Capítulo 38
Louis quer ficar bravo com Aruna, mas nem consegue de verdade.
Ele estaria bravo porque se tem alguém mais sagaz que o Tempo, é a filha dele. E a coisa que Louis menos gosta em Harry é a mania dele de achar saber de tudo, exatamente como Aruna faz agora.
Achando que sabe o que é melhor, se achando espertinha com esse sorriso fraco e a pose de "vou consertar tudo" dela.
Honestamente, ele não é fã da mágoa, mas também não acha que esteja pronto para agir como se fosse amigo de Yanne.
E não é nem pelo fato dela ser filha de Harry fora da relação deles - oras, por favor, ele não teria esse tipo de mentalidade egoísta e comportamento mesquinho - mas é mais pelo modo como ela o tratou nos primeiros dias, sendo sarcástica, convencida e arrogante.
Louis não odeia nada e nem ninguém além do próprio ódio ou regras ditatoriais, mas ele também não se sente confortável diante de maus tratamentos e obviamente gostaria de evitá-los.
"Vocês precisam de um outro começo" Aruna disse quando Yanne desapareceu para o alçapão do chalé do dormitório dela, pegar o que precisavam, "você vai ver que ela é muito legal, quase tanto quanto eu!" e isso ele já acha impossível concordar, porque sua filha é seu pacotinho de coisas incríveis e insuperáveis, não há nada igual Aruna.
Mais cedo, os dois vieram pulando sobre as poças no gramado central da Shoreline até o quarto de Yanne, porque, surpreendente ou nem tanto, a pequena garota é uma espécie de traficante da escola. Traficante num bom sentido, se é que existe bom sentido para tal palavra.
Yanne tem contatos em Eroda que trazem qualquer coisa - menos drogas ilícitas ou armas - para dentro de Shoreline. Vai de produtos como roupas, comidas transgênicas, até pincéis e quadros.
Ele não entende como diabos uma criança pode fazer isso às escondidas. Ela deve ter o quê, quinze ou dezesseis anos? Mas depois de ver Zayn com asas, seus amigos imortais e todo o resto das loucuras de ser um Designado, não dá pra duvidar de mais nada.
- Pedi para ela tubos de água oxigenada e shampoos especiais - Aruna conta, tocando a raiz do cabelo escurecida - hora de retocar.
- Eu queria ver o seu cabelo natural.
- É igual o cabelo do meu pai - ela sorriu - é bom, mas Niall e eu gostamos de pintar eles a cada década. Esse vermelho foi um teste que não gostamos, não pega bem nele, por isso voltamos ao loiro.
- Se natural é como o do seu pai, então deve mesmo ser lindo - Louis sorriu de volta - acha que eu ficaria legal loiro?
- Com certeza, quer testar?
- Não! - ele arregalou os olhos e riu - Ou sim? Sei lá, seria legal uma mudança, eu sinto que preciso, mas isso é demais.
Ele se lembra de Bebe dizer uma vez que términos de namoro geram essa vontade de mudança na aparência, do tipo, um corte de cabelo ou pintá-los, uma tatuagem ou qualquer coisa assim, do sutil ao radical.
Mas Harry e ele não terminaram, certo?
É muito complicado quando se tem uma história, uma filha, um sentimento infinito, uma saudade desesperada... foi ele quem sugeriu o afastamento, mas também, com tantos desentendimentos, eles precisavam disso.
- Eu acho que você deveria tentar.
- Hum ok, acho que sim, você pode descolorir ele para mim e se ficar ruim, espero que ela tenha tinta de cabelo também.
- Ótimo! - Aruna bateu as mãos dando pulinhos em animação.
- Não tenho telas - nesse instante, Yanne pulou de volta para o quarto e bateu a poeira das mãos uma na outra - mas tem tantas tintas que você pode pintar Shoreline inteira se quiser.
Bem, essa é quase a intenção.
Ele gostaria de começar a pintar as paredes do seu quarto. Seria só um desenho, uma coisa simples e que o alivie dessa abstinência de segurar um pincel. Também serve para ele ter esse lugar temporário como mais acolhedor do que aparenta ser, se bem que... desde que Aruna ficou, Louis se sente verdadeiramente melhor por ali.
- Obrigado - agradeceu meio acanhado.
- Olha, Louis, desculpa ter sido uma idiota nesses últimos dias.
- Você tem seus motivos - ele respondeu seco, não tão compreensivo como gostaria de ser.
- Não tenho não, na verdade não com você. Harry Styles não é o meu pai, meu pai é Damain Garvey, o cara que me ensinou a andar, que me alimentou, que cuidou de mim tanto quanto minha mãe. Eu te tratei daquela maneira no impulso da raiva, porque é insuportável estar aqui e escutar a mesma piada de que eu sou a falta de Esperança, ou que eu sou a bastarda, o ódio do amor, o fruto de uma traição e seja lá o que esses Nefilins amargurados conseguem inventar de apelido que acham engraçado. Eu só direcionei essa raiva na pessoa errada.
E aí está, novamente, o problema com pais que ele tanto escuta sobre esses Nefilins. É compreensível, no entanto. Louis acha que se tivesse nessa situação sentiria um pouco de remorso também.
- Vamos fazer assim - ela sorriu e merda, esse sorriso é o mesmo de Harry, tem até as covinhas! De repente, Louis acha ser capaz de se afeiçoar por ela só por causa disso - começamos do zero amanhã à noite?
- Como?
Aruna só está observando entre um e outro.
- Vou fazer uma reunião simples, algo singelo, só pra gente se divertir e comemorar que eu estou de volta pela sétima vez - ela faz uma careta debochada - obviamente eu não estou falando sério a parte sobre comemorar, porque 99% dos Nefilins não são meus amigos e eu odeio esse lugar, mas mesmo assim eles são jovens, eu tô entediada e seria legal ter algo pra fazer que não fosse estudar sobre os quatro elementos e a origem da vida.
- O quê você pretende, exatamente?
- Uma festa da fogueira na praia amanhã, mas você não pode contar para o diretor - ela faz careta como se estivesse arrependida por dizer - droga, é óbvio que você vai dizer porque Liam é seu amigo e então, Liam vai contar para a chata da Raykeea e estaremos todos encrencados...
- Eu não vou - afirmou prontamente - prometo.
- Você não tem idade pra essas coisas, Zorro - Aruna diz para Yanne, estreitando os olhos - de festas e tudo o mais.
Louis observa o apelido "zorro" e pensa ter ligação com as atividades suspeitas de Yanne ali na Shoreline, ou não. Parece comum entre elas, porque a irmã mais nova não reage surpresa ao apelido.
- É só uma festa e eu não vou fazer coisas ilegais. Vai pegar no meu pé agora?
- Eu só me preocupo.
- Eu sei - ela cruza os braços e encara Louis de volta, esperando uma resposta - e aí, topa?
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- Cara. Se você chutar o meu calcanhar mais uma vez, vou ter que quebrar seu tornozelo sem pensar duas vezes.
- Talvez se você não estivesse monopolizando toda a luz da lanterna, Lottie, nós também poderíamos ver para onde estamos indo.
Louis tentou abafar o riso enquanto seguia Charlotte e Samuel, que brigavam, pelo campus escuro. Eram quase nove da noite e a Shoreline estava escura e silenciosa, exceto pelo piar de uma coruja.
Uma lua minguante alaranjada estava baixa no céu, envolta por um véu de neblina. Os três só tinham conseguido arranjar uma lanterna (a de Lottie), portanto apenas um deles tinha uma visão clara do caminho até a água (Lottie). Para os outros dois, o chão, que parecia tão luxuoso e bem-cuidado durante o dia, estava cheio de armadilhas agora, com galhos caídos, samambaias de raízes grossas, e os calcanhares de Charlotte.
Quando Yanne tinha pedido para ele trazer alguns amigos, Louis tinha ficado com uma sensação ruim em seu estômago. Não havia monitores em Shoreline, não havia câmeras de segurança de gravação, de modo que não era sobre o risco de ser pego, a razão de se sentir nervoso. Na verdade, esgueirar-se do chalé tinha sido relativamente fácil. Era sair em público, mais especificamente entre aqueles Nefilins dos quais ouviu tantas coisas ruins, que seria um grande desafio.
Mais cedo, no gramado central, Lottie estava enroscada em algum tipo de pose de yoga tântrico que feria Louis só de olhar. Ele não queria quebrar a concentração feroz da sua nova amiga convidando-a para alguma festa suspeita, mas em seguida, uma bola foi lançada na direção deles, fazendo com que ela saísse de sua pose de qualquer maneira. Era Sam, perguntando se Louis queria jogar futebol.
Louis olhou de Sam para Lottie e sorriu antes de dizer "eu tenho uma ideia melhor."
Uma hora depois, enrolados em camisolas com capuz, um boné para trás dos Dodgers (Sam), meias de lã com biqueira (Lottie), e com uma touca cinza para esconder os fios tingidos além de um sentimento nervoso no estômago sobre Yanne misturado com o receio de se juntar numa festa com a tripulação fofoqueira de Shoreline (Louis), os três andaram em direção a borda do penhasco, para a praia.
- Então, quem é essa amiga nova? - Sam perguntou, apontando para uma poça no caminho pedregoso, pouco antes de Louis pular sobre ela.
Louis procurou uma melhor descrição enquanto os três começaram a descer as escadas de pedra. Yanne não era exatamente sua amiga, mas ela seria o quê agora, quando ele tem um relacionamento com o pai biológico dela?
- Hum... ela é da minha turma de iniciantes - simplificou, apesar de Sam saber da história toda tanto quanto Lottie, ele não queria entrar em detalhes para não gerar perguntas - Provavelmente será uma festa muito pequena, ela disse que seria discreto.
Eles sentiram o cheiro antes de conseguirem ver a reveladora fumaça de castanheira de uma fogueira, num bom tamanho. Então, quando estavam quase no fim da escadaria íngreme, eles deram a volta numa curva de pedras e congelaram à medida em que as faíscas de uma chama laranja finalmente apareciam. Devia haver uma centena de pessoas reunidas ali na praia.
O vento era selvagem, como um animal indomado, mas não era adversário para a brutalidade dos festeiros. Afastado da aglomeração, mais perto de onde Louis estava, uma multidão de caras hippies com barbas longas e grossas e camisetas de tecido caindo aos pedaços tinha formado um círculo de percussão improvisado. Seu batuque fixo providenciava uma batida constante para um grupo próximo de adolescentes dançarem. Na outra ponta da festa estava a fogueira propriamente dita, e quando Louis ficou na ponta dos pés, ele reconheceu um monte de alunos da Shoreline amontoados ao redor do fogo, esperando afastar o frio litorâneo. Todos seguravam um graveto na direção das chamas, manobrando-os para conseguir o melhor lugar para assar seus marshmallows.
Era impossível adivinhar como todos tinham descoberto o evento, exceto o diretor da escola, mas estava claro que todos estavam se divertindo sem preocupações.
E no meio disso tudo, estava Yanne. Ela usava um moletom de capuz e calça jeans rasgada. Estava parada numa rocha, fazendo gestos desordenados e exagerados, contando uma história que Louis não conseguia escutar. Aruna e um garoto do qual ela usava o ombro de apoio para sua cabeça, estavam entre os ouvintes encantados; seus rostos, iluminados pelo fogo, pareciam lindos e ávidos.
― Essa é a sua ideia de uma festa pequena? - Lottie perguntou.
Louis observava Yanne, se perguntando que história ela contava. Algo na maneira de como ela estava no comando ou gesticulava fez Louis lembrar de Harry. Ele sente saudades, mas é cedo demais para admitir.
― Bom, não sei quanto a vocês - Lottie disse, chutando seus chinelos e caminhando na areia de meia ― mas eu vou arranjar uma bebida para mim, depois um marshmallow e talvez até uma aula de um desses caras do círculo de percussão.
― Eu também! - Sam avisa. ― Principalmente pela parte do círculo de percussão, obviamente.
― Louis - Yanne acenou de sua posição na rocha ― você veio!
Lottie e Sam já estavam bem à frente, indo na direção do estande de bebidas, por isso, sozinho, Louis passou por uma duna de areia fria e úmida em direção à Yanne e os outros.
― Você não estava brincando quando disse que queria fazer boas vindas. Isso é algo e tanto, Yanne.
Ela assentiu graciosamente.
―Algo e tanto, hein? Algo bom, ou algo ruim?
Ele espreitou seus olhos para ela. Talvez Yanne estivesse apenas perguntando se Louis estava se divertindo? É estranho qualquer insinuação depois de tanto ter lhe atacado desde que se conheceram.
Uma miríade de festeiros coloridos serpenteia ao redor dele. Louis riu e depois encarou as ondas negras sem fim. O ar próximo à água era frio e açoitava, mas a fogueira estava quente em sua pele. Tantas coisas pareciam estar em conflito naquela hora, todas se empurrando contra ele de uma só vez.
― Quem são todas essas pessoas? - Pergunta curioso, porque em Shoreline não há tantos Nefilins assim e muitos rostos por ali são desconhecidos.
―Vamos ver - Yanne apontou para os hippies no círculo de percussão. ― Esses são uns caras de Eroda - à sua direita, ela gesticulou para um outro grupo grande de caras tentando impressionar um grupo muito menor de garotas com alguns movimentos de dança muito ruins - Aqueles são da marinha, com base aqui no norte, para a Noruega. Pela maneira como estão farreando, espero que estejam de licença esse final de semana.
Quando Aruna e a companhia dela se infiltraram perto deles, Yanne precisou ficar na ponta dos pés para colocar um braço ao redor de cada um do ombro delas.
― Esses dois, acredito que você as conheça.
- Eu ainda não - o loiro de rosto fino estende a mão - Prazer, eu sou Daniel, filho da Coragem.
Louis relaxa para devolver o cumprimento com o seu melhor sorriso. Estranhamente, até mesmo de Taylor ele sente a falta. Daniel é bonito, tanto quanto sua mãe e pelo jeito, pela postura de conforto, Aruna e Yanne são muito amigas dele.
- O prazer é meu, Louis Tomlinson - ele se apresenta, mas é óbvio que Daniel já sabe.
- Estamos planejando para um final de semana de Sol passarmos o dia no meu iate, aqui na região da ilha mesmo, Aruna acha que você gostaria.
- Eu acho que sim - Louis gostou da ideia, parece algo normal, nada de um evento sobrenatural desses que perseguem seus pensamentos dia e noite - Você tem um iate, é sério?
- Daniel não é aluno - Aruna abraçou de lado o amigo - ele gosta de passar um tempo em Shoreline vez ou outra, mas vive em Eroda.
Louis ia dizer qualquer coisa, mas as salvas dos festeiros em comemoração à um shot virado em um gole, chamou sua atenção. Ele fez careta, assustado.
― E quanto a Liam Payne? - praticamente teve que gritar para ser ouvido ― Ele não vai nos ouvir daqui?
Era uma coisa sair escondido sem ninguém notar, outra era plantar um ruído sônico diretamente sob o nariz do diretor.
Yanne olhou na direção do campus e deu de ombros.
― Ele vai nos escutar, com certeza, mas o nosso limite é bem amplo aqui na Shoreline. Pelo menos para Liam, quando Raykeea não está aqui porque ela é mais rígida com as coisas sobre horários. Mas Liam... hum, contanto que continuemos no campus, sob a inspeção deles, nós podemos basicamente fazer o que quisermos.
― Isso inclui um concurso de limbo? - Aruna forçou um sorriso travesso, mostrando um galho amplo e grosso atrás de si mesmo ― Daniel, segura a outra ponta para mim?
Segundos mais tarde, o galho foi levantado, a batida foi mudada, e parecia que a festa toda tinha parado o que estava fazendo para formar uma fila de limbo longa e animada.
―Louis - Samuel, que se juntou ao jogo o chamou ― Você não me trouxe aqui para simplesmente ficar parado aí, né?
Lottie estava na fila e já em estado de competição - provavelmente nascida em estado de competição - alongava suas costas e até mesmo os caras abotoados da marinha iam brincar.
― Está bem - Louis riu e entrou na fila.
Uma vez começada a brincadeira, a fila se movia rapidamente; por três rodadas, Louis dançou facilmente sob o galho. Na quarta vez, ele conseguiu passar por baixo com um pouquinho só de dificuldade, tendo que inclinar seu queixo para trás o bastante para conseguir ver estrelas, e ganhou uma salva de palmas por fazer isso. Logo ele estava torcendo pelos outros também, só um pouquinho surpreso ao se encontrar pulando pra cima e pra baixo quando Yanne passou dançando os ombros.
Havia algo maravilhoso no fato de
se esticar numa posição de limbo após uma passada de sucesso, a festa toda parecia se alimentar daquilo. Cada vez isso dava a Louis uma onda surpreendente de adrenalina.
Se divertir não era, ultimamente, uma coisa tão simples. Uma risada geralmente vinha sido seguida de culpa, e também a sensação irritante de que ele não deveria estar se divertindo, por uma ou outra razão - como ter deixado sua família para trás e ter o namorado do qual ele pediu afastamento, numa guerra - Mas, de algum modo, hoje à noite ele se sentia mais leve.
Mesmo sem perceber, ele foi capaz de dispersar as preocupações. Quando Louis deu a volta para sua quinta vez, a fila estava significativamente mais curta. Metade dos adolescentes da festa já tinham desistido, e todos estavam amontoados ao redor se Sam e Yanne observando os últimos que sobraram.
No final da fila, Louis estava tonto e um pouco frívolo, então o aperto firme que sentiu em seu braço quase o fez perder o equilíbrio.
Ele ia começar a gritar, mas foi interrompido ao sentiu dedos fixarem-se sobre sua boca.
― Shhh.
Harry estava rebocando-o para longe da fila e da festa. Afastados o suficiente, sua mão forte e quente deslizou pelo pescoço de Louis, os lábios dele roçavam a lateral de sua bochecha. Por apenas um instante, o toque da pele deles uma na outra - junto com o brilho claro e verde de seus olhos, e a crescente necessidade diária de segurá-lo e nunca soltá-lo - tudo isso deixou Louis divinamente tonto.
― O que está fazendo aqui? - sussurrou.
Ele queria dizer "graças a Deus que você está aqui" ou "tem sido uma merda fodida ficar separados, desisto da trégua" ou a primeira coisa que ele realmente queria dizer era "eu te amo."
Mas também havia "você não sabe respeitar um tempo mesmo sendo o próprio?"
― Eu tinha que te ver - Harry respondeu com a melhor cara de cachorrinho abandonado que ele podia fazer, enquanto o direcionava para trás de uma grande rocha na praia.
Havia um sorriso de conspiração em seu rosto. O tipo de sorriso travesso que era contagioso. O tipo de sorriso que reconhecia que eles não estavam somente quebrando a regra de Louis, como também a regra de que ele deveria estar ajudando numa guerra com os outros e não ali, namorando. E Louis precisa admitir que ele estava adorando quebrar as duas regras, se agora ele tem Harry bem ali, o beijando.
― Quando cheguei perto o bastante para ver essa festa, eu notei que todos estavam dançando - ele disse em seus lábios, assim, foi pro inferno a separação temporária ― e confesso que fiquei com um pouco de ciúmes.
― Ciúmes? - Louis, já rendido e provando que sua palavra enfraquece só de respirar o mesmo ar que Harry, jogou os braços ao redor dos ombros largos dele e olhou profundamente nos olhos verdes ― Por que você teria ciúmes?
―Porque - Harry começou a dizer, acariciando suas mãos pelas costas dele e roçando o nariz em seu maxilar - Você é a pessoa mais linda do mundo, todos querem dançar com a pessoa mais linda do mundo.
Harry se afastou apenas para entrelaçar a mão direita dele, posicionou a esquerda em seu ombro e começou uma dança lenta de dois passos na areia. Eles ainda conseguiam ouvir a música da festa, mas desse lado da rocha parecia um show particular. Louis fechou seus olhos e derreteu contra o peito do Tempo, encontrando o lugar onde sua cabeça encaixava perfeitamente, como uma peça de quebra-cabeça.
― Não, isso não está muito direito - Harry disse após um momento. Ele apontou para os pés de Louis que também notou o namorado estar descalço ― vem, tire seus sapatos e eu te mostro como Designados dançam.
