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1.1

As férias de final de ano não foram produtivas ou mesmo divertidas — o natal, era tipicamente um feriado familiar, e algo nele entristecia minha alma.

A Itália sempre teve um inverno congelante, do tipo que deixa o para-brisa de seu carro com uma crosta de gelo que só a primavera pode tirar. Los Angeles não era assim, na verdade, já era usualmente quente como o inferno, no inverno, parecia apenas um refresco do sol escaldante que não tem pena de ninguém.

Ficava aliviada em saber que até meados de março, o sol estaria aquietado, sem me incomodar.

Mas isso não significava que estaria em paz até o fim do inverno. Afinal, havia um infortúnio me esperando sobre a porta da empresa, com seus cabelos verdes marcantes e a expressão arrogante e mesquinha.

Revirei os olhos, mas não pude evitar de sorrir maliciosamente ao ver o decote de seu terno; algo muito ousado para o que estava acostumada a vê-la. Sua aparência fez com que torcesse meus lábios, mas rapidamente fui arrancada de meu transe ao escutar Cláudia gritar meu nome.

— Senti sua falta. Onde passou o natal? — A morena me abraçou, me olhando nos olhos para perguntar.

— Em casa, comendo lasanha de microondas. — Dou de ombros ao responder. — Vamos voltar as atividades hoje mesmo?

— Sim, Dahlia. Não estamos mais no ensino médio onde ganhamos um dia livre após as férias. — Disse, com um sorriso óbvio.

Bufo irritada enquanto assisto ela ir em direção a Finneas com uma pressa que feriu um pouco de sua dignidade, tropeçando em seus próprios saltos; não consigo evitar de rir, mas minha expressão risonha se torna em olhos arregalados quando O'connell vem em minha direção segurando uma pasta na mão.

— Seu roteiro foi aperfeiçoado. Leia e assine o contrato. — Estendeu a mão, olhando-me com tédio.

— Oi 'pra você também. — Eu disse, meio sarcástica. — Quem vai dirigir?

Billie olhou pra mim de maneira expressiva e me analisando, as sobrancelhas franzidas me fizeram rir nasalmente e abaixar a cabeça conforme a expressão continuava a mesmo.

— Desista. — Disse, simplista, virando as costas e seguindo o caminho.

— Huh? Do que está falando? — Segui, meio afobada, mas ainda mantendo a compostura.

— Não vou deixar você dirigir. — Ela revelou, como se conseguisse ler minha mente.

Eu pensei e dizer algo, mas perdi as palavras, soltando um suspiro preso.

— O que você tem contra mim? — Bufei, desviando o olhar.

— Quer a lista por ordem alfabética ou de menor 'pra maior? — Entrou no elevador, apertando o botão do terreno de cima.

Logo quando a porta quase fechará, coloquei meu braço entre o vão para evitar que o elevador se fosse. Com minha ação, Billie colocou as mãos em seu bolso e me encarou impaciente; sua postura rígida pós-ferias a deixava ainda mais tesuda.

— O que fará no térreo? — Disse, enquanto guardava o roteiro em minha bolsa.

— Desde quando aonde vou virou seu assunto de interesse? — Colocou a língua na fileira superior de seus dentes.

Revirei meus olhos, respirando fundo, virando a cabeça 'pro outro lado.

— Sei lá. Vai que você vai se jogar? — Eu disse, dando de ombros.

— Não sou idiota. — Piscou. — Eu só ia fumar.

Tirou um cigarro completamente preto de sua carteira, acendendo-o mesmo dentro do elevador, a fumaça cheirava a cravo, e imediatamente tossi ao sentir o quão forte era.

— Deveria ter esperado chegar ao térreo. — Abanei meu rosto para evitar a fumaça.

— Isso que dá ser intrometida. — Disse, sorrindo levemente.

— Eu me intrometo e você me mata de asfixia? — Gargalhei.

— Sejamos franco, Dahlia. Não é a primeira vez que você é ousada dessa forma. Te matar de asfixia não é nem o mínimo do que você merece.

Ela disse, encarando meus olhos fixamente de uma maneira intimidante, até que a porta do elevador se abriu de maneira repentina, fazendo com que ela saísse junto a fumaça do cubículo. Não tardou muito para que eu também saísse, respirando ar fresco.

— Você sempre tem que ser tão arrogante? — Me apoiei sobre a beirada, olhando o chão distante.

— Tive que adotar essa posição rígida para ser respeitada. — Disse, tragando logo em seguida. — Eu sou assim para me defender, Dahlia. Para defender aquela criancinha que tiraram vantagem. — Contraiu os lábios em um sorriso breve, abaixando seu olhar. — Mas você não deve me entender.

Levantei meu olhar, franzindo as sobrancelhas, e rindo suavemente através do nariz.

— O que você sabe sobre mim, O'connell? — Eu a encaro, esperando resposta.

— Que você se acha que tem algum poder sobre mim só porquê é gostosa. — Se afastou da beirada. — Não funciona assim comigo.

Antes que a demônio de cabelos verdes desse as costas para mim, ela apagou seu cigarro sobre meu braço, encarando minha alma com seus olhos de Lazuli penetrantes e melancólicos, desafiadores. O olhar me prendeu, e eu só pude afastar meu braço quando ele já estava queimado.

Minha raiva subiu a cabeça, me fazendo gritar.

— Você não sabe de nada! — Disse em um grito. —  “Você não deve me entender” — Repeti. — Quem disse que não? Quem te disse que não tiraram vantagem de mim também? Como você acha que eu vim parar aqui? — Eu soltei um suspiro preso em uma risada quando terminei de gritar. — Pare de presumir as cois-

Antes que eu terminasse de gritar, fui interrompida por uma sensação suave sobre meus lábios e braços rodeando minha cintura. O beijo não durou tempo suficiente para que eu perdesse o ar, visto que afastei meu rosto e desviei seu olhar do meu.

— Está certa. — Admitiu. — Eu preciso parar de presumir as coisas. — Disse em um tom sarcástico. — E você precisa saber a hora de calar a boca.

Me soltou de maneira bruta, indo até o elevador enquanto eu descia as escadas furiosamente.

Mesmo com raiva, eu ainda conseguia sentir o gosto de vodka em seus lábios macios. 

— Andou bebendo, idiota? — Perguntei sozinha.

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