Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Глава двадцать шестая (Glava dvadtsat' shestaya) - Capítulo Vinte e Seis

═════•⊱✦🍹✦⊰•═════
Oh, não
Eu peguei o caminho errado;
Oh, não
Eu deveria saber disso;
Baby, oh não
Eu dirigi a noite toda;
Oh, não
Eu só sinto falta da porra
da minha branca de neve...

SNOW WHITE - Dennis Lloide
═════•⊱✦🍹✦⊰•═════

O VENTO FRIO DE OUTONO chicoteava meu rosto, carregando o cheiro acre de terra molhada e folhas em decomposição. No espelho retrovisor da minha Harley, o Palácio do Czar diminuía, um gigante de pedra e opulência. A estrutura, símbolo de um poder que eu jamais alcançaria, era um espectro do passado que eu tentava deixar para trás, mas que insistia em me perseguir e que contrastava brutalmente com o que me esperava: Chastsy.

A estrada até lá era uma cicatriz no campo. O asfalto rachado, em alguns trechos, se transformava em um caminho de terra batida, irregular e cheio de buracos que faziam a moto vibrar sob mim, como um animal selvagem à beira de um ataque. O ronco do motor era ensurdecedor, mas não conseguia abafar o zumbido incessante na minha cabeça, um eco do passado que me martelava as têmporas.

As primeiras casas de Chastsy surgiram como fantasmas na névoa. Eram construções de madeira, de tamanho médio, algumas ainda ostentando vestígios de cores vibrantes, outras completamente desbotadas, como lembranças descoloridas pelo tempo. Madeira apodrecida, janelas estilhaçadas, pintura descascada... Cada casa sussurrava abandono, um lamento silencioso que ecoava naquela tarde fria. O cheiro de mofo e madeira úmida era forte, misturado a um leve odor de fumaça de lenha que vinha de uma chaminé distante, um sinal tênue de vida em meio àquela desolação.

Minha antiga casa se erguia como um monumento à ruína. O jardim, outrora um espaço de alegria e brincadeiras, estava tomado por um emaranhado de ervas daninhas e mato alto. As roseiras, que minha mãe tanto amava, estavam secas e mortas, seus galhos retorcidos como dedos ossudos agarrando a terra. Sob meus pés, as folhas secas quebravam em um sussurro quase imperceptível, um som que contrastava com o estrondo ensurdecedor que ecoava na minha memória. Eu me lembrava do cheiro das flores, da maciez da grama sob meus pés, do som das minhas brincadeiras... Agora, só restavam cinzas e lembranças.

A porta da casa estava prestes a desabar. A madeira apodrecida se esfarelava ao toque, a tinta descascada revelava a madeira envelhecida e rachada. Hesitante, empurrei a porta. Um ranger doloroso, como um gemido de dor, cortou o silêncio. O ar frio e úmido invadiu meus pulmões, um abraço gélido que me envolveu. O cheiro de mofo era sufocante, mas por um instante, entre o fedor do abandono, senti o cheiro familiar dos doces que minha mãe fazia. Um cheiro doce e nostálgico, uma lembrança fugaz que se misturava ao amargo da perda e da tristeza.

A casa estava vazia, escura e silenciosa. Mas para mim, ela estava repleta de fantasmas. Os fantasmas das brigas do meu pai, o eco dos seus golpes, o medo que me paralisava todas as noites. Os fantasmas daquela noite terrível, quando eu tinha apenas dezesseis anos, e vi o homem que deveria me proteger ser assassinado bem na minha frente. Aqui, nesse lugar, minha infância havia morrido.

─━━━━━━⊱࿇Flashback on࿇⊰━━━━━━─
O baque surdo dos punhos de meu pai na minha pele ecoava naquela casa abafada, um ritmo cruel que acompanhava o cheiro acre do seu suor e do álcool. Cada golpe era uma onda de dor que me atravessava, mas a dor física era menor que o terror que me paralisava. Meus dentes batiam uns contra os outros, um som que mal conseguia ouvir por cima do zumbido ensurdecedor nos meus ouvidos. O ar faltava nos pulmões, e eu sentia a garganta seca, como se estivesse engasgando com o próprio medo. Meu corpo tremia, não só pela pancada, mas pelo terror iminente. Ele estava bêbado, furioso, sem dinheiro... e eu conhecia a rotina.

A escola, o trabalho no mercadinho, o almoço apressado, e a noite, a espera do homem bêbado, a espera da violência. Era a minha vida.

Um estrondo. A porta se despedaça. Homens de preto, com roupas de combate, invadiram a sala, suas botas pesadas pisando com força no chão de madeira, um som que cortava o ar pesado de violência. O cheiro metálico de suor e armas invadiu minhas narinas, misturando-se ao odor nauseante do álcool. Eles eram muitos, imponentes, suas armas reluziam sob a luz fraca, e eu soube, naquele instante, que aquele seria o nosso fim. Meu pai parou de me bater. Seus olhos, cheios de ódio e medo, encontraram os meus. Ele sabia.

Um deles me puxou com violência, a dor aguda rasgando minha pele. A confusão era total. Eu estava atordoado, a visão turva, o corpo dolorido. Então, o vi.

Ele era alto, imponente, sua presença absorvendo a luz da sala. Cabelos loiros, quase dourados, impecavelmente arrumados, e olhos de um âmbar penetrante que observavam tudo com uma frieza quase predatória. A barba bem aparada lhe dava uma aparência de austeridade, e o terno caro, perfeitamente ajustado, era um contraste gritante com a miséria em que vivíamos. Seus sapatos lustrosos refletiam a luz fraca, denunciando o luxo ao qual ele pertencia, um luxo que eu jamais conheceria. Na mão, um charuto aceso emanava uma fumaça espessa e carregada de um odor pungente e enjoativo.

Seus olhos, frios e calculistas, avaliaram a cena. Sua voz, quando cortou o silêncio, foi tão fria e precisa quanto o som de metal contra mármore. A cada palavra, eu sentia o peso da sua frieza, a certeza de que não havia escapatória.

━━ Maxim, meu amigo, estamos em uma situação delicada. Suas dívidas... são consideráveis. ━ A voz dele era suave, mas carregava o peso de uma sentença.

Meu pai, Maxim Petrov, engoliu em seco, a dignidade se esfarelando em pedaços. ━━ Eu sei, Anatoly. Eu juro que vou pagar. ━ Cada palavra era um sussurro de desespero.

Anatoly sorriu, um sorriso lento e cruel que se espalhou por seus lábios. ━━ Jurar não resolve o problema, Maxim. Meus amigos não juram, Maxim. Eles pagam. ━ A voz dele caiu, uma ameaça que se impunha no ar. ━━ E você não tem dinheiro. Mas tem algo de valor...

Meu pai sorriu, um sorriso cruel que revelava a sua falta de remorso. Ele olhou para mim, como se eu fosse um objeto qualquer, e se virou para Anatoly. ━━ Meu filho... ele é forte, jovem, pode trabalhar duro. Um escravo valioso. Troque-o pelas dívidas. É um bom negócio, não acha?

Anatoly arqueou uma sobrancelha, um sorriso de curiosidade surgindo em seus lábios. ━━ Ah, sim? ━ Ele respondeu, sem pressa, como se estivesse ponderando a proposta, mas no fundo já sabia a resposta. Eu podia ver a troca de olhares entre os dois, e o peso me esmagava.

Eu queria gritar, me libertar daquela situação, mas as palavras falharam. Meu corpo estava preso, paralisado pelo medo. O que aconteceu a seguir foi mais rápido do que eu consegui processar. O brilho metálico de uma arma reluziu brevemente, e o som de um disparo ressoou com uma força brutal no ambiente. O baque seco do corpo caindo no chão foi abafado pela tensão que preenchia a sala. Seus olhos, ainda abertos, refletiam um espanto indescritível, como se ele não conseguisse compreender o que acabara de acontecer. A morte de meu pai foi instantânea, mas a sensação de que o mundo havia parado; essa perdurou por muito mais tempo.

─━━━━━━⊱࿇Flashback off࿇⊰━━━━━━─

O peso das lembranças desabou sobre Nikolai, e as lágrimas começaram a escorrer, primeiro em gotículas hesitantes, depois em torrentes incontroláveis que molhavam suas mãos e o tecido da sua camisa. Ele soluçava, um som rouco e doloroso que ecoava no silêncio da casa. A dor era física, uma pontada aguda no peito que o deixava sem fôlego. Ele se permitiu chorar, afogando-se na tristeza que o consumia.

Com passos pesados, ele adentrou os cômodos, guiado por um instinto doloroso, em direção ao seu antigo quarto. A pintura descascada das paredes, o cheiro de mofo e poeira que impregnava o ar, tudo era um eco do abandono e da negligência. E ali estava, jogado próximo a um móvel velho e rachado, um pequeno porta-retratos. Cacos de vidro se espalhavam pelo chão, como fragmentos de um coração partido.

Nikolai se abaixou, juntando cuidadosamente os pedaços da imagem, as mãos tremendo. A moldura de madeira estava desgastada pelo tempo, a foto dentro, coberta por uma fina camada de poeira e rachaduras. As lágrimas escorriam sem parar, ofuscando sua visão, mas ele conseguia ver, através das lágrimas, a linda mulher de cabelos acobreados e olhos azuis como o oceano que sorria para ele. Era Yeka sua mãe. A mesma mulher que o abraçava todas as noites, que o protegia, que o amava. Ao fundo, ele reconheceu o jardim que ela cultivava com tanto esmero, um jardim que agora estava tomado por ervas daninhas e mato alto.

A foto fora tirada por ele, no seu décimo aniversário, o mesmo dia em que ela lhe presenteara com a medalha de São Sérgio de Radonej. Ele se lembrava da alegria daquele dia, do cheiro das flores, do calor do seu abraço. Só restavam as lembranças, as lágrimas, e a dor lancinante da perda. Ele apertou a foto contra o peito, como se pudesse abraçar sua mãe mais uma vez, sentindo o peso da sua ausência, a saudade profunda que o consumia.

Agachado no chão frio e úmido, com a cabeça entre os joelhos, ele abraçava as próprias pernas com força, a foto de sua mãe encostada em seu peito. As lágrimas escorriam sem parar, um rio de tristeza que parecia inundar seu corpo. Seus soluços, abafados pelo tecido da sua camisa, eram convulsões de dor que rasgavam sua alma. De repente, o som estridente do seu celular cortou o silêncio, um toque insistente que rasgou o véu de tristeza que o envolvia. Na tela, o nome "Anjo" piscava ao lado de um coração laranja, um símbolo do amor que ele tanto precisava naquele momento.

Tentando se recompor, para não preocupar Andrey, ele pigarreou, limpando as lágrimas com a manga da camisa. Sua voz, quando atendeu a chamada, estava rouca e embargada, denunciando a tristeza que o consumia. Andrei percebeu imediatamente que algo estava errado. A preocupação em sua voz era perceptível.

━━ Niko? Meu amor, o que aconteceu? Sua voz... você está bem?

Nikolai tentou acalmá-lo, mas a sua voz tremia. ━━ Estou bem, meu anjo. Só... estou um pouco cansado.

Andrei não se convenceu. ━━ Niko, eu te conheço. Algo está errado. Onde você está? O que houve? ━ Sua voz era um misto de preocupação e insistência.

Nikolai respirou fundo, sentindo a força do amor de Andy o envolvendo como um escudo protetor. Ele confessou tudo. As memórias dolorosas, o lugar onde estava, a tristeza que o consumia. ━━ Estou em Chastsy, amor. Na minha antiga casa. Estou com saudades do seu cheiro, do seu abraço, do seu beijo... ━ Sua voz quebrou novamente, e ele soluçou baixinho.

Andrey, do outro lado da linha, lhe respondeu com palavras de amor e conforto. ━━ Eu também sinto sua falta, meu amor. Sinto falta do seu cheiro, do seu abraço, do seu beijo até do odor do seu charuto. Venha para casa, Niko. Eu estou aqui, esperando por você. ━━ Ele teceu juras de amor, palavras doces que acalmaram a dor de Nikolai.

Depois de algumas juras trocadas, eles desligaram. Niko respirou fundo, sentindo a força das palavras de seu namorado o envolvendo como um abraço quente. Ele limpou os últimos vestígios de lágrimas, recompondo a compostura. O sol do entardecer já abandonava os céus, pintando o horizonte com tons de laranja tão acobreados quanto seus fios. Deixou para trás o local que um dia chamou de lar, respirando fundo, carregando consigo apenas a foto de sua mãe e a convicção de que ele seria um novo homem.

Nikolai deixou as ruínas de sua antiga residência, o local onde seus primeiros anos de vida haviam sido moldados pela crueldade de seu pai e pela sombra de Anatoly. O vento gelado cortava o ar em Sergiev Posad, e os prédios decadentes ao redor pareciam quase se desintegrar sob a pressão do tempo. Cada passo que ele dava na rua suja parecia carregar o peso de memórias que ele desejava enterrar, mas que, ao mesmo tempo, não conseguia afastar. As casas baixas, com as janelas quebradas e fachadas sujas, eram uma visão inescapável de um passado que nunca o deixaria em paz.

Ele parou por um momento diante do que já fora o lar de sua infância. O que restava da antiga casa de pedra era uma carcaça, como se o próprio lugar tivesse se cansado de existir. As paredes haviam cedido ao desgaste do tempo e à violência de uma vida de miséria. Aquele cenário, vazio e sombrio, era a única lembrança que restava do homem que o havia trazido ao mundo, um pai falho, um homem que tinha sido consumido pela própria brutalidade.

Os passos de Nikolai ecoavam pela calçada quebrada, e seu olhar se fixou no horizonte. Não era a primeira vez que voltava àquele lugar, mas sentia, desta vez, como nunca antes, a distância entre quem ele fora e quem ele estava se tornando. O homem que caminhava para assumir a máfia Kuznetsov já não se reconhecia em sua origem. Ali, onde tudo começara, ele sentia o peso de sua transformação, uma metamorfose que, apesar de necessária, parecia uma condenação.

Ele não olhou para trás enquanto se afastava das ruínas e subia em sua Harley que o levaria de volta ao centro de Sergiev Posad, onde o Palácio do Czar, sua sede, o aguardava. O contraste entre os dois lugares era vasto, quase inimaginável. O luxo do palácio, com seus corredores dourados e móveis de opulência, seria a antítese absoluta daquela rua suja e quebrada que acabara de deixar para trás. Afastar-se daquela miséria era quase como fugir de si mesmo. Ele sabia que, ao atravessar as portas do palácio, deixaria para trás não apenas o passado, mas também a última fração de humanidade que ainda restava nele.

A moto avançava pelas ruas geladas, e enquanto a cidade se aproximava, Nikolai sentia o peso da solidão crescer dentro dele. O que era uma viagem de volta ao Palácio do Czar também era uma viagem à sua nova identidade: a de um Pakhan. O cargo o aguardava, assim como o poder e a responsabilidade que vinham com ele, mas nada disso parecia suficiente para preencher o vazio crescente em seu interior. O hacker tinha tudo, mas ao mesmo tempo, tinha perdido tudo.

Ao chegar ao Palácio, o contraste era quase ensurdecedor. As portas imponentes e majestosas, se abriram diante dele com um estalar de madeira antiga, revelando os vastos corredores iluminados por candelabros de cristal. O luxo palpável, a opulência presente em cada detalhe: os tapetes persas, as paredes adornadas com quadros de valor incalculável, os móveis feitos sob encomenda, que exalavam riqueza tudo estava de volta ao seu lugar, aguardando por seu novo dono. Ali, entre aquelas paredes douradas e frias, ele era agora o Pakhan, o líder da Kuznetsov, com todos os privilégios que isso implicava. Mas havia algo de vazio naquele luxo, algo que o fazia se sentir ainda mais deslocado.

Enquanto caminhava pelos corredores, sentiu-se como um estranho em sua própria pele. O ambiente de poder, que em sua adolescência o atraía, parecia sufocante. Cada passo ecoava como um lembrete do homem que ele havia se tornado e das escolhas que fizera, escolhas que o haviam afastado da vida simples e sincera que talvez, em algum momento, ele tivesse desejado.

A porta da suíte presidencial se abriu com um suspiro baixo, e Nikolai entrou, seus passos ecoando nos vastos corredores de mármore enquanto a visão do luxo o envolvia como um abraço gelado um local que deveria representar a ascensão de sua vida, mas que, naquele momento, representava apenas uma prisão dourada. As paredes de mármore e as grandes janelas que davam para o horizonte de Sergiev pareciam observá-lo com uma frieza indiferente. Ali, ele não era mais o filho da rua suja e quebrada. Era o novo Pakhan da Kuznetsov.

O ambiente parecia projetado para impressionar, e ele não pôde deixar de se sentir pequeno diante de tanta opulência. O espaço era imenso, cada detalhe meticulosamente escolhido para exibir riqueza, poder e controle. As paredes, cobertas com painéis de madeira escura e dourada, brilhavam à luz das lâmpadas de cristal que pendiam do teto, refletindo sua beleza fria. O grande sofá de veludo verde esmeralda parecia convidativo, mas para Nikolai não passava de um cenário distante, irreconhecível.

Ele caminhou até o centro da suíte, onde Belov, sem surpresa, já havia preparado tudo para ele. As roupas de corte fino estavam dispostas sobre a cama de dossel, tecidos finos que respiravam a mesma grandeza do ambiente. Um terno de lã escura, com um toque de classe e poder, foi cuidadosamente arrumado, e ao lado, uma camisa de seda branca, dobrada, aguardava para ser vestida. À frente da cama, uma adega de vidro fino exibia garrafas de vinhos raros e destilados, seus líquidos brilhando como ouro em um altar ao luxo. Cada canto da suíte exalava riqueza, como se o próprio ambiente tivesse sido projetado para manter qualquer um afastado da ideia de miséria e simplicidade.

Mas não havia conforto ali para Nikolai, só desconforto. O contraste entre aquele espaço magnificente e a rua decadente que ele acabara de deixar para trás não fazia sentido. Ele estava ali, no topo de tudo, e ainda assim não conseguia se livrar da sensação de estar preso.

Com um suspiro, ele retirou a jaqueta de couro, jogando-a sobre a poltrona mais próxima, e seus coturnos, que já haviam visto melhores dias, caíram ao chão com um estrondo abafado. A calça jeans desbotada, marca de um tempo mais simples e mais verdadeiro, também foi removida. Ali, nu diante da opulência que o cercava, ele sentiu o peso da transformação sobre seu corpo, como se cada peça de roupa removida fosse um fragmento de si mesmo, de um passado que ele não podia mais acessar, mas que se arrastava consigo, silencioso e persistente.

Ele passou a mão pelos fios longos e alaranjados, os mesmos que lhe davam um toque de rebeldia, e os soltou de forma impetuosa, deixando-os cair sobre seus ombros. Ele se virou em direção ao banheiro, quase como se a necessidade de se afastar daquela suíte luxuosa fosse uma forma de respirar.

O banheiro, assim como o resto do espaço, era a imagem do excesso. As paredes de mármore brilhavam sob a luz suave dos candelabros, e os detalhes dourados corriam ao longo de cada superfície. O piso de mármore era tão polido que refletia sua própria imagem, como um espelho em que ele se recusava a se olhar por mais tempo.

Ao se aproximar do espelho, ele viu o reflexo de seu próprio corpo, um corpo marcado pela violência e pela luta, mas também pela sobrevivência. Seus olhos azuis estavam avermelhados, não só pela fadiga e pelo choro recente, mas por algo mais profundo, uma dor silenciosa que corria por suas veias. As cicatrizes em seu torso eram como uma narrativa de dor e resistência. Ele tocou uma delas, a mais profunda, perto de sua costela, onde o tiro de Anatoly quase lhe tirara a vida.

A cicatriz, que atravessava sua pele com a precisão de um golpe fatal, era mais do que uma marca física. Ela era o lembrete de que, ao contrário do que ele desejava, ele não era mais um homem livre. A vida simples ao lado de Andrey, aquele sonho de uma existência tranquila e longe do poder, parecia algo que ele jamais teria.

Nikolai passou os dedos sobre a cicatriz, seus olhos fixos no espelho, como se estivesse tentando compreender o homem que via ali. O homem que, ao contrário do que seu corpo indicava, não se sentia pronto para o fardo que carregava. O novo Pakhan. Ele não era mais quem queria ser, mas também não sabia como se tornar o que deveria ser.

Com um suspiro profundo, ele desligou o olhar do reflexo e caminhou até o chuveiro. Ligou os jatos de água quente, que logo começaram a vaporizar o ambiente com uma neblina suave. A água quente se chocou contra sua pele, aliviando os músculos tensos, mas não conseguindo aliviar a tensão dentro de sua mente. Ele fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir o calor da água e tentar se desconectar por um breve segundo. Era só isso que ele conseguia - uma tentativa de esquecer, de relaxar, de não pensar no que a vida lhe havia imposto.

A água caía incessante sobre seu corpo, levando com ela o peso do momento, mas Nikolai sabia que, quando saísse dali, o peso de sua nova vida o esperariam. O luxo, as riquezas, os poderosos aliados e os inimigos a serem enfrentados não significavam nada se ele não conseguisse, ao menos, dominar seu próprio destino. O que o futuro lhe reservava, ele ainda não sabia. Mas uma coisa era certa: a jornada para se tornar o Pakhan não tinha apenas começado - ela o definira de uma forma que nada mais poderia.

─━━━━━━⊱࿇♜࿇⊰━━━━━━─



𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒 ©𝐋𝐘𝐃𝐈𝐀 𝐓𝐀𝐕𝐀𝐑𝐄𝐒

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro