Rasteira na esperteza: restaurante Viva o Verde!, 11:00h.
Pel Amana, do outro lado da rua, sentada na cadeira de plástico de um botequim, observava um grupo grande de pessoas que esperava pela chegada de celebridades. Haviam alguns membros da imprensa na porta do restaurante que estava cercada por uma equipe de segurança. Com o auxílio de fitas, um corredor foi moldado, assinalado pelo tapete verde de grama sintética.
Muito temático, Pel Amana pensou enquanto via chegar mais um grupo grande de pessoas segurando cartazes apaixonados com o rosto e o nome de Hassan gravados neles.
— Ô dona... — O homem do bar, proprietário, chamou a atenção da detetive.
O velho tinha barba por fazer, usava boné de uma marca de cachaça e tinha os botões da camisa social de manga curta abertos até quase a altura do umbigo. O peito era enfeitado por pêlos grisalhos e ele tinha um dente de ouro.
— Fala chefia. — Pel Amana respondeu sem muito ânimo, mas buscando uma intimidade idiomática que não possuía.
— Vai pedir o quê? — Com a boca fechada ele passou a língua pelos dentes.
— Um guaraná de seiscentos.
— De qual marca?
— Qualquer uma. — Pel pensou em pedir uma água, mas já que estava ali mesmo.
O homem trouxe uma garrafa de refrigerante de guaraná e um copo americano de vidro transparente. Pel abriu a garrafa e serviu o copo sem tirar os olhos do outro lado da rua.
Logo algumas subcelebridades começaram a chegar. Ex-participantes de reality show, uma vereadora, outros chefs renomados e algumas pessoas comuns que Pel Amana não sabia quem eram pelas feições. Tinha visto toda a lista de convidados e imaginou que aquelas pessoas eram da família da chef anfitriã.
Para todas aquelas pessoas houve um pequeno burburinho nas ocasiões de suas chegadas, mas nada se comparava ao alvoroço de gritos e atropelos que aconteceram quando Hassan foi avistado. Pel Amana ficou surpresa quando uma senhora de seus sessenta anos desmaiou e foi socorrida pelos presentes.
O performer desceu do carro com toda a sua pompa de beleza e garbo de gestos contidos como uma educação fina pressupunha para aquele tipo de gente. Ele sorriu para a multidão emocionada onde muitas pessoas choravam e estendiam as mãos para ele tocar. Carismático, o homem dedicou algum tempo para seus fãs, dando autógrafos, tirando fotos, beijando mãos e até abraçou a anteriormente desfalecida que já estava acordada novamente. Depois pousou para as fotos da mídia enquanto piscava de forma charmosa e sorria largo, mostrando as roupas caras e falsamente casuais. Vestia calça bege de algodão cru com corte reto muito bem feito, sandálias confortáveis de couro marrom e camisa solta de musseline que deixava ver o físico bem torneado do músico.
Pel Amana sorriu sarcástica já intuindo que aquelas sandálias iriam repercutir muito nos sites de fofoca e páginas sobre veganismo.
Hassan entrou no estabelecimento, mas a multidão não se dispersou. Tanto eles quanto Pel Amana esperaram por mais de uma hora até que Hassan saísse do restaurante.
Pel Amana colocou seu capacete e montou na moto assim que Hassan entrou em seu carro. Ela sabia onde ele estava hospedado, porém não tinha certeza se ele ia para lá, pois nada estava agendado e registrado em algum lugar. Ela começou a seguir o carro de longe, parando vez ou outra em alguma esquina para falsamente consultar um mapa, tirar uma foto da paisagem, e até entrando em pequenas ruas alternativas para não dar na vista. Depois de um longo caminho, o carro de Hassan começou a pegar a direção do pequeno hotel onde ele se escondia para evitar o assédio dos fãs.
A detetive sorriu vitoriosa e rumou para lá. Ela desceu da moto, estacionada a duas quadras de distância, colocou nos cabelos um lenço vermelho amarrado como uma tiara e brincos cor-de-rosa, como uma jaqueta jeans que trouxe consigo. Era seu disfarce e esperava ser confundida com uma fã.
Ela andou calmamente até a frente do edifício sentindo o coração acelerar de adrenalina. Encostou na parede, cruzou os braços e abaixou a cabeça enquanto esperava ele chegar.
Não demorou e o carro de Hassan estacionou. Ele desceu, agradeceu ao motorista, ia entrar sem enrola, mas a mulher chamou sua atenção. Era bonita dali de onde via. Aproximou-se para cantá-la com seu jeito fácil, contudo, quando ela ergueu o rosto, o coração do homem disparou. Ele reconheceu Pel Amana, e então saiu correndo para dentro do edifício.
A porta da entrada abriu-se violentamente e bateu contra a parede emitindo um sonoro eco metálico, o homem que a atravessou era alto, de aparência arrebatadora, charmoso nos gestos e vestia-se muito bem. Hassan estava esbaforido e nitidamente assustado, disparou pelo corredor sem se importar com as broncas do porteiro, que praguejava abanando as mãos e lançando sobre ele uma porção de injúrias.
— Vai destruir o prédio com suas bombas, "allahu-akbar"? — questionou baixo e com ignorância.
Assim que o homem desapareceu pela escadaria, o porteiro sentou-se, fungou e abriu novamente seu jornal. A porta de entrada ecoou com novo golpe de ombro, ele saltou da cadeira assustado e viu uma mulher cambalear para dentro do edifício com uma arma nas mãos e correr em direção à escada central. Engoliu em seco e discou para a polícia.
Pel Amana perseguia o sujeito, que já mostrava sinais de cansaço, estavam ambos em seus limites. A cada lance de escada vencido ela estava mais próxima de cumprir seu objetivo e o homem que dela fugia mais próximo de seu fim.
Desde que passou a usar uma prótese para substituir a perna que perdera, não tinha mais a mesma agilidade ao subir escadas tão longas, ainda mais em uma perseguição frenética como aquela. Seus pulmões queimavam quando ela puxava o ar para dentro, mas sabia que não podia parar, pois se ele ganhasse terreno, jamais o pegaria.
Sem esperar, recebeu um golpe na mão que segurava a arma e a viu escapar pelo vão da escadaria e rumar para o piso térreo. Rangeu os dentes e tomou fôlego para prosseguir, não faltavam mais tantos andares, logo o homem estaria encurralado.
Ele chegou ao último andar segurando uma chave, habilmente a colocou na fechadura e destrancou a porta, adentrou o apartamento, mas não teve tempo de trancá-lo novamente, pois ela já havia surgido no corredor. Ele se lançou pelo vão da porta ao lado e agarrou o que viu pela frente.
– Acabou, Hassan! – disse ela ao entrar.
Assim que a detetive passou pela porta ele usou o cabo da vassoura que tinha em mãos para travar as pernas da mulher e levá-la ao chão.
Sem perder tempo ele agarrou a prótese em forma de J e puxou com violência. A detetive o chutava na tentativa de se desvencilhar do patife, mas após vários puxões bruscos ele conseguiu o que queria e ao vê-la sem uma perna empalideceu e correu com a prótese nas mãos.
– Filho da puta! Desgraçado!
Ela sentou-se e respirou pesadamente, havia perdido aquele round da forma mais vergonhosa que poderia imaginar, pegou o celular no bolso interno da jaqueta e efetuou a ligação que tanto hesitou em fazer.
– Preciso de apoio na Avenida central. Edifício estrela, último andar... e venha logo.
Minutos depois entrou pela porta do apartamento uma pessoa trajando uniforme cinza e uma máscara com respiradores, também trazia uma mochila com dois cilindros prateados nas costas. Parou diante da detetive sentada num sofá compacto, olhou ao redor e depois de novamente olhar para Pel Amana, percebeu estampado em seu rosto um altíssimo nível de estresse.
– Limpeza completa, chefe?
– Não. Só...só me tira daqui.
Enquanto trafegava pela cidade a mulher sentada no banco do carona de uma van, olhava pela janela imersa em seus pensamentos conflitantes, mastigando dúvidas e ruminando uma vergonha íntima. Fui descuidada e pretensiosa.
A ilha em que estavam era uma cidade independente, estava quase ganhando o título de nação, tudo dependia da aprovação de mais três países da América do Sul; seus vizinhos. O local era bonito, cresceu rápido e atraiu muitos investidores e figurões da mídia, a arquitetura secular ousada trazia uma mistura de barroco e espelhos, o que dava todo o charme singular do local. No entanto, o turismo não era em si a maior força econômica da ilha e sim a indústria da arte e do entretenimento. Havia mais de dez teatros espalhados pela região, nove cinemas, duas grande empresas de criação de jogos e equipamentos eletrônicos e também um grande estúdio de produções cinematográficas que começara se destacar no Sul das Américas.
Com tudo isso em mente, Pel Amana temia errar, não apenas em deixar ele escapar ou matá-lo espalhando efeitos colaterais, mas Hassan era uma pessoa importante para a arte mundial e também para a infraestrutura daquele pequeno lugar que estava prestes a se emancipar como país. Qual terá sido seu crime?
Após um relaxante banho, uma garrafa de vinho e um pôr-do-sol transcendental ela finalmente conseguiu respirar adequadamente e se ver livre da raiva e vergonha que sentia. Pegou o celular e rolou a barra de contatos, parou com o dedo pairando sobre o nome de seu assistente, mas depois de ponderar um pouco, desistiu; não porque não o quisesse incomodar em suas merecidas férias, mas pelo fato de que teria de suportá-lo fazendo piadas sobre o fatídico episódio pelo resto da vida.
Já com uma nova prótese, ela decidiu sentar na frente do laptop e espremer o cérebro. Navegou pela internet durante horas em busca de novas informações, consultou diversas páginas de notícias e até páginas especializadas em criação de figuras legendadas altamente qualificadas e amplamente conectadas com a realidade e essência humana, mas nada surtiu grande efeito, as informações eram muito parecidas; no entanto, uma única matéria lhe rendeu uma boa ideia, leu o texto de um colunista local que falava sobre a luta de Hassan frente às mídias mundiais e seu apelo para que os países com maior poder aquisitivo apoiassem a emancipação da ilha localizada no Pacífico.
Por que isso é importante para você, Hassan? Está usando a arte para se esconder? De quem, ou do quê? Ou será que é ainda mais ardiloso e está agindo em conjunto com seu pai?
Com sua ideia em mente ela sentou-se ao chão da sala e estendeu um tecido preto sob uma armação que segurava um funil preso com barbantes, encheu o funil com areia fina e vermelha do Saara e se concentrou na imagem do homem a quem estava caçando. Tocou a armação e através de suas técnicas meditativas energizou o objeto.
– Quero um retrato espiritual de Hassan Mubarak – pediu ela antes de retirar a tampa do funil.
Ela viu a areia caindo levemente com tanta graça e delicadeza que lembravam a espuma do mar, seu lugar de origem. As partículas rubras desciam por uma fina coluna se desprendendo lentamente do epicentro da força de ação e criando ao redor da coluna de areia um manto quase transparente, e assim, a areia caía se espalhando pelo tecido abaixo para formar um símbolo que representaria o lado espiritual daquele homem.
Enquanto aguardava a figura ficar pronta, foi até a varanda para observar a cidade e principalmente o céu noturno, que estando distante das grandes metrópoles lhe presentearia com uma generosa visão do campo estrelado sob o qual vivia.
Seus olhos miraram primeiramente a rua logo abaixo, viu uma sorveteria italiana ao lado de uma panificadora francesa e sorriu ternamente, algumas pessoas passeavam tranquilamente pelas ruas observando a beleza bucólica e intimista daquela cidadezinha, inalando os diversos aromas de chás, cafés e doces e ouvindo os músicos de rua com seus afinadíssimos violinos e saxofones preenchendo a noite com uma nota harmônica de nostalgia; porém, seus pensamentos iam um pouco além da iluminação urbana, ela foi imediatamente tragada pela escuridão vazia de seus pensamentos abissais, sentindo-se fraca, desesperançada e solitária, foi quando deu-se conta de que aquelas pessoas vagavam pelas ruas alheias ao que realmente às cercavam.
Sua crescente angústia notou que a felicidade nos rostos daquelas pessoas era falsa, mais que isso, era comprada em qualquer site comum que comercializava momentos felizes para que as pessoas se esquecessem de que vivem sob um regime hipócrita, fétido, manipulador e que elas são impotentes frente a ele, pois nem sequer percebem que não vivem, mas que são arrastadas pela correnteza de regras e convenções sociais com medo de se arriscarem e perderem aquilo que acham que possuem, pois na verdade nada é de ninguém.
Respirou profundamente e vendo os tons de amarelo-cósmico que emanava das estrelas distantes, sentiu-se ainda mais angustiada, percebeu-se vivendo como eles, lutando como eles e se reprimindo exatamente como eles. Por alguns segundos enalteceu os seres humanos por serem capazes de moldar os deuses à sua vontade, mas depois desprendeu-se da ideia de admiração e voltou ao miserável caos que rompia as barreiras da sanidade em sua mente. Dinheiro, arte, religião, status quo, hierarquia, governos, tudo isso não passava de resultado de uma esquizofrenia coletiva, na qual as pessoas atribuem valor a um pedaço de papel, mas não valorizam a árvore que pode gerar incontáveis pedaços de papel, valorizam uma pessoa e a obedecem como se ela fosse mais forte e mais importante que milhões, e um estilo de vida que prega a sanidade, mas que idolatra pessoas mortas, fala com elas enquanto encenam repetidamente o mesmo papel numa tela de cristal estimulada por elétrons, torcem para heróis que não existem, nunca existiram e tão pouco existirão, tudo isso para aplacar a dor de saberem que são demasiadamente humanos e incapazes de alcançar aquilo que mais possuem de valioso; seus sonhos.
O som da areia caindo parou atraindo instantaneamente seu olhar, ela respirou fundo, fechou os olhos e tentou por um instante esquecer das angústias que se agigantavam sobre sua mente. Apesar de ser uma mulher incomum, a humanidade dentro dela superava qualquer limite extraordinário.
Ajoelhou-se diante do objeto e fitou a figura desenhada por grãos carmesim. Seus olhos confusos buscavam o entendimento sobre aquela forma emaranhada e sinuosa, seus lábios se entreabriram e sopraram o nome do patife, sentiu o suor brotar na testa quando por fim reconheceu naquele desenho feito com diminutos grãos de areia fina a forma de uma serpente entrelaçada a si mesma.
— Cacete!
Batidas na porta ressoaram através do quarto, arrancando Pel Amana de seu elevado estado espiritual. A mulher fechou a cara já entrando em ponto de alerta máximo, pois não estava à espera de ninguém. Na realidade, ela seria a visita surpresa de outra pessoa, assim que descobrisse onde estava. Gostava de ir para a Ilha do Boto às vezes, para espairecer.
— Quem é? — gritou para a porta enquanto já arrancava a arma do coldre que estava em cima da cama.
Era uma clássica pistola de calibre vinte e dois, básica, sem muito poder de destruição, pois o momento não pedia nada radical.
— Serviço de quarto! — A voz veio do outro lado da porta.
— Tá de sacanagem?
A mulher ergueu as sobrancelhas e apertou os lábios, incrédula de que iriam atacar ela como em um clichê ruim de Hollywood. Quem usava serviço de quarto para tais fins? Tudo bem que a ilha era relativamente humilde e não dava espaço para planos mirabolantes, mas daquela forma também já era demais.
Com as costas justapostas na parede ao lado da porta, Pel Amana abriu e empurrou a porta para o outro lado. Um funcionário muito jovem, quase uma criança, entrou, empurrando um carrinho com um prato tapado por um cloche de inox e uma garrafa de vinho com uma taça ao lado. Havia até mesmo um ramalhete de flores frescas ali. Girassóis, dois grandes girassóis, saudáveis e cheios de personalidade; como os que inspirara um velho amigo a pintar em uma clínica de repouso.
Pel encostou o cano da arma na cabeça do jovem que tinha se distraído olhando para a bruxaria no chão.
— Quem mandou você? — perguntou com voz dura enquanto assistia o rapaz tremer e levantar as mãos.
— O gerente, senhora. — Filipi, o funcionário, respondeu de forma titubeante.
— Por quê? Eu não pedi para ser servida. Aliás, nem sabia que esse hotel tinha tal regalia.
— É para ocasiões especiais, senhora. Só estou fazendo meu trabalho — disse o rapaz, nervoso demais com tudo aquilo.
A detetive calculou que não tinha ocasião especial nenhuma para ela receber algo comemorativo.
— Levante o cloche! — Pel pediu. Se houvesse uma bomba, ela explodiria nele também.
Com as mãos trêmulas, suando frio, o rapaz levantou o cloche, revelando um pequeno bolo decorado sobre o prato brilhante e bonito. Era um trabalho de confeitaria muito bem feito. No papel de arroz pousado sobre o cimo do bolo, foi possível ler o nome do hotel e abaixo os escritos "25 anos".
— Hoje é aniversário do hotel, e, como temos poucos hóspedes, o gerente resolveu presentear a todos com um pequeno bolo comemorativo. — O jovem explicou enquanto Pel abaixava a arma.
— Peço desculpas — disse Pel, carrancuda. Estava sempre alerta, o que não a colocava em boas situações.
— Não se preocupe. — O jovem riu nervoso. — Acontece sempre.
— Como assim?
Antes que Pel terminasse a pergunta, o funcionário já tinha batido a porta atrás de si, deixando-a novamente sozinha em seu quarto.
Pel guardou a arma, pegou o celular e pesquisou no site do hotel. Relaxou quando viu o layout comemorativo de 25 anos, com balões virtuais subindo pela tela assim que ela abriu a página. Riu sozinha se perdoando porque prevenção nunca é demais, o que incluía não atirar primeiro e saber depois. Não daria um tiro nele, no máximo o faria correr de seu quarto.
A detetive cheirou o bolo, olhou de perto para ver se havia furo de seringa, partiu ao meio com a colher, analisando o recheio de creme e inalou o aroma doce do interior também. Concluiu que nada havia de errado com o bolo, então provou um pedaço, concluindo em algumas mastigadas que o sabor era divino, como néctar coletado no jardim dos Campos Elísios. Até sentiu seu humor melhorar um pouco quando recebeu uma mensagem no celular, de um número desconhecido, com uma foto que mostrava Hassan ali na ilha, no centro da cidade, saindo de um galpão. Estava vestido fora do padrão convencional de seu exibicionismo de celebridade, com roupa social simples e óculos. Parecia desconfiado, pois olhava para os lados.
— Desgraçado, eu vou pegar você e com razão. — Pel falou para a tela enquanto sentia formigar em si a vergonha por ele ter rendido ela roubando sua prótese.
A detetive deu zoom na foto e viu uma placa na casa ao lado do galpão, com o endereço exato. Ela agradeceu mentalmente pelas câmeras que fotografavam em high-definition. Olhou para a imagem da serpente entrelaçada e guardou aquilo em si enquanto pegava seu muito afiado canivete e guardava um pequeno pé de cabra no sobretudo que vestia.
Pel colocou uma máscara hospitalar e saiu do hotel, olhando para o mapa. O galpão não ficava longe dali, por isso foi caminhando. Também levantaria menos suspeitas do que simplesmente chegar em um veículo e descer naquele exato endereço. Observava as pessoas animadas que passavam por ela enquanto seguiam a vida, sentiu o clima morno da noite contrastando com o vento gelado, anunciando uma chuva vindoura que não demoraria.
A detetive entrou na rua que, apesar de estar em um setor central, estava vazia. Provavelmente porque ali não tinha nenhum estabelecimento comercial, apenas o galpão e algumas casas de moradores de classe média. Casas de arquitetura duvidosa, com cores parecidas e muros altos.
O galpão tinha, acima da entrada, bem perto do teto, o símbolo do governo da ilha. Não dava para ver na foto porque o ângulo não tinha capturado. Pel procurou por câmeras, mas não encontrou nenhuma nos arredores. Aproximou-se da porta, olhou para os lados e tirou o pé de cabra do sobretudo. A porta do galpão abria para cima, então ela colocou a ferramenta no chão e começou a forçar. O barulho fez seu coração acelerar e se desesperar um pouco.
Logo conseguiu abrir uma fresta grande o suficiente para que pudesse rastejar para dentro.
Entrou no escuro absoluto, sentindo um característico cheiro de farmácia, mas quando ligou a lanterna do celular, o que viu foi pilhas de caixas. Aproximou-se notando a marca de um laboratório bioquímico da família de Hassan. Abriu a caixa que estava na frente, já sem o lacre e viu dentro um amontoado de caixas de medicamentos dos que eram enviados por Hassan para países pobres. Pel analisou e viu que o selo de validade estava adulterado. Era quase imperceptível, mas seus olhos clínicos de detetive não deixaram passar a etiqueta fina em cima da validade antiga. Ela puxou o adesivo para ter certeza e se desapontou um pouco ao ver que era verdade. Aqueles medicamentos sairiam dali em doação. Ela sabia.
Pel sentiu a boca amargar de ódio enquanto abria outra caixa que estava lacrada. Olhou mais embalagens e viu todas adulteradas. Arremessou a caixa no chão com a força da raiva, calculando qual seria o impacto de incendiar aquele galpão, já sabendo a resposta de que era impossível por ser em uma área residencial e no centro da cidade.
Lançou a luz da lanterna do celular nos arredores e viu algumas garrafas de álcool em gel e galões de água.
Se não podia queimar, então iria inutilizar o lote inteiro dos medicamentos. Assim, misturou o álcool em gel na água e saiu despejando sobre as caixas. Podia denunciar? Sim. Contudo, quem garantiria justiça? Já que seus contatos na polícia estavam fora daquela jurisdição.
Pel terminava de despejar a água com álcool sobre as caixas quando uma voz chamou sua atenção. Viu apenas os pés de Hassan iluminados pela luz que entrava pela fresta aberta.
— O que está fazendo!? — indagou com uma mistura de desespero e indignação.
O sotaque pesado entrou na mente de Pel deixando primeiro acuada, mas então recordou qual era sua missão e tirou a arma do bolso.
— Maldito! — Pel gritou iluminando o espaço à sua frente com a lanterna do celular e apontando a arma para Hassan.
— Você é louca! — Hassan arregalou os olhos e se jogou no chão escapando do primeiro tiro.
— E você um criminoso! — Pel disse ao atirar pela segunda vez no homem encurralado, mas ele rolou pela fresta de entrada, mais ligeiro do que ela imaginou.
A detetive não estava nada satisfeita e foi atrás para seguir ou tentar acertar o derradeiro tiro em Hassan, só que ele tinha desaparecido da rua. Pingos de sangue estavam na calçada, indicando que um dos projéteis encontraram o alvo. Pel praguejou. Não acreditava que um dançarino dava tanto trabalho para a morte. Sabendo que os tiros chamariam atenção, tratou ela mesma de sair dali.
Tinha que fechar o cerco ao redor de Hassan antes que ele fugisse.
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Olá pessoas, tudo bem?
O que estão achando da história?
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Beijos.
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