Capítulo 3
Louis precisou deixar Bleta para trás e correr para a sua próxima aula. Bebe o prendeu na conversa sobre a beleza da apresentação artística de mais cedo no estacionamento e agora ali estava Louis, mais uma vez atrasado.
Ficou aliviado ao perceber que a maioria dos alunos não haviam chegado ainda, estando mais atrasados do que ele. Os primeiros dias de aula nunca são levados tão a sério quanto deveriam.
Louis escolheu a última fileira de carteiras e escutou o som de iniciar do notebook do professor. Ele fica surpreso com a confirmação de que o Sr. Styles - aquele que espiou na secretaria - é mesmo seu professor e ainda por cima o de história.
Louis disse - Boa tarde, professor - mas o homem não o respondeu. Continuou concentrado na conexão do notebook com o projetor. Talvez o Sr. Styles não tenha lhe ouvido direito, então Louis encolhe os ombros e faz bico, sentindo as bochechas corarem, porque os outros alunos que estavam ali riram sem maldade do incidente. Teria sido engraçado se Louis não estivesse se sentido tão constrangido.
Quando o Sr. Styles terminou e ajeitou sua postura, Louis escutou o suspiro da aluna ao seu lado.
Ok, ele precisa dar razão àquele suspiro profundo dela.
- Boa tarde, sou Harry Styles, o professor de História de vocês nesse primeiro semestre.
Louis aperta os dedos contra a palma da mão avaliando o professor da cabeça aos pés. Lá na secretária na posição em que estava ou ali na sala antes de sair de trás do notebook, o professor só parecia um cara jovem e meio cafona. Agora de queixo erguido, nariz empinado e os ombros largos para trás ele se apresenta com postura e a voz grave é macia e lenta, mas o cabelo preso num coque, o maxilar definido e o corpo másculo dá a impressão de um homem maduro e absurdamente lindo. É injusto que essas roupas fiquem bem nele, Louis pensa, pois em qualquer outra pessoa teriam ficado péssimas.
O Sr. Styles apoiou-se pelo quadril na mesa, cruzando os tornozelos, assim como os braços sobre o peito. Ele parece querer esconder-se dentro de si mesmo, ainda que em sua pose soberba. Harry Styles é claramente um homem reservado e interessante. Apesar da aparência jovem, Louis pode jurar que há muita sabedoria escondida por entre seus traços.
- Ao contrário do cronograma de aulas que os professores anteriores dessa instituição utilizaram, não iremos começar com o clássico assunto sobre o impacto do ilustre holandês Vicent van Gogh na arte - Harry surpreende - vamos conversar sobre outra influência histórica tanto na arte, quanto em qualquer âmbito desde os primórdios da sociedade.
- Que seria? - um dos alunos da primeira fileira que baba na pose do professor, cantou a voz, flertando a toa com Harry. Ele ignora o olhar insinuativo categoricamente.
- Conhecem o conceito de Yin & Yang?
- Aula de Taoísmo? - uma aluna resmunga e bufa.
Harry ajeita o óculos engraçado que escorrega na ponte do seu nariz, com a ponta do dedo fino.
- Fique tranquila, não é especificamente sobre o Taoísmo. Estamos falando sobre a ideia de cada ser, objeto ou pensamento possuir um complemento que constituem sua existência. Nada existe no estado puro: nem na atividade absoluta, nem na passividade absoluta, mas sim em transformação contínuas que ocorrem através do tempo. Quando falamos de tempo vocês pensam no quê?
- História? - a menina responde mais animada, por começar a entender o linha de raciocínio.
- Isso mesmo e todos os feitos na história giram entorno do bem e o mal, os dois lados diferentes e complementares.
- Complementares? - Louis questiona unindo as sobrancelhas e esperando que Harry finalmente olhe para ele pela primeira vez, mas não acontece.
- Sim, complementares - o professor se dirige a todos da sala - para haver um deve-se o outro. Trata-se de um equilíbrio e que já foi retratado em muitas obras ao longo dos séculos, cada qual com uma interpretação particular e retratada de sua forma. Alguém poderia citar uma delas?
- O Jardim Das Delícias Terrenas? - Louis ergue a mão e sugere.
Harry o ignora e pergunta novamente. Louis repete, falando mais alto por achar ter soado baixo. Dessa vez ele tem certeza que foi ouvido, porque muitos dos alunos sentados próximos ao professor olharam na direção de Louis com atenção.
Harry continua esperando pela resposta de outro alguém e Louis se ofende imediatamente com a grosseria. Abaixa a mão lentamente um tanto chocado por ter sido ignorado propositadamente, mas não é do seu feitio deixar que as pessoas venham a lhe constranger em público. Louis sempre foi gentil e amoroso, mas ele é desbocado quando necessário.
- Licença, o senhor tem algum problema comigo? - Foi direto.
Os alheios a aula que antes trocavam conversas particulares cochichadas e outros alunos que brincavam com suas canetas contra o bloco de anotações, pararam completamente para assistir. Louis Tomlinson deveria ser o exemplar filho da rígida reitora e de boca fechada, acatar o que os professores e a instituição fazem, mas oras, se Louis aceitasse desaforo não seria ele.
Silêncio absoluto na sala.
Harry saiu da sua posição anterior e agora caminha lentamente de um lado para o outro, com as mãos na cintura, ainda sem olhar para Louis.
- Diga-me, Louis. - Suspirou rendido e Louis não segurou o bufar sarcástico.
- Me surpreende que o senhor saiba quem sou, considerando que nem ao menos olhou para mim.
Harry então girou nos calcanhares e seguiu a voz, para finalmente encontrar Louis.
E Harry sorriu, balançando a cabeça como se soubesse demais, como se já esperasse a reação afrontosa de Louis.
Um olhar e um sorriso que despertam em Louis a espécie de um déjà vu.
Ele pisca uma, duas e três vezes, mas a sensação ainda está lá. É muito mais forte que a familiaridade de Zayn. Essa lembrança esmaecida e sem sentido no sorriso de Harry Styles arde dentro de Louis e também tem som.
Som de choro.
- O Jardim Das Delícias Terrenas. - ele repete estupefato e leva a mão ao peito. Está doendo, parecido com a dor da câimbra e a pequena diferença dessa dor é que ela também irradia a sensação de queimação pelo corpo inteiro - De Bosch.
- Outro incrível holandês - Harry vagueia seus olhos pelo rosto de Louis de semblante sério e controlado. As mãos do professor estão unidas atrás do próprio corpo e ele leva alguns segundos fora do normal para deixar de encarar Louis em silêncio e retomar a aula - Muito bem, esse é um clássico. Alguém poderia me dizer o que há de tão interessante sobre O Jardim Das Delícias Terrenas em relação ao bem e o mal?
A mistura do que supostamente seria o bem e do mal, numa representação do prazer misturado ao terror, Louis pensou, mas ainda estava absorvendo a sensação estranha. Ele tem certeza que a dor no peito tem relação com a lembrança de algo que não consegue ver com clareza. Louis odeia déjà vu.
- O hedonismo e as figuras exóticas? - Um outro aluno tentou.
- Você pode me dar melhor que isso como resposta. - Harry ajeita os óculos de novo para depois estalar os dedos no ar.
- Quer saber sobre essas delícias terrenas na arte de Bosch ou se refere às delícias terrenas que vivemos aqui em vida? - Louis se recupera, mas sem perder a pose de ofendido desde que o professor soou arrogante consigo.
- Não é a mesma coisa? - Harry perguntou.
- Aquela obra é um deboche do artista para as leis repressivas da época a assuntos tabus.
- Como pode ter tanta certeza? - Harry semicerrou os olhos, mas ele questiona com o tom de voz ainda amaciado. O único irritado é Louis. A turma voltou a assistir os dois como se o debate fosse um espetáculo mais interessante que a aula em si.
- Os melhores críticos do mundo leram ela por anos dessa forma e eu devo concordar que é exatamente o que Bosch parece ter feito.
- Mas não foi Bosch quem disse e nem o que eu e outras dezenas de pessoas opostas a crítica estão dizendo. Vocês podem interpretar uma obra com seus próprios olhos, essa é a questão. Qualquer ideia pode ser vista como seu oposto quando visualizada a partir de outro ponto de vista. Neste sentido, a categorização seria apenas por conveniência.
Louis bufou e ele continuaria aquilo se uma mulher em cima de um salto alto não tivesse aparecido na porta chamando pelo professor.
- Preciso de um minuto seu, querido.
Ela é elegante e fina até no modo suave de falar. Veste branco e o cabelo loiro curto com uma franja bem alinhada dá a impressão de clareza.
Harry verifica seu relógio de pulso e como se ele tivesse o comandado, o sinal toca a favor deles.
- Todo o tempo do mundo, Srta. Swift.
Harry junta suas coisas sendo um pouco atrapalhado e avisa que continuarão o assunto na próxima aula, saindo apressado com a Srta. Swift. Os alunos se vão, mas Louis continua sentado sentindo a dor no peito. Ele pensa que enquanto não terminar a conversa com o Sr. Styles, não vai sossegar. Também pensa que o borrão de uma lembrança esquisita com esse professor que nunca vira antes, deve ser maluquice da sua cabeça.
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Louis esperava no estacionamento e não se surpreendeu quando Zayn chegou numa Harley nova para buscá-lo. Louis apenas riu e o deixou ajudar a vestir o capacete, orientando que Louis segurasse firme em sua cintura. Zayn cheira a perfume amadeirado e cigarro de cravo. Louis não tem medo de velocidade, mas ainda assim foi o trajeto todo de olhos fechados e apenas sentindo o vento contra o rosto. Um toque leve de liberdade. O estresse na aula foi quase desintegrado dessa forma.
Zayn o levou a uma galeria de arte no centro de Amsterdã. Não é como uma dessas galerias caras e renomadas que Louis vai com Mark e Greg nos fins de semana. Se Zayn não tivesse afirmado com certeza que esse era o lugar certo, Louis iria pensar que a fachada é apenas uma casinha simples de um morador local.
Zayn bate à porta e um senhor curvado atende portando um sorriso simpático. Lá dentro se parece ainda mais com a garagem de uma casa, mas é tudo muito limpo e encantador. Louis fica admirado e enquanto o senhor conversa com Zayn sobre o horário de atendimento, Louis vai direto para as obras expostas na parede com muito cuidado.
São de artistas independentes, o que só faz Louis amar ainda mais.
- Gra Fraccaroli - Zayn diz atrás de Louis - artista italiana.
Louis inclina a cabeça para olhar Zayn com os olhos brilhando.
- É lindo.
- Sim, é lindo - Zayn responde avaliando todo o rosto de Louis que ruboriza instantaneamente pelo elogio de duplo sentido. Zayn voltou a olhar para o quadro com um sorriso ladino - Eu sabia que você iria gostar.
- Como conheceu esse lugar? - Eles caminham pelo salão parando em cada uma das obras.
- Assim que cheguei na cidade eu pesquisei algum evento cultural gratuito e encontrei esse em um site. - Zayn mantinha as mãos no bolso.
- Eu cresci nessa linda cidade sem saber a relíquia que ela esconde?
- Você não está escondido. - Zayn cutuca sua cintura e Louis riu, negando sem jeito.
Eles passam mais uma hora lá dentro, comentando as técnicas e admirando todos os trabalhos expostos. Depois deram atenção ao idoso que os recebeu e Louis, curioso como sempre, não resistiu e quis saber a origem desse pequeno e pitoresco lugar. O proprietário construiu a galeria para sua amada e falecida esposa. Ele resolveu transformar a garagem da casa deles em uma galeria de arte com aparência de conforto caseiro, como era o sonho deles. Louis adora histórias de amor, ele é um romântico incurável e nunca se nega a ouvir.
Quando saíram da galeria ele se assustou com o quão rápido a noite chegou e sentiu vontade de visitar o pai antes de voltar ao próprio apartamento. Zayn levou Louis para a casa de Mark a seu pedido e os dois combinaram de trocar mensagens mais tarde. Em nenhum momento Zayn passou dos limites de Louis, sempre educado. Louis foi o caminho todo pensando se aquilo era um encontro. Se fosse, teria sido o seu primeiro e ele adorou. Zayn é ótimo.
- Sr. Tomlinson, sentimos a sua falta - disse o porteiro do condomínio onde fica a casa de Mark.
- Dois dias longe e eu já faço falta com minha desordem, não é mesmo?
- Esse lugar é muito silencioso sem o senhor.
Louis riu e entrou a passos rápidos na casa. Nem os empregados estavam nos primeiros cômodos, mas o cheiro de flores e a limpeza impecável é indício de que tudo continua bem cuidado e muito belo por ali.
Inclusive Mark, no escritório da biblioteca com a porta aberta. A luz da biblioteca é mais forte e ilumina o cabelo brilhante e macio dela.
Louis suspira e encosta no batente. Ele cruza os braços esperando ser notado. A reitora está ocupada com o rosto sereno na papelada sobre sua mesa.
- Se você não ficar para o jantar, te acusarei de abandono - Mark ameaça brincando sem olhar para Louis.
- Ouvi dizer que você não vive sem mim.
- E é verdade! - Mark deixa os papéis de lado e olha para Louis fazendo drama - Estou considerando a possibilidade de ir morar com você naquele apartamento minúsculo.
- Como a senhora tem coragem de chamar aquilo de minúsculo? É a cobertura do dormitório e tem três quartos!
- Eu sou espaçosa.
- Sei que é, está ocupando o meu coração inteiro há 19 anos. Onde está Greg?
- Preparando aula na casa dele.
- Por que vocês não moram juntos se estão noivos e ainda mais com você se sentindo sozinha nessa casa enorme? - Louis entra no escritório e dedilha os livros da prateleira, só por distração.
- Medo da sua reprovação, eu acho - Mark foi sincera e Louis revira os olhos ainda sorrindo.
- Eu jamais reprovaria sua felicidade, ainda mais ao lado de alguém que ama tanto.
- Claro, esse é você.
- Além disso, vocês dois irão casar e é óbvio que Gregori virá morar aqui um dia ou outro.
- Certo - Mark vai guardando os papéis - Aliás, você tem que estar no salão do Boerderij Hotel nesse fim de semana com sua amiga Bleta.
- Por que?
- Jantar de noivado com toda a família e amigos próximos.
Louis se aproximou de Mark e abraça ela pelos ombros, precisando se curvar na altura da cadeira.
- Estou extremamente orgulhoso e feliz por vocês.
- Eu sei, pedacinho de mim - Mark beija o topo de sua cabeça.
Eles vão para a sala de jantar, quando a cozinheira avisa que a mesa já está posta para os dois.
Por não ser tão distante, Louis decide caminhar aqueles trinta minutos até seu dormitório na universidade. Serve para digerir a comida e pensar sobre a possibilidade de estar enlouquecendo numa espécie de dramaturgia particular. Um jogo da mente para o entreter com os sentidos de forma tão intensa e sem sentido.
Ele suspira e aperta o botão do último andar, no elevador. Não é possível que apenas de olhar para outros olhos e um sorriso Louis sinta tanta coisa.
E por que o sorriso e os olhos de Harry Styles o lembram de um relicário, a cor âmbar e o choro perturbador de uma criança?
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Vocês devem estar confusos, eu sei, mas não desistam de Aruna. Por favor!
Juro que tudo será esclarecido em breve.
O que estão achando até então?
Que lembranças são essas?
Quais suas teorias?
Até a próxima!
Estou no Twiter: @_shakesqueer
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