Глава шестая (Glava shestaya) - Capítulo Seis
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"Luzes te guiarão para casa
E acenderão seus ossos
E eu tentarei te consertar."
Fix You - Coldplay
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VER O ROSTO DE ANDREY depois de tantos anos e saber que ele percebeu nossa conexão assustou-me imensamente. Não tive outra escolha a não ser sair de seu apartamento. Precisava respirar ar puro e pensar. Sentia-me sufocado e perdido. Pode parecer covardia, mas não sinto-me digno do meu anjinho, já cometi muitos erros que não podem ser reparados.
Andy não merece ficar ao lado de alguém tão quebrado quanto eu. Minha dor aumentou ainda mais quando ouvi seu choro desesperado e sua voz melodiosa me chamar pelo apelido que dera quando criança: Laranjinha... eis um dos motivos de nunca ter mudado a cor dos meus cabelos.
Descendo pelas escadas, em desespero, parti em minha Harley, outro objeto que me lembrava o anjinho. Ainda guardo a miniatura da moto que ele me deu como lembrança. Jurei que ao crescer compraria uma igual e iria atrás de Andrey e o levaria para passear. Que ironia, Andy já andou em minha Harley e eu nem sabia que era ele. O destino realmente nos prega peças
Cruzando as avenidas movimentadas de Moscou, sentindo o vento gelado em meus braços, notei que deixei minha jaqueta no apartamento de Andrey. Mas nem o vento frio pós chuva era capaz de superar o temor em meu peito.
Vaguei pela cidade até encontrar-me em um lugar muito frequentado por mim. Creio que meu subconsciente já sabia onde me levar. Estacionei minha Harley à sombra das majestosas colunas brancas da entrada do Parque Gorky.
Caminhei pelas avenidas pavimentadas, sentindo o ar fresco e observando as copas das árvores altas que formavam um dossel natural sobre minha cabeça. O som dos jatos de água da grande fonte ao longe misturava-se com o canto dos pássaros e o burburinho dos visitantes.
Ao encontrar um banco vazio próximo ao lago sereno, me sentei e observei os patos e cisnes nadando graciosamente. Pequenos jardins repletos de flores vibrantes salpicavam a paisagem, enquanto esculturas contemporâneas traziam um toque de arte, fazendo-me lembrar que me encontrava no centro cultural de Moscou.
O aroma de café fresco de um quiosque próximo misturava-se ao cheiro das folhas e da terra, criando uma ambiente acolhedor. Apesar da beleza e da paz ao meu redor, sentia-me inquieto, perdido em pensamentos e memórias que me levavam de volta ao passado.
As lágrimas haviam cessado mas as lembranças continuavam a me atormentar.
Sentado no banco, observando o reflexo das árvores no lago, as memórias começaram a me envolver, como cenas de um filme antigo.
A noite em que escondi Andy na garagem. Meu pai saíra de casa, como sempre, dizendo que ia trabalhar. A garagem estava fria e cheirava a óleo, mas nós dois não nos importávamos. Levei o jantar para Andy, que me olhou com aqueles olhos azuis, cheios de confiança e gratidão. Montamos um mini acampamento ali, com cobertores velhos e lanternas. Brincamos, rimos e planejamos como levá-lo à escola no dia seguinte. Quando o sono finalmente nos venceu, adormecemos juntos, sentindo a segurança um do outro.
A despedida na manhã seguinte foi dolorosa, Andy tomou banho em minha casa e se arrumou antes que meu pai voltasse, com seu uniforme escolar, parecia um pequeno anjo. O deixei na Escola Secundária Aleksandr Pushkin. Ele acariciou meus cabelos, chamando-me de "laranjinha", e me entregou uma miniatura de Harley, símbolo de nossa amizade. Em troca, eu lhe dei a medalhinha que minha mãe havia me dado, chamando-o de "anjinho". Aquele abraço que demos foi cheio de promessas silenciosas, de um futuro que esperávamos ser diferente.
Naquela mesma noite conheci a violência. Meu pai, alterado pela jogatina, me pediu a medalha, eu disse que a havia perdido. A primeira surra que levei foi um choque, as marcas do cinto que cortavam a pele e as feridas causadas pelos chutes eram insuportáveis. A dor física era esmagadora, mas a dor emocional era ainda pior. Vi a transformação de meu pai, o homem que deveria me proteger, em alguém que eu mal reconheci.
Desde então, minha vida mudou drasticamente e minha ascensão ao submundo levou apenas alguns anos. As lembranças se tornaram sombrias. Me via, anos depois, sentado diante de um computador, executando crimes cibernéticos para a máfia russa, em rodas de cassinos ao lado de homens inescrupulosos que afanavam seus alvos sem o menor remorso. Acompanhei execuções e punições. Apesar de nunca me envolver diretamente, eu estava lá e nunca fiz algo contra. Cada hack, cada assalto, cada execução me afastava mais da inocência daqueles dias com Andy. Me envolvi em um mundo de trevas, tentando preencher um vazio deixado pela solidão e a necessidade de sobrevivência.
As cenas passavam diante dos meus olhos enquanto eu estava ali, no Parque Gorky, cercado por beleza e paz. O contraste entre o passado e o presente era doloroso e revelador. As memórias de Andy eram uma lembrança constante do que eu havia perdido e do que nunca poderia recuperar.
Sentia-me um fracassado, alguém sem lugar no mundo e sem direito a redenção. Os pensamentos intrusivos e o medo de ser rejeitado, após ele descobrir quem eu era e o que fiz para sobreviver, me dominaram. As lágrimas retornaram com força, queimando meu rosto e manchando minha visão.
Fiquei me escondendo em um canto mais remoto do parque, tentando não chamar atenção, mas isso não foi possível. Uma senhora, de aparência tranquila e gentil, notou meu estado e se aproximou. Seus olhos tinham uma gentileza quase maternal, e suas feições delicadas exalavam uma sabedoria calma. Seu cabelo, completamente branco e solto ao vento, parecia emanar uma aura de serenidade.
Ela se sentou ao meu lado com uma presença reconfortante, sem pressa e sem forçar a conversa. Observou-me com um olhar compreensivo, que me encorajava a abrir-me.
━━ Parece que está passando por um momento difícil ━━ disse ela com uma voz suave e calorosa. ━━ Às vezes, compartilhar o que sentimos pode nos ajudar a encontrar uma saída.
Senti-me compelido a falar. A dor e a confusão saíram em palavras atropeladas. Expliquei a ela sobre os sentimentos de culpa, medo e amor que me atormentavam. Descrevi como me sentia como um homem sem redenção, perdido em um mar de escolhas erradas e ações passadas.
A senhora ouviu atentamente, sem interromper, e quando terminei, ela me olhou com uma compreensão que parecia ir além das palavras.
━━ A vida tem o poder de nos dar segundas chances, mesmo quando achamos que não merecemos ━━ ela disse, sua voz carregada de sabedoria. ━━ Às vezes, o primeiro passo para a cura é enfrentar nossos medos e falar com aqueles que amamos. A fuga pode parecer uma solução, mas raramente resolve nossos problemas.
Sua voz era como um bálsamo, e eu senti um alívio sutil ao compartilhar meu fardo com alguém que parecia entender. Seus olhos gentis e a maneira como ela falava me deram um pequeno, mas precioso, vislumbre de esperança. Ela não conhecia a história completa, mas suas palavras simples e acolhedoras me fizeram perceber que talvez houvesse uma possibilidade de redenção.
━━ Não deixe que o medo de ser rejeitado o impeça de tentar ━━ ela continuou. ━━ O amor, quando verdadeiro, tem uma maneira de superar as barreiras que construímos ao nosso redor. Converse com seu amado. Dê a si mesmo a chance de enfrentar seus sentimentos em vez de fugir deles.
Enquanto ela falava, eu sentia o peso das palavras dela entrando em mim. Ela era uma presença suave e amável, oferecendo apoio sem julgamentos. Seu consolo foi o que eu precisava naquele momento, e a ideia de enfrentar meus sentimentos e buscar a reconciliação com Andy parecia um caminho possível, embora ainda difícil.
A senhora se levantou, me dando um leve toque no ombro antes de se afastar. Seu gesto de carinho foi suficiente para me deixar com um novo senso de determinação. Naquele momento, eu sabia que precisava enfrentar meus medos e buscar a verdade, em vez de me esconder atrás da insegurança e da culpa, só não tinha coragem para enfrentá-lo.
Depois de minha conversa com a gentil senhora, um peso leve de confusão e tristeza se dissipou. A suavidade de suas palavras e seu toque de compreensão me deram um novo propósito. No entanto, o desejo de fugir de tudo e encontrar clareza em outro lugar ainda estava forte em mim.
Com uma mente tumultuada, voltei para casa, meu coração dividido entre o desejo de ficar e o impulso de escapar. O apartamento estava imerso em uma luz suave que refletia em cada canto, intensificando meu estado de espírito agitado. Cada objeto em meu lar parecia carregar uma parte da minha história com Andy, um lembrete constante da confusão e do amor que estava tentando entender.
Comecei a arrumar minhas coisas, tentando me convencer de que retornar a Sergiev Posad, era o melhor caminho para encontrar clareza. O movimento automático de empacotar minhas roupas e pertences parecia ajudar a focar meus pensamentos e aliviar um pouco da pressão interna.
Nos instantes em que dobrava roupas e colocava itens em caixas, não pude deixar de refletir sobre o que a senhora me dissera. Suas palavras ecoavam em minha mente, misturadas com as lembranças de Andy e a dor da rejeição que temia enfrentar. Eu queria acreditar que, ao me afastar, teria um tempo para pensar e encontrar respostas, mas uma parte de mim sabia que estava apenas adiando o confronto com meus sentimentos.
O som do telefone interrompeu meus pensamentos. Era meu antigo chefe, pedindo que eu realizasse um último trabalho. O pedido era perigoso, um plano que envolvia riscos significativos, mas também uma oportunidade de escapar da realidade complicada que eu estava enfrentando.
Chefe: ━━ Nikolai, que bom ouvir sua voz. Tenho um trabalho que precisa da sua atenção.
Niko: ━━ Olá. Não estava esperando uma ligação agora. Sabe que não faço mais esses trabalhos. O que está acontecendo?
Chefe: ━━ Temos uma situação delicada que só alguém com suas habilidades pode resolver. E, sinceramente, você é a única pessoa em quem eu confio para isso.
Niko: ━━ Não estou certo se estou em condições para isso agora. Minha mente está em outro lugar.
Chefe: ━━ Petrov, entendo que você esteja passando por um momento complicado, mas esta missão não pode esperar. Se você não tomar frente, podemos ter problemas muito maiores. A confiança que eu deposito em você não é algo que eu faço levianamente.
Niko: ━━ Isso parece mais complicado do que eu imaginava. Não quero falhar e colocar tudo a perder.
Chefe: ━━ Ninguém estaria pedindo para você fazer isso se não fosse absolutamente necessário. A missão requer discrição e competência. Você é a única pessoa com a experiência necessária, foi treinado para isso. Se você não assumir, os resultados serão desastrosos para todos nós.
Niko: ━━ Você sabe que eu não quero mais me envolver nisso, foi o nosso combinado. Não posso garantir que estou no melhor estado para realizar o trabalho.
Chefe: ━━ Nikolai, a situação é crítica. Se você não aceitar, eu vou ter que procurar outra solução. E, se isso acontecer, não garanto que as consequências sejam agradáveis para você.
Niko: ━━ Preciso de um tempo para pensar. Não quero arriscar um fracasso.
Chefe: ━━ O tempo não está ao nosso lado. A situação está se deteriorando e precisamos de uma resposta rápida. Não me faça esperar.
Enquanto falava ao telefone, o som da campainha me fez parar. Quando ela soou, eu estava à beira de um colapso emocional. Ao abrir a porta, encontrei Andy, vestido com a jaqueta que eu deixara para trás, sobre um moletom. Seus olhos estavam inchados e sua voz rouca de tanto chorar. Sem hesitar, ele se agarrou a mim, as lágrimas escorrendo incessantes. Senti o peso da sua dor e o calor do seu corpo tremendo.
Sem pensar, o puxei para dentro do apartamento desligando o telefone sem perceber, suas lágrimas molhavam minha camiseta enquanto ele me abraçava com força. Cheirei seus cabelos, absorvendo seu aroma familiar e reconfortante, e o apertei ainda mais contra mim, como se pudesse transferir toda a minha confusão e angústia para longe.
Enquanto tentava processar o momento, o telefone tocou. Era meu antigo chefe novamente, exigindo uma resposta urgente. A voz dele era fria e impessoal, um contraste gritante com o calor e a emoção que eu sentia ao meu lado. Desculpei-me rapidamente e desliguei, prometendo que retornaria a ligação depois. Joguei o aparelho sobre um móvel qualquer, afastando-o da minha mente para focar em Andy.
Abraçados, caminhamos para o quarto, sem realmente enxergar o caminho. Cada passo parecia uma eternidade, enquanto a presença de Andy ao meu lado me fazia esquecer de tudo ao redor. Quando finalmente chegamos ao quarto, Andy ergueu o rosto e, com um gesto desesperado e cheio de motivação, me beijou.
O ar entre nós era denso, carregado de emoção. A saudade, que antes era um nó apertado no peito, agora se transformava em um rio de lágrimas que descia pelo rosto de ambos. Ele me olhava, perdido em meus olhos úmidos, que refletiam a mesma dor, a mesma saudade. Eu, com um leve tremor nas mãos, busquei o seu rosto.
Os lábios se encontraram em um toque hesitante, como se estivessem com medo de romper a frágil barreira que nos separava. Mas o sentimento era mais forte, e o beijo se aprofundou, faminto, desesperado. Era um beijo de almas que se reencontravam após um longo inverno, um beijo que pedia perdão por todos os momentos perdidos, um beijo que prometia um futuro cheio de esperança.
As lágrimas se misturavam com a saliva, um sabor salgado que amplificava a intensidade do momento. Ele me abraçava com força, como se temesse me perder novamente. Eu o aninhava em meu peito, buscando conforto e segurança. O ósculo se transformava em um abraço, um refúgio onde a saudade se diluía em um mar de amor e esperança.
Foi um misto de dor e alívio, como se ele estivesse tentando curar uma ferida que só nós dois conhecíamos. Depois do beijo, tomei a iniciativa de falar, mesmo com a voz trêmula.
━━ Por que você veio até aqui? Como conseguiu chegar até mim?
━━ Eu não podia ficar longe de você, depois de saber que você é o Laranjinha. Lembrei-me do nome do edifício e pedi um Uber até aqui. ━━ Andy, ainda com o rosto colado ao meu peito, respondeu com um tom de desespero.
Olhei ao redor e notei as caixas embaladas que eu havia começado a arrumar. O olhar preocupado de Andrey se voltou para elas.
━━ Para onde você vai? Vai me deixar? ━━ falou em um sussurro urgente, sua voz era suave e quebradiça, como se cada palavra fosse um esforço doloroso.
O que eu faria agora, enquanto o destino parecia se entrelaçar com minha decisão? A escolha estava diante de mim: fugir para longe e buscar clareza em outro lugar ou enfrentar os sentimentos que tentava esconder e talvez encontrar uma solução mais próxima, onde Andy estava.
Meu dilema estava claro, e eu sabia que a decisão que tomaria mudaria o curso de minha vida para sempre.
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