Capítulo 22
A lua estava alta no céu enquanto Malaika e Taeyang se fartavam do banquete que ele mandara preparar para ela. Ao ar livre, na varanda de pedra em frente aos aposentos de Taeyang, os dois apreciavam a brisa fresca e o clima leve recém instaurado entre eles.
Taeyang respirava fundo de quando em vez, apreciando a forma como a sensação de estar em casa inundava seu peito agora sem o peso da preocupação.
Malaika, por sua vez, finalmente conseguia sorrir de verdade de novo, livre do medo de não agradar o próprio marido tanto quanto pensava desagradar o povo byeol. Um povo que, como suas guerreiras tinham lembrado, não poderia julgá-la se ela se mantivesse à sombra das vontades dos ministros.
A rainha respirou fundo e olhou para o marido. O relacionamento dos dois estava intrinsecamente ligado à política já que suas próprias existências estavam ligadas ao país, mas, de alguma forma, parecia totalmente alheio aos acontecimentos do palácio. O que sentiam um pelo outro não era abalado pelas vontades dos ministros ou as tentativas de alguns nobres de sugerir que o primo do rei deveria assumir o trono. Malaika descobrira essa força do amor dos dois exatamente quando duvidou dela, deixando o medo de desapontar Taeyang sobressair à adoração que ele tinha por ela.
Agora, Malaika sentia vontade de expressar tudo o que tinha descoberto nas últimas horas e explicar ao marido que tinha começado a amá-lo ainda mais – não tinha ideia de como explicar essa parte, já que nem mesmo ela entendia como isso era possível, mas sabia que era porque não podia negar o sentimento crescendo em seu peito a cada segundo.
Ela abriu a boca para falar, mas, antes que pudesse dizer uma única palavra, Taeyang, que estivera enchendo novamente um prato com delícias para os dois, se aproximou, os olhos dourados deixando o prato para encontrar os dela.
— Sinto muito pela situação com os ministros. — Fez uma pausa rápida em que Malaika só teve tempo de piscar uma vez e continuou: — Eu ainda tenho dificuldade de enfrentá-los e impedir que digam exatamente o que pensam e demorei muito tempo para perceber o quanto isso estava te afetando. Perdão.
— Eles têm opiniões fortes sobre mim — disse Malaika, momentaneamente deixando de lado o êxtase de perceber o que significavam um para o outro.
— Eles não a conhecem de verdade. Para dizer a verdade, acho que nem tentaram. — Taeyang suspirou. — Mas tenho certeza de que, com o tempo, toda Hanbyeol vai acabar se apaixonando por você, como eu.
Taeyang abriu um largo sorriso que fez seus olhos se fecharem até parecerem duas fendas estreitas, recebendo uma gargalhada de Malaika.
— Não acha que toda Hanbyeol é um pouco ambicioso da sua parte? — perguntou a rainha, ainda sorrindo, mas taeyang pôde ver a tristeza se instalar de repente nos olhos escuros dela.
— Claro que não acho! Não tem como alguém não se apaixonar por você. Honestamente, não entendo porque estão demorando tanto, mas não precisamos ter pressa.
Quando Malaika baixou a cabeça, envergonhada por não acreditar totalmente nas palavras dele, Taeyang segurou seu queixo e forçou levemente seu rosto para cima até que os olhos dela encontrassem os dele.
— Não ligue para o que os ministros dizem. Eles só querem encontrar um jeito de conseguir mais poder para eles mesmos, não estão realmente julgando você. — Mesmo depois de soltar o rosto da esposa, Taeyang ainda sustentou seu olhar com a intensidade de um homem que queria ser ouvido e o carinho de um marido preocupado. — No fundo, eles nem pensam se gostam ou não de você. Só se importam em usar o que podem para que eu não dê mais atenção a você do que a eles. Isso não significa que você não é capaz de agradar meu povo, só significa que é tão boa rainha e esposa que cada um deles está com medo de perder a própria posição.
Lentamente, Malaika sorriu. Taeyang realmente a achava tão incrível a ponto de amedrontar todos os ministros e isso aqueceu o coração da rainha, que se esqueceu de qualquer pudor que foi ensinada a ter perante um homem, levando uma mão até o braço do marido e, em seguida, aproximando o próprio corpo do dele.
Quando Taeyang abriu ainda mais os olhos finos, surpreso pelo movimento dela, a jovem já estava perto o suficiente para encostar seus lábios grossos nos dele, sentindo a maciez de encontro à própria boca.
Uma das mãos de Taeyang segurou imediatamente a nuca dela, impedindo a esposa de desistir do movimento ousado e se afastar dele. Sua língua passeou pelos lábios dela ao mesmo tempo em que um gemido deixava sua garganta, o beijo inesperado tendo efeito imediato em seu baixo ventre.
O rei então levou a mão livre até a cintura da esposa, amparando-a enquanto a empurrava de leve, mas insistentemente para trás, até que estivesse deitada sobre a coberta sobre a qual estavam sentados, ignorando completamente o prato de comida intocada entre eles. Naquele momento, a fome dos dois não tinha nada a ver com comida.
Malaika levantou uma mão hesitante, querendo tocar as costas dele, mas parou a meio caminho quando Taeyang interrompeu o beijo, fitando-a com olhos sedentos.
— Sem contar que acho que todos sabem que Nia e Hadiya acabariam com qualquer um que realmente tentasse algo contra você — comentou ele, brincando, mas Malaika não respondeu. Estava concentrada demais em tentar regularizar a própria respiração, incapaz de se lembrar sequer do que estavam falando segundos antes, para responder.
Com um olhar para baixo, Taeyang viu a mão da mulher, ainda parada no ar, sem tocá-lo e segurou-a. Voltando os olhos para os dela como se esperasse que a qualquer momento Malaika lhe dissesse para parar, levou a mão dela à sua cintura, logo depois voltando a beijá-la, sua própria mão encontrando um dos seios dela sob o vestido omlai.
Querendo dar privacidade ao casal apaixonado, as poucas criadas que os serviam voltaram as costas para eles, lutando contra a vontade de observar o momento íntimo enquanto olhavam para as construções do palácio. Nenhum deles percebeu a aproximação até que fosse tarde demais e o arfar de uma delas antes de perder a vida não foi suficiente para alertar o casal de monarcas que estava perdido demais nos braços um do outro para notar o perigo.
A alguns passos dali, duas guerreiras enfrentavam uma luta ímproba e uma delas gritou quando percebeu que não conseguiria chegar aos monarcas a tempo.
Finalmente, Taeyang interrompeu o beijo e olhou para cima, só então percebendo os sons de espadas se chocando ao seu redor. Mas quando elevou o olhar, já era tarde.
Uma pancada na cabeça deixou o rei tonto e ele não conseguiu impedir que seus braçoz fossem presos às suas costas e, por mais que se debatesse, não conseguiu impedir que o corpo de Malaika fosse completamente imobilizado logo antes de ver sua esposa desmaiar ao respirar através do pano que foi colocado em seu nariz.
Com mais uma pancada na cabeça, Taeyang só pode se esforçar para não perder a consciência enquanto observava a rainha ser levada.
Foi assim que Jae In o encontrou alguns minutos depois, a cabeça girando como uma roda de carruagem e as mãos fracas tentando erguer o corpo da coberta forrada no chão de pedra.
— Majestade! — jae in gritou, assustado, correndo até o rei, mas Taeyang só lhe deu atenção quando o aprendiz já estava perto o suficiente para ajuda-lo a se levantar. — O que aconteceu?
— Malaika... — foi tudo que Taeyang conseguiu dizer com a voz rouca e baixa.
O aprendiz olhou ao seu redor, percebendo criadas e guerreiras caídas no chão sobre a varanda de pedra ou além dela, no chão do pátio. Não sabia se estavam mortas ou só inconscientes, mas tentou focar no que era mais importante para o reino e para o rei. Não havia sinal de Malaika ali.
— A rainha foi levada? — perguntou Jae In, os olhos buscando os do rei, que fazia uma careta e levava uma mão à cabeça.
Taeyang apenas assentiu, mas logo se arrependeu do movimento, trincando os dentes pela sensação de que sua cabeça estava mais pesada que o normal.
— Vossa Majestade viu para onde? — Jae In continuou questionando.
Então Taeyang abriu os olhos que estavam fechados na esperança de fazer a cabeça parar de girar e apontou.
Jae In olhos para os lados, sem encontrar ninguém que pudesse ajudar, pensando que, se quisesse encontrar a rainha antes que algo pior acontecesse, precisava agir logo. Voltou-se para o rei outra vez, o rosto jovem mais sério do que Taeyang jamais vira.
Mesmo quando o aprendiz fora obrigado a dar-lhe a notícia da morte de seus pais, o jovem parecia mais triste que determinado, afinal, o pior já tinha acontecido. Agora, Ha Jae In parecia resoluto, pronto para evitar que o mesmo acontecesse a Malaika.
— Hadiya Obasanjo sabe que a rainha está em perigo e deve chegar aqui logo. Ela foi encontrar Nia — contou Jae In. — Se elas aparecerem, ou Chul, ou qualquer outro guarda ou guerreira, diga para onde fui. Vou precisar de ajuda.
Sem pensar que estava dando uma ordem ao rei nem esperar por resposta, Jae In apenas se afastou, correndo na direção que Taeyang apontara e para onde a rainha tinha sido levada.
Não levou muito tempo para que Nia o encontrasse, já ultrapassando os portões do palácio, carregando dois arcos e duas aljavas cheias de flechas. Talvez o rei não tivesse se importado de receber uma ordem, afinal estava preocupado demais com a esposa para pensar nisso.
Nia e seu aprendiz subiram no telhado de uma loja na divisa da capital com o terreno onde ficava o palácio, pensando juntos e rapidamente em como evitar as pessoas que andavam despreocupadamente pelas ruas. Jae In agora já carregava o próprio arco, que Nia lhe entregara, e tinha sua aljava presa às costas, enquanto os dois corriam sobre telhados e observavam as ruas da cidade, procurando pistas de que alguém pudesse ter passado por ali com a rainha desacordada.
— Hadiya contou sobre Lee Mi Suk? — perguntou Jae In, sem diminuir o passo.
— Sim — respondeu Nia, os olhos atentos à rua abaixo dela. — Achei a atitude dela um pouco suspeita, mas tenho certeza de que Hee Jin seria bem capaz de fazer o que ela disse. E cá estamos — completou, sem hesitar nem um segundo antes de pular sobre o vão entre um telhado e outro, sendo seguida de perto pelo aprendiz, abaixando-se apenas um pouco quando o peso de seu corpo a fez precisar se equilibrar do outro lado. — Mas nós vamos trazer Malaika de volta, nem que eu tenha que ir até o fim do mundo para buscá-la.
Como se as palavras da comandante tivessem algum efeito sobre a população, os dois se aproximaram de um ponto em que as ruas estavam mais vazias e calmas, permitindo que descessem dos telhados para continuar a busca mais rapidamente pelo chão. Quase inconscientemente, Jae In percebeu que estavam deixando a cidade.
Com Taeyang seguro e recebendo cuidados médicos no próprio quarto, Chul saiu com Hadiya em seu encalço e mais alguns guardas e guerreiras. O capitão deixou vários de seus homens cuidando do rei e ordenou que algumas guerreiras cuidassem dos feridos no ataque. Ele não tinha autoridade sobre elas, mas Hadiya, que assumiu o comando das omlai no momento em que Nia deixara o palácio para resgatar Malaika, concordou com a ordem.
Porque ela mesma estava seguindo o capitão até os aposentos de Wang Hee Jin para confrontá-la e prendê-la.
As leis byeol não permitiam que a guerreira usasse uma de suas adagas na garganta da tia do rei assim que a encontrasse, por mais que todas as evidências e testemunhas indicassem a culpa da princesa viúva, mas Hadiya se contentaria em prender a mulher com as próprias mãos e levá-la para a prisão real, onde a mulher esperaria pelo próprio julgamento. Quem sabe o rei não permitisse que a guerreira matasse a traidora quando a hora chegasse.
Hadiya não deixou de notar que Chul parecia tão fora de si quanto ela mesma, mas o homem também era bem treinado e caminhou a passos longos e firmes até o pavilhão do qual Wang Hee Jin raramente saía.
Chul franziu o cenho quando não viu movimentação do lado de fora dos aposentos da princesa viúva. Normalmente havia pelo menos uma criada indo ou vindo da cozinha ou de alguma outra área do palácio, levando coisas para agradar a princesa temperamental que gostava de esbanjar luxo.
Fez um gesto para que seus homens rodeassem todo o pavilhão. Não era preciso muita força bruta para subjugar Hee Jin, já que a mulher não sabia lutar e tinha poucos criados fiéis, mas com certeza era preciso cercar todo o terreno. A mulher não era mais tão jovem, mas também não podia ser considerada velha, principalmente com sua astúcia e agilidade quando queria escapar de algo.
Pelo que Chul podia ver, a movimentação dentro do pavilhão também era mínima, e ele não esperou nem mais um instante para entrar, sua espada desembainhada e pronta na mão direita.
Hadiya, logo atrás dele, tocou as adagas presas no suporte da cintura no exato momento em que ultrapassou a porta que levava à primeira sala.
Os guardas vasculharam cada cômodo do pavilhão enquanto Chul seguia direto para os aposentos de Hee Jin. O capitão já estivera ali antes a mando do antigo rei, pouquíssimas vezes, mas se lembrava exatamente de onde ficava o quarto da mulher.
Sem encontrar qualquer criada ou eunuco pelo caminho, Chul estava de cenho franzido quando abriu as portas de correr do quarto principal, a força do gesto causando um estrondo quando as portas bateram na parede.
Os olhos treinados do capitão encontraram a mulher que procurava com rapidez, levando apenas um segundo para entender o que estava acontecendo antes que suas pernas o levassem na direção dela com pressa.
Mesmo sem nenhum obstáculo entre o capitão e a princesa viúva, enquanto corria, o cérebro de Chul registrou o fato de que chegara tarde demais. Não conseguiria alcançá-la a tempo.
Com um sorriso maquiavélico nos lábios e os olhos brilhando com uma mistura de loucura, raiva e satisfação, Wang Hee Jin levava uma xícara aos lábios lentamente, como se zombasse da tentativa de Chul de se aproximar dela.
Ela sabia que o homem interpretaria a cena de forma precisa, entendendo no mesmo instante que ela não tinha motivo algum para tomar chá quase que imediatamente após a rainha ter sido sequestrada e sem nenhuma criada ou eunuco por perto. Não, o líquido na xícara não era chá. Era algo que impediria Hadiya de cumprir sua ânsia de carregar a tia do rei até a prisão e observá-la ser julgada e morta por traição.
Era algo que acabaria com a vida da princesa viúva quase que imediatamente após o líquido tocar seus lábios, algo que manteria Hee Jin no controle de si mesma, ainda que a impedisse de um dia tomar o trono como sempre desejou.
O veneno fora preparado pela própria Hee Jin e ela sabia que não falharia.
Chul também sabia disso, a julgar pelos olhos arregalados e pela mão estendida na direção dela enquanto percorria a distância que so separava, lento demais para impedir que a mulher bebesse o líquido mortal.
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