"Nós faremos tudo por nossa conta.

Nós não precisamos de nada, ou de ninguém.

Se eu me deitar aqui, você se deitaria comigo

E esqueceria do mundo?

Eu não sei bem dizer como me sinto".

Chasing Cars – Snow Patrol

O dia chegou e enfim eu e os demais alunos envolvidos apresentamos a peça de teatro, e acho que este fora um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida. Eu usei um vestido muito bonito de seda rosê com alguns drapeados e uma coroa, meu cabelo estava com uma bela trança que atingiu até a minha cintura e ficou muito bonita.

Caio usava uma calça escura e um sobretudo negro também, e o cenário estava excelente, a iluminação estava perfeita e todos fizemos um grande espetáculo.

Mal consegui acreditar quando entrei em cena e me senti tranquila como rainha Gertrudes, e em dos atos tive o prazer de acariciar o rosto de Caio que na peça era meu filho.

Igor, um dos colegas de Caio fazia o papel de Cláudio, o rei que era casado com Gertrudes após a morte do pai de Hamlet. Senti que o Caio me pareceu um pouco incomodado quando ítalo pegou em minha mão e me abraçou após eu ter feito o ato em que a rainha demonstrava preocupação com seu filho que estava muito estranho após a morte do antigo rei. E se a reação dele fazia parte do personagem então ele realmente me ludibriou, pois, a sensação que tive era de que ali ele havia improvisado e saído de perto de nós visivelmente irritado.

Quando a professora de inglês e de literatura me procuraram para montar um roteiro para encenar algum dos livros em que conhecíamos, pensei imediatamente em Shakespeare, e até poderia ser Romeu e Julieta, mas optei por Hamlet que é uma história muito interessante e que nem todos conhecem de verdade. Sempre foi uma das minhas favoritas.

Ela foi escrita no entre o século XVI e XVII, e é considerada uma tragédia, na trama que se passa na Dinamarca, o príncipe Hamlet quer vingar a morte de seu pai que foi executado pelo próprio irmão, Cláudio.

Ele o envenenou e assim pôde se casar com a rainha e tomou o governo daquele país.

Hamlet cria um plano em que se faz de louco, e explora temas como a corrupção, traição, incesto, vingança e moralidade. É uma das peças mais longas do dramaturgo, o que me deu um belo trabalho para compactá-la, sem que isso interferisse no bom andamento da encenação.

Hamlet se sente determinado com seu plano, pois uma visita do além, ou seja, um fantasma anda pelo castelo e lhe conta o que aconteceu com ele, o que por sua vez era exatamente o que houve com o pai do príncipe.

Contudo, o príncipe fica dividido entre seu plano e sua paixão por Ophelia, e o pai dela suspeita que a razão da loucura de Hamlet seja o amor mal resolvido com sua filha, ele se surpreende ao espiar os jovens e descobre que Hamlet maltrata Ophelia.

Cláudio se vê ameaçado quando percebe que Hamlet suspeita que ele tenha assassinado o antigo rei, e assim decide exilá-lo, mas Hamlet tomado pela ira e acreditando que é o rei acaba aniquilando o Rei Polônio, o pai de Ophelia.

Ophelia enlouqueceu após a morte de seu pai, e também por ter seu coração partido pela rejeição de Hamlet, não aguentando mais ela tira a própria vida. Laertes, seu irmão retornou de sua viagem decidido a vingar a morte daqueles que amava.

Rei Cláudio organizou um duelo de esgrima entre Laertes e Hamlet, mas era uma armadilha, a espada de Laertes tinha veneno e se ele vencesse o desafio iria despejar o veneno na taça do príncipe. Contudo, rainha infelizmente bebe do vinho envenenado, ao mesmo tempo Laerte fere Hamlet com a sua espada envenenada e se sente vencedor.

Hamlet e Laerte trocam acidentalmente as espadas, e assim o príncipe acerta seu oponente com a arma envenenada. Hamlet se dá conta da armadilha, e obriga Cláudio a tomar a taça de vinho envenenado, no fim Laerte isenta Hamlet da culpa pela morte de seu pai, os três morrem, um depois do outro.

O que nos mostra o quanto o ódio, a ganância pelo poder e a vingança podem cegar alguém a ponto de ele não enxergar mais nada além das suas razões para justificar seus atos.

Fomos aplaudidos de pé pela plateia e os professores da banca de avaliadores tinham uma expressão muito satisfeita em seus rostos, o que me deixou super feliz.

— Você foi maravilhosa, Estela! — disse Igor que estava tirando sua capa vermelha e após retirar sua coroa, penteava os cabelos escuros na altura dos ombros.

— Obrigada! Eu nunca pensei que conseguiria apresentar algo assim. Estou aliviada que tudo deu certo. — Ele se aproximou de mim, sorriu e me abraçou outra vez.

— O que foi? Por que esse abraço de repente?

— Eu gostei de te abraçar e sentir o seu perfume doce e meigo como você é, só isso. — ele olhava fixamente nos meus olhos e me deixava desconsertada. Caio apareceu atrás dele e sua cara não era de muitos amigos.

— Ele está te importunando? — perguntou ele com os braços cruzados e encarando Ítalo.

— Só você pode ser amigo dela agora? Me diz você se está incomodado comigo, Caio. — disse Igor de uma maneira mais ríspida.

— Ei! Parem de brigar, ok? Ele só queria me dar os parabéns pela apresentação. — Caio assentiu, depois entrelaçou meus dedos nos seus e me puxou para longe dos bastidores.

— O que foi?

— Não percebeu que ele estava dando em cima de você?

— Não, eu deveria ter notado? — encarei ele e arqueei as sobrancelhas para evitar que aquele papo me deixou desconfortável.

— Você é muito ingênua para não ter visto alguém com segundas intenções.

— E você tem segundas intenções também? — ele deu uma gargalhada e negou com a cabeça.

— Então vamos voltar para o palco para ouvirmos o comentário da banca, está bem? — ele assentiu e nos reunimos com toda a equipe envolvida na peça e que já se fazia presente ali no auditório da escola.

Todos os cinco professores deram notas excelentes para apresentação e para os recursos usados e que envolviam suas respectivas disciplinas, no fim tiramos 9,5. E todo mundo saiu feliz da vida naquele dia. Foi um trabalho exaustivo, difícil, mas que provou que juntos, sem disputas internas somos talentosos, criativos e muito mais fortes.