Louis tirou o chinelo preto e jogou de lado na praia. A areia entre seus dedos era suave e fria. Quando Harry lhe puxou para mais perto, Louis quase perdeu o equilíbrio, mas os braços dele o seguraram firme.
Louis olhou para baixo, e seus pés estavam sobre os do outro. E quando olhou para cima, a visão que ele tanto sonhou apreciar um dia, estava bem ali: Harry desdobrava suas asas douradas devagar e com cuidado.
Elas encheram seu plano de visão, esticando-se a cerca de três metros para o céu. Amplas e lindas, brilhando na noite, com a mesma cor dos olhos de Aruna.
Debaixo de seus próprios pés, ele sentiu os pés de Harry levantarem-se pouco acima do chão. Suas asas batiam ligeiramente, quase como uma batida de coração, mantendo-os na faixa da praia.
― Pronto? - perguntou.
Louis não sabia para o que devia estar pronto, mas também não lhe importava.
Ele só conseguia sorrir como um bobo para a beleza de Harry. No quanto seu doce encanto fica lindo, perfeito, com os olhos brilhando tanto quanto suas asas e a pele faz contraste com os tons das plumas suaves que raspavam nos braços de Louis e o arrepiava. Tudo tão lindo quanto as três sardas no rosto de Harry ou a sua boca rosada.
Louis o ama tanto, tanto, tanto que dói.
Eles moveram-se de ré no ar, tão suavemente quanto patinadores de gelo se moviam em patins. Harry deslizava sobre a água, segurando-o em seus braços. Louis arfou quando a primeira espuma de onda roçou em seus dedos do pé. Harry inclinou o rosto no pescoço de Louis para rir, mas depois os levantou um pouco mais alto no céu.
Eles giravam em círculos suaves, Louis encarava os cachos de Harry caindo sobre a testa dele e o sorriso contido que o faz parecer criança. O Amor se estica e deixa um beijo na ponta do nariz do Tempo. Os dois continuam dançando em silêncio, escutando a respiração ou as risadinhas bobas um do outro sobre o oceano e o som das ondas um pouco mais distante.
A lua era como um refletor, brilhando só neles. Às vezes, Louis ria de pura alegria, e em algum momento de giro, quando o ar das asas que continham um cheiro adocicado sopraram em seu rosto a ponto de causar arrepio, ele riu tanto que Harry começou a rir também. Louis nunca se sentiu mais leve ou nas nuvens, em toda a sua vida.
― Obrigado - sussurrou.
A resposta de Harry foi um beijo suave na bochecha. Depois o beijou em sua testa, então em seu nariz, e finalmente achou o caminho até seus lábios.
Louis o beijou de volta profundo e famintamente, um pouco desesperado, jogando seu corpo todo nisso. Era assim que ele era influenciado por Harry, com os toques de amor fácil que eles partilhavam a tanto tempo.
Por um instante, o mundo todo parecia silenciado e Louis arfou por ar, com os lábios mordidos e molhados. Ele não tinha nem mesmo notado já terem voltado para a praia.
Harry puxou seus cabelos da nuca para beijá-lo uma última vez antes de se afastar, mas desse modo, a touca cinza, que escondia seu cabelo descolorido de loiro, escorregou para o lado.
― O que você fez com o seu cabelo? - a voz de Harry era suave, mas, de algum modo, parecia uma acusação.
Talvez fosse porque a música tinha acabado, a dança e o beijo também e eles fossem apenas duas pessoas numa praia. As asas de Harry estavam arqueadas por trás de seus ombros, ainda visíveis, mas fora de alcance.
― Quem se importa com o meu cabelo? - Ele só se importava em abraçá-lo.
Harry não devia se importar só com isso também?
Louis esticou a mão para pegar de volta a touca. Sua cabeça loira parecia exposta demais, como uma bandeira vermelha brilhando e alertando Harry de que ele podia estar se descontrolando. Assim que Louis começou a se afastar, Harry colocou seus braços ao redor de sua cintura.
―Ei, amor - disse, puxando Louis para mais perto até colar os quadris ― Sinto muito, eu quis dizer que ficou lindo.
Louis exalou, aproximou-se dele e mergulhou no toque de carinho novamente. Ele inclinou sua cabeça para cima para encontrar os olhos verdes um pouco mais escuros agora, com desejo.
― Você voltou em menos de dois dias - comentou.
―Eu não deveria estar aqui, na verdade, mas me preocupo com você - ele se afastou apenas um pouco para manter a conversa ― E pelo o que eu vi, estou certo em me preocupar - dedilhou uma mecha do cabelo loiro ― Não entendo por que fez isso, Lou.
Tomlinson o afastou. Sempre o incomodava quando as pessoas diziam esse tipo de coisa.
― Bem, fui eu que descolori, Harry. Estou num intervalo entre tentar me sentir um jovem normal aqui, e também tentando entender os porquês de tudo. Tentando entender com paciência...
― Paciência? - Harry bufou uma risada irritada.
Como eles tinham passado tão rapidamente de dançar no ar para uma discussão?
É aquilo que Liam disse sobre serem, de alguma forma, opostos?
― Eu não sei. Eu só estou tentando levar isso dia após dia. Inclusive me acertar com Yanne, sabe? Hoje eu me juntei a ela nessa festa, e estamos planejando um final de semana num iate com Daniel. Coisas normais assim.
Harry estreitou seus olhos como se Louis já tivesse feito algo de errado.
― Você não vai numa viagem de iate ou a lugar algum.
― O quê?
― Você tem que ficar bem aqui no campus - Louis bufou, Harry falou um pouco mais baixo, mas ainda soava como um absurdo ― Odeio te impor essas regras, Lou, mas eu faço isso pra te manter a salvo. Não deixarei nada acontecer com você.
― Literalmente - Louis cerrou seus dentes ― Parece que quando você não está por aqui, não quer que eu faça nada.
― Isso não é verdade - balançou um dedo em sua direção.
Louis nunca tinha o visto perder seu temperamento tão rápido. Eles precisaram de um minuto inteiro para não dizer besteiras, até que Harry finalmente olhou para o céu, e Louis seguiu seu olhar.
- Olha lá - Harry não aponta para o céu, mas ele sabe que estão falando do manto negro e as estrelas surgindo entre uma nuvem passageira e outra - você provavelmente não vai crer com facilidade, mas essas estrelas foram criações do Zayn, um presente feito de material morto e que brilham para sempre, assim como a estrela do amanhecer, o Sol, brilha eternamente - Louis continua ouvindo porque o outro tem razão, não é fácil acreditar - e ele não fez só porque um dia foi apaixonado, ele fez porque se importa e te ama tanto quanto Liam ou Niall. Todos nós te amamos e estamos fazendo o possível para protegê-lo, porque estamos cansados de te perder. Acredite em mim quando digo que Shoreline é segura.
- Você teme que eu seja sequestrado como da última vez? Mas agora vamos à um passeio num iate, quais as chances de um pária me sequestrar num iate?
Harry crispou os lábios e não respondeu, apenas sustenta uma pose cansada e isso é tudo.
― Tenho que ir.
― Que surpresa, aparece do nada, arranja briga e depois foge. Isso sim deve ser um amor verdadeiro, yeah.
Harry agarrou seus ombros para abraçá-lo e encontrar seus olhos, mas Louis está relutante, de semblante fechado.
― É amor verdadeiro - disse com tanto desespero que Louis não conseguia decidir se as palavras tiravam ou acrescentavam dor ― Você, mais do que ninguém, sabe que é.
Os olhos dele queimavam esmeralda, não com raiva, mas com desejo intenso. O tipo de olhar que fazia você amar tanto uma pessoa, que sentia falta dela mesmo quando ela estava parada bem na sua frente.
Harry abaixou a cabeça para beijar sua bochecha, mas Louis estava à beira de lágrimas, com raiva e triste por brigar de novo. Envergonhado, virou-se para respirar fundo, ouviu o suspiro de Harry, e então o bater de asas.
Não.
Quando virou-se novamente, era tarde demais. Harry estava levantando vôo pelo céu, no meio do caminho entre o oceano e a lua. As asas dele estavam iluminadas sob um raio do luar e um instante levou para ser difícil diferenciá-lo de qualquer uma das estrelas do céu.
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