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Muiraquitã

Muiraquitã

Pricila Elspeth

A carruagem se deslocava aos solavancos pela estrada de terra ladeada pela sombria floresta. O cocheiro acoitava os quatro cavalos com um longo chicote feito de tiras de couro cozido e gritava "Heya" na esperança de que os cavalos criassem asas e o tirasse o mais rápido possível de um território tão pavoroso.

No interior, acomodados sobre os assentos estofados e forrados de veludo estavam os passageiros que pagaram uma verdadeira fortuna pra que o homem os levasse até um determinado local; certamente garantiram sua aposentaria, e esse era o único motivo que o fizera aceitar a proposta.

"O que você achou?"

"Simplesmente ridículo. Não é assim que se faz independência. A liberdade não é um presente, é uma conquista, foi assim com deuses, semideuses, guerreiros, pastores e todo e qualquer humano."

"Mas Edite... Seja como for, esse povo agora será livre para criar sua própria história."

"É aí que reside tua ilusão. Um acordo à portas fechadas e um desfile de cavalos não é independência. Eles ainda são escravos de acordos internacionais, isso falando dos doutos, os ignorantes serão escravos pelo resto de suas vidas."

"Você é pessimista demais. Melhor calar-me."

Ela puxou a cortina da janela e percebeu a escuridão que recaía sobre o mundo, o céu estava iluminado pela lua enorme e leitosa e com muitas estrelas visíveis, ela olhou para a mais brilhante e sorriu lembrando-se da gloriosa alcunha. Inspirou o ar com gana e sentiu o cheiro da floresta, com ele vieram vozes, lamentos, desejos, anseios, súplicas, revoltas, obscuridades, paixões e morte. Ela fechou instantaneamente a janela e olhou para seu companheiro de viagem.

"Faz tempo que não tínhamos noticias de nada tão grande. Como está se sentindo?" Edite encarava o rapaz com as mãos pousadas sobre o colo, com a cabeça levemente inclinada para o lado, revelando o pescoço sensual adornado por um pingente de inigualável beleza e valor; uma pentagrama de ouro.

"Na verdade, não sei. Ainda não me recuperei em relação a Doyle e Sigmund."[¹]

Ela sorriu ternamente e inspirou lenta e profundamente fazendo o seio inflar e depois baixar de acordo com a expiração. Edite estendeu a mão direita para o rapaz à sua frente, ele a tocou hesitante e os dedos se entrelaçaram.

"Devo muito a ti!"

"Não deve não. Eu faço isso porque acredito."

O rapaz largou a mão dela e recostou-se no assento bem no momento de um brusco solavanco que o fez saltar do banco e praguejar contra o cocheiro. A moça riu ocultando a boca com a mão enluvada por um nobre tecido preto.

Algum tempo depois o homem parou a carruagem e informou aos berros que a estrada havia acabado. Os passageiros desceram e agradeceram ao homem pelos serviços prestados, ele virou o veículo e partiu imediatamente tão desesperado quanto antes. Hermes acompanhou-o com o olhar até que ele desaparecesse na escuridão noturna, Edite observava os arredores e com seu olhar atento e ouvidos mais que capazes, decretou estarem seguros.

"Você acredita nas histórias? Quer dizer, é meio improvável que o arco dele esteja aqui e com uma tribo de mulheres, não é?"

"Não acho. Hipólita é uma demonstração de possibilidades."

"Ah, sim. Mas estamos tão longe, sob outras influências, não sei..."

"Pelo bem ou pelo mal, você não pode ir comigo. Se eu precisar de ajuda, te chamo, sei que estará sempre a um segundo de distância." Disse ela piscando um olho para ele. Livrou-se das roupas, mas não dos artefatos. Ao redor do pulso esquerdo havia uma pulseira feita de cabeças de pregos, o pingente dourado reluzia sobre o colo do seio e na mão direita ela segurava uma faca de madeira avermelhada. As tatuagens nas costas e braços brilhavam num tom azul pálido quando entravam em contato com os raios lunares e emitiam uma aura sobrenatural ao redor da moça.

Edite embrenhou-se na floresta caminhando cautelosamente sob o manto da escuridão, pisava com as pontas dos pés, respirava baixo e devagar para evitar ser percebida. Cruzou com animais selvagens, alguns até ferozes, mas eles não a afrontaram, seu cheiro era desconhecido para eles e não representava uma ameaça imediata.

Os mosquitos zuniam ao seu redor sem dar descanso aos seus ouvidos, as picadas eram suportáveis, até porque nem chegavam a feri-la. Ela escutou um zumbido alto, pulsante, como um grande enxame, sua curiosidade a tirou da trilha para seguir o som, que a levou até uma árvore alta e de aparência antiga. O tronco da árvore estava coberto por pequenos seres escuros que se moviam e se misturavam sob a pálida e difusa iluminação. Ela aproximou-se lentamente até perceber que o som irritante vinha de minúsculos pares de asas fixadas nos insetos.

Moscas? Ah, que ótimo! Ele chegou antes.

Edite girou a faca na mão e colocou-se em posição de alerta, passou a caminhar ainda mais lentamente e esporadicamente parava para escutar os sons dos arredores. Sabia que deveria voltar à trilha e segui-la até o final, pois, o êxito de sua missão dependia daquela caminhada. Quando retornou ao estreito caminho feito no meio da mata sentiu-se mais confortável, mas a presença de um inimigo a tirava a conexão com seu estado de espírito, tudo o que era capaz de fazer era andar e prestar atenção ao ambiente, sentia o corpo arrepiado e hesitava em seus movimentos toda vez que ouvia um zumbido. É só pegar o arco e desaparecer.

Edite caminhou até o fim da trilha e deparou-se com um penhasco monumental, o qual tinha um grande lago aos pés, sorriu por compreender que estava no caminho certo. Estou perto, a aldeia é do outro lado. Desceu pelas encostas do morro, tomando cuidado para não ser percebida, escondendo-se nas sombras, atrás de formações rochosas e sempre avaliando o terreno diante de si, certificando-se sempre de que estava sozinha.

Um grande felino saltou de uma pedra mais alta e caiu a poucos metros dela, olhou com olhos brancos e mostrou-lhe os dentes em sinal de hostilidade, Edite não temia o animal, mas achou pavoroso o fato de moscas abandonarem seu corpo quando abriu a boca. Ela ficou imóvel até que o animal desistisse de lutar e seguisse seu próprio caminho.

Isso está ficando preocupante. Não sei se vou conseguir sozinha... Ela olhou para o lago escuro, com as bordas iluminadas pela luz lunar, e a superfície brilhando em um tom prateado lhe deu o alívio de que precisava. Olhou para o alto e viu a lua esplendorosa avançando para o centro do céu, sorriu e correu em direção ao lago, desta vez sem se preocupar com mais nada, tinha pressa, e qualquer que fosse a intervenção ela teria de lidar com ela da melhor forma possível. Com a ajuda dela eu consigo.

Enquanto descia o morro, sentia o vento soprar sua pele e balançar seus cabelos, a sensação lhe era familiar, porém, menos clamorosa e com cheiro de verde ao invés de sangue e fogo. Memórias de tempos idos avivaram-se em sua mente, uma luta sem igual, batalhas e batalhas, sem tréguas e no final nem mesmo valeu a pena; tudo por uma fugaz disputa baseada em futilidades das quais ela não deveria ter tido tanto apreço. No entanto, era de sua essência agarrar-se às paixões.

Quando aproximou-se do último declive avistou o reflexo da lua brilhando na superfície do lago, quase no centro do mesmo, seria ótimo, ela teria o tempo e a precisão necessária. Saltou por sobre uma pedra e avistou do outro lado das margens uma bela moça de pele vermelha alaranjada, puxada para o marrom bem fraco, engoliu em seco, pois não podia ser vista, não daquela forma.

Escondeu-se atrás de uma árvore de umiri e espiou a moça. Ela estava cantando e erguendo as mãos aos céus em direção à lua, parecia celebrar algo importante, pois, sua concentração no ato a impediu de perceber a aproximação de dois homens, um de cada lado, um deles armado com um arco belíssimo munido de uma flecha, o outro estava desarmado, mas não representava menor perigo. É um arco muito bonito, mas... Será? Edite viu os olhos do jovem brilhar lascivamente quando avistou a moça e entendeu o que aconteceria.

Não comigo aqui. Não sou igual a Palas.

O outro, que estava armado, parecia calmo, aguardando o ensejo para disparar sua flecha, Edite só não entendia o porquê dele mirar na moça, se a queria, deveriam levá-la viva. Olhou para o céu e viu a lua bailar sob a abóboda celeste, silente, graciosa e glamorosa; como tinha de ser.

Vai ter que ser assim.

Edite correu abaixada pela borda do lago direcionando-se ao rapaz desarmado, o qual ela elegeu sendo a maior ameaça. Ele estava nu e claramente 'contente', a moça seria um alvo fácil, a julgar pelos músculos definidos dele.

A jovem estava imersa em sua oblação, o rapaz aproximava-se sedento e em sua face crescia um sorriso macabro de proporções anormais e o outro acurava sua mira para o momento exato. Edite questionou-se a respeito de estar interferindo demais, talvez por se tratar de um ritual daquele povo. Entre todas suas rápidas ponderações ela decidiu por proteger a moça; caso fosse necessário, Hermes ainda tinha um pouco da água do Estige; a última visita do assistente ao mundo dos mortos rendeu alguma coisa.

Posicionou-se atrás do jovem a uma distância segura e por cima do ombro dele viu o outro puxar a corda do arco e fechar um olho. Ela correu tão rápido quanto pode deixando a segurança da mata e abandonando o silêncio, saltou sobre as costas do rapaz com um grito agudo.

Agarrou-o pelos ombros e ainda no ar girou seu corpo tirando a estabilidade do indígena. Viu os pés dele se descolarem do solo e girarem pelo ar, ao mesmo tempo em que a bela jovem virava-se horrorizada pela visão de um agressor oculto.

Edite tocou os pés no chão e arremessou o rapaz para longe. Viu a garota encarando-a com os olhos arregalados e ouviu o som da corda relaxando acompanhado do silvo da flecha cortando o ar. Num giro rápido ela levantou-se, viu o corpo do rapaz encontrar o solo e mesmo sob a escuridão a pouca luminosidade da lua a mostrou a trajetória da flecha, a qual ela agarrou em pleno ar antes de encarar o arqueiro, que a fitava de olhos esbugalhados.

O jovem levantou-se de maneira torta, com o ombro deslocado e o pescoço torcido num ângulo improvável, os olhos estavam brancos e moscas saiam de sua boca e narinas. O arqueiro alimentou sua arma e disparou contra a moça mais uma vez, e mais uma vez Edite interferiu, colocou-se na frente da flecha de peito aberto.

O som oco de madeira estilhaçando e o corpo de Edite cambaleando para trás assustou não só à moça, mas também a ela própria e ao arqueiro.

Ela perdeu a noção de espaço, não tinha equilíbrio do qual se apoderar, o mundo girava rapidamente ao seu redor e diante de seus olhos passaram as árvores, o céu, a lua, o rosto da moça e novamente o céu; ela chocou-se com o chão num bate surdo.

Sentiu o ar girar em seus pulmões e buscar a superfície. O som da tosse engasgada foi acompanhado de um gemido de dor e posteriormente a um suspiro aliviado. Sentiu um toque quente em seu peito, girou os olhos para baixo e viu a moça com as mãos sobre seu corpo e nitidamente confusa.

Edite sentou-se e olhou para a mata, viu o arqueiro guardar sua arma e se desfazer numa nuvem escura. Uma divindade? Ergueu uma sobrancelha e olhou para o lado, o cadáver ambulante ainda caminhava na direção delas.

"A flecha. Você não foi flechada." Disse a moça num tom incrédulo, quase contemplativo.

Edite levantou-se e segurou firme a faca, girou-a na mão deixando a lâmina para baixo e saltou sobre o corpo animado. Desferiu uma facada no peito do homem e espantou-se com o berro horrendo, agonizante que ele deu antes de cair de joelhos. Edite afastou-se e observou ele urrar como um urso enquanto um milhão de moscas abandonavam seu corpo em direção ao céu escuro. Por fim o corpo vazio caiu sobre o solo, Edite recuperou sua faca e a avaliou sorrindo.

Não é que funciona!? Hermes está me devendo agora.

"Você está bem?" perguntou Edite virando-se para a moça.

"Sim, minha deusa."

"Não. Não sou deusa nenhuma. Eu só estava por aqui e..."

"Eu vi. Rudá atirou duas flechas e você parou uma e destruiu a outra com seu corpo."

E lá vamos nós.

"Não... Olha só... É que acertou aqui." Disse mostrando a pentagrama dourada.

"E as marcas sagradas? Por que brilham se não é de uma Deusa?"

"Eu explico se me explicar o que estava fazendo."

A moça confirmou com a cabeça, virou-se devagar e apontou o lago. Edite aproximou-se e emparelhou-se a ela e tal como ela fitou a superfície prateada como um espelho.

"Iaci-Uaru... Quer dizer..."

"Espelho da lua, eu sei." A moça a olhou confusa e sorriu logo em seguida. "Tenho familiaridade com línguas... Isso ficou estranho. Quero dizer que... Compreendo o que você fala e posso falar igual."

A moça corou e desviou o olhar para o lago novamente. Edite sentiu seu coração acelerado, sentiu um rubor invulgar lhe brotar na face e um calor familiar descer e concentrar-se em seu íntimo. Ela observou o corpo da moça sob a luz do luar e cada curva, cada pedaço de pele que via aumentava seus batimentos cardíacos de um modo como jamais havia sentido antes, estava suando e sentia seu corpo tremer involuntariamente, mas a noite não estava fria.

"Eu estava evocando a Deusa e pedindo permissão para pegar a pedra verde."

Olhou para Edite, cruzou as mãos sobre o peito tatuado em preto, com uma forma de asas abertas, suspirou e fitou a lua por alguns segundos, depois os olhos amadeirados recaíram sobre o semblante de Edite.

"Hoje eu teria de me unir a um guerreiro, mas... Eu... Também sou guerreira e não... Só uma noite, mas... Eu não posso... Entende?"

Edite ouviu aquelas palavras e sentiu seu peito inflar tanto que lhe passou a impressão de que explodiria em breve, expirou rápido e percebeu-se ofegante, avançou um passo em direção à moça com as mãos estendidas. A indígena alojou suas mãos nas de Edite e a fitou envergonhada.

"Não gosta deles, não é?"

A moça sacudiu a cabeça em negação e baixou o olhar, logo seu ombro moveu-se abruptamente e ela soluçou chorosa, levou as mãos à face e acocorou-se diante Edite.

Edite olhou ao redor para certificar-se de que estavam sozinhas e abaixou-se perto dela. Acariciou-lhe a cabeça com movimentos suaves e a puxou para perto de si. A indígena recostou a cabeça em seu ombro e derramou sobre ele suas lágrimas.

"Não tem que fazer o que não quer." Sussurrou-lhe aos ouvidos.

"Mas eu preciso ter uma criança. Somos Icamiabas e não tomamos homens para nós, mas precisamos deles quando fica quente, quando a lua passa em cima do lago..."

"Eu posso te ajudar." Edite levantou-se segurando-a pela mão e a puxando gentilmente para cima. A moça a acompanhou sem entender como ela seria ajudada, aproximaram-se da borda do lago e Edite adentrou as águas até que lhe cobrissem a cintura. A moça seguiu seus passos e parou diante dela.

Edite olhou para o céu e estendeu os braços para cima, respirou fundo e abriu os braços lentamente, largou a faca na água e inspirou profundamente, mas dessa vez segurou o ar dentro de si. Quando espirou, o ar que saiu de seus pulmões tinham cor, era um tom azulado e brilhante, como nuvens condensadas de respiração no inverno, mas ao contrário destas, não se desfez. A luminosidade azulada baixou até a superfície da água e espalhou-se por toda ela, transformando assim o lago num perfeito espelho.

"Não me disse seu nome." Edite disse segurando as mãos da jovem indígena que estava encantada com aquele evento.

"Amana." Disse ela sorridente.

"Amana..." Edite olhou para a lua e gritou: "Selene! Selene! Preciso de um favor." Após o término da frase um vento frio soprou sobre o lago com um som agudo e prolongado, ambas se encolheram.

Amana ficou perplexa quando viu surgir sobre as águas uma mulher vestida de branco, carregando armas e pedaços de armaduras em seu corpo. A mulher tinha a pela alva rosada, tal qual Edite, os cabelos longos e negros flutuavam sutilmente ao seu redor, como se ela estivesse dentro d'água.

"Então finalmente engoliu seu orgulho!?" questionou a mulher alada com uma doce e hipnótica voz.

"Vamos deixar as diferenças de lado um pouquinho, preciso de um favor. Em troca eu... Libero mais uma."

"Deve ser um favor e tanto para você liberar uma tranca."

"Esta é Amana. Ela precisa gerar uma criança... Espontaneamente."

Amana olhou cada uma das mulheres e as observou durante bastante tempo. Elas eram semelhantes, a cor da pele, o brilho incomum no olhar, a aura luminosa que envolvia cada uma delas e então teve a certeza de que estava na presença de seres sobrenaturais.

"Não sei... Ela não está sob meus cuidados. Teria de ver com a protetora dela."

Edite olhou fixamente para Selene, depois vagarosamente mudou seu olhar para Amana, quando viu o rosto da moça encarando-a completamente confusa, quase como se delirasse, sentiu mais uma vez seu coração acelerar e seu íntimo latejar.

"Já entendi!" exclamou no meio de um sorriso a Deusa lunar. Ela olhou para a lua e estendeu a mão, imediatamente um raio de luz projetou-se do astro e caiu no lago sem ao menos perturbar a superfície plana d'água. A luz se acumulou num ponto e aos poucos tomou forma, uma forma humana, parecida com Amana, porém, mais atlética e envolta por uma aura alva pulsante. "Iaci... esta é Afrodite! Ela tem um pedido a lhe fazer."

"Ouço muitas histórias sobre você." Sorriu e aproximou-se dela. "Em que lhe posso ser útil?"

Amana balbuciava em transe, suas mãos se moviam em padrões aleatórios, ela olhava cada uma das mulheres à sua frente e tentava entender o que estava acontecendo, mas sua capacidade cognitiva mortal não era capaz.

"Ela quer gerar uma criança, mas não quer ter contato com homens... Pensei em ajudá-la..."

Iaci viu o rosto da mulher corar como uma pitanga e compreendeu de imediato o motivo de tal pedido, o porquê de tamanha interferência.

"Compreende a dimensão do seu pedido?" A mulher sinalizou positivamente com a cabeça. "Você vai cuidar dela?" Ela sinalizou novamente com a cabeça e olhou para a moça, que estava embasbacada com a presença daquelas mulheres. "Existe alguma especificação sobre essa criança?" A mulher sinalizou em negação. "Muito bem! Será feito."

Iaci flutuou em direção à Amana e abaixou-se perto dela, tocou-lhe gentilmente o ventre e sua mão brilhou em tom prata intenso, a luminosidade foi completamente absorvida pelo corpo da moça, que apresentou de imediato sinais de desmaio e quando despencou fora acolhida pelos braços de Edite.

"Está feito. Lembre-se... Prometeu cuidar dela. E por extensão tem uma segunda promessa a cumprir." Olhou para Selene, meneou com a cabeça e se desfez num feixe de luz que subiu de volta ao astro noturno.

"Sabe que toda vez que libera uma tranca nós nos afastamos mais, não é?"

"Sei."

"Como se sente perdendo esse controle mesquinho?"

"Não me julgue! Somos vítimas de nossa própria essência. Sabe muito bem disso."

"Tudo bem, não vamos brigar... De novo. Mas me diga uma coisa, só uma... Acha que vai conseguir?"

"Espero que sim."

"Espera?" Indagou com a voz alterada a deusa lunar. Sorriu e observou a mulher acariciar o rosto da indígena. "Você olhou o fundo da urna, não foi?"

Edite tocou seu ombro direito e puxou três feixes de luz azulada e entregou-os à Selene. Ela acolheu-os nas mãos e os modelou como esferas, depois colocou em um odre que carregava a tiracolo.

"Não sei se entendi o pagamento triplicado."

"Iaci por ter realizado o que pedi. Você por atender ao meu pedido e... Você, que trabalha com ilusões, com o véu da percepção e todas essas coisas... Torne-me como ela."

"Entendo." Selene disparou contra Edite um feixe de luz e instantaneamente a aparência da mulher mudou, sua pele alva rosada se tornou avermelhada, seus cabelos alongaram-se e escureceram, seus olhos ficaram pretos e seus lábios mais escuros. "Torço por você!" Selene brilhou e como um raio inverso subiu em direção à lua.

Edite carregou Amana para fora d'água e a pousou na grama baixa ao lado do lago. Sentou-se ao lado dela e respirou fundo. Somos vítimas de nossa própria essência.

Ela soprou vagarosamente o ar emitindo um assobio agudo e prolongado, instantaneamente Hermes surgiu ao seu lado e franziu o cenho ao vê-la ao lado da moça.

"Longa história... Teremos de nos separar por um tempo. Ainda não consegui pegar e vai demorar a conseguir."

"O que aconteceu? Você perdeu três lacres." Disse o rapaz apontando para o ombro de Edite.

"Foi uma troca. Hermes... Tem algo de ruim rondando a floresta, preciso dar um apoio para elas. Nos veremos em alguns anos."

"Não. Não. Não. Você está me dizendo que... Vai ficar aqui?"

"Fiz uma promessa para uma divindade lunar. Vá atrás dos outros objetos e quando eu cumprir minha parte a gente se encontra."

"Eu sinceramente não entendo como essas coisas acontecem. Mas enfim... Cada um com seu fardo."

"Obrigada por compreender. Pode apagar algumas memórias?"

Hermes sacou do bolso um frasco, umedeceu a ponta de um palito, passou sobre a testa da moça e encarou a mulher com o cenho franzido, depois balançou a cabeça enfatizando sua insatisfação.

"Agora vá, ela está despertando."

Hermes desapareceu instantaneamente. Amana acordou, abriu os olhos devagar e fitou o rosto de Edite com ternura apoteótica.

"Você?" Ela ergueu a mão e tocou o rosto da mulher. "Achei que estava sonhando. Você me salvou. Era você, mas estava diferente." Edite meneou com a cabeça e sorriu. "Eu... Sonhei... Não sei explicar... Mas..." A mulher levantou-se devagar auxiliada por Edite e caminhou até a margem do lago. Fitou seu reflexo na superfície escura, iluminada palidamente pela lua oculta por algumas nuvens e disse: "Espere aqui!"

Amana mergulhou no lago. Edite parou diante da margem e observou as águas, concentrou-se nos sons, no cheiro, e calor das vidas ao redor, acompanhou os movimentos da moça de forma intuitiva e logo a indígena havia retornado à superfície com um punhado de barro verde numa mão e a faca de madeira na outra.

Sentou-se na beira do lago e emoldurou a matéria até atingir duas formas triangulares, depois usando a faca detalhou melhor as pequenas peças, quando a faca não mais conseguia riscar a matéria, pois, endurecia em contato com o ar, ela levantou os objetos e os contrapôs com a lua, sorriu, levantou-se e estendeu a mão entregando um à mulher que a salvara.

"Para mim?"

"É. Muiraquitã é um amuleto sagrado de proteção, recebido das mãos da Deusa. E geralmente, nós entregamos aos homens com quem geramos filhos ou para aqueles que...amamos."

Edite recebeu o objeto sem poder conter as lágrimas e o soluço, abraçou Amana apertado até sentir que seus corações haviam se unido. E sob o olhar atento de Iaci, um beijo pontuou o início daquela união.

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Olá pessoal, e aí o que acharam desse conto?

Lembrem-se de deixarem votos e comentários para salvar os unicórnios dos maus tratos.

Beijos e até o próximo.


1 - Referência ao conto Cruz de Caravaca, publicado na antologia Corações Mecânicos, pela Editora Medusa.

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