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Brasil, 1980

Narrativa alternada
entre Harry e Louis.

═───── (Década de 1980;
Rio de Janeiro - Brasil)

Há esse grau de sobriedade que Louis identifica em si mesmo que é o suficiente para saber quando pode ou não tomar uma decisão sozinho, sem a ajuda de seu agente.

Agora, por exemplo, ele sabe que pode tomar uma atitude sozinho pela causa, já que a aliança não aceita sua ideia de luta e o acusa de ser uma ameaça para a proteção do grupo.

Uma ameaça, pensou debochado e se lembrando de todas as vezes que salvou a guerrilha sem pensar duas vezes. Que piada de mau gosto!

Só porque atualmente Louis está atingindo um nível de estrela do Rock Internacional, pelo menos em toda a América Latina.

Isso deveria contar como ponto positivo para disseminar a ideia de democracia, mas aparentemente o seu efeito é o oposto: a aliança acredita que Louis chama muita atenção e chapado ele é mais sincero do que costuma ser sóbrio, isso significa uma puta língua solta. Uma ameaça para os abrigos secretos dos ativistas, para os segredos sussurrados nas alcovas sobre todos os planos de guerra contra a ditadura militar e para toda a intenção de ação em batalhas.

Uma grande merda do inferno, ele acha. Porque Louis esteve nas lutas desde 1967 e está sendo afastado depois de 15 anos de atividade. Ele já fala um monte de coisa bem direta nas suas músicas e escapa da censura e das ameaças, até em armas Louis já pegou para defender a tão sonhada liberdade democrática e olha só onde foi parar; expulso da luta só porque é incapaz de manter o bico fechado e porque defende a ideia de anarquismo ao invés do comunismo.

Um absurdo.

Bando de filhos da puta! pensou enquanto apertava o spray com força contra o muro, como se sua raiva pudesse se converter em tinta.

Ele não os odeia, no entanto.

Louis se sente traído, mas ama tanto a causa e as pessoas lutando por ela que pode fazer o que acha certo sozinho, sem ser uma ameaça direta.

A partir de agora, se pegarem ele, Louis poderá dizer sem hesitar que luta contra o governo sim, mas é sozinho.

Se perguntarem se ele conhece algum desses rebeldes, ele pode dizer a verdade porque sempre mentiram suas identidades até uns para os outros, garantindo proteção em caso de delações: ele dirá que não conhece ninguém.

Mesmo que Louis conheça um deles.

Esse único ativista que conhece é Zayn e Louis nunca denunciaria Zayn, nunca.

Pode-se dizer que Zayn é um velho amigo, mesmo sendo uma vadia que só aparece para levá-lo para a cama e depois desaparece por meses até se encontrarem de novo em outra reunião da aliança. É um ciclo, mas um ciclo viciante, tão viciante quanto as merdas que Louis costuma cheirar antes de subir no palco. E honestamente, não é como se Louis fosse diferente de Zayn no quesito amante descarado.

Ele sempre vai na onda da coca com os outros, com convidados do camarim, com caras da sua equipe de banda, com fãs, com qualquer pessoa disposta a amar por uma noite ou só por umas horinhas.

Mas é que Zayn esteve presente em sua vida de forma esporádica, desde que Louis chegou ao Rio de Janeiro e ele nunca teve ninguém tão presente para comparar, pelo menos não que se lembre. Além disso, Zayn tem essa familiaridade e trás alguma coisa que pinica seu coração quando Louis está sóbrio e se lembra de fragmentos dos momentos deles na cama. São só esses momentos rasos e fúteis, mas são constantes e o mai perto que conhece de amigo.

Os caras da banda vivem entrando e saindo. Um novo baterista, um guitarrista que reveza com os cinco primos que também tocam teclado e etc. Fora isso, tem seu agente sempre presente no trabalho, mas ele é um velho de sessenta anos ranzinza que só pensa em dinheiro e agenda.

Então, talvez seja esse o motivo de Louis achar que Zayn é o seu único amigo, porque eles podem trocar algumas frases de diálogo sem que o assunto seja a porra da sua fama fantástica de rockstar, no intervalo entre tirar e colocar as roupas.

A tinta molhada escorre no muro, mas Louis não poderia estar mais satisfeito com o resultado.

Ele sorriu se lembrando da vez que fez algo assim com o ex-baterista da sua banda (antes do cara ser expulso por dizer umas merdas homofóbicas) e Zayn no galpão de uma escola de samba. Se Zayn estivesse ali agora para ver esse grafite, faria alguma piada boba sobre os militares mamar no pau deles. Louis riu mais ainda com o pensamento, mas a risada morre precocemente quando as luzes vermelhas da sirene refletem no muro.

- Puta que pariu - resmungou abandonando o spray no chão da calçada.

Ele se apressou o mais discreto possível para fugir. Virou na primeira rua oposta ao Opala Comodoro da polícia, com as mãos nos bolsos para esconder os dedos sujos de tinta. Seria uma questão de tempo até o encontrarem.

Infelizmente (infeliz pra caralho mesmo) Louis é famoso o suficiente para ter certeza que foi denunciado por alguém que faz parte do público que o detesta por ele ser um artista explícito. Isso significa que os fardados irão caçá-lo de um jeito ou de outro, contando com o fato de estar na lista de suspeitos do governo há muito tempo graças a sua língua solta e as letras de suas músicas que esbanjam duplo sentido.

Por sorte, ele avista uma escola pública com um muro baixo e ridículo. Qualquer um poderia pular sobre ele, inclusive Louis, que faz isso rapidamente.

Lá dentro ele pode correr para se esconder com mais pressa, antes que alguém o veja e piore a situação. Sua intenção é se enfiar num canto até ter certeza que a viatura desapareceu por desistência temporária.

São cerca de seis da noite, o sol carioca está indo embora e dentro da escola já está escuro. Ainda assim, ele pode ver a sombra de um homem alto caminhando de cabeça baixa no pátio, na direção de Louis, que olha para trás tentando identificar o que está escrito na placa acima do espaço estreito entre paredes que escolheu se esconder. Caralho. É uma sala de professores.

O cara ainda olha para baixo, para o molho de chaves em suas mãos, todo atrapalhado em tentar descobrir qual é a chave certa para abrir a sala e isso faz com que Louis não tenha sido notado ainda, mas logo será, porque está encurralado e o outro se aproximando.

Não tem como num inferno de possibilidade que ele não seja pego agora e geralmente os professores são simpatizantes da causa pela democracia, mas quem garante que esse sujeito atrapalhado não seja um professor conservador pronto pra entregar a bunda de Louis à polícia?

Ele está fodido.

- Puta que pariu, que susto, porra! - o homem vociferou quando ergueu a cabeça e Louis sentiu o rosto perdendo a cor.

Nesse momento o mais sensato é correr, só que não dá.

Estranhamente, se sente preso ali, encurralado entre a parede e os olhos verdes o inspecionando.

- Eu devo chamar a polícia?

- Você não tem cara de quem gosta de encontrar com aqueles porcos.

- Talvez eu não me importe.

- Isso é um sim.

- Você...

- Sim, sou o Louis, o vocalista da Walls. Quer um autógrafo? Posso assinar quantos você quiser e depois você pode vendê-los se me ajudar a sair daqui sem ser visto.

- Não era isso o que eu ia dizer - o professor franziu o cenho, parecendo ofendido pela proposta - você não se lembra de mim?

Ah, tem isso.

Louis transou com mais da metade do Rio de Janeiro e ele não tem vergonha disso. São momentos que gosta de ser delicado e dar amor às pessoas fora de sua música brutal, é sempre um carinho sincero, ele não é um babaca em tempo integral. Não o tempo todo. Porque tem esse momento depois que a pessoa vai embora da sua cama, que Louis esquece como a pessoa se chama e até do rosto delas. É muita gente pra ele lidar por dia e também tem as drogas corroendo sua memória. Mas Louis tem quase certeza, pelo olhar intenso o fuzilando, que esse professor fez parte de uma ou duas das suas noites.

- Todas as vezes nos últimos quinze anos em que nos encontramos, você se esquece de mim.

- Desculpa cara, não quero ser indelicado, mas é que eu vejo muita gente e a maconha é a única amada que eu consigo me lembrar todos os dias.

- Isso soa indelicado, sim.

- Me diga o seu nome.

- Harry Styles.

- Nome de gringo, bacana.

- O seu também, Louis não parece algo brasileiro.

- Mas o meu nome é artístico.

- Você nunca me disse o seu nome verdadeiro.

- Eu te digo se você me ajudar a fugir.

- Eu ia te ajudar de qualquer forma.

Dali eles podem ver o carro da polícia estacionar na frente da escola e Louis ia xingar, mas Harry fez isso primeiro.

- Qual o problema, você não é professor dessa escola?

- Eu sou, mas não tenho permissão pra estar aqui a essa hora. Eu invadi para trabalhar em paz porque curto o silêncio depois dos turnos e eu até posso me justificar para eles se...

- Olha, gatinho, vou adorar saber mais dessa história depois, mas a gente precisa correr agora e a saída está bloqueada.

- Vai chamar muito atenção.

- Você tem outra solução pra nos tirar dessa?

Pela cara que Harry faz, ele tem sim.

Louis é puxado pelo pulso e eles caminham rápido para o lado que Harry veio. Os policiais jogam a luz da lanterna na direção do pátio em busca de algo (de alguém) e Louis pensa nesse momento que está fodido de vez, mas surpreendentemente, Harry o joga para dentro de um espaço minúsculo.

O professor entra também e os dois ficam espremidos um contra o outro. É meio abafado e é impossível se mover, mas parece seguro.

Além disso, por mais clichê e brega que pareça seus pensamentos, Louis está adorando ter o corpo assim, colado no outro.

Louis tem a cabeça inclinada, encostada contra a superfície gelada atrás de si e o queixo toca suavemente a bochecha de Harry. Ele consegue sentir o cheiro de perfume doce que não é enjoativo, na verdade é bem encantador. Louis aspira sorrindo e consegue sentir Harry se arrepiando contra sua pele, então sussurra:

- Como eu fui capaz de esquecer você?

- Sempre contribui para isso - Harry respondeu sussurrando também.

- Sempre? Falando assim, parece que estivemos juntos mais de uma vez.

- Na primeira vez você ainda era estudante da USP em Sampa, fomos presos juntos na marcha dos cem mil em 68.

- Você me comeu numa cela?

- Foi algo mais ou menos assim.

- Eu tava muito doido porque não me lembro nem como saí da delegacia.

- Eu também.

- O que você usa?

- Eu tinha bebido um bocado.

Eles ficam em silêncio. Harry parece desconfortável com a perna direita porque a bolsa carteiro está pressionando e lhe roubando espaço. Louis puxa a coxa dele para cima e o ajeita perto da sua. Harry suspira.

- A segunda vez foi numa reunião do colina.

- Shiiiu - Louis se apavorou.

Não parecia ter alguém perto ainda, mas se escutassem Harry falar essa palavra, os dois estariam oficialmente mortos e pior: colocando os outros em perigo. Os membros comunistas estão todos sendo caçados e só de saber que existe o colina é um indicativo de fazer parte do grupo.

Louis não é comunista, ele está na guerrilha por anarquismo, mas já esteve com o grupo do colina e não gostaria que esses guerrilheiros fossem entregues. Principalmente porque um dos membros mais caçados é Zayn que, aliás, sumiu porque tem que ser assim. É melhor ele ter sumido mesmo porque se continuasse pelo Rio, já teria sido pego há muito tempo.

- Transamos a noite inteira depois daquela reunião, mas nós não estávamos sóbrios, de novo.

- Ei, não fale sobre essas reuniões, não aqui.

- Ok - Harry parecia chateado - mas posso falar das quatro vezes que fui ao seu show e consegui entrar no seu camarim?

- Tá me zoando? Não acredito que transamos tantas vezes se não me lembro de você e como conseguiu entrar se minha segurança é pauleira?

- Caju.

- Aquele moleque burguês filho da mãe - Louis sorriu porque é assim que todos chamam Cazuza - ele acha que pode circular com os fãs nos bastidores da Walls só pra se exibir.

- Você não é diferente, soube que circula pelos bastidores do Barão Vermelho com suas conquistas.

Tem um teor nesse comentário que faz Louis sorrir ainda mais... é como se fosse acidentalmente ácido e meio debochado.

- O que é isso?

- Hum?

- Parece ciúme.

- Não viaja, nem nos conhecemos.

- Se fomos pra cama umas cinco vezes - bem mais que isso, Harry corrigiu, mas Louis não se interrompe e nem se corrige - você me conhece o suficiente pra saber que sou carinhoso e cheio de amor pra dar. Não precisa sentir ciúme, gatinho.

- Cheio de amor pra dar - Harry repetiu e deixou uma risada escapar com a respiração e em seguida morde os lábios. Dá pra sentir a dureza de Louis contra o seu quadril. Se Harry soltar os lábios irá gemer, eles sabem disso.

- Desculpa, mas a sua voz - O sussurro de Louis vem com os lábios raspando o lóbulo da orelha de Harry. Ele se arrepia muito mais, é quase febril e Louis percebe seu efeito - é sexy pra caralho.

- Louis...

- O que foi? - Provocou e tentou mover a mão para conseguir, com sucesso, apertar a cintura de Harry.

- Você está sóbrio?

- Não entendi.

- Você. Está. Sóbrio? - Harry perguntou pausadamente.

- Eu nunca estou.

- Porra.

- O quê?

- Prometi que nunca mais ia cair no seu colchão assim.

- Por que?

- Não é legal.

- Se você quer e eu também, acho bem legal.

- Não é.

Outro silêncio. Louis afasta a mão do quadril de Harry. Eles estão presos ali provavelmente há uns quinze minutos, mas ainda não parece seguro.

- Por que das outras vezes você veio até mim, então?

Harry demorou pra responder, como se precisasse pensar bem antes de dizer.

- Porque eu também não estava sóbrio.

- Agora você é careta?

- Eu tive que parar, eu tenho uma filha e ela não estava feliz me vendo entrar nessa onda.

Louis não está chocado com a revelação. Ele mesmo já tem 35 anos e não se envolveu com alguém muito mais novo, então, provavelmente, considerando também sua profissão, Harry deve ter mais ou menos essa idade.

Louis nunca se envolveu com gente muito mais nova. Cazuza, por exemplo, vive insistindo e invadindo seu espaço há anos, mas Louis não vai levar ele pra cama enquanto aquele garoto for um moleque mimado do Leblon, mesmo que já tenha atingido a maioridade porque Louis só vai dar uma chance quando Caju parar de agir feito criança. E mesmo que de alguma forma seja amigo de Cazuza, Harry não parece um desses adolescentes playboys que se enfiam entre os artistas para parecer descolado. Dá para perceber pelo jeito que ele fala como é um cara maduro.

Louis tem uma queda fodida por homens maduros, deixa ele cheio de tesão.

- Um pai de família.

- Família eu não sei, mas pai eu sou.

- Isso soa bem sexy pra mim.

- Puta que pariu, se controla.

- Não consigo - Louis riu porque consegue sim e até já parou de pressionar o corpo de Harry no seu, mas os flertes ainda vai usar porque é engraçado e ele pode tentar.

- Eu estava falando comigo mesmo.

- Não consegue se controlar? Não precisa.

Harry resmunga alguma coisa antes de virar o rosto e beijar Louis de um jeito esquisito, meio desconfortável no início por causa do pouco espaço, mas logo eles esquecem tudo e apenas se envolvem até o beijo estar mais do que bom.

As mãos de Harry Styles apertavam sua bunda com força e Louis puxava o seu cabelo comprido nos dedos, desejando tocar outras partes desse homem gostoso. Por tudo o que há de mais sagrado, ele quer sair desse cubículo imediatamente e quer que Harry foda ele com a mesma força que aperta o corpo musculoso no seu.

- Eles já foram - Harry diz, se afastando. Louis se sente ligado a ele mais do que aquele fio úmido entre seus lábios - os policiais, eles já foram, podemos sair daqui.

- E você vai me comer?

- Você ainda tem que fugir, não tem?

- Provavelmente sim, mas também, tenho que fazer um show lá na Lapa e se eles quiserem me pegar que se foda, peguem, mas eu só vou ser preso depois de fazer meu show. E você pode me esperar no camarim, o que acha?

- Você vai cheirar antes de subir no palco. - Não é uma pergunta, é uma constatação triste.

Louis não curte esse tom. Quando não usam consigo pra dizer coisas com pena dele, usam pra dizer com nojo.

- Com certeza.

Harry não diz mais nada. Ele desliza para o lado até sair daquele aperto para estar ao lado de fora. Quando sai também, Louis descobre que o espaço que estava antes era a casa de gás da cantina. Ele seguiu Harry caminhando depressa, mas quando eles chegam no portão o professor chuta a grade xingando. Tá tudo muito escuro, mas Louis consegue ver o semblante estressado.

- O que foi?

- Perdi o molho de chaves.

- Podemos procurar.

- Nesse escuro? E nós fizemos todo aquele trajeto, pode estar em qualquer lugar.

- É só pular o muro, ele é ridiculamente baixo, foi assim que eu entrei.

Eles fizeram. Harry ainda parecia zangado e não só pelas chaves. Seu humor mudou desde a conversa sussurrada quando Louis fez a proposta e confirmou que iria usar cocaína antes de subir no palco.

- Você vai pra Lapa como? - Harry perguntou ao lado de fora, na calçada.

Com a iluminação do poste, Louis conseguiu reparar ainda mais no quanto ele é bonito. Quase sóbrio, pensou que não vai mais ter como se esquecer desse cara como esqueceu das outras vezes quando estava intoxicado.

- Andando.

- Mas dá uns quarenta minutos caminhando.

- Não é tão ruim.

- É perigoso você ser pego no caminho, antes do seu show.

- Vou ter que me arriscar.

- Eu te levo - Harry respirou fundo - mas acho que você vai ter que esperar um pouco para conseguirmos o carro.

- Você tem carro? - Louis perguntou enquanto caminhavam para a outra rua.

- Meu amigo tem.

- Legal.

Cinco minutos depois eles estavam entrando num estúdio de tatuagens. O cheiro de cigarro no ambiente era forte e isso só lembrou o quanto Louis estava se tremendo de vontade de fumar e dormir, mas ele só vai poder fazer isso tudo quando chegar na Lapa e pegar suas coisas.

As paredes do estúdio são escuras, mas é um lugar bem iluminado. Havia uma mulher com cerca de cinquenta anos saindo do estúdio e Harry esperou o tatuador terminar de falar e dispensar ela para cumprimentá-lo.

- Greg, esse é...

- Louis - o tatuador disse - estrela do rock, o rei da música nacional.

- E aí cara - Louis cumprimentou simpático com um tapinha nas costas, acostumado com os elogios.

- Pode emprestar o seu carro?

- Pra quê?

- Estamos numa fuga - Greg ergueu uma sobrancelha para Harry, como se fossem capaz de conversar por telepatia - da polícia.

- O que você aprontou?

- Na verdade, foi eu - Louis disse - ele só me resgatou.

- Não fiz nada demais, qualquer um teria ajudado.

- Foi sim, você arriscou sua cabeça. Poderia ter me denunciado e se explicar pros porcos que só ficou trabalhando até tarde, mas preferiu me ajudar e duvido que tenha a ver com o fato de já termos transado.

- Vocês já transaram? - Greg praticamente gritou, muito surpreso.

Ele lançou de novo aquele olhar para Harry que deixou Louis incomodado, se sentindo de fora da conversa telepática.

- Algumas vezes.

- Algumas vezes - Greg repetiu soando pasmo - caralho, como assim?

- Depois eu te explico.

- O que? - Louis perguntou - Vocês estão juntos?

Ele imaginou que sim, se Harry tem que dar satisfação.

- Não, somos praticamente irmãos. E aí, você vai emprestar o carro ou não?

Greg respondeu tirando a chave azul com símbolo da Volkswagen do bolso e jogando no ar para Harry pegar.

- Espera, acho que dá tempo de fazer uma tatuagem - Louis perguntou - o que acha?

- Corajoso da sua parte, o Greg não é o melhor tatuador do Rio.

- Ei, eu tô ouvindo!

- Greg, eu quero um A dentro de um O no pulso.

- É o símbolo do anarquismo?

- Sim, isso te assusta?

- Nem um pouquinho, você ficaria surpreso com quantos desses eu tatuo por semana.

Louis devolveu o sorriso largo de Greg. Isso o deixa com esperança e até um pouco feliz. Quer dizer que existem outras pessoas com o mesmo ideal de liberdade e revolução que os seus? O símbolo anarquista não é moda e atualmente tem que ter coragem para exibir um desses no corpo.

- Você é corajoso - Harry comentou entortando o nariz para Louis que esticou o pulso para mostrar onde gostaria de ter a nova tatuagem.

- Faça uma também.

- Não vai ficar legal em mim.

- Qual é...

- E eu sou um professor, já pensou o que diriam de um professor tatuado?

- Você é tão careta - Louis só está provocando, porque Harry não é careta de verdade.

Não tem como um cara que transa com um rockstar, que pula o muro da escola pra ajudar um anarquista a fugir da polícia e que no passado lutou na marcha dos cem mil, ser careta. Harry está longe disso, mas Louis precisava provocar porque Harry já estava tão irritado e se somar com essa de chamar ele de careta, ele fica um tesão de homem com cara de bravo e postura rígida. Louis comeria ele com os olhos se pudesse.

- Eu não sou careta.

- Chato.

- Não sou chato, sou um aventureiro. Uma vez eu fiz um mochilão aqui pela América do Sul, sabia?

- Duvido.

- É verdade - Greg confirmou com o tom de voz entediado, como se tivesse confirmado a mesma história um trilhão de vezes, mas foi ignorado. Os dois estão muito envolvidos nessa discussão boba pra prestar atenção em qualquer outra coisa.

- Se você é um aventureiro, aventure-se comigo, Harry Styles!

- Vai demorar pra fazer a minha e a sua tatuagem, só tem o Greg de tatuador nessa sala e você ainda tem um show pra fazer na Lapa.

- Ainda faltam três horas pra começar o show, pare de inventar desculpas, seu careta!

- Inacreditável - Harry riu e desmontou a pose de bravo.

Isso causa uma coisa estranha na boca do estômago de Louis, como uma espécie de calafrio.

- O quê?

- Você está inventando desculpas pra ter um pouco mais do meu tempo.

- Se eu tivesse fazendo isso, ia te convidar pra comer feijoada no domingo ou melhor: te convencer a me esperar no camarim depois de assistir meu show pra eu te levar pra tomar caipirinha lá em Copa, perto da minha casa.

- Sei - Harry balança a cabeça - O que eu faço de tatuagem?

- Sei lá, mas faz no pulso também, fica massa.

- Tá bom.

Harry olha o catálogo de sugestões de Gregori e decide pela âncora. Uma hora e meia depois, Louis e ele estão no fusca indo para a Lapa com papel filme enrolado no pulso sobre as tatuagens novas. Para Louis é só mais uma no corpo coberto, mas para Harry é a primeira e sinceramente, ele gostou.

Sorriu pensando no que Aruna vai achar quando ver que o pai fez uma tatuagem. Provavelmente vai dizer que o Amor faz a gente tomar decisões impulsivas e corajosas. Harry olhou para Louis de soslaio, pensando a respeito.

Ele sabe que Louis está vivendo muito mais do que as outras vezes, ironicamente, por causa de substâncias capazes de matá-lo com o passar do tempo. Não é como se isso confortasse Harry e Aruna.

Louis está sempre tão chapado que seu cérebro humano é incapaz de assimilar sua paixão e foi incapaz de sustentar esse sentimento e fazê-lo florescer no pouco tempo que Harry teve em todas as vezes que transaram nessa sua nova versão.

Quando chegaram no Circo Voador, Louis apontou os fundos da lona onde há um grande estacionamento improvisado no terreno abandonado. Ele dirigiu o fusca até lá em silêncio, pensando sobre ter que ser forte em negar o convite.

Harry não quer mais fazer isso assim, Aruna o odiaria se descobrisse que Harry cedeu as seduções deste Louis no estado intoxicado que ele sempre se encontra. Ela está em Paris com Niall, mas saberia porque as notícias entre eles correm. Ela já estava brava em saber que Harry também vivia embriagado porque se enfiava no meio social de Louis, ela não quer saber de dois dos seus pais acabados com essa merda.

E honestamente, Harry concorda com ela.

- Silencioso - Louis chamou sua atenção.

Ele já estacionou. Estava com as mãos segurando firme o volante, tentando se conter. Ali não tem movimento nenhum, parece uma área reservada, mas dá pra ouvir o som alto de dentro do Circo. Já estão acontecendo os shows de abertura e com certeza a banda Walls será a atração principal porque eles são o maior fenômeno do Rock nas últimas duas décadas e até fora do Brasil.

E a estrela da noite, o Sol de Harry, estava sentado bem ao seu lado acendendo um cigarro que encontrou no painel do carro de Gregori. Lindo, triste, cansado, mas sempre amoroso.

Zayn contou para Harry tudo o que Louis sofreu na infância e os traumas que carregava do passado e que danificam o seu presente. Machuca só de imaginar tudo o que o seu amor passou sozinho nessa vida.

- Eu quero te dar um presente - Louis disse antes de saltar para os bancos traseiros do carro.

Havia umas peças de roupas e bagunças de Gregori jogadas que Louis afastou para ganhar espaço. Harry o encarou pelo retrovisor, com dúvida, mas já deveria saber do que se tratava conhecendo Louis como conhece.

O rockstar mais gostoso do mundo está abrindo o zíper do jeans e puxando as calças para baixo.

Harry piscou rápido.

- Eu disse pra você que...

- Mas eu não tô mais chapado e eu não quero ir embora sem te agradecer direito.

- Não precisa me agradecer com sexo, é só dizer obrigado.

- Obrigado, Harry, mas você tá com vontade e eu também tô, então qual o problema em aceitar se seus olhos estão colados na minha bunda desde que nos esbarramos?

Harry soltou uma risadinha.

- Você é sempre tão sincero e direto.

- E você adora isso, olha pra sua cara.

Harry sabia da sua expressão causada por Louis todas as vezes, ele não precisava confirmar que seu rosto quase entrega o que seu coração sente.

- Pode ser que eu adore, você nunca vai saber.

- Se te servir de consolo, eu adorei você também. Aliás, eu posso demonstrar minha adoração de joelhos.

- Louis...

- Ou de quatro, hum?

- Não peça o que não pode ter.

- Por que não?

- Já falamos disso há pouco tempo.

- Parece besteira se você quer e eu quero, estamos aqui agora e esse é o único tempo que realmente me interessa.

A palavra tempo soa chiando no sotaque nordestino - porque é de onde Louis veio - e Harry não tem mais controle.

Ele vasculhou o mesmo lugar que Louis encontrou cigarros e encontrou camisinhas.

Gregori e suas coincidências convenientes.

Meio afobado, Harry passou para o banco de trás quase caindo, mas conseguiu fazer uma manobra para que Louis estivesse em seu colo.

Eles se beijam afoitos e Harry tem certeza que vai se arrepender disso em algum momento mais tarde, mas não adianta fugir do seu amor porque os dois são pólos magnéticos desde sempre e para sempre.

- Promete que está sóbrio?

Louis resmungou em confirmação porque sua boca estava ocupada beijando o pescoço de Harry e as mãos tremendo para abrir dois botões da camisa. Eles não tiram toda a roupa, mas Louis quer esse pedacinho de pele exposta para lamber e sentir se o gosto é tão delicioso quanto o cheiro. Ele testa - Harry está gemendo - e realmente é. Tem um relicário de bronze em formato oval que Louis afastou para trás do ombro de Harry afim de ganhar mais espaço para beijar sua pele abaixo do cordão.

Algum tempo depois, Louis estava sentando sem parar, flexionando os joelhos, rebolando, deixando Harry gemer alto contra sua boca e ele precisava confessar que transar sóbrio era 100% mais gostoso. Ele podia sentir muito mais do que a excitação, ele podia sentir também essa adrenalina extraordinária correndo em suas veias e queimando sua pele, brilhando como os olhos verdes brilham na sua direção. E havia os lábios inchados e vermelhos de Harry entreabertos, porque ele era incapaz de falar enquanto Louis sentava cada vez mais rápido e fundo em seu pau.

Mas talvez tenha algo a ver com o companheiro em questão. O professor é um espetáculo de homem, gostoso pra caralho e sabia usar as mãos.

Louis nunca se sentiu tão protegido e envolvido por uma presença real como se sentia agora. Em toda a sua vida, a cocaína era sua parceira mais fiel e ele não é tão precipitado a ponto de dizer que Harry mudou tudo numa foda, mas que ele trouxe essa sensação de presença verdadeira, presença de mente e coração, de estar com Louis de verdade, ah... ele trouxe.

E Louis odiava comparar, mas era inevitável pensar que dessa vez foi até melhor do que as sensações que Zayn trazia quando transavam.

Louis puxou o cabelo de Harry com uma mão e apoiou a outra em seu ombro.

Harry envolveu a mão em seu pau para masturbá-lo no mesmo ritmo e eles terminam, com Louis gozando primeiro e Harry demorando um pouco mais, para depois vir com um grunhido rouco que faz Louis estremecer e gemer com a cabeça jogada para trás.

Ele percebeu que estava atrasado para o show só depois de erguer as calças. Louis sabia que desceria daquele palco direto para uma viatura, mas não tem medo.

Ele defendeu o que achava certo e se para lutar por liberdade precisa morrer, Louis morreria quantas vezes fosse necessário.

- Isso foi intenso.

- Nós dois estamos sóbrios.

- Tem razão, vamos torcer para que da próxima vez que você me encontrar eu esteja sóbrio de novo. - Louis riu sozinho da própria piada, Harry estava com aquela tensão em sua expressão de novo - Te vejo por aí?

- Acho que sim.

- Legal, valeu por me resgatar hoje!

- Sempre que precisar, Lou.

Ele deixou um beijo rápido na boca de Harry e sentiu uma agitação no peito, mas afastou para acender outro cigarro furtado e correr para dentro do Circo.

═───── (6 anos depois)

Louis não foi preso e nem morto.

Ele foi exilado, assim como muitos outros artistas que defendiam o fim da ditadura militar. Ele preferia a morte, honestamente, porque nunca sentiu tanta dor por deixar para trás o lugar que ama por culpa de fascistas nojentos.

A vantagem desses 6 anos foi a desculpa inventada pelo governo sobre o seu afastamento repentino, até porque Louis era a maior estrela do rock nacional da atualidade.

Eles mandaram dizer que Louis estava indo para a França se tratar em uma clínica de reabilitação especializada e não mentiram, eles realmente enfiaram Louis numa dessas.

Seu agente foi o responsável legal de seus bens e cuidou de tudo para quando a estrela voltasse ao Brasil. Agora Louis está voltando, mas não é como se seus ideais de liberdade e democracia tivessem sido abandonados naquela clínica. Louis voltou com ainda mais força e coragem para lutar.

Ele ouviu dizer que a maior parte do povo brasileiro também está cansado e disposto a ir para as ruas reivindicar seus direitos. Há um sujeito causando burburinhos, um nordestino igual Louis, se tornando popular entre o povo e a classe trabalhadora.

Era disso que precisava: aliados.

Louis chegou no Rio cercado de fãs. A recepção foi emocionante. Teve tumulto, quase uma hora de autógrafos, uma curta e supérflua declaração aos jornalistas, uma promessa de voltar aos palcos no próximo ano - já que é quinze de dezembro e ele não tem nada programado para fazer até lá - e enfrentou o engarrafamento extasiado pela emoção de estar de volta em casa.

Naquela semana ele só dormia, chorava, tinha abstinência, investigava o paradeiro de Zayn, se frustrava, transou só duas vezes, teve mais abstinência e se conteve porque precisava continuar sendo forte.

Depois ele fez exercícios recomendados pelos terapeutas e chorou mais um pouco sozinho no dia dezenove - ele chorou porque nos últimos tempos ouviu dizer que chorar alivia - e fumou umas trinta carteiras de cigarro porque estava permitido a consumir nicotina, o que ajuda a não se machucar e então, Louis chorou fumando na varanda da sua cobertura em Copacabana enquanto via de longe as luzes natalinas e escutava as músicas típicas daquele evento melancólico ressoar pelo condomínio, mesmo que ainda nem seja noite de Natal.

As cinzas do cigarro caem eventualmente, queimando o pulso. Louis passou o dedo sobre a queimadura como se fosse aliviar sua pele, mas obviamente isso só piora.

Lembrou de quando fez aquela tatuagem horrível, que também foi a noite que precisou correr para fora do país.

E foi quando transou com aquele professor delicioso, Harry Styles.

Ah, Louis se sente quente só de lembrar!

Ele deveria buscar o cara, procurar por aí. Ele já estava pensando nisso nos últimos seis anos e pensando ainda mais desde que voltou ao Brasil.

Louis vasculhou na memória e lembrou-se onde poderia o encontrar.

Trocou de roupa, pegou uma garrafa de água, carteira de cigarro, um boné e óculos escuros para disfarçar. Dirigiu sua Mercedes-Benz para o subúrbio carioca, até a escola pública. Esperou o horário do fim das aulas da tarde, mas não viu Harry saindo. Esperou uma hora e os portões da escola foram trancados, mas nada do professor sexy aparecer.

Louis riu pensando na possibilidade dele estar de novo se escondendo para trabalhar até tarde e pensa também no quanto parece ridículo se sujeitar a uma espera de horas só por causa de uma foda.

Mas no fundo, ele sabe que não é só uma foda.

Harry foi diferente, ele despertou coisas em Louis, que agora pode admitir a si mesmo sobre aquela única noite ter ficado cravada em sua cabeça por anos a ponto de fazê-lo sentir saudades.

Cansado de esperar no carro e seguro de que não seria visto na rua deserta àquela hora, Louis se arriscou em pular o muro como havia feito anos atrás. Ele não tem a mesma habilidade de antes, no entanto.

Ultimamente ele havia sido obrigado a fazer exercícios físicos que ajudavam a manter sua sobriedade, mas também, agora Louis tem 41 anos e ele sente a idade chutar seu traseiro. Deve ser isso que o faz cair no chão e torcer o pé.

Ele resmungou um palavrão porque doeu pra cacete, mas duvida muito que seja grave a ponto de deslocar ou quebrar seu pé, então segue o plano de vasculhar até encontrar o professor.

Obviamente, Louis não o encontra em lugar algum porque o tempo corre.

Eles não ficaram presos naquela bendita noite, pode ser que tudo tenha mudado na vida de Harry e ele nem trabalhe mais ali.

Caminhar está sendo uma tarefa árdua com esse tornozelo fodido da queda, por isso Louis desiste e se desdobra para pular o muro de novo, o que só piora a dor.

Quando chegou no carro, lembrou do estúdio de tatuagem do amigo de Harry e dirigiu até lá.

A loja estava aberta e reformada. Agora a entrada é feita de vitrines de vidro expondo fotografias e artes. Greg parece ter aperfeiçoado suas habilidades de tatuador. Louis entrou no estúdio vestido em seu óculos escuros e boné na tentativa tola de disfarce e rodando as chaves do carro na mão de uma maneira ansiosa.

Assim que botou os pés para dentro, a primeira pessoa que o reconheceu foi um fã sendo tatuado.

- Puta que pariu, é o Louis da Walls!

Ele faz careta porque só queria encontrar o gatinho e ir embora na paz, mas terá que ser legal com um fã porque não é um babaca e Louis deve isso a essas pessoas que o amam.

Ele cumprimentou Greg que lhe encarava com curiosidade, mas ainda não faz perguntas na frente do cliente, sobre a visita inesperada. O cliente se empolga e pede um autógrafo que vai aproveitar para tatuar. Louis fez, alertando que não é uma boa ideia porque sua letra é péssima, mas o fã não se importou e parecia animado.

Eles conversaram sobre Louis ter passado um tempo fora e ele não dá mais detalhes do que já deu à imprensa. Pelo menos Louis conta que vai se reunir com a banda para ver se podem retornar às atividades no próximo ano.

Quando finalmente estão à sós, Louis olha o catálogo de sugestões de tatuagens e encontra uma corda parecendo servir de conjunto para a figura de âncora desenhada abaixo. Louis gostou desse. Apontou para Greg pedindo por ela no outro pulso porque um deles já havia o símbolo anarquista que ele não iria se desfazer.

- Você veio procurar o Harry? - Greg perguntou mais tarde, quando estava quase terminando a tatuagem.

- Sim.

- Ele está dando aulas numa Universidade particular aqui no Rio, hoje é o último dia de aula e ele precisou trabalhar até mais tarde, eu te passo o endereço.

Louis dirigiu até lá depois de terminar a tatuagem. Ele foi sorrindo e pensando que se fosse por qualquer outra pessoa, teria desistido. Mas pelo Harry ele já torceu um pé, fez uma tatuagem e agora está atravessando a cidade para buscá-lo a tempo na saída de seu trabalho.

Dessa vez, assim que estacionou na frente da instituição, Louis encontrou Harry saindo todo atrapalhado.

Uma senhora uniformizada fechou os portões de ferro acenando um tchau e Harry derrubou uma pilha de pastas feitas de papéis no chão, quando foi devolver a despedida.

Louis passou um tempo dentro do carro rindo porque Harry fez aquela mesma cara de bravo que fazia há seis anos e também porque era engraçado como ele é um sujeito elegante e ainda assim desastrado.

Um homem encantador.

Louis desceu do carro para ajudá-lo. A princípio Harry não o vê, apenas encarou os coturnos de Louis a sua frente e agradeceu pela mão estendida, depois seus olhos verdes subiram e o desastrado deixou tudo cair novamente.

E honestamente, com aquele olhar brilhante e chocado, até o estômago de Louis caiu.

- Gosto de você de joelhos na minha frente e de boca aberta parece melhor ainda - Louis brincou - Mas prefiro que se levante e me dê um abraço, doce encanto.

Harry hesitou.

Ele balançou a cabeça e se levantou para abraçá-lo como se fossem velhos amigos e Louis se sente mesmo dessa forma, ele sente o corpo esquentando, o coração acelerando e uma sensação única.

Harry voltou a pegar suas coisas no chão, mas dessa vez Louis ajudou e depois o professor lhe seguiu até o carro.

- Você não estava na França? - Perguntou quando Louis já voltava a dirigir.

- Sim, mas voltei.

Harry ficou quieto, parecia tenso. Louis esticou a mão para tocar sua perna tentando permissão e Harry deixou, mas hesitou novamente, antes de entrelaçar sua mão na dele e suspirar como se sentisse alívio. Louis também sentia.

- Pra onde você tá me levando?

- Tô morrendo de saudade de casa. Acredita que eu nunca vi o Cristo Redentor de pertinho mesmo tendo morado aqui por anos?

- Eu também, nunca subi até lá.

Aquilo parecia um acordo, ver o Cristo pela primeira vez e juntos.

- De onde você veio? - Louis perguntou e se impressionou consigo mesmo porque nunca se intrigou tanto com alguém assim.

- Estudei História em São Francisco, nos Estados Unidos.

- É um gringo mesmo - Louis riu - mas eu perguntei de onde veio.

Harry deu de ombros.

- Por aí, bem longe.

- Uau, que misterioso. Você pode me dizer ter vindo do paraíso, que é um anjo, eu vou acreditar, esse é seu segredo?

Harry gargalhou alto, que risada esquisita e feia, mas por Deus, Louis está derretendo vendo ele rir assim.

Ele tem que tentar ganhar essa risada mais vezes.

Talvez possa substituir seus vícios tóxicos por esse som sedutor.

- E você veio de onde?

Louis estreitou os olhos quando parou no sinaleiro. Ele não quer soar prepotente, mas é claro que Harry sabe de onde ele veio porque todo mundo sabe. Quando a imprensa e os fãs falavam dele, gostavam de lembrar que esse foi o nordestino que ganhou o mundo.

- Tenho a impressão de que você já sabe.

- A gente pode fingir ser dois caras se conhecendo, o que acha?

- Como se eu tivesse te levando pra sair? Como vocês gringos costumam falar... hum, um encontro?

- Não é isso? Você foi me buscar e está me levando para ver uma estátua.

- Certo - Louis riu e viu as bochechas de Harry esquentarem - eu sou bahiano.

- Lindo lugar.

- É mesmo, tenho saudades de lá, mas não das pessoas - geralmente evitava lembrar de seus traumas - mas não tô afim de falar do passado agora.

- Estamos chegando - Harry mudou de assunto, percebendo o desconforto dele.

Eles sobem o morro com Louis cantarolando uma de suas músicas que coincidentemente tocou na rádio do carro, depois outra de Johnny Cash.

Ele flagra Harry de olhos fechados com um sorriso curto e meigo, como se estivesse apreciando o momento e isso causa de novo aquela bagunça dentro de si. Uma intensidade de sentimentos bons e inéditos. Louis se sentia alto e encantado, algo parecido com estar enfeitiçado.

Quando chegaram na escadaria, descobriram estar fechado. É claro que sim, considerando o horário, eles deviam ter pensado antes.

- Podemos pular as grades, ninguém vai ver.

- Você e essa mania de pular muros.

- Juro que não tem nada a ver comigo querendo saltar para fora da minha própria banda - Louis tentou fazer trocadilho e mesmo sendo sem graça, Harry gargalhou de novo, dessa vez mostrando as covinhas na bochecha e os olhos brilhando naquela escuridão do parque - é sério, vamos lá!

- Só dessa vez.

- Ida e volta, a não ser que você queira ficar preso ali comigo pra sempre, eu aprecio sua companhia.

Harry sorriu tímido, o rosto e o pescoço ganharam cor e ele brincou com o relicário para disfarçar ter ficado sem jeito. Eles descem do carro e Louis se lembra da porra do tornozelo inchado. Tentou disfarçar, mas no segundo passo Harry repara.

- O que aconteceu aí?

- Eu torci...

- Aposto que foi pulando um muro - Harry disse rindo e Louis o xingou.

- Não tem graça, seu filho da mãe, tá doendo e eu quero ver o Cristo!

Harry continuou rindo, mas o pegou no colo.

Louis estava surpreso e a princípio ficou em silêncio, chocado pela atitude carinhosa, mas depois precisa se certificar que Harry vai conseguir subir aquele tanto de lances de escadas com Louis no colo. Harry prometeu que em partes carregaria Louis nos braços e depois nas costas.

Primeiro ele ajuda Louis a pular as grades e depois começam a subir em silêncio. De novo, ele sente aquilo de presença forte, mais do que sentiu com qualquer outra pessoa ou coisa da sua vida. É incrível, parece até que Louis conhece Harry de outras vidas porque é familiar e amoroso.

A vista já está ficando incrível. Agora Louis tem suas coxas na cintura de Harry e os braços se apoiando nos ombros enquanto é carregado nas costas. Harry é tão forte que isso nem parece exigir muito esforço de si.

- Obrigado - Louis agradeceu antes de chegarem ao topo.

Harry o colocou no chão ao lado da estátua e Louis levou um tempo estupefato pela imensidão do Cristo e pela vista toda lá de cima, antes de seguir Harry devagar para poupar seu tornozelo. Eles encostam contra o parapeito de gesso apreciando a estátua. Está tudo silencioso, mas é iluminado.

Louis olhou para o lado, apreciando ainda mais o que vê: Harry.

Ele está sorrindo para a estátua e é perfeito. Todo o rosto dele é lindo, os olhos verdes intensos e os dentinhos são a coisa mais bela que já colocou seus olhos. Ele está derretendo por dentro e identifica esse sentimento, assustado.

E se estiver apaixonado?

- Que lindo.

- Também acho, geralmente não gosto muito dessas representações religiosas, mas esse monumento é realmente fantástico.

- Eu estou falando de você.

Harry nem o olhou, mas voltou a ter suas bochechas rosadas e mordeu a almofada do polegar para disfarçar a timidez.

Apesar disso, ele sorriu e Louis gostou.

- Professor de história, então?

- Sim.

- Me conte uma.

- Do que você gosta de saber?

- Dessas coisas complexas que quase ninguém acredita.

- Hum... há um estudo esotérico acreditando que a humanidade vivencia Eras. Cada Era é regida por um arranjo cósmico dos planetas e dentro dos signos do zodíaco, cada signo rege uma Era.

Harry dizia tomando uma pose de professor que fazia Louis lamber os lábios. Ele se afastou o suficiente para acender um cigarro enquanto escutava essa história com atenção.

- A Era de Aquarius é a Era mais questionadora. Onde brigavam-se mais, discutiam-se mais, a Era que buscava ser livre e não se conformava com os padrões ditados. Acredita-se que por volta dos anos 70 a humanidade estava atravessando a Era de Aquarius e provavelmente ainda estamos vivendo sobre ela...

Ele continua explicando, gesticulando, fazendo Louis se sentir inteligente por entender e questionar uma coisa ou outra só para ouvir Harry explicar e apontar empolgado. Só pra sentir essa coisa se transformando dentro de si quando viraram e entrelaçaram as mãos para apreciar a vista da cidade do Rio de Janeiro dali de cima.

Houve um momento em que Harry parou de falar e Louis quase entrou em desespero, porque ele precisava de mais dessa presença viciante e mais do que apenas as vozes traíras da sua cabeça.

- Doce encanto - Louis o chamou e Harry tremeu quase imperceptivelmente, antes de lançar o olhar intenso em sua direção como resposta - esqueci de contar a você o meu nome verdadeiro, eu prometi isso há uns anos caso me ajudasse a fugir.

- Bem lembrado.

- Eu lembro de muitas coisas de seis anos atrás, diferente de todas as outras vezes que fui um babaca por te esquecer.

- Tudo bem, deixa isso pra trás, só me diga o seu nome porque estou curioso.

- Promete não rir? Não é chique e nem artístico, mas foi o Renato Russo que me ajudou a escolher.

- Eu não seria arrogante a esse ponto.

- Eu sei - inesperadamente e quase por impulso, Harry beijou sua bochecha e Louis sorriu, pronto para dizer com segurança: - Luís da Silva Villar.

- Oxi, é lindo, por que você tem vergonha?

- Me disseram que Silva não é artístico e que Luís já tem o Gonzaga.

- Tolice, Silva carrega história.

- Ah é?

- Eu também posso te contar isso se você quiser.

- Eu adoraria - mas ao invés de ouvir a história, Louis ainda estava preso no elogio, no lindo que ouviu e acabou se esticando e atraindo Harry junto até que seus lábios se toquem com suavidade.

Primeiro é só um toque, mas depois Louis está beijando Harry com toda a vontade que havia em si nos últimos seis anos e isso significava muita coisa.

Suas mãos puxaram com força a camisa de algodão até o peitoral de Harry estar colado ao seu. E Harry é rápido em puxar Louis para cima e prendê-lo contra o seu corpo, ignorando se eles precisavam ou não de tempo para respirar.

A ponta da língua dele é feroz, arranca suspiros pesados de Louis e seus lábios molhados são sugados eventualmente.

Louis está no paraíso.

Antes ele estava só brincando, mas agora tem certeza que se Harry não for um anjo, pelo menos um Deus ele tem que ser.

É impossível alguém tão extraordinário existir e estar emaranhado em seus braços, sendo só um humano.

Louis teve coragem para sentar no parapeito com as pernas enlaçadas em Harry porque agora os beijos dele descem pelo seu pescoço.

Eles tremem, gemem, suspiram, sussurram elogios e o nome um do outro.

Eles só param quando acidentalmente Louis esbarra os dedos no relicário de Harry, que se afasta assustado e de olhos arregalados.

Louis não repara porque está ocupado tentando recobrar a consciência e sorrindo muito, muito, de rasgar o rosto, ele percebe que ainda não precisa de um cigarro porque perderia tempo demais ocupando a boca com o filtro ao invés de colocando ela em Harry.

- Você pode me deixar te chupar, por favor?

- Na frente do Cristo?

- Eu não sou cristão, mas aposto que se fizéssemos parte dessa crença ele me perdoaria por te amar de joelhos.

- Louis.

Harry repreendeu, mas é mais pela palavra amar sendo enfiada ali. Louis sabe disso porque já esperava alguma reação.

Ao invés de discutir a respeito, Louis desceu do parapeito com cuidado pelo tornozelo dolorido e se ajoelhou. Harry fechou os olhos e deixou ele abrir o zíper de seu jeans claro. Louis não se enrolou, se apoiou com uma mão na cintura do professor e a outra o ajuda a cobrir a extensão.

Harry é muito gostoso, Louis poderia repetir isso incansavelmente e todas as vezes que o toca, que Harry é muito perfeito. Uma delícia na ponta da sua língua, na maneira de gemer seu nome e como segura o seu cabelo com força enquanto Louis chupava ele até que o seu pau toque o fundo de sua garganta.

Ele poderia gozar nas próprias calças só ouvindo a voz rouca implorando por mais e mais. Louis não se afastou quando Harry gozou, ele preferiu sentir o líquido morno escorrendo em seu queixo e beijá-lo. Harry ainda estava tremendo, mas fechou as próprias calças antes de abrir a de Louis. Eles continuavam se beijando enquanto Harry o masturbava e Louis sabia que estava agarrando o outro de um jeito cheio de significado e que Harry também sentia porque é impossível uma coisa tão intensa ser unilateral.

A mão de Harry era ágil, ele é bom nisso. Fazia Louis gemer alto, xingar em deleite, se contorcer de prazer. A outra mão de Harry segurava seu quadril com força e ao mesmo tempo com carinho e quando Louis gozou, já tinha certeza sobre estar realmente e desesperadamente apaixonado.

Eles continuam colados um no outro por um tempo.

Trocam beijos serenos e suspiros cansados. É só quando Harry o pegou no colo de novo para descerem e irem embora dali, que Louis contou a verdade, porque a sua fama de vocalista é nacional, mas a de ser um cara sincero é histórica e mundial:

- Harry, eu tenho certeza que poderia derrubar todos os seus muros de insegurança. Eu falo que você é lindo e você se encolhe, acha que só pode ficar comigo quando estou sóbrio, mas na verdade eu já estou completamente embriagado pelo seu cheiro.

- Vocês artistas são tão poéticos.

Harry estava tentando desviar o foco com esse comentário, mas Louis pescou a centelha de paixão escapando em seus olhos.

É recíproco e evidente, não adianta mais fugir.

- Dessa vez eu não estou brincando. Amo você, estou apaixonado e do mesmo jeito que eu luto por liberdade, poderia lutar para ter o seu coração.

Harry parou no caminho e colocou Louis no chão.

Louis achou que ele ia pedir para repetir o que disse, mas Harry ficou com a voz entalada na garganta e os olhos fechados, travado no lugar. Ele segurou suas mãos e o puxou para um abraço forte.

Foi a melhor coisa que Louis já sentiu na vida.

Em 1974 Louis fez a abertura e assistiu ao seu primeiro show de rock, de Alice Cooper. Aquela energia brutal o deixou em um êxtase indescritível. Foi assim que ele provou seu potencial vocal para o rock, e depois levou a banda Walls a se tornar o maior fenômeno da cena musical brasileira e um dos primeiros grupos a gravar na recém nascida Som Livre - que de livre, não tinha porra nenhuma.

Ele achava que aquela tinha sido a melhor experiência da sua vida, mas agora, no abraço de Harry, ele sabia que não tinha nem comparação.

Estar nos braços dele causava muito mais euforia, era muito maior do que o que sentiu em seu primeiro show.

E como todo artista, Louis tinha sua musa inspiradora que antes não era nenhuma paixão romântica; sua inspiração partiu da deusa heroína, a carreira brilhante da estrela cocaína, o brilho deslumbrante da metanfetamina e às vezes, muito às vezes, ele relaxava com o blues da velha maconha.

Mas agora sabe que pode escrever uns 20 álbuns para Harry, dedicar toda sua discografia a ele e colocar todo o seu amor em palavras. É cafona, mas ele tem uma música ao estilo dos Menudos na cabeça para aquele momento íntimo de abraço entre dois apaixonados.

Louis está pensando sobre canções dedicadas à Harry quando escuta ele dizer baixinho:

- Eu também te amo, meu amor.

Louis fechou os olhos, relaxou nos braços do seu doce encanto, escutou o som de choro, mas não conseguiu responder um consolo e nem assimilar mais nada.

Uma estrela do rock é uma estrela, a não ser que esteja apagada.

═─── ❦ ───═

Que saudadeeeeeee

No fixado do meu Twitter
está o formulário de intenção
de compra do livro físico
de Aruna. Por enquanto
é só um levantamento,
mas em breve diremos a
data oficial da pré-venda

Eu já disse que amo vocês?
EU AMO VOCÊS!

tt: @_shakesqueer

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