O Caçador
5. O caçador
O dia passava e o campo era difícil, a falta de bussola e mapas confiáveis, sem linhas demarcando. Não havia cercas vivas dividindo de maneira agradável a região rural entre os campos, prados e veredas. As paisagens eram idênticas ao do início da jornada, uma fileira de pedras eretas no horizonte.
Os joelhos doíam, os tornozelos faziam o mesmo. As juntas contraiam-se de tempos em tempos. George sabia sobre as limitações da sua jornada. Observava a linha do rio e pegava com a sua destra o cantil que estava seco. Tinha visto muito do mesmo em tão pouco tempo. As mesmas gramas verdes e a sensação de estar andando sem sentido lhe atingiu em um aperto incrédulo.
Continuou caminhando, guardou para si as palavras, estava muito quente, e o suor escorria pela sua testa. As têmporas batiam com força fazendo com que as veias das laterais do seu rosto aparecessem.
Encontrou um ponto com pedras que eram semelhantes à bancos e desejou descansar.
— Ah, pequenino, não me lembro dos tempos em que os membros do meu corpo funcionavam bem, mas juro que sinto falta daqueles dias. — tossiu. — Eu às vezes acho que decidi sonhar velho demais.
— Aí que descordo do senhor, olha pelo que passamos? Os morros que subimos. Que o senhor subiu. Eu não ajudei em nada. O senhor está ofegante porque está vivo. — disse o pequenino em um tom respeitável. — Tenho certeza de que o que nos espera valerá a pena.
— Há bondade em suas palavras, pequenino.
— E há sabedoria nas suas, meu bom senhor.
O silencio que se estabeleceu foi interrompido por tiros, gritos e correria. Vinham da parte verde da estrada. Murmúrios, gritos e algazarra. George e Piter ficaram apreensivos com que surgiria na frente deles.
— Se esconda, pequenino. — disse o ancião com a voz solene e expressiva. — sinto que não vem coisa boa desse lado.
As pedras não vibravam.
Um homem grande, grosseiro, sujo e com os olhos esbugalhados saltou. Ele tinha uma roupa pesada, parecia ser couro. Tinha dardos nas mãos, uma espigada e mais alguns acessórios que os viajantes não conheciam. Mas o corpo da raposa estendida do outro lado do lagar aonde estavam lhes mostrava que o homem estava caçando. Caçando qualquer coisa que se movia.
George sentiu o seu corpo pesar. O coração batia em frenesi e suas mãos suavam.
O ar estava escapando pelas narinas e um desiquilíbrio instaurou-se sobre ele. Vertigens atingiram sua mente.
Um dardo quase atingiu o senhor. Com os olho semicerrados observava o homem vindo em sua direção. Era um homem grande, tinha a idade de ser um filho. Mas as intenções não pareceriam das melhores. O ancião saltou, com uma força desconhecida e de um tapa no rosto do homem que se aproximava. Recuou e observou se pequenino ainda estava em seu ombro, sim ele estava. O caçador deferiu um golpe com a intenção de acertar a jugular do ancião que desviou, não entendia a força que estava dentro dele, mas aproveitou o suspiro e deu um chute potente no abdômen do homem, que gemeu, acertou mais uma joelhada, e empurrou o corpo pesado para trás.
— Não somos caça! — vociferou George. — você deveria compreender.
— O senhor está em um caminho que coincide com o meu, não tolero esse tipo de olhar repugnante.
— Os meus olhos são assim desde meu nascimento, sou tão velho que parece que vi a fundação da terra e não vai ser um garoto insolente que irá dizer como devo observar as coisas.
O homem se afastou, a dor no bandulho fez com que encolhesse, o caçador sentia que a luta culminava na morte humana e decidiu sair do caminho do viajante.
— Tenho um diabo para caçar! — murmurou o homem. — não posso perder meu tempo com velhos!
George percebera que aquele indivíduo queria fazer mal ao seu novo amigo. O ancião não se importou com a falta de respeito e o escarnio na voz do humano que estava a sua frente, era algo mais pessoal.
— Foi você que matou os animais do templo em ruinas? — indagou com a voz tremula e sentindo que a resposta coincidiria com as suas suspeitas.
— Sim, estou caçando há dias. — vociferou com raiva. — tenho feito apenas isso, porque sei que sou o que sou pelo que faço.
— O senhor é um desgraçado, arrogante e boçal. Pelas barbas dos deuses e dos céus. Matar animais inocentes é a blasfêmia da criação.
O homem percebeu o pequenino nos ombros de George e de maneira furtiva, desvencilhou o dardo dad mãos e lançou em Piter. George interveio por um reflexo e a mão havia sido atingida. Um peso lancinante inclinou desbravou as juntas do braço do senhor, que gritou. Um frio gélido passou pelo amago do seu ser.
O homem assustado com a reação do ancião correu, as lágrimas envolviam o semblante daquele que se reduziu há uma besta com os instrumento para o homicídio.
— Volte aqui! — explanou, com os olhos marejados, deu um batida suave no pescoço do amigo.
— Você está bem, meu amigo. — George indagou, com a voz fatídica de um fim de tarde.
— Não pense em mim, precisamos buscar um curativo, com sorte, o veneno que ele usa seja apenas para adormecer os animais, enquanto ele os mutila. Com certeza é isso. Aquele covarde! — ergueu-se para dar ênfase no que estava dizendo.
O ancião adormeceu.
O pequenino andou por um caminho, com o propósito de pegar ervas e ajudar seu amigo, entre as samambaias e as urtigas. A chuva se apresentou, acalentando por afastar alguns animais, mas o solo se tornava traiçoeiro, por mais que sentisse a necessidade de encontrar as plantas certas para fazer um remédio que pudesse ajudar George, seus passos eram cuidadosos, seus olhos sempre observando os lados e atrás. Viu o que queria ao pé de uma arvore frondosa.
— Mãos à obra. — sibilou ao tocar naquilo que precisava. — os deuses ainda são generosos conosco, George.
Ao chegar via a cena do senhor deitado, em sono pesaroso, movimento os pequenos braços e começou a amassar as ervas, com toda a força que tinha. Não era conhecido pela força, mas isso não dizia que não teria nenhuma. O esforço dou um tempo e logo um líquido viscoso e generoso foi extraído das folhas; tocou na mão atingida e a cobriu. Demorou mais tempo do que esperava, mas se sentiu satisfeito. Assoprou pela abertura da ferida e palavras magicas saíram de sua boca.
A sensação de alívio o atingiu e o pequenino descansou ao lado do ancião.
A chuva cessara no dia seguinte, o sol majestoso aparecia, como um despertador natural. O cheiro de terra, pedras e grama. George estava se sentindo renovado. As forças estavam lá. Estalou as juntas, exibindo uma gentil careta. O pequenino estava acordando. Uma sensação de curiosidade interveio aos pensamentos do senhor, o que será que vai acontecer com pessoas como aquele caçador displicente? A resposta não veio.
— Nem sempre temos a resposta, não é mesmo? — falou ao vento.
— O que houve, George?
— Apenas os meus pensamentos, temo pelo futuro dessas terras, pessoas sem lembranças. Bruxas arrogantes, homens levianos e senhoras impiedosas. Bobos da corte maus e essa sede por algo que nem sabem se vale a pena.
— O pouco que vi, percebo que os humanos são grosseiros sobre o que não sabem, ativos sobre que querem, e tolos sobre o que está por vir. — deu um riso modesto, Piter procurava por algo para comer.
— Tem pouca coisa, meu amigo. Não pensei que essa jornada seria tão longa.
— As p... — tentou falar com a boca cheia. — pedras vibraram? — completou.
— Não. — tocou no bolso. — Nem um pouco.
— Acho que elas sentem a energia dos seres. O único de bom coração que veio até nós, fez com que elas tremessem. Tenho essa teoria.
— Mas foi você que me motivou a pegá-las. Como não pode ter certeza.
— Não fui eu. — disse sem entender sobre o que George falava.
O ancião ficou se questionando sobre o quanto tinha deixado da sua sanidade na vila, o que estava acontecendo?
— Não me sinto bem sobre algo. — ponderou o senhor. — o que acontecera àquele homem cruel que nos atacou?
— A natureza tomará conta daquele caso. A terra sabe ser gentil, mas também é justa. — disse caminhando em direção ao senhor.
— Vamos continuar? — tomou a palavra o pequenino.
— Vamos, sinto que estamos mais perto do meu destino.
E assim foram ao caminho que apareceu na mente de George. Caminhando. Observando e agradecendo por tudo que viam.
— Obrigado por me proteger, muitos me entregariam naquelas circunstâncias. — disse o pequenino.
— Os muitos que você fala são covardes. És um bom amigo, pequenino, tive medo de estar só, mas ao longo desses dias, a sabia mãe natureza me entregou um bom companheiro. Obrigado por cuidar desse homem velho, de dedos curvados e calejados.
E o céu estrelado foi a plateia da amizade um home e brincalhão. O homem velho, curvando-se as tribulações da jornada. O pequenino, pés curtos, mãos curtas, mas de um grande coração.
O céu sentiu orgulho deles.
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