Capítulo 10
" Todo dia você vem aqui.
Seguro minha língua, não converso muito.
Você diz que está feliz e passa bem.
Vá em frente, baby, tenho muitos planos.
Por um tempo fiquei observando você fixamente.
Não farei nenhuma investida até que esteja bem e preparada.
Você aparece e enrubesce, mas sei que bem cedo
Trilhará esse caminho".
Sad Eyes – Enrique Iglesias.
O professor Andrei era alto, tinha um porte físico notável, e tinha os cabelos escuros, olhos castanho-escuros e uma barba bem aparada. Notei que a mulherada estava enlouquecida por ele, mas eu continuei na minha sem fazer alarde, muito menos usei de artifícios para chamar a sua atenção a fim de vê-lo mais de perto assim como algumas colegas mais descaradas fizeram.
— Ele é um gato, não é? — disse Cat no meu ouvido.
— É bonito sim, mas já viu que ele está noivo?
— E quem disse que eu vou ficar com ele? A gente só quer admirar essa beleza maravilhosa, ué?
— Ele deve sofrer assédio das alunas, com certeza. — comentei enquanto terminava minha planilha no Excel.
— Não duvido que as meninas caiam matando, principalmente as mais atiradas. Ele é novo aqui na escola, e não tem muito tempo como professor, mas parece bem maneiro, não é? — disse ela enquanto fazia seus cálculos na sua planilha.
— E eu achando que você quis sentar na frente para eu não me matar para copiar os exercícios no caderno, que boba! Você queria era admirar a paisagem nova. — brinquei.
— Olhar não tira pedaço, amiga! E eu precisava me distrair depois de ter certeza que eu não vou me sair bem naquela atividade da professora Matilde.
— Depois você recupera.
— Fácil pra você que tem as notas perfeitas. Morro de medo de bombar na média final. Me cago nas calças todo fim de trimestre. Você não sabe o que é isso, tá? — contive o riso para que ela não se sentisse pior, mas sempre gostei desse jeito meio espalhafatoso dela, me fazia rir à beça.
— Não exagera no drama, ok? Você se borra todo fim de trimestre por que sai para os rolés e esquece as provas e alguns trabalhos, pois deixa tudo para as última hora. Por isso já adianto tudo que tenho que fazer assim fico mais tranquila com a escola.
— Ok, dona certinha! Voltando ao professor gatinho, você viu a voz dele como é grave e bonita? Só não posso sonhar com ele se não Noah me mata.
— Eu quero conhecer seu namorado, tá? Ainda não fomos apresentados e eu quero saber se ele é um cara legal mesmo. — Teoricamente ele ainda é meu ficante, só vou te apresentar caso ele me peça em namoro, se não é rolo e sendo rolo não tem necessidade de você conhecer, beleza?
— Tudo bem, você quem sabe. — O sinal tocou novamente anunciando que as últimas aulas tinham acabado. Arrumei minhas coisas e saí da sala em direção ao refeitório por que estava morrendo de fome, desci as escadas apressada e quando cheguei na fila e vi aquela ruiva de novo se jogando para cima do Caio meu sangue ferveu, parecia que apreciava esse tipo de garota e eu não entendia o por quê.
De repente, desisti de almoçar na escola e segui para a saída por que era melhor do que me entalar com a comida vendo aquela cena ridícula. Peguei meu celular e selecionei minha playlist para me acalmar enquanto esperava o ônibus no ponto.
Nunca fiquei tão impaciente para ir embora como naquele dia, só queria sumir dali por que estava com raiva. Não sabia se eu estava apenas me iludindo mesmo ou Caio me dava esperança e depois me jogava um balde de gelo, esse joguinho estava acabando comigo e eu trataria de tirar satisfações com ele o mais rápido possível.
Tinha que desenrolar esse novelo entre a gente, não aguentava mais essa confusão no meu coração, ou ele assumia que queria algo comigo ou me dava espaço para esquecê-lo de vez. Era tudo ou nada.
***
Naquela tarde tratei de ligar o som igual a minha mãe faz e fiquei ouvindo o pendrive dela com a banda latina CNCO, a música Demuestra me parecia se encaixar perfeitamente na situação em que eu vivia com Caio.
Comecei a dançar em casa enquanto limpava a casa. Agora eu entendia por que a minha dizia que fazer limpeza já era chato e sem música então era horrível, era como se com música o trabalho fosse mais rápido de terminar, e a gente mal percebesse o tempo passar. Os garotos latinos iam me envolvendo com o seu reggaeton no estilo de Luís Fonsi com Despacito, uma das favoritas da minha mãe, e eu fiquei tão distraída que nem vi quando minha mãe chegou a noite. Passei o dia todo envolvida com a faxina para deixar a casa um brinco e também por que queria esquecer alguns coisas ruins.
— Eita! O que é que deu em você para fazer essa faxina geral hoje, hein? — disse minha mãe enquanto colocava as compras na mesa da cozinha.
— Eu andei ocupada estudando muito, então não conseguia dar uma faxina completa na casa, limpava só de maneira básica.
— E aí gostou?
— A casa estava precisando mesmo, as janelas e as portas tinham poeira e a geladeira também precisava ser lavada. Como você me ajudou depois eu te dou uns trocados a mais na sua mesada.
— Não fiz por grana, mãe. Fica tranquila, tá? Sei o duro que a senhora dá pra me sustentar e manter as contas pagas nessa casa. Eu queria trabalhar, mas você não deixa. Quer que eu me dedique aos estudos mais do que tudo.
— Eu me viro, filha. O importante é que você tenha um futuro melhor que o meu. Eu me mato de trabalhar para que você tenha mais oportunidades. A sua felicidade é a minha, sabe disso.
— A senhora algumas vezes é meio bruta comigo, mas no fundo tem coração, né?
— Fui criada assim, não sei demonstrar muito afeto, mas eu tento por que você é uma boa filha. Desculpa a sua mãe por qualquer coisa. Faço o que está ao meu alcance por você. — meus olhos ficaram marejados e eu abracei.
Minha mãe é assim durona, mas o coração dela é enorme, ela sempre foi muito generosa e bondosa com quem precisa. Eu tenho o maior orgulho dela, nunca me envergonhei por ela não ter estudos, mal terminou a quinta série por que tinha trabalhar para ter o que comer no sertão do Nordeste.
— Mas me diz a verdade, você está bem mesmo? Uma mãe quando o filho esconde alguma coisa.
— Não adianta disfarçar por que deu na cara, não é? — Fala o que aconteceu, sabe que pode contar comigo.
— Coisa de adolescente, mãe. Mas eu vou ficar bem, dizem que é a fase.
— É a fase mesmo que as filhas não contam mais tudo que acontece na escola para as suas mães como faziam quando eram menores. Disso sinto falta. Hoje você tem segredos comigo. — ela respirou fundo e amarrou os cabelos longos escuros em um coque no alto da cabeça.
— Ah, mãe não fica triste ou brava. Eu só não me sinto à vontade para falar disso. Só quero ficar no meu canto quietinha com meus livros, meu celular, tá bom?
— Tudo bem, mas se você precisar de qualquer coisa eu tô aqui. Eu amo você, não esquece disso, mocinha. — ela sorriu e depois foi até a área de serviço pegar a toalha para tomar um banho e descansar do trabalho.
Eu guardei as compras no armário e preparei uma macarronada para jantamos. Conversamos sobre outras coisas e ela me convenceu a assistir um filme com ela pelo menos. Procuramos na Netflix algum que ela gostasse, acabamos decidindo por um de comédia e isso me fez bem, precisava rir um pouco para espantar aquela tristeza que estava a minha espreita. Quando o filme terminou fui para meu quarto e ela para o dela. Estudei um pouco, mas estava exausta e acabei dormindo em cima dos livros.
No dia seguinte acordei com o celular despertando alto e com o susto caí da cama, xinguei a porcaria do despertador e minha mãe que já estava saindo para o trabalho perguntou se estava bem depois de ouvir o barulho.
Eu respondi que não foi o nada grave e que já iria sair depois de tomar meu banho e me arrumar. Ótimo! Começara meu dia muito bem, caí da cama e o que mais faltava para o azar chegar de vez? Isso que nem era sexta feira treze ainda. Coitado de quem se aproximasse de mim na escola.
O monstro do mau humor espantaria todo mundo. Eu acordei virada no giraya, ou melhor no cão mesmo. Talvez não fosse uma boa ideia procurar o Caio do jeito em que eu estava, ele iria se perguntar para onde foi a princesa, já que agora só ficou o dragão, o que ele nunca soube é que sou as duas, tudo depende do meu estado emocional.
Selecionei a minha playlist de música clássica no celular para ouvir enquanto já estava pronta para ir para escola. Por via das dúvidas levei uma barra chocolate na mochila por que pensariam que eu estava com a TPM me importando.
Quando cheguei no colégio fui procurar a Milena que tinha pedido a minha ajuda com o trabalho de filosofia, mas ela tinha faltado ou iria chegar atrasada, o que está um alívio para mim por que naquela manhã a minha paciência estava negativa. Cat veio falar comigo e já percebeu minha cara azeda.
— Eita! Acordou com a macaca hoje?
— Cuidado! A macaca tá uma fera.
— Oxe! O que aconteceu?
— Você me conhece, e sabe que eu fico extremamente zangada quando as coisas não saem como eu planejo. Eu me preparo para um dia bom, e aí já começo caindo da cama e batendo o pé na lateral dela. Acho que só não disse uns palavrões alto por que minha mãe ia ficar brava, beleza? Seja legalzinha com esta criatura tensa na tua frente. — Não é a peste da TPM?
— Ô inteligência pura! Tu se esqueceu que tomo remédio pra essa coisa não aparecer? Eu não posso menstruar, cabeçuda.
— É mesmo! Você tem sorte por que a minha já tá dando o ar da graça. E eu detesto isso, pelo menos você se livrou da amostra grátis de parto natural, nossas indesejadas cólicas. Só falto morrer com aquela desgraça.
— As minhas cólicas me levavam pro hospital por que eram muito fortes... Não me deixa falar com o Caio hoje, se não ele vai achar que sou bipolar, ok?
— Eu consigo cumprir essa missão. Vamos para a sala logo assim você não encontra com ele. Respirei fundo e segui ela em direção à sala de aula, rezando para não vê-lo e tentando me controlar para não soltar os cachorros em alguém na minha classe caso me irritasse com alguma coisa por que a minha tolerância estava zero.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro