Para Afrodite:

Seus olhos estão cobertos, sua obsessão é maior do que pensei.

Assim como a minha.

O amor me envolve a ponto de sufocar, sinto que vou morrer.

Meu peito queima como se uma lança o estivesse atravessando.

Afrodite, maldita seja.

Teu filho me fez amá-la, a dor que sinto é a flecha infernal atravessando minha carne.

Sou pobre, sempre fui, nasci nu, nasci pequeno, nasci quando não devia, nasci de quem não devia.

Minha dor se estende desde aqueles dias, mas hoje é pior, é mais intenso.

Mãe, queria que eu sofresse? Me teve apenas para que eu amasse quem eu não posso amar?

Amor é vida, amor é viver.

A dor de amar é a dor por se estar vivo.

Ela não ama a mim, ela não ama outro.

Ela ama o oposto de amor.

Seu deus que só ela vê, o seu deus que ela quer que eu veja.

Se os olhos do deus encontrassem os meus, ela poderia me amar.

Devaneios infantis? Esperança tola? É possível.

Tão possível que seja esse deus o responsável pela sua fascinação pela morte.

"Vá, se jogue da ponte por mim", ele deve dizer.

Dia após dia, ela vai, dia após dia, eu impeço.

O deus me odeia, por isso não o vejo.

Eu devo vê-lo, devo fazer ele ser real para mim.

Assim o amor dela pode me pertencer.

Ou a Orco nosso amor pertencerá.

De E.