Capítulo 13
" Por que somos você e eu, e todas as pessoas.
Com nada para fazer, e nada para perder.
E eu não sei por que não consigo tirar
Meus olhos de você.
Todas as coisas que quero dizer.
Não estão saindo direito.
Eu estou tropeçando nas palavras.
Você deixou minha mente girando".
You and me – Lifehouse
Estava comendo uma coxinha durante o intervalo e fiquei sentada no banco de madeira no Jardim da escola, e só depois de um cutucão foi que eu prestei atenção na enxurrada de coisas ditas pela Catarina.
— Oi? Terra chamando Estela! Está me ouvindo criatura?
— Ah, me desculpa por isso, minha cabeça tá em outro lugar.
— Estela, eu percebi, deixa eu adivinhar? Está no garoto de olhos azuis. Tá rolando alguma coisa entre vocês que eu não sei por acaso?
— A gente se beijou hoje, dei uma escapada da sala durante a aula vaga para vê-lo.
— Aí você me conta isso na maior naturalidade? Como assim? Foi seu primeiro beijo, quero saber todos os detalhes, menina.
— Cat, não sei como posso descrever como eu me sinto, mas foi incrível. Eu nunca imaginei que um cara como ele se interessaria por mim, logo eu que me acho tão sem sal perto dessas outras garotas por aí.
— Você e a sua super autoestima, né? Sempre se boicotando, aí de você se não me tivesse como amiga para subir a sua moral sobre si mesma. Se ele se interessou é por que você o atraiu do seu jeitinho mesmo sendo meio atrapalhada na maioria das vezes.
— Espero não fazer besteira quando a gente se encontrar de novo. Mas tô tão feliz com meu primeiro beijo que nada mais pode estragar meu dia.
— Ótimo! Fico feliz por você finalmente começar a ter mais emoção na sua vida, mas agora mudando de assunto, eu também tenho novidades, eu fui aceita como nova integrante da revista da escola, legal né?
— Isso é maravilhoso! Fico orgulhosa de você, acredito que vai fazer ótimas matérias para a revista da nossa escola.
— E posso dar meu jeitinho para encaminhar textos seus se você quiser participar da coluna de literatura.
— Ah, eu não sei se é uma boa ideia. E se não gostarem dos meus textos? Eu só os escrevo para mim mesma.
— Deveria ter mais coragem e mostrar suas obras, eu já li alguns e gostei demais. Sei que você escreve muito bem. Agora o intervalo acabou e vamos ter aula de gestão financeira, eu tô me borrando de medo daquela atividade da professora Flor, já sei que vou bombar de novo.
— Se for em dupla pode fazer comigo e pelo menos vai ter uma nota boa no trabalho. Mas se for individual vai ser difícil eu te ajudar.
— Obrigada, amiga. Já vou rezando por que eu e os números realmente não temos uma boa relação, em compensação até que fui bem na atividade de filosofia.
Quando passávamos pelo corredor para voltar para nossa sala, Caio surgiu e passou por mim, ele piscou e sorriu. E eu é claro me derreti inteira com isso.
Eu sonhava em viver um amor tão intenso a ponto de me salvar da monotonia da minha vida como foi com a protagonista do meu livro favorito, Lucíola do José de Alencar.
Caio deveria ser meu Paulo, o meu salvador que me salvaria de um destino cruel e doloroso.
E se tudo não fosse apenas diversão para ele?
Tive medo que eu fosse apenas um joguinho em sua vida, isso seria terrível. Eu ficaria quebrada por dentro, e uma vez quebrada seria difícil eu me reconstruir do zero por que tenho os piores defeitos do mundo: amar demais, e odiar na mesma intensidade.
Será que eu deveria alimentar tantas expectativas em relação ao nosso envolvimento?
Eu consigo amar alguém com tudo que sou, eu me jogo de cabeça nessa relação seja de amizade ou de algo a mais, quando eu gosto é pra valer, o problema é quando quebram a minha confiança, se algo que foi feito é grave demais e não consigo mais confiar nesta pessoa eu irei me afastar dela até conseguir cortar o fio invisível que une as nossas almas por mais doloroso e demorado que isso seja para mim.
É um grande problema para mim cortar laços, eu sempre sofro quando isso acontece. Até agora isso acontecia com amizades as quais eu acreditava serem verdadeiras e duradouras, mas sempre ocorria alguma coisa e novamente eu me sentia traída pelas costas como se alguém me abraçasse hoje para me dar uma facada amanhã. Esse é o grande dilema de pessoas como eu que sempre se apegam demais.
Ser traída tantas vezes por amizades me tornou uma pessoa desconfiada e que vive tentando não criar muitas expectativas sobre tudo para evitar a frustração e dor de ver tudo que eu sonhei indo embora como água que escorre por entre os dedos.
Quando a gente se apega demais as pessoas dá nisso, nós só nos damos mal quando precisamos nos afastar. Dói pra caramba, parece que abriram um buraco no nosso peito e a garganta tem tantos nós que fica difícil respirar.
Foi exatamente assim com as minhas últimas amizades, a Karina e a Ingrid, as duas se aproximaram de mim no último semestre, e nos conhecemos em um seminário do nosso curso, já que somos de salas diferentes, nos demos bem e trocamos nossos contatos, e eu comecei a andar com elas de vez em quando, mas não demorou muito e saquei o jogo delas, só queriam rir as minhas custas.
Elas riram da minha roupa quando fomos comer no shopping, e fizeram comentários desagradáveis que me fizeram perceber o quanto eram pessoas tóxicas que só queriam se sentir bem humilhando os outros, coisa que eu detesto.
Fiquei tão nervosa com os comentários idiotas de Karina sobre a vida amorosa dela cheia de encontros quentes e sua popularidade que crescia nas redes sociais e na escola, que nem pensei no que estava prestes a fazer, só agi por impulso e joguei o resto da Coca-Cola na blusa dela e ainda tirei uma foto para mostrar pra Cat. Eu quis dar o troco pelo que fizeram comigo. Terminei o encontro nada perfeito dizendo a elas que era melhor ter só uma amiga que valesse a pena do que estar com meninas arrogantes e soberbas como elas, não adiantaria usar uma roupa da Zara se o interior fosse pior do que lixão.
Saí dali devastada, chorei tanto que mal consegui ver por onde eu andava e acabei trombando com um rapaz ruivo que carregava umas pastas, e eu o ajudei a pegar quando caíram no chão.
Ele me ofereceu um picolé em troca de eu contar o que tinha acontecido, era estudante de psicologia e disse que queria me ajudar. Não ia conseguir ir embora sabendo que não pôde ajudar quem ele viu que precisava.
Eu tomei o sorvete com recheio de Coco e lhe contei como fui enganada e humilhada por aquelas garotas que só queria rir da nerd bobona.
E ele me ouviu atentamente, depois sorriu e disse que não deveria deixar aquilo me afetar por que pessoas tóxicas existem em todos os lugares, apenas deveria tomar cuidado com elas, me proteger mais e seguir em frente por que nem todos sabem o quanto uma amizade é valiosa, mas alguns entendem o que isso significa e os que valorizam são os que eu deveria dar a devida atenção.
Ele disse que se chamava Jefferson e disse que eu podia mandar emails para ele quando precisasse desabafar, isso o ajudaria a entender mais a profissão na prática e também por que mais do que qualquer coisa, ele queria ter a consciência limpa de que estava ajudando o próximo, para ele isso era o verbo amar na prática.
Jefferson ainda me disse que como sempre foi cristão queria ajudar as pessoas com a sua profissão e a sua fé, ele acreditava que a psicologia e a espiritualidade podiam caminhar bem juntas para ter mais sucesso nos tratamentos de pessoas com problemas emocionais.
Ouvi-lo contar com tanta paixão seus sonhos para o futuro tornou aquela tarde menos dolorosa, e quando meu ônibus chegou, me despedi dele com um sorriso no rosto e com a promessa de manter o contato de vez em quando. Com certeza ele seria um psicólogo incrível no futuro, alguém que exalaria o amor em todas as suas atitudes, alguém com empatia e coração aberto para acolher os perdidos na vida.
***
Nos dias que seguiram eu e Caio nos encontramos várias vezes. Nos beijamos atrás dos coqueiros do ponto de ônibus da escola, outras vezes fomos ao cinema e eu assisti vários filmes da Marvel junto com ele, e ele adorou saber que havia uma garota que gostava de romance, mas que também sabia apreciar filmes de ação e de heróis, também fiz programas diferenciados com ele como levá-lo para ver peças teatrais no Teatro da nossa cidade, como sabia que ele gostava de stand up comedy, então reservei os ingressos com antecedência para vermos a apresentação de um humorista que ele conhecia.
Também fomos a alguns museus e bibliotecas da cidade, além dos parques ecológicos. Cada encontro era a promessa de muitos beijos apaixonados, de muitos carinhos, de palavras doces e gentis, e também de muita diversão.
Ele adorava apostar corrida comigo na pista de atletismo, ou me desafiar a dançar zumba com as mulheres mais velhas se eu tivesse coragem, e para o azar dele eu adorava justamente medir forças com ele, então eu dançava só para provocá-lo um pouquinho, causar ciúmes quando o professor fazia os movimentos perto de mim e de outras alunas. Caio balançava a cabeça em negativa e me puxava para longe, dizia que não queria o professor cobiçando uma garota que era dele.
Pela primeira vez na minha vida me sentia especial de alguma maneira. Era emocionante ir para escola e aguardar o nosso próximo encontro e todas as sensações que estar com ele proporcionariam em mim.
Caio realmente tinha roubado meu coração como Romeu roubou o da Julieta, mas eu só esperava não ter o mesmo fim do que os eternos
E eu adorava ouvir isso dos seus lábios apaixonados, que o destino não envenenasse o amor que cada vez mais crescia dentro de nós.
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