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Capítulo 34

Voltei!

Desculpa a demora, espero que vocês gostem desse Casos de Família :)


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- Não sei se sou capaz de descrever a sensação que tive quando a reconheci.

- Carinho?

- Não era só carinho, é como se fosse o amor mais puro e forte já existente. Eu nem consegui me conter direito. Você lembra que eu passei mal durante o Manifesto Ubuntu?

- Achei que havia sido pela lembrança o ter afetado.

- Sim, também, mas eu acho que o conjunto todo de me lembrar e sentir aquilo praticamente me arrebatando... Bem, eu não sei, porque fisicamente é mais fácil explicar o que houve do que te dizer exatamente como é se sentir assim.

- Acho que ela tem a sua personalidade e a do Harry misturada, isso explica muita coisa.

- Só não explica o fato sobre nenhum de nós dois possuirmos um útero e ainda assim gerarmos um filho, essas coisas são biologicamente impossíveis.

- Sabe outras coisas que pareciam impossíveis?

- O quê?

- Imortalidade, amores infinitos, seres com asas, o Tempo ser personificado, gente que domina os quatro elementos e uma mulher linda como a Bebe me dar uma chance.

- Essas coisas todas se provaram possíveis, não é mesmo?

- Pois é e você realmente se sentiu ligado à Aruna de alguma forma impressionante?

- Foi um sentimento paternal, Sam, é isso o que estou tentando te dizer. Eu achava que não sabia o que é ser um pai, até eu reconhecer Aruna como minha filha.

- Que loucura.

- É por isso que eu não quero falar com Harry a respeito ainda, porque ele vai dizer que estou louco e eu quero ter provas para contra argumentações além da minha imaginação fértil afetada por esses dias esquisitos.

- Não tô dizendo que a ideia de você ser pai de Aruna é loucura, estou dizendo que é loucura como você consegue sentir tanto como se já soubesse a verdade antes mesmo de te contarem sobre ela.

Louis encarou abruptamente seu melhor amigo, que continua de olhos fechados e barriga para cima, dedos entrelaçados sobre o peito, relaxado por esse momento de desabafo que os dois tem todos os dias.

Ele já acha que Sam entende de muitas coisas sobre os Designados, Louis só não achava que Sam soubesse sobre ele também.

- Você sabe a verdade.

Samuel continua de olhos fechados, mas a expressão facial enrijece e fala por si só.

- Não sei se fico chateado sobre você saber tudo de mim e não me dizer. Fique aí em silêncio me vendo revirar a cabeça, perdido, num lugar onde não pertenço, sozinho, sem saber o quê-

- Você é tão dramático, Tomlinson.

- Sou mesmo, mas é porque esse é o único jeito de fazer vocês falarem.

- O que eu sei é que seu namorado tem razão sobre você precisar aprender aos poucos sobre tudo. Ele te conhece não é de agora, lembra? Você sempre foi diferente, mas sempre foi você, até onde eu sei, você iria surtar com tanta informação porque querendo ou não ainda cresceu humano e com a ideia de que coisas como o que somos é impossível existir.

- Não é pra você concordar com o Harry, é pra você ficar do meu lado.

- Dê tempo ao tempo, cara.

Louis até sorriu pelo trocadilho, mas bufou para não dar o braço a torcer.

- Eu já disse que faria isso, só que eu também acho que estou pronto para aprender tudo logo.

- Mas você tem que entender com mais profundidade e não caçando informações diretas aqui comigo.

- Eu não tô aqui pra buscar informações diretas.

- Não mesmo?

- É claro que não!

- Esse é nosso oitavo dia na Shoreline e você não sai do meu quarto. Você não frequentou nenhuma aula, nem as meditações do Liam e come a comida que me trazem.

- Não gosto de ficar sozinho e eu também não quero ter que te deixar aqui isolado como um prisioneiro.

- Não sou um prisioneiro, Lou. Estou numa suíte trancada e tenho uma vista legal pro jardim, um banheiro limpo e livros suficiente para meses à toa. O meu melhor amigo passa o dia desabafando comigo e recebo o jantar farto em louças de porcelana. É quase como um serviço de quarto chique, tem até troca de toalhas!

- Você não pode sair daqui há mais de uma semana, isso não é justo.

- Eu estou bem - Samuel resmunga pela milésima vez a mesma coisa.

- Não vou sair enquanto você não sair também.

- Não vou fugir com você, esqueça.

- Não tô insinuando uma fuga, já estou agindo de outra forma.

- Como assim?

- Estou protestando.

- Deitado na minha cama?

- Não, idiota, eu disse ao Liam que só assistiria as aulas dele e veria a luz do Sol se você também visse. A condição é essa.

- Parece birra.

- Não é birra, é um protesto e eu tô fazendo ele por você, agradeça.

- Obrigado?

- É sim, de nada.

- O estranho é que eu já estou me acostumando com as peripécias de Louis Tomlinson - Samuel ganhou um tapa inofensivo no ombro e respondeu com um beijo risonho na bochecha.

Mas três dias depois as peripécias deram o resultado esperado pelo rebelde.

Lá estava Liam, levando Louis e Samuel para o quarto novo que irão dividir nos alojamentos comuns. Outra condição de Louis. As únicas três vezes ocasionais que ele saiu do quarto que servia de prisão para Samuel, e viu os Nefilins, eles estavam o encarando e cochichando audível. Eram boatos sobre Louis ter acesso ao prédio dos fundadores. Alguns diziam que ele tinha privilégio por ser namorado de um dos importantes Designados e outros diziam que ele era um Designado. Louis não queria essa atenção. Ele fugiu desse tipo de fofoca quando entrou para a faculdade onde sua mãe é reitora.

- Harry vai enlouquecer - Liam comentou quando os levou ao alojamento, mas não parecia preocupado - ele queria que você ficasse no quarto dele e também me pediu para não soltar Samuel de jeito nenhum.

- Não se preocupe, eu lido com ele.

- Tudo bem, eu sei, confio em você.

Pouco depois, Sam entra no quarto com a mochila dele escorregando dos ombros baixos. Louis já se apossou de uma das camas altas e balança os pés, empolgado, divagando sobre como provavelmente será legal manter um estilo universitário mais original do que sua antiga residência em Amsterdã. Ele está esperançoso sobre isso agora. Pelo menos esse alojamento é simples e ele adora coisas simples. Também não dá pra reclamar tendo essa vista pro mar azul que qualquer canto da Shoreline possui, e os alojamentos dali ficam em chalés brancos e aconchegantes, divididos por faixa etária.

- Parece que nada mudou por aqui - o Nefilim comenta mais para si mesmo - dormi em um quarto desses por muito tempo.

- Mas o seu era privado e esse você terá que dividir com Louis, espero não haver problemas. O compartilhado era o último quarto porque a Shoreline está lotada esse ano.

Louis agradeceu e Liam saiu depois de dar os avisos sobre as regras básicas e entregar um papel com a grade de horários das aulas que iriam frequentar.

É muito cedo, ainda dava para assistir duas aulas do turno da manhã e os dois queriam isso. Ficar preso num quarto serviu apenas para o protesto, porque sinceramente, Louis já estava enlouquecendo e sentindo o corpo enferrujar de tão parado. Depois dos banhos demorados no banheiro coletivo do chalé e enfrentar os olhares de outra meia dúzia de Nefilins que moravam ali, os dois caminharam para a primeira aula.

- Nossas aulas não são as mesmas - Samuel reparou - Liam me colocou nas aulas de onde parei quando saí daqui e as suas são da primeira turma, ainda.

- Vou ter aula com as crianças? - ele questiona soando irritado e apertando o passo para chegar a tempo na aula de Genealogia Divina, conforme o cronograma impresso em suas mãos.

- Não é assim que funciona por aqui. As primeiras turmas são para aqueles com zero de informações ou que acabaram de chegar. Você pode encontrar Nefilins de nove anos e outros de vinte e cinco por lá, Louis.

- Ou humanos que são namorados de Designados em campo de guerra.

Samuel riu de seu pessimismo, porque ele não é de ser assim. É claramente mau humor.

- Você precisa urgentemente dele, está ficando insuportável de tão chato.

- Ele disse que voltaria uma vez por semana e daqui a três dias fará duas semanas, mas ele ainda não apareceu. Apesar do Liam dizer que Harry está bem, eu descobri que não sou mais capaz de ficar duas semanas sem sentir a falta dele.

- Agora eu posso fazer o trocadilho de que o Tempo não passa logo?

- Pare de trocadilhos sobre o meu namorado.

- Você parece carente dele.

- Não sou carente, é abstinência.

- Abstinência soa como dependência, não parece legal se for dele. A não ser que você esteja falando de sex-

- Pelo amor de deus, não termine.

- Boa sorte no primeiro dia! - Samuel se despediu rindo e isso meio que aqueceu o coração de Louis.

Ver seu melhor amigo 1% melhor depois daquele inferno é a coisa que o salva nesses dias tão difíceis.

Ele respira fundo e vai para a sala, pensando na estranheza de não precisar de cadernos, livros, ou canetas. Liam disse que nada disso era necessário na Shoreline e que eles aprendiam tudo no diálogo.

- Com licença - pediu parado na porta - posso entrar?

- É claro - o homem dando aula sorriu para ele e apontou para uma cadeira no centro da sala - acabamos de começar, junte-se a nós.

Ele está aliviado de ser livrado de apresentações. Aquelas de primeiro dia de aula que o professor te faz dizer quem é, de onde veio, o que sonha como carreira e seus hobbies. Louis sabe qual a pergunta principal deste lugar - de qual Designado ele é filho - mas não quer ter que se explicar. Ele sente os olhos curiosos queimando em seus ombros e os deixa cair quando senta e tenta focar a atenção no professor.

- Eu me chamo Ashton Irwin, sou o professor de Genealogia Divina das primeiras e segundas turmas, alguma pergunta?

Louis queria saber se esse era um Designado e se sim, do quê? Mas perguntar poderia gerar uma contra pergunta sobre sua própria origem e ele não quer explicar.

- Sou o Designado do Libido - o professor sorriu lascivo, como se soubesse da curiosidade que chega a fazer cócegas na ponta da língua de Louis.

Se ele é o Libido, quem Zayn seria?

Isso quase faz Louis rir, mas ele se contém para prestar atenção na aula, que não é nada medieval como pensou que seria. Também não é uma sessão de terapia como Liam faz parecer ser. Há um refletor, algo moderno que impressiona Louis, considerando que no lugar não há internet e outros aparelhos eletrônicos.

Uma criança Nefilim desliga a luz e o professor clica para iniciar os slides, enquanto fala:

- Essa é a segunda aula de vocês na minha matéria. Como temos um novato, vou resumir que nela falamos sobre a definição de Genealogia Divina, o que um de vocês poderia repassar à ele mais tarde.

- Eu faço - uma garota magra e pequena ofereceu ajuda. Ela tem olhos verdes e cabelo escuro, mas não o olha de volta, apenas mantém a pose dinâmica à disposição.

- Preferia contar para vocês sobre como são feitos os bebês logo de cara, sabem como eu sou - ele está claramente brincando porque todos riem alto - mas para entender primeiro, precisamos falar sobre como os pais de vocês foram criados antes de chegar no ponto sobre como vocês foram gerados. Alguém sabe qual o primeiro Designado existente?

- O Propósito? - um aluno arriscou o palpite.

- Não, alguém tem outro palpite?

Louis queria participar daquilo, ele sempre foi assim, participativo. Além disso, ele tinha mesmo uma ideia de quem seria. Louis acha que não dá para haver vida sem o Tempo. Se vive conforme o Tempo e quando o Tempo acaba é porque a vida expira.

- O Tempo - ele responde com convicção, mesmo em voz baixa.

- Muito bem, Louis.

Como ele sabe o seu nome?

Provavelmente todos ali já sabem, Louis é a fofoca do momento. Mas o jeito que Ashton o olhou não pode ser só por ele ser o flerte em pessoa, mas é como se ele estivesse em expectativa por sua participação entre os outros.

- O Tempo veio primeiro, o representante da vida, mas ele veio sozinho e estando muito solitário, os deuses criaram outros elementos que pudessem trabalhar ao lado dele de igual para igual, com diferenças que pudessem equilibrar opiniões para que se formassem auto consciências. Assim, depois do Tempo veio o Amor, que seria a base de tudo. E o primeiro e único Ser existente para ser amado ainda era o Tempo, a vida. Foi o primeiro amor registrado no universo.

O coração de Louis acelera e ele olha para os lados, esperando que alguém estivesse tão impressionado quanto ele porque porra, Ashton está falando de seu namorado como se fosse uma figura histórica e ele está dizendo que o Amor... amou Harry primeiro?

- E como eles foram gerados? - um aluno atrás dele perguntou.

- Um Designado de sangue puro nasce do ventre dos deuses. Eles não são como os humanos. Eles são forças etéreas que foram feitas do sangue dos Deuses para reger a consciência humana.

- Anjos? - Louis disse alto.

Escapou sem querer.

Os outros riram, inclusive a aluna que ia lhe ajudar com o conteúdo perdido, que quase se engasga de gargalhar e ele ruboriza pela estupidez da sua pergunta. Harry já explicou que não, eles não são anjos e foi bem idiota perguntar de novo no seu primeiro dia de aula entre pessoas que sabem disso melhor do que ele.

- Possuímos asas, docinho, mas não sou um anjo a não ser que você peça para que eu seja um.

Louis ruborizou com a insinuação sexual e balançou a cabeça para convencer que entendeu sobre a parte dos anjos.

- E quando dois Designados geram um filho juntos? - aquela mesma garota dos olhos verdes pergunta - Houve registro disso, não é mesmo?

Ela está sorrindo com malícia para Louis neste momento. Algo como "escuta só essa" e ele treme sem saber o porquê.

É um tipo de colapso nervoso. Talvez um medo inconsciente ou uma timidez que ele nem sabia que tinha. Logo ele, sempre desinibido, está se encolhendo sob os olhos verdes dela cravados nele.

- Sobre o registro, é uma parte complicada e que estudaremos aos poucos com a ajuda da professora Edith, de história. O que tem haver com essa aula é o que vocês já sabem: dois Designados puros formam um Designado puro e isso é muito difícil acontecer, alguém sabe dizer o motivo?

Louis se lembrou do café da manhã no primeiro dia, quando Raykeea explicou como aquilo funcionava:

- Os Designados se vêem como irmãos, ou como inimigos insuportáveis. Uma condição difícil para se apaixonar?

- Sim, porque um Designado só nasce da união verdadeira de dois opostos verdadeiramente apaixonados. A procriação dos seres divinos não é carnal como a condição humana. É espiritual, é uma junção potente de almas ligadas a ponto de formar uma força nova da mistura das suas.

Coisas iguais não se complementam, ele pensa. Geralmente a outra peça do quebra cabeça tem um formato diferente.

Não há mais nada que Louis ouça depois disso até o fim da aula. Ele sabe que o professor está falando de como os Designados e os humanos se relacionam e como o meio sangue dos Nefilins são herdados dos deuses e não dos Designados. Ele sabe porque está no slide brilhando à sua frente, onde Louis não desgruda os olhos vidrados.

Mas o torpor como consequência do choque de percepção repentina, o deixa paralisado ali, só como um corpo inerte.

Louis não consegue parar de pensar na história que Aruna contou no estacionamento da Universidade de Amsterdã quando a viu interpretando pela primeira vez.

Ele não se lembra das palavras usadas exatamente, mas lembra do contexto. É quase como uma lâmpada se acendendo e lhe devolvendo a visão após tanto tempo de ignorância o cegando, num escuro.

É sobre a história do Amor e do Tempo condenados por desequilibrar o universo ao criarem a Esperança, que carregaria o nome do nascer do dia, Aruna.

E o ciúme da Morte que salvou a vida do Amor com uma outra maldição.

Ele também se lembra de Harry explicar sobre há muito tempo os dois terem sido condenados.

Sobre Harry prometer que o amou e o amará para sempre.

E se Harry é o Tempo e se Louis sente como se Aruna fosse um pedacinho de si, então...

- Com licença, professor - ele ergue a mão e sua voz sobressai mais do que planejava, com um choro preso na garganta e a respiração acelerada - Posso sair?

Ashton o olhou como se soubesse da intenção de fuga e não disse nada além de acenar com a cabeça em direção a porta. Isso o faz querer chorar ainda mais, porque está na cara do professor que ele tem empatia por Louis, como se esperasse que o garoto entrasse em colapso no meio da aula com aquilo que ouviu.

Louis cambaleia para fora. Ele caminha sem pensar direito e só se dá conta de onde escolheu ir quando senta na grama ao lado de Liam e desaba em choro.

A paz terminou sua meditação pouco depois, respirou fundo e encarou Louis deitado ao seu lado, em pânico, com um resto de lágrima escorrendo sutilmente.

- Você descobriu, não foi?

- Eu acho que sim.

- Acha?

- Foi tão repentino.

- Estou surpreso que tenha demorado tanto, para falar a verdade. Você e Harry estão juntos há semanas e você está aqui há dias. Nós sabíamos que logo você entenderia porque sempre foi muito inteligente.

- Eu só queria me lembrar das coisas.

- Do quê tanto você se lembra?

- Que eu sou o Amor e a Esperança é minha filha com o Tempo.

- O que mais?

- Você nem negou, eu estou certo?

- Sabe que sim, e agora, o que mais?

Louis se sente nauseado e ele só entende agora a importância de receber informações pouco a pouco. Ele não acha ser capaz de aguentar mais.

- Eu não sei direito, mas tenho uma grande dúvida.

- Talvez eu possa responder, pode me dizer qual é?

Louis liga os pontos novamente. Ele pensa que deveria ter sido óbvio depois de tudo o que lhe foi dito e depois de tudo o que viu e sentiu. Ele só não consegue acreditar que seu amigo seja algo ruim. Liam coloca a mão no joelho dobrado de Louis para incentivá-lo a falar, assim ele pergunta de uma vez, apesar de não ter certeza sobre querer ouvir a verdade.

- Zayn Malik é a Morte?

- Ele é.

- Não consigo acreditar que o Zayn tenha feito algo assim, ele é tão... legal, eu gosto dele.

- Não é tudo oito ou oitenta - esse jeito que Liam sorriu complacente intrigou Louis - Zayn é um cara complicado.

O diretor continua sorrindo como se estivesse pensando naquilo de uma forma melhor. Louis não ficou irritado porque ele sabe como é sorrir assim.

- Você o ama.

- É uma pergunta?

- Não, eu sei que você ama.

- É claro que sabe.

Louis faz careta porque a ideia de ser o Amor ainda soa impossível.

- Vocês estão juntos?

- Nós somos o que somos. Não tentamos ser um casal e nem nos evitamos. Estamos juntos por centenas de anos sem compromisso.

- Essa geração chama esse relacionamento de aberto. Vocês ficam juntos, mas também ficam com outras pessoas sem problemas ou cobranças, certo?

- Pode ser, é uma definição que faz sentido para mim.

- É muito fácil falar com você - Louis confessa depois de um tempo em silêncio - eu poderia pensar que é por você ser pacífico, mas Harry já me contou que sempre fomos amigos.

- Por isso você me procurou?

- Eu não sei, mas provavelmente sim. Esse é outro mistério que eu preciso resolver.

- Não sei se há como.

- Não? - Louis questiona, sentindo-se mais confortável e tranquilo do que quando chegou ali.

Também não é o mesmo sentimento de quando ele foi um paciente de Liam em Amsterdã. É um conforto bom, do tipo que ele poderia dizer tudo o que pensa sem hesitar.

Pode ser o efeito de se estar em paz.

- Você sabe que amor não é apenas romântico, e o nosso amor fraternal também renasceu milhares de vezes, Lou. Assim como o amor de Zayn por você. Acho que o Amor é um mistério sem solução.

Louis seca as lágrimas e se senta para deitar a cabeça nos próprios joelhos dobrados. Liam brinca com a grama enrolada nos dedos, provando estar disposto a manter a conversa sem pressa de sair dali.

- Eu devo odiar o Zayn?

- Acho que você é incapaz de odiar alguma coisa, mas se quiser ficar bravo com ele é compreensível. Eu só queria te pedir para estudar mais à respeito até entender o lado dele.

- Parece bem difícil entender o lado dele.

- Ele é a Morte, não pode salvar vidas. Zayn arranjou um jeito de te salvar e continuar cumprindo quem ele é, unindo o fato de que ele era louco de ciúmes.

- Hum, e você?

- Eu?

- Se eu sou incapaz de odiar, você é incapaz de brigar, mas pode odiar. Você me odeia por causa do Zayn?

Liam riu pela pergunta e Louis corou, se sentindo estúpido de novo.

- De jeito nenhum. Eu conheço Zayn Malik do avesso e sei bem onde me meti. Você não tem culpa, você proporcionou o que sinto por ele.

- Isso de ser o Amor é outra coisa para adicionar à lista do que devo me acostumar.

- Acho que você deveria se acostumar de barriga cheia - Liam sugeriu de bom humor - aproveite que Charlotte está ali matando aula e vá com ela para o refeitório se estiver com fome.

Louis olhou para frente e viu aquela garota que o guiou para a enfermaria no primeiro dia, sentada despreocupadamente do outro lado do gramado. Ela abriu os olhos como se tivesse pressentido ser observada e sem sorrir, acenou para Louis. Ele sentiu o estômago roncar, colocou a mão sobre o estômago e acenou de volta para ela.

═─── ❦ ───═

Depois de dois lances de escada e o que parecia ser uma porta secreta, Louis e Charlotte passaram por um par de portas francesas e estavam sob a luz do sol. O sol estava incrivelmente forte, mas o ar era fresco o bastante para ele ficar aliviado por estar usando um suéter. Tinha cheiro de oceano, mas não como em casa. Era menos salgado e mais pesado do que na Holanda.

― O café da manhã é servido no terraço - Charlotte gesticulou para uma ampla expansão verde de terra.

Esse gramado era cercado de três lados por abundantes moitas de hortênsias azuis, e o quarto lado era uma descida íngreme diretamente para o oceano. Era difícil para Louis acreditar na beleza daquele lugar. Ele não conseguia imaginar ser capaz de ficar dentro do edifício tempo o bastante para aturar uma aula.

Enquanto se aproximavam do terraço, Louis viu outro prédio, uma estrutura longa e retangular com telhas de madeira e vidraças adornadas por um amarelo vibrante. Uma ampla placa cravada a mão pendia sobre a entrada: "REFEITÓRIO DA BAGUNÇA" lia-se em aspas, como se estivesse tentando ser irônico. Era certamente a bagunça mais bonita que Louis já vira.

Ainda no terraço, o lugar estava cheio de mobília de jardim feita de ferro pintado de branco e cerca de cem dos alunos mais despreocupados que Louis já havia visto. A maioria deles estavam descalços, seus pés apoiados nas mesas enquanto se alimentavam de pratos enfeitados para o café da manhã. Ovos Benedict, waffles belgas com frutas em cima, quiches de espinafre em formato triangular e folhados. Alunos liam o jornal, outros tagarelavam entre eles ou jogavam croquet no gramado. Louis conhecia os riquinhos do seu antigo ensino médio, mas os riquinhos de Amsterdã eram mesquinhos e esnobes, não bronzeados e despreocupados como estes de Eroda.

O cenário todo fazia jus ao início do verão, nesse começo de junho. Era tudo tão agradável, era quase difícil se ressentir dos olhares de satisfação nos rostos desses garotos. Quase. Louis não se esquece dos comentários maldosos sobre paternidade que definem como eles tratam seus colegas. Ele não se esqueceu que esse lugar é um trauma para Sam.

Louis tentou imaginar Bebe ali. Tentou pensar no que ela acharia de Charlotte ou dessa comida servida ao lado do mar, e como ela provavelmente não saberia do que tirar sarro primeiro. Ele desejou poder falar com ela agora. Seria bom poder rir.

Enquanto Charlotte contornava as mesas até encontrar uma para eles e Louis lhe seguia, ele também se ocupava em procurar Samuel com os olhos passeando pelo local, mas ainda não havia sinal da presença dele ali. Louis quase trombou nas costas de Charlotte quando ela parou subitamente diante a mesa menos desocupada em comparação às outras, onde estava a garota de olhos verdes da aula de Genealogia Divina, aquela que lhe repassaria o conteúdo perdido.

- O que acha de deixar o Louis tomar o café dele aqui e você vem comigo para a mesa com as outras garotas, uh?

- Precisa mesmo de uma mesa só para ele? - ela perguntou em tom sarcástico para Charlotte e com a sobrancelha arqueada - O currículo dele impressiona, o cara é famoso, mas ele não vai ficar com a minha mesa só porque dorme no prédio dos fundadores.

- Eu não- er... - Louis tenta justificar não ser tudo isso, mas Charlotte o interrompeu com a mão no ar e se inclinou na mesa para olhar a outra garota mais de perto.

- Vamos lá, somos amigas desde que você chegou aqui na primeira vez. Acho que você não precisa fazer essa cena tão cedo no café da manhã.

- Eu vou topar com ele em todas as aulas, somos da primeira turma. Essa é uma ilha, não temos como fugir. Você pode mudar minha mesa agora, amiga, mas mais tarde eu estarei na aula de esgrima com o Amor. O que acha disso?

- Merda - Charlotte se rende e puxa a cadeira para se sentar na mesma mesa - senta aí, Louis.

Ele olha de uma para a outra sem saber a razão, mas entendendo que o clima pesou muito por sua culpa. A outra garota lhe encara através da borda da xícara com um sorriso presunçoso. A sensação é de que ela espera que Louis respire errado a qualquer instante, para enfim atacar, como uma predadora faminta.

Ele tem ainda mais pressa de encontrar Sam agora. Continua olhando em volta, mas não o encontra ali fora.

- Ele não vai aparecer - Charlotte avisa quando nota o que ele faz - Samuel não vai se misturar com os outros Nefilins, ele tem aquele problema de... hum, você sabe. Eu não sou assim, mas as pessoas comentam e brincam com a situação.

O filho do Medo, Louis pensa fazendo careta sobre como essas atitudes de bullying são tão desprezíveis.

- Provavelmente Charlotte é a única que não faz esse tipo de brincadeira idiota porque está nesse lugar há anos e porque namora uma Designada.

- Você namora uma Designada?

- Você não é o único, bonitinho - a outra garota pisca.

- Eu namoro Gemma - Charlotte explicou para cortar a provocação da amiga - Deve a conhecer, ela até me pediu para ficar de olho em você.

- Sim, ela é minha amiga.

- Somos todos amigos, eh! - a outra garota joga os braços pra cima numa comemoração exagerada e Louis está começando a se irritar com o tom irônico que ela usa em tudo - Devemos nos abraçar e trocar presentinhos?

Qual o problema dela com ele?

Ele fecha a expressão e tenta se importar mais com o cardápio no momento, mas ela volta a falar:

- Entendo seu amigo Samuel se esconder, eu mesma saí e voltei dessa escola nos últimos seis anos, ainda nas minhas primeiras semanas. Nunca consegui ficar um trimestre inteiro. É difícil para alguém condenada à ser filha de quem sou.

- Por que? - Louis não conteve a curiosidade e provavelmente vai se arrepender de dar corda à ela, estendendo a conversa que claramente são alfinetadas, mas ele quer saber até onde isso vai. Ele não é de fugir de uma discussão.

- Ah, o mesmo problema que o seu. A fama de ser quem sou, da família que pertenço e sei lá - ela diz calma, mas dá pra sentir um pingo de rancor ali - as pessoas acham que sou parte de uma lenda milenar, mas eu não sou a minha irmã, então bleh - ela bufou uma risada.

- Droga, dá pra parar com isso? - Charlotte bate o cardápio na mesa e Louis enrijece porque ele sabe que o problema definitivamente é com ele e que a garota vai dizer de qualquer forma, uma hora ou outra.

- De quem você é filha?

A pergunta clássica e aterrorizante dali. Ele engole seco e a garota riu de verdade, satisfeita, como se tivesse finalmente chegado onde queria.

Ela estendeu a mão para cumprimentar e Louis retribuiu, encarando os olhos dela sem piscar porque é meio impossível com a mão quente o pressionando.

Antes mesmo que ela falasse, ele entendeu. Está nos olhos dela. Louis arfou, soltou a mão e mesmo assim ela disse o que ele já sabia:

- É um prazer conhecê-lo, Louis, eu sou Yanne Styles.

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