1.9
Acordei com uma forte dor de cabeça, que pesava até meus ombros. No entanto, uma apresentação importante em relação ao meu roteiro iria acontecer, então tive que ir ao trabalho mesmo assim.
Ao me olhar no espelho, notei que minha pele tinha um aspecto mais avermelhado do que o comum, mas resolvi ignorar isso também.
Cláudia passou de carro para me dar uma carona, e pela primeira vez, tive que ir no banco de trás. Um ruivo virjola havia tomado o meu lugar no banco do passageiro...
— Não foi ao trabalho ontem e hoje está com cara de morta. Onde se meteu? — Cláudia inquiriu.
— Ah, fui resolver umas pendências. — Menti, olhando através da janela.
— Billie folgou também. Tem pendências com minha irmã? — Finneas se intrometeu.
Eu ri nasalmente.
— Algumas. — Respondi brevemente, mantendo um sorrisinho sarcástico nos lábios.
— Está ansiosa para a apresentação sobre seu filme? — Cláudia questionou, e meu estômago embrulhou.
— Ansiosa é uma maneira de dizer. — Respondi. — Temo que O'Connell não me deixará dirigir.
Bufei ao responder, e logo estacionamos em frente à empresa. Saí primeiro que os dois, ignorando a tontura insistente me perseguindo pela manhã.
E de novo, o canadense irritante foi a primeira pessoa que ouvi a voz. Tinha que ser loiro.
— Oi, Dahlia. — Acenou, andando ao meu lado. — Não veio ontem. Fiquei preocupado.
— Não deveria. — Respondi de maneira grosseira, chamando o elevador com pressa. — Se preocupe com seu próprio trabalho.
— Não precisa ser tão rude... — Ele disse, desviando o olhar, mas se mantendo ao meu lado.
— Você me assusta. — Eu sussurrei baixo o suficiente para ele não ser capaz de me escutar, entrando no elevador e apertando o botão da sala de Billie.
Ao chegar no local, todos já estavam sentados na mesa, me aguardando. Senti-me um pouco constrangida, mas ainda assim entrei com confiança. Os olhos de minha chefe me seguindo, fazendo com que eu desse um sorriso pretensioso.
— Boa tarde. — Eu cumprimentei, sorrindo e sentando.
— Tarde. — Billie limpou a garganta. — Vamos discutir sobre um filme promissor, cujo ainda precisamos decidir o elenco, trilha sonora, a locação dos cenários, a direção, e a estratégia de marketing. Por isso, chamei o pessoal mais competente daqui, afinal, preciso que essa trilogia seja perfeita, uma vez que ela promete jogar a empresa ainda mais 'pro mercado devido a originalidade de seu roteiro.
Ela olhou pra mim enquanto dizia tudo isso, não pude evitar de me sentir orgulhosa de sua menção honrosa.
— Clifford? — Chamou-me, fazendo com que meus olhos se levantassem até ela. — Gostaria de ouvir suas considerações.
— Ah... — Eu sorri. — Acho que...-
— De pé, por favor. — Ela ordenou, voltando ao seu assento enquanto deixava o ponto principal livre para que eu fosse.
Eu abri a boca 'pra questionar, mas nada saiu dela, então me levantei e segui até o local cuja a atenção era focada.
— Acredito que deveríamos escolher como elenco, atores já conhecidos no mercado, que sabemos da competência. Sei que isso aumentaria consideravelmente o preço de produção, mas um elenco capacitado costuma ser o que mais chama a atenção de um filme em cartaz. — Eu afirmei, focando em Billie, para notar sua reação.
Estava sentindo uma náusea terrível, minha pele estava quente, e eu, levemente fraca. Pude notar que as sobrancelhas de Billie se arquearam quando precisei respirar antes de voltar a falar.
— Quanto a trilha sonora, quanto mais- — Engoli saliva. — Quanto mais original, melhor. A locação de cenários não me preocupa, temos diversos...
Tive mais uma vez que pausar meu discurso, respirando fundo e depois sorrindo de nervoso.
— Filmes... bem produzidos usando... tela verde. E a direção... Eu- — Fui interrompida.
— Clifford, pare. — Billie ordenou.
— Não. — Tossi. — Me deixe... terminar, essa é a parte mais importante.
— Você está vermelha como um tomate e eu mal consigo entender o que você fala.
Suas sobrancelhas arquearam novamente enquanto ela se aproximava de mim, os olhares da mesa todos virados em minha direção. Eu engoli a seco, apoiando-me na parede.
— Clifford? — Ela segurou meu braço, seus olhos azuis afogados em preocupação, apesar dela manter a expressão estóica. — Clifford?
Sua voz e visão foram se tornando cada vez mais distantes... pude me sentir colapsar, desfalecendo no próximo segundo.
[...]
Acordei em um hospital.
Obviamente confusa.
Obviamente não esperando quem estava rodando de um lado para o outro pela sala, segurando seu queixo em preocupação.
— Puta que pariu, Dahlia, está acordada?! — Ela veio em minha direção. — Quase me matou do coração. Qual seu problema?!
Ela estava brava comigo por eu ter passado mal? Qual o sentido disso?
— Ficou preocupada, hm? — Eu disse, minha voz fraca.
— Preocupada? Ha! Não, é só que você estragou a apresentação. Tinhamos executivos lá, sabia? — Ela disse, não muito convincente.
Então, deu alguns passos apressados para pegar água no bebedouro ao meu lado. Enquanto isso, notei o quão luxuoso o quarto de hospital parecia.
— Beba, sua garganta deve estar seca. — Me entregou o copo de água e colocou a mão nos bolsos.
Bebi a água, como ordenado, me sentando na maca.
— O que aconteceu? — Olhei para ela. — Quero dizer, qual necessidade de um hospital? Alguns tapas no meu rosto teriam me acordado.
— Eu tentei e não funcionou. — Deu de ombros.
— O que eu tenho? — Franzi o rosto.
— Um tumor no cérebro. — Ela disse sem rodeios, me assustando. — Brincadeira, é só insolação.
— Quer me matar? — Coloco a mão em meu peito, respirando fundo.
— Posso responder honestamente? — Ela sorriu de lado.
— Me faz o favor de ir a merda. — Suspirei fundo, olhando pela janela.
— Mas sério, eu disse que as suas roupas estavam inadequadas ontem. O sol estava torando em você, óbvio que isso ia acontecer... — Colocou a mão na cabeça, negando. — Você precisa...
Eu observei o quarto mais uma vez, ficando levemente preocupada.
— Que hospital é esse? — Interrompi seu sermão.
— Hum? — Arqueou as sobrancelhas, olhando seriamente para mim. — Estamos em UCLA.
Meus olhos se arregalaram quase imediatamente. Levantei da maca, retirando meu acesso e arrumando minhas coisas.
— Qual é o seu problema? — Billie agarrou meu braço, me jogando na maca de maneira bruta. — Não teve alta. Está brincando com minha cara? Uma funcionária morta não tem uso.
— Você sabe o quanto me paga?! — Eu questiono, com raiva. — Sabe quanto custa ficar internada em UCLA? Puta que pariu, O'Connell. Eu vou precisar trabalhar até minha bunda cair, quem foi o bosta que escolheu esse hospital? Vai se foder. Nossa, que ódio, caralho! Eu já devo suficiente. Vou precisar começar a me prostituir agora?
O'Connell encarou meu desespero com uma expressão séria por alguns segundos, antes de dar uma risada cómica de longa duração, precisando se apoiar na parede de tanto rir.
— Ai, Ai. Você, Dahlia, é hilária. — Colocou a mão em sua barriga, rindo brevemente mais uma vez. — Eu estou pagando, não se preocupe.
Olho para ela de cima a baixo, ainda com raiva.
— Quem pediu para você fazer isso? Tsc. — Suspirei, orgulhosa, desviando meu olhar.
— Se você quiser, pode pagar. — Deu de ombros, colocando a mão nos bolsos.
— Não foi isso que eu quis dizer... — Arregalei meus olhos, voltando-os pra Billie.
Que caiu em uma gargalhada novamente.
— Está rindo de mim enquanto estou morrendo? — Ri, de leve.
— Dramaqueen. — Revirou os olhos. — Vai ficar bem... Tire uma folga, descanse alguns dias. Vou chamar a enfermeira 'pra colocar seu acesso de volta.
Disse, e saiu da sala.
Minha chefe é uma peça.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro