela, mas Seo Yun também não podia negar que a princesa estrangeira estava certa. Não se apresentar a Hee Jin o quanto antes também poderia causar um estrago enorme nos ânimos da corte.

— Normalmente Vossa Alteza receberia um convite da própria princesa Hee Jin para visita-la, possivelmente junto ao rei — começou Seo Yun, cautelosa, apertando as mãos uma na outra. — Mas se isso não acontecer, também é possível que Vossa Alteza a convide para uma refeição em seus aposentos para se apresentarem e se conhecerem melhor. Vossa Alteza também poderia convidar o rei, é claro, e tornar a apresentação um pouco mais leve...

Era melhor que o rei Taeyang estivesse presente para mediar a refeição, caso alguma coisa saísse do controle, pensou Seo Yun.

Os olhos quase negros de Malaika brilharam à menção do convite para uma refeição. Com um convite formal e uma refeição bem preparada, ela poderia se apresentar à única familiar de seu noivo que ainda morava no palácio e ainda impedir que a mulher mais velha se ressentisse dela por desrespeitar os costumes de seu país. Era tudo de que Malaika precisava, pelo menos naquele momento.

— Obrigada, Seo Yun! Parece perfeito, vou fazer isso. E não pretendo convidar o rei, ele provavelmente está ocupado demais com os conselheiros, já que ainda está há pouco tempo no trono. — Os olhos orientais arredondados de Seo Yun se arregalaram diante da fala da princesa, perdendo a impressão de que eram menores que os dela.

A criada sabia que muitas coisas poderiam dar errado com aquela decisão, , já que o temperamento da imo do rei era imprevisível. Mas não havia como convencer a princesa a desistir sem explicar exatamente o que poderia acontecer e a criada preferia perder a língua a falar mal de um membro da família real para outro. Ou, ao menos, para um futuro outro membro da família real.

Naquele momento, outra criada bateu na porta pelo lado de fora da saleta ligada ao quarto e todas se voltaram para a porta, esperando.

— A Srta. Lee Mi Suk está aquí para vê-la, Vossa Alteza — disse a criada que estaba do lado de fora e Malaika franziu o cenho. Ela não tinha a menor ideia de quem seria a Srta. Lee Mi Suk.

Permitindo que a mulher entrasse mesmo assim, Malaika observou Nia e Hadiya se colocarem próximo à porta da saleta enquanto ela mesma caminhava com Seo Yun para fora do quarto, sua curiosidade crescendo a cada instante.

Lee Mi Suk entrou na saleta a passos confiantes com uma caixa retangular nas mãos delicadas. O vestido em dois tons diferentes de azul caía bem, como se ela estivesse acostumada desde sempre a usar tantas camadas de tecido pesado, o que provavelmente era a verdade exata. O cabelo preto e liso estava preso em uma longa trança às suas costas com uma fita do mesmo tom do azul mais claro do vestido e os olhos orientais arredondados davam um brilho castanho ao rosto cândido. Os lábios entre finos e medianos estavam repuxados em uma tentativa de sorriso que era o máximo que a raiva permitiria.

Malaika tentou não se sentir intimidada. Aquela era a primeira nobre byeol que a princesa encontrava desde sua chegada, mas isso não significava que precisava se preocupar só porque a mulher era o extremo oposto dela em tudo, inclusive nos olhos perspicazes.

Em contraste, Malaika usava mais um vestido leve, em tons de rosa dessa vez, e seus cabelos continuavam emoldurando seu rosto em uma espécie de auréola negra de cachos minúsculos enquanto seus olhos, em vez de sagazes, como os da visitante, continham doçura emoldurada por cílios longos.

Apesar das diferenças, porém, e do incômodo evidente que a nobre byeol tentava disfarçar, Malaika abriu um sorriso nos lábios grossos e cheios. Ela não tinha com o que se preocupar. Não era como se a mulher pudesse tomar alguma coisa dela só por ser diferente.

A um cumprimento inicial de Malaika, que decidiu ser a mais amigável possível, Mi Suk se apresentou:

— Eu me chamo Lee Mi Suk, Vossa Alteza. Sou filha do ministro de pessoal, Lee Sang Hun.

— É um prazer conhece-la, Mi Suk — disse a princesa, usando o costume omlai de se dirigir às pessoas pelo nome próprio, tornando sua fala mais íntima sem perceber. — Meu nome é Malaika Kalejaiye — continuou, sem saber como deveria proceder em uma situação como aquela. Não esperava receber a visita de uma nobre, filha de um ministro do rei. — O que a traz aqui?

— Bem, Vossa Alteza é o principal assunto nas ruas de Hanbyeol, como deve saber, e todos sofrem de enorme curiosidade para conhecê-la. Então, quando o rei mostrou preocupação com sua adaptação na corte, eu decidi oferecer minha ajuda e minha amizade. — A filha do ministro de pessoal era educada e polida, tratando Malaika conforme os padrões que a princesa sabia serem necessários, mas sem o distanciamento das criadas.

— O rei mostrou preocupação com minha adaptação? — perguntou Malaika, quase ignorando o fato de que a outra oferecia sua amizade tão abertamente a ela.

Em Omlai, as amizades eram conquistadas, e não oferecidas abertamente como um título que se poderia usar por aí. Mas a princesa não queria julgar tão apressadamente.

Mas foi o outro detalhe nas palavras da nobre que se fixou na mente da princesa, já afetada pelo nervosismo outra vez.

Será que minha dificuldade de adaptação já se tornou inconveniente a esse ponto?, pensou, tentando entender a preocupação do rei.

— Sim, Alteza. — Mi Suk evitou fazer uma careta. A mulher à sua frente não conhecia uma pessoa byeol sequer que não fossem as criadas que o rei designou para ela ou os guerreiros do rei e tinha a ousadia de ignorar sua oferta de amizade? A princesa oegugin não tinha conexões em Hanbyeol e ainda queria jogar fora a única que lhe era cedida? — O rei comentou algo sobre isso em uma reunião com os ministros e meu pai me contou porque se compadeceu da preocupação do rei. E aqui estou eu. Trouxe-lhe um presente.

Mi Suk depositou a caixa que carregava em cima da mesa, ao lado da bandeja que Seo Yun tinha deixado. A criada tinha se aproveitado da chegada da nobre e já não estava mais na saleta, tendo saído para continuar seu trabalho.

Ainda pensando no significado da preocupação de Taeyang com sua adaptação e seu bem-estar, Malaika abriu a caixa devagar, quase cautelosamente.

A cada movimento lento, Mi Suk semicerrava os olhos com irritação. Seria possível que a mulher desconfiasse dela por algum motivo? Apesar de discordar das ordens de seu pai e do rei, a nobre estava apenas cumprindo-as e não havia nada de errado com a caixa ou com o presente. Ela nem sequer tinha pensado em prejudicar a princesa de qualquer forma que fosse.

Dentro da caixa havia um vestido muito parecido com o que a própria Mi Suk usava, porém em tons de rosa. Malaika encarou a nobre por um instante, tentando entender o que aquilo significava.

— É um presente — explicou Mi Suk. — Acredito que Vossa Alteza ainda não tenha roupas byeol e pode ser que precise usá-las.

Vai precisar mudar seu guarda-roupa inteiro se pretende se tornar rainha de Hanbyeol, pensou Mi Suk. Não acredita que a rainha de Hanbyeol poderia usar roupas estranhas e indecentes com a que está usando agora, não é?

Malaika olhou para o presente mais uma vez e se esforçou para não analisar o próprio vestido. Ela nunca tinha pensado que poderia precisar usar roupas diferentes na nova nação.

Enquanto a princesa encarava a nobre e as duas guerreiras se entreolhavam perto da porta, porém, qualquer resposta que Malaika pudesse dar foi interrompida pela voz da criada do lado de fora da saleta:

— Vossa Alteza, o rei está aqui para vê-la.

Malaika arregalou os olhos e os voltou para a porta fechada. Aquele estava sendo um dia cheio de visitas.

Entretanto, com mais um olhar para o vestido byeol que tinha ganhado de presente, Malaika pensou que talvez Taeyang pudesse lhe explicar o que realmente esperava dela.

Deixou-o entrar enquanto Mi Suk fazia uma careta de descontentamento. Não que a nobre não quisesse ver o belo e jovem rei mais de perto do que tinha conseguido em toda a sua vida, mas tinha receio de que ele percebesse que ela não estava tão contente em acatar sua ordem como deveria, apesar de obedecê-la à risca. Além de que ele poderia se ressentir por ela ter decidido presentear a princesa com roupas sem antes perguntar a ele, ainda que a intenção fosse verdadeiramente amigável, apesar de relutante.

Mas Taeyang não era o tipo de homem que gritava e repreendia alguém sem um bom motivo, então, quando entrou e a viu, ele sorriu em vez de censurá-la.

— Srta. Mi Suk, fico feliz que tenha vindo cumprimentar Malaika. — As palavras dele fizeram Mi Suk piscar em surpresa. — Espero que sua amizade possa confortá-la quando o dever me mantiver ocupado demais.

Então ele olhou para Malaika e Mi Suk pôde ver como os olhos castanho-claros do rei brilharam de um jeito diferente, como se o mundo todo se resumisse à mulher de pede cor de chocolate à frente dele.

A nobre semicerrou os olhos. Como aquele homem poderia parecer apaixonado pela estrangeira em tão pouco tempo?

— É um prazer para mim, Majestade — falou Mi Suk, chamando a atenção de Taeyang de volta para ela.

Então, a nobre foi surpreendida com as próximas palavras, que vieram de Malaika:

— Ela me trouxe um presente. — Malaika passou a mão de leve pela caixa retangular com o vestido, fazendo o olhar de Taeyang seguir seus dedos.

Mi Suk semicerrou os olhos outra vez. A oegugin estava tentando ajudá-la a ganhar a aprovação do rei? Mesmo quando estava obviamente cautelosa com relação a ela?

Naquele momento, porém, o rei falou de novo e Mi Suk percebeu o próprio erro. O que ela imaginou por um segundo que podia coloca-la nas graças do rei, na verdade poderia fazê-lo condená-la ainda mais do que ela pensou antes.

— Vossa Alteza não precisa usá-lo, espero que saiba disso.

— Por favor, me chame de Malaika — a princesa pediu, quase em um sussurro.

Taeyang sorriu para ela de um jeito que faria até o gelo dos mares congelador do norte derreterem no inverno e sussurrou o nome dela, testando, e fazendo todo o corpo de Malaika se arrepiar.

— Pode usar o que a deixar confortável... Malaika — disse o rei, então, ainda testando o nome em seus lábios, um sorriso que era uma mistura de vergonha e travessura surgindo em seus lábios cheios. — Ah! Gostaria de dar um passeio comigo? Tenho certeza de que a Srta. Mi Suk não se importaria...

Surpresa por ser trazida de volta à conversa, Mi Suk apenas concordou, arrependendo-se logo em seguida, quando percebeu que estava dando espaço para que o casal ficasse a sós. Era óbvio que o relacionamento dos noivos progrediria rapidamente se passassem muito tempo juntos.

Quando Malaika sorriu em concordância, Taeyang começou a se afastar, esperando apenas um segundo até que Mi Suk o acompanhasse para fora.

Sentindo-se confortável como estava e feliz pela aprovação do noivo, a princesa apenas passou as mãos rapidamente pelos cabelos. Virou-se para Nia e Hadiya, dizendo que só uma das duas precisava acompanhá-la no passeio com o rei. Afinal, não queria que Sua Majestade se sentisse desconfortável ou muito observado.

Esperou até que as amigas decidissem quem a acompanharia, ouvindo o som dos passos do rei e da nobre se afastar. De repente, porém, a voz de Taeyang alcançou seus ouvidos:

— Lembre-se: vista o que a fizer sentir confortável.

Malaika sorriu, encabulada. Mas foi poupada de um rubor em seu rosto de pele escura porque não ouviu o que ele acrescentou em seguida, apenas para si mesmo, em voz quase inaudível: 

— Vai ficar linda de qualquer jeito.

Nia deixou que Hadiya acompanhasse Malaika e Taeyang e aproveitou o momento de solidão para fazer o que ela gostava de chamar de uchambuzi, em que ela analisava as instalações do local para saber seus pontos fortes e fracos e, assim, estar pronta para defender melhor a princesa quando fosse necessário.

Ela verificou com cuidado todas as entradas do palácio e o trabalho dos guardas, dando atenção até mesmo ao vai e vem dos ministros e outros funcionários que tinham liberdade para deixar os muros bem protegidos. Decidindo que os guardas faziam um bom trabalho e que as entradas eram bem protegidas, Nia resolveu fazer algo que era um de suas paixões na adolescência, mas que não tivera muitas oportunidades de fazer desde que começara seu trabalho como guerreira real.

Apesar de sua altura e das curvas pronunciadas, suas pernas bem torneadas trabalharam com agilidade e leveza para levá-la até o telhado mais próximo. Testando a força das telhas ornamentadas, a guerreira começou a andar lentamente sobre os edifícios do palácio, aumentando a velocidade de seus passos conforme se acostumava com o espaço.

O arco e a aljava de flechas estavam bem presos às suas costas, as correias formando um x em seu peito, o que a deixava com as mãos livres para se locomover de forma fluida e foi exatamente o que ela fez, buscando se colocar no lugar de um ladrão ou assassino, um bandido que pudesse ter intenção de invadir e atacar o lugar. Com os pátios amplos e os caminhos abertos entre um pavilhão e outro, mesmo com a pouca iluminação que o local poderia ter à noite, andar pelos telhados ainda parecia a forma mais segura de locomoção, como ela estava descobrindo.

Ainda concentrada, Nia parou bem na ponta do telhado que cobria um dos pavilhões, observando a movimentação dos funcionários que carregavam pergaminhos de um lado para o outro. Ela não sabia o nome daquele pavilhão, mas sabia exatamente onde estava e como tinha chegado ali.

O telhado também é um bom lugar para ouvir conversas sem ser descoberto, pensou a guerreira enquanto ouvia duas vozes masculinas sussurradas a alguns passos de onde estava. Não que ela gostasse de ouvir coisas escondida, preferindo deixar sua presença bastante clara e mostrar que poderia conseguir a informação à força se quisesse, mas já que estava ali, poderia ao menos se certificar de que os funcionários do palácio não tramavam algo contra a princesa Malaika.

— Você soube do homem que encontraram morto no mercado hoje de manhã? — um dos funcionários perguntou, parecendo agitado.

— Sim, eu estava vindo para cá quando os inspetores chegaram e começaram a afastar a multidão — disse o outro, baixinho, sua voz mais grossa em tom de confissão. — E eu soube mais tarde por um conhecido que era o mensageiro do rei.

— O mensageiro do rei? Tem certeza?

Mensageiro do rei?, perguntou-se Nia. O mesmo que tinha ido até Omlai para pedir que Malaika viesse ao seu encontro? Curiosa, moveu-se um pouco para se aproximar mais dos homens que conversavam, sem fazer barulho, graças a anos de prática andando em telhados e árvores em Omlai.

— Sim, um guarda é primo da minha esposa e nos contou — explicou o funcionário de voz grossa.

Nia não conseguia vê-los de onde estava, mas não achava necessário. Só queria entender o que eles sabiam sobre o mensageiro do rei, que aparentemente tinha morrido durante a noite, tão pouco tempo depois de entregar a mensagem de Taeyang a Azekel.

— Eu soube que ele foi torturado antes de finalmente ser morto com uma facada, como se quisessem puni-lo — contou o primeiro funcionário, de voz mais aguda.

— E, se foi largado no mercado, provavelmente morreu por dívida.

— Um funcionário do palácio com uma dívida tão grande a ponto de morrer assim? Me pergunto com o que ele gastava tanto dinheiro.

As vozes dos funcionários se afastavam agora, mas Nia decidiu não seguir os dois, independentemente de para onde estavam indo. Ela tinha o suficiente para compreender que as evidências não eram o que pareciam ser e as informações não seriam obtidas tão facilmente.

O mensageiro real tinha viajado a Omlai e voltado pouco antes da chegada da comitiva, se não no mesmo dia, e tinha sido morto logo depois. Torturado. Se a tortura tinha sido feita antes ou depois da morte, não importava. Mas, se o corpo dele tinha sido encontrado no mercado, talvez uma visita ao mercado da cidade pudesse dar a Nia mais informações do que os dois funcionários que cochichavam escondido.

A guerreira se levantou, os pés firmes, mas silenciosos enquanto ela se virava e descia do telhado com um pouco gracioso sobre as pernas fortes, que apenas dobraram um pouco para amortecer o impacto. Um outro funcionário a poucos passos de onde ela caiu pulou de susto ao ver a mulher negra surgir ao lado dele como um pássaro pousando, mas Nia nem mesmo olhou para ele antes de seguir para a saída mais próxima.

Ela sabia que estava sendo seguida há algum tempo, mas o jovem aprendiz de guarda que ela lembrava se chamar Jae In não representava uma ameaça, apesar de ela precisar admitir que ele tinha talento. Os passos dele eram leves e precisos a poucos metros dela conforme ela se aproximava do centro da cidade e ele não fazia barulho, mesmo quando chegaram ao mercado e o número de pessoas ao redor e entre eles aumentou, tendo sido descoberto apenas pelos instintos bem treinados da comandante. Se ele estivesse seguindo outra guerreira omlai, talvez tivesse tido sucesso em passar despercebido, mesmo com a falta de treinamento que Nia podia perceber no talento bruto.

Nia percebeu que o aprendiz hesitou um pouco quando ela entrou furtivamente em um estabelecimento. Mantendo a atenção em seu perseguidor tanto quanto observava as ruas, a comandante pensou que aquele lugar poderia ser útil para obter informações, já que homens entravam e saíam e as mulheres que trabalhavam ali pareciam empenhadas em entretê-los e ouvir suas conversas enquanto eles bebiam demais e se engraçavam com elas.

Nia tentou evitar uma careta quando viu um homem passar ao seu lado esfregando-se tanto na mulher que o acompanhava que com certeza deixaria seu cheiro no corpo dela, mas continuou andando, procurando um grupo cuja conversa conseguisse ouvir claramente.

Não demorou muito para ser abordada por uma mulher de cabelos pretos presos em um grande coque baixo feito com tranças, vestes vermelhas esvoaçantes, lábios pequenos e cheios, emoldurados por um queixo firme e determinado, e olhos orientais astutos.

— O que quer aqui? — perguntou a mulher, olhando Nia de cima a baixo em uma análise rápida.

Era a dona do estabelecimento que esperava uma resposta de Nia, tentando pensar no que poderia fazer com aquela mulher alta de pele escura e curvas acentuadas, caso ela quisesse trabalhar ali. A estrangeira era muito diferente das outras kisaengs que trabalhavam para ela, mas Ji Hye sempre poderia dar um jeito de conseguir homens que se interessassem.

— Meu nome é Nia Okonjo — Nia falou devagar no idioma byeol para ter certeza de que a mulher entenderia.

— Yoon Ji Hye — a dona do estabelecimento se apresentou quase que automaticamente, mas sua voz soou melódica e encantadora, afinal ela tinha que ser tão boa quanto suas kisaengs para merecer respeito e comandá-las. — Em que posso ajudá-la?

— Isso depende — decretou Nia enquanto pensava que poderia matar dois pássaros com uma pedra ao conseguir informações sobre a morte do mensageiro e sobre os possíveis motivos para o ataque à comitiva em um só lugar. — O quanto você estaria disposta a trabalhar para a princesa de Omlai cedendo informações em troca de um bom pagamento? — ofereceu Nia, olhando ao redor para se certificar de que ninguém podia ouvi-las.

Ji Hye sorriu. Não só porque havia poucas coisas que não faria por um bom pagamento, mas porque a mulher à sua frente era inteligente. A kisaeng não reconhecia as roupas de couro que indicavam Nia como comandante guerreira, mas conhecia um bom cérebro quando via alguém com um, e aquela mulher parecia brilhante por sugerir um acordo. Afinal, que lugar seria melhor para conseguir informações que uma casa de kisaengs?

— Acho que podemos chegar a um acordo — Ji Hye respondeu, levando Nia a uma sala privativa para que pudessem negociar sem ouvidos espertinhos por perto.

— Está dizendo que o rei ordenou que a filha do ministro de pessoal se aproxime da princesa e a ajuda a se adaptar à corte byeol? — perguntou Wang Hee Jin, repetindo as palavras atropeladas da criada de uma forma que ela pudesse entender.

— Sim, Alteza.

— E que a prestativa Lee Mi Suk aceitou sem reclamar e já visitou a princesa em uma tentativa de se tornar sua amiga?

— Sim, Alteza.

Era quase como se Shin Taeyang entregasse a princesa oegugin em suas mãos para que Hee Jin fizesse o que bem entendesse com ela. Seu sobrinho não poderia ser mais estúpido, ou mais ingênuo, mas como para Hee Jin ingenuidade era sinônimo de estupidez, ela podia afirmar que o rei era estúpido sem medo. Em silêncio, é claro, pelo menos até que ela conseguisse tirá-lo do trono que ela acreditava que o pirralho metade oegugin nunca tinha merecido.

Ele devia ter aprendido com a própria mãe oegugin que, quando você quer muito proteger uma coisa, deve mantê-la isolada, longe de pessoas que possam atingi-la, como o rei anterior Há Jun tinha mantido a esposa oegugin que veio do oeste.

Mas Taeyang se achava poderoso demais, protegido demais por seus guardas reais e agora por aquelas mulheres guerreiras vindas de Omlai que deixavam seus verdadeiros afazeres como mulheres de lado para passar a vida protegendo outras pessoas. O novo rei parecia se achar invencível para trazer para dentro do palácio e para perto de sua querida noiva alguém que ele mal conhecia.

— Como Lee Mi Suk se sente sobre a ordem do rei? — Hee Jin perguntou a sua criada pessoal que trabalhava infiltrada nos aposentos de Malaika Kalejaiye e estava agora à sua frente contando tudo o que ouvira lá.

— Ela não reclamou ou disse qualquer coisa contrária, Vossa Alteza, mas parecia irritada.

A resposta da criada trouxe um sorriso predador aos lábios de Hee Jin.

Ela conhecia Lee Sang Hun, o ministro de pessoal, e sabia que pouca coisa importava mais para ele que dinheiro e status. Hee Jin não conhecia Mi Suk pessoalmente, mas, sendo filha de Sang Hun, ela poderia parecer com o pai em gostos. Além disso, Hee Jin estava disposta a oferecer ainda mais dinheiro e status que o rei, caso a garota aceitasse ajudá-la. Afinal, ser esposa do próximo rei era muito melhor que ser amiga da noiva do rei. Mi Suk se beneficiaria ainda mais por ajudá-la quando Hee Jin conseguisse colocar o filho no trono no lugar de Taeyang.

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