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Capítulo 27

"Você aponta a câmera para a maior

parte das pessoas e elas sorriem.

Você não vê o que realmente são.

Só vê suas máscaras. "

(13 Reasons Why).

Alguns dias se passaram e eu apareci na escola com visual diferente, fiz californianas no cabelo, as mechas ficaram loiras e eu me senti bem mais bonita. Mônica me ensinou algumas makes que ela aprendeu em tutoriais na internet e eu estava gostando do que estava vendo, me senti poderosa ao me olhar no espelho e no colégio foi engraçado a reação das pessoas que ficaram embasbacadas comigo, todo mundo estava admirado com meu novo visual.

— Estela! Uau! Você está linda, hein? — Mayara assim que me viu chegando na sala ficou boquiaberta.

— Obrigada, é bom mudar de vez em quando, não é?

— É verdade, e acho que você merece se sentir melhor consigo mesma depois de tudo que aconteceu, super apoio a sua mudança, arrasou!

— Que fofa! Você devia tentar também.

— Eu gosto do meu cabelo assim cacheado, sabe? Adoro o volume dele, e minha mãe me ensinou que não precisava ficar alisando e fazendo um monte de progressivas que detonavam os fios como eu fazia quando pequena, aprendi a gostar dele exatamente assim, mas agora você me deu uma boa ideia. Ele está muito grande mesmo, é sempre bom cuidar da nossa autoestima, né?

— Deve dar muito trabalho cuidar de um cabelo tão longo assim. Mas eu acho lindo seu cabelo, parece bastante com o da Cat.

— O seu é grande, mas bate no peito, o meu está na cintura e pesa mesmo, eu vou cortar um pouco também por que morro de calor com ele assim. — ela riu.

Entramos na nossa sala e todos os olhares se voltaram para mim, não como antes como se eu fosse a pobre menina com problemas mentais, mas assim como os demais era um olhar de surpresa e isso foi bom para acarinhar meu ego, confesso.

As minhas colegas de sala que de vez em quando falavam comigo me elogiaram, sim por que na minha sala a coisa é meio dividia e competitiva, cada um tem sua panela. Existe o grupo das tops, digamos assim, as que sempre tiram as notas mais altas e gabaritam as provas para esfregar na cara das outras que são superiores, outros grupos que são mais ou menos, mas não se enturmam tanto, e dois grupos que socializam com meninas fora do seu grupinho, é o caso do grupo da Mayara e da Amanda. A gente não conversava muito a não ser sobre atividades e trabalhos ou provas, e agora, de repente, fomos descobrindo mais coisas em comum.

Cat ficou mega feliz com a minha mudança até a parte em que isso se devia a uma ajudinha de alguém que ela não ia muito com a cara, um dos seus desafetos.

A aula de inglês técnico tinha acabado e eu tinha me saído bem na prova oral como sempre, depois peguei a minha garrafinha de água e pedi para ir ao banheiro, a professora permitiu e estranhamente alguns minutos depois a Cat apareceu no bebedouro atrás de mim.

— Eu tô ficando maluca ou você realmente disse em alto e bom som que a Mônica e você são amiguinhas agora?

— Qual o problema? Só você pode ser minha amiga? Quer monopolizar a minha amizade agora?

— A que se deve essa aproximação de vocês? Ou já se esqueceu todas as vezes que ela foi malvada com você quando andava com o grupo do Caio?

— Isso são águas passadas, a gente superou as nossas diferenças. Deveria ficar feliz por isso — ela deu uma risada sarcástica.

— Não é possível, eu não consigo acreditar! Deu amnésia em você foi? Tenha santa paciência!

— As pessoas mudam, Catarina. A Mônica também não é esse monstro que você criou na mente. Ela está sendo muito legal comigo. Inclusive tá me ajudando a fazer compras de roupas mais descoladas, me deu ótimas dicas pra mudar o visual, e antes que me pergunte se ela me mudou, na verdade, eu é que queria me renovar e pedi a ajuda dela, ok? Então desencana e relaxa, pode ser? — ela suspirou e não disse mais nada, apenas balançou a cabeça negando o que ouviu e caminhou em direção ao banheiro.

Quando achei que iria ficar tranquila, eis que outra pessoa estava atrás de mim.

— Estela? Uau! Nem te reconheci de costas. Só me dei conta de quem era pela voz.

— Ah, é você Caio. — agora eu já não era mais a doce menina que ele conheceu e ele iria sentir na pele um pouco do que fez comigo.

— Ficou muito bonita assim, parabéns! Eu tô aliviado de te ver bem.

— Como se você se importasse comigo, não é? Deixa de ser hipócrita, ok? Não me venha com fingimentos pra cima de mim.

— Eu me preocupo com você, mesmo que não acredite. Fiquei arrasado quando soube o que aconteceu, mas não fui te visitar por que sabia que não me queria por perto e muito menos a sua mãe, sinto muito pelo que aconteceu.

— Sente mesmo? Uma foto íntima exposta e o mundo explode em seguida, para você ver como são as coisas. As pessoas tendem a ser cruéis no mundo. Mas uma coisa tenho que te agradecer por que o lado bom de tudo que houve me ensinou a ser mais forte, menos boba, menos inocente, desconfiar de qualquer um para nunca mais confiar cegamente em ninguém, afinal, se o cara com quem eu me entreguei fez isso comigo, o que posso esperar dos outros? Eu que nunca fiz mal para uma mosca, que aguentei brincadeiras idiotas com meu visual nerd e a minha timidez enorme, agora estou numa nova versão, e nunca mais vou deixar que alguém brinque com meu coração de novo por que amar é uma coisa fora da minha lista agora, no máximo eu vou ser rodada como várias meninas que conheço, assim você não corre o risco de se ligar a alguém ou se decepcionar, como você sempre fez. Fica com uma garota, depois acaba o rolo e parte para outra. Você nunca me amou, eu fui só mais um desafio na sua vida. Acha que eu não sei que estava comigo e outra menina ao mesmo tempo? Eu odiei ser feita de otária, mas a vida ensina de um jeito ou de outro ao nosso coração que deve se proteger para não ser feito de trouxa.

— Eu fui um canalha mesmo, mas aquela menina não foi nada sério, ela se atirou para cima de mim numa festa e eu estava bastante alcoolizado quando ela me beijou. Ela me chantageou com a foto que tiraram da gente, eu não queria que você visse aquilo. Você tem razão em me odiar, eu entendo. Mas não concordo que escolha  seguir o exemplo da Mônica, eu vi vocês andando juntas no pátio.

— A Mônica foi só mais uma que você usou e descartou, eu a conheci melhor e temos algumas coisas em comum e entre elas o ressentimento em relação a você. Ela é popular e durona, mas no fundo é uma garota assustada atrás de afeto, não é tão diferente de mim nesse aspecto, então se temos coisas que nos unem por que não trabalharmos juntas? Não estou sendo uma cópia dela, mas apenas aprendi a me proteger mais e viver a vida loucamente. Talvez você me veja em algumas festas também e lá vou ficar com quem eu quiser, afinal, sou livre, não tenho dono, certo?

— Você era meu sol, Estela. O que senti por você foi real, foi intenso, mas eu fui um tonto que não soube enfrentar algumas pessoas para viver isso. Não fui eu quem vazou a foto, jamais faria isso com você mesmo que soubesse que iria terminar comigo, sei que posso ter sido um otário pelas minhas atitudes quando a gente namorava e por não ter lhe assumido, me sinto culpado pelo que houve por que fui imaturo, contudo aprendi com meus erros. Eu vou fazer de tudo para conseguir a confissão de quem fez isso com você, prometo. A gente não vai ser amigo, pelo visto, porém eu devo isso a você. Quando conseguir provar quem foi o culpado talvez algum dia mereça seu perdão. Seja feliz. — algumas lágrimas rolaram pela face dele e ele saiu de perto dando passos largos em direção ao corredor da sua sala, e eu fiquei ali chocada com o que vi.

Jamais imaginei que ele choraria na minha frente, sempre foi duro na queda, então significa que naquele momento ele escolheu por abrir mão do orgulho masculino e mostrou a sua fragilidade, o que me causou um aperto no peito. Por um instante realmente odiei ter acreditado no que vi em seus olhos, de modo que até mesmo duvidei que tinha sido ele o responsável pelo vazamento na internet e ferrou a minha vida.

***

Passei o resto das aulas lembrando da nossa conversa e contei tudo a Cat pelo what's app, mas ela ignorou todas as minhas mensagens e me olhou com uma cara igual a de leoa quando quer matar a presa, sinceramente deu até medo. Na maioria das vezes ela é divertida e fofa, mas quando o modo on da fera dentro dela, era melhor correr por que a chapa ia esquentar, como diz o namorado dela que tem sotaque carioca por que veio para São Paulo há pouco tempo.

Por essas e outras era melhor esperar a raiva dela passar para conversarmos antes que acabássemos falando besteira e nos magoando. Mônica me chamou para ir ao karaokê e restaurante Tokyo que fica pertinho do metrô República, achei o máximo por que fazia tempo que eu queria comer comida japonesa de novo e cantar seria bem divertido também. Ela me disse que iria se reunir com uns amigos lá a tarde e como naquele dia gente não teria pós- aula então daria tempo de passar em casa, tomar um banho, me arrumar e sair.

A animação tomou conta de mim ao imaginar que poderia beber bastante e eu estava precisando depois de todos os problemas que tinha passado mais cedo, o meu corpo estava pedindo por descontração após toda a tensão que enfrentei com algumas pessoas.

Quem sabe até um dos amiguinhos da Mônica não seria um cara interessante e depois de uns pileques eu bem que estaria mais solta para curtir com ele.

Que a minha mãe não me ouça, mas eu estava louca por adrenalina e o perigo é uma das maneiras mais fáceis de obtê-la. Ainda bem que já pedi perdão de antemão por que no fundo já sentia que eu ia acabar fazendo algumas coisas que o senso conservador dela não entenderia e pensar nessas coisas me fez rir na sala, por sorte o professor de Geografia nem percebeu meu riso ou teria que inventar uma desculpa boba.

Contenha-se Estela! Era o que minha mente repetia continuamente. A aula acabou, arrumei meu material correndo e saí em disparada para ir embora.

Eu tinha um compromisso importante para comparecer e que marcava apenas o primeiro de muitos que eu estaria presente a fim de me divertir o máximo possível, afinal, eu mereço e a vida tem que ser vivida.

